RELAÇÃO ENTRE A ALTURA DO DOSSEL E PRODUÇÃO DE MASSA SECA DO CAPIM-ESTRELA PORTO RICO (Cynodon nlemfuensis) SUBMETIDO AO PASTEJO FREQUENTE NO PERÍODO SECO1 Carolyne Anjos Tavares2, Gabriela Oliveira Pereira², Sergio Trabali Camargo Filho3 1 Trabalho conduzido com recursos financeiros da FAPERJ, processos: E-26/112.193/2008 e E-26/190.024/2010 2 Aluna do Curso de Agropecuária Orgânica do CTUR/UFRRJ – Seropédica, RJ. Estagiária da Pesagro-Rio 3 Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio)/Centro Estadual de Pesquisa em Agricultura Orgânica (CEPAO)/Área de Bovino de Leite (ABL) – Seropédica, RJ. e-mail: [email protected] RESUMO: Para que se adote um eficiente manejo de pastagens é necessário conhecer a oferta de forragem, ajustando a carga animal evitando desta maneira o sub e o superpastejo. Entre abril e setembro de 2010, a cada 28 dias, foram tomadas 100 medidas de altura do dossel forrageiro e retiradas quatro amostras de massa fresca de forragem de 0,25 m2 em quatro piquetes de 1.250 m2 cada, pastejados simultaneamente por quatro lotes de bezerras e novilhas. Objetivou-se estabelecer relação entre a altura do dossel e a produção de massa seca de forragem. Observou-se que no primeiro ciclo de pastejo (abril/2010) a produção de massa seca (MS) de forragem foi de 571,4±25,2 g de MS.m-2 e a altura do dossel forrageiro foi de 0,850±0,067 m. A partir do segundo ciclo de pastejo, ocorridos entre maio a setembro/2010, houve menor produção de MS que variou de 314,7±9,9 a 397,4±10,8 g de MS.m-2 e alturas dos dosséis de 0,463±0,056 a 0,655±0,056 m. Estabeleceu-se uma relação linear entre a altura e a produção de forragem em pastos de capim Estrela Porto Rico. Palavras–chave: dossel forrageiro, pastejo intensivo, produção de forragem, relação altura da pastagem, produção de massa Relationship between canopy height and dry mass production of “Puerto Rico” Stargrass (Cynodon nlemfuensis) subjected to frequent grazing in dry season Abstract: In order to adopt an efficient pasture management is necessary to know the supply of fodder, adjusting the stocking thus avoiding the sub and overgrazing. Between April and September 2010, every 28 days, 100 measures were taken in height of the canopy and removed four samples of fresh forage of 0.25 m2 in four plots of 1,250 m2 each, grazed simultaneously by four lot of calves and heifers. The objective was to establish the relationship between canopy height and dry matter production of forage. It was observed that in the first grazing (April 2010) the forage dry matter (DM) production was 571.4 ± 25.2 g DM.m-2 and canopy height was 0.850 ± 0.067 m. From the second grazing cycle, occurring between May and September 2010, there was a lower DM yield ranged from 314.7 ± 9.9 to 397.4 ± 10.8 g DM.m-2 and canopies heights 0.463 ± 0.056 to 0.655 ± 0.056 m. There was a linear relationship between height and forage production on pasture of “Puerto Rico” Stargrass. Keywords: canopy, forage production, intensive grazing, relationship pasture height: biomass production 1 Introdução As gramíneas do gênero Cynodon, em razão das vantagens nutricionais, do potencial produtivo, da adaptação a diferentes ambientes e da flexibilidade de uso, vêm sendo intensivamente pesquisadas no Brasil (Vilela et al., 2005). Os resultados têm sido promissores e permitem inferir que a produção animal em pastagens de forma intensiva e racional é mais lucrativa que a produção em modelos exclusivamente de confinamento, conforme demonstraram Vilela et al. (2006). Analiticamente, o crescimento de um dossel vegetal pode ser descrito como o produto de dois fatores: a fração da radiação incidente interceptada pelo dossel, o qual depende de sua estrutura, e a quantidade de matéria seca produzida por unidade de radiação interceptada (Hodgson, 1990). Em uma comunidade de plantas forrageiras de uma mesma espécie de gramínea, a unidade vegetativa básica é o perfilho, sendo o crescimento, caracterizado pela emissão de novas hastes e folhas (Pinto et al, 2001). Busca-se, portanto, a adoção de prática de manejo de pastagens rápida de ser coletada, como a altura do dossel forrageiro, e que possa ter boa correlação com a massa de forragem produzida. A altura do relvado é uma variável estrutural do pasto que apresenta uma grande influência sobre a produção de forragem, especialmente em se tratando de gramíneas forrageiras prostradas com alto potencial de perfilhamento (Hodgson, 1990). 2 Objetivos Avaliar o efeito das estações outono e inverno sobre as taxas de alongamento e acúmulo total de forragem, em pastagem de capim-Estrela Porto Rico (Cynodon nlemfuensis (Vanderyst) cv. Porto Rico) sob pastejo rotacionado em sistema de lotação variável no período seco (outono e inverno). 3 Material e Métodos Após um corte de uniformização ocorrido em março de 2010, iniciou-se um experimento na Área de Bovino de Leite da Pesagro-Rio, Seropédica, RJ, entre 14/04 e 01/09/2010, cujas coordenadas geográficas são 22º47’S, 43º40’W e 41 m de altitude. O solo classifica-se como Argissolo Vermelho-Amarelo, série Itaguaí (EMBRAPA, 1999). Utilizouse quatro piquetes (repetições) de 1.250 m2 cada, pastejados a cada 28 dias, cuja carga animal foi calculada para proporcionar resíduo de 0,1 m após 24 horas de pastejo. Foi avaliada a altura não comprimida do dossel forrageiro determinada por bastões de 0,95 m de altura, tomando-se 100 pontos/repetição. A produção de massa fresca de forragem foi obtida coletando-se quatro amostras/repetição, a ±0,07 m do solo, com auxílio de aros metálicos com 0,25 m2 de área útil (Ф = 0,564 m), removendo-se a forragem deixando-se a liteira. A forragem recolhida foi dividida em duas frações: material verde e senescente e, a fração verde foi posta a secar em estufa de ventilação forçada a 60ºC, por 72 a 96 horas, determinando-se em seguida a massa seca de forragem. Por se tratar de avaliações nas mesmas parcelas em períodos subsequentes a análise estatística seguiu o modelo: “medidas repetidas no tempo”. Após a verificação da significância foram determinadas regressões que estimavam a disponibilidade de forragem a partir da altura do dossel forrageiro. Todas as análises foram realizadas utilizando-se os procedimentos estatísticos contidas no programa GraphPad Prism® versão 4.0 para Windows®. Este programa utiliza o teste de Bonferroni como padrão para distinção de significância entre as médias dos tratamentos. 4 Resultados e Discussão Apesar de historicamente o período seco se iniciar no outono (abril), em 2010, durante o primeiro ciclo de pastejo do experimento houve uma precipitação média de 4,0 mm/dia. Nos demais ciclos as chuvas diminuíram, registrando-se a cada 28 dias as seguintes médias diárias de precipitação pluviométrica: 2,6; 2,0; 1,5, 1,2 e 1,0 mm/dia. A temperatura ambiente e a disponibilidade hídrica afetam características estruturais como a altura do dossel forrageiro. Observou-se que no primeiro ciclo de pastejo (abril/2010), ciclo de pastejo que ocorreu em período chuvoso, a produção de massa seca (MS) de forragem foi de 571,4±25,2 g de MS.m-2 enquanto que a altura do dossel forrageiro foi de 0,850±0,067 m (Tabela 1). A partir do segundo ciclo de pastejo, ocorridos entre maio a setembro/2010, houve menor produção de MS variou de 314,7±9,9 a 397,4±10,8 g de MS.m-2 e alturas dos dosséis de 0,463±0,056 a 0,655±0,056 m. Tabela 1. Produção de massa seca de forragem do capim-Estrela Porto Rico em seis ciclos de pastejo do período seco de 2010. Altura do dossel forrageiro (m) Datas MS forragem (g de MS.m-2) 0,850 A 14/04/2010 571,4 A 0,580 B 12/05/2010 397,4 B 0,463 C 09/06/2010 314,7 B 0,535 BC 07/07/2010 368,8 B 0,515 BC 04/08/2010 383,1 B 0,655 B 01/09/2010 394,9 B Letras diferentes na coluna indicam diferença significativa pelo teste de Bonferroni 5%. Além das características ambientais, o pastejo frequente pode alterar características estruturais da pastagem (Pinto et al., 2001). Esta afirmação não foi verificada no presente trabalho. A menor produção de MS e altura média do dossel forrageiro do capim-Estrela Porto Rico foram observados no terceiro ciclo de pastejo (09/06) e, alturas e produções intermediárias foram observadas nos demais ciclos de pastejo. Houve relação linear entre altura do dossel forrageiro e produção de massa seca de forragem do capim-Estrela Porto Rico (Figura 1). Figura 1 – Relação altura do dossel forrageiro: produção de massa seca de forragem do capim-Estrela Porto Rico em seis avaliações no período seco de 2010. Verifica-se na Figura 1 estreita relação entre a altura do dossel com a produção de MS de forragem. De fato, em experimento anterior realizado na mesma área, Camargo Filho (2007) havia relatado que capins estoloníferos que possuem elevada cobertura vegetal do solo apresentam alta relação entre a altura do dossel forrageiro com a produção de MS de forragem. 5 Conclusões Há uma relação positiva entre a altura do dossel forrageiro e a massa seca de forragem produzida. Em dosséis do capim-Estrela Porto Rico, a relação entre a produção de massa seca e a altura do pasto pode ser utilizada como parâmetro para manejo da pastagem. 6 Referências Bibliográficas CAMARGO FILHO, S.T. Morfologia radicular de quatro gramíneas forrageiras e sua relação com a aquisição de nutrientes e produção de fitomassa. Seropédica, UFRRJ, 2007, 99p. (Tese de Doutorado). EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília: EMBRAPA, 1999. 412p. HODGSON, J. Grazing management: science into pratice. London: Longman Scientific and Technical, 1990. 203p. 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