ANÁLISE Ciclo de consumo chinês beneficiou setor exportador brasileiro JOSÉ FRANCISCO DE LIMA GONÇALVES ESPECIAL PARA A FOLHA Depois de sustentar um longo ciclo de crescimento do comércio mundial entre 2001 e a crise de 2008 e voltar a se acelerar até o fim de 2010, o comércio externo chinês passou a perder força e teve contração no mês passado. O Brasil foi um dos beneficiados nesse ciclo. O país triplicou suas exportações para a China entre meados de 2005 e de 2008. Os destaques foram a soja em grão e o minério de ferro menos beneficiado. Os produtos que completam o topo da lista são óleos de petróleo, celulose, açúcar e aves, além de outros produtos da cadeia de mineração e de soja. Os itens citados respondem por mais de 90% das nossas vendas a aquele país. Embora as exportações brasileiras para a China tenham crescido 10% nos últimos 12 meses, a expansão está perdendo impulso. Dois fatores combinados estão por trás: a desaceleração no crescimento chinês para algo perto de 7% ao ano e uma mudança na composição das importações daquele país. O que acontece é que, a partir de determinado nível de renda, o consumo de certos produtos deixa de crescer. Os dados até maio mostram que as vendas dos produtos que respondem por menos de 10% de nossas vendas à China caíram, enquanto as vendas dos demais cresceram US$ 1 bilhão na comparação com os cinco primeiros meses do ano passado. Mesmo com a recuperação dos EUA, a expectativa é que o comércio chinês se desacelere. Os sinais para as exportações brasileiras recomendam atenção à taxa de câmbio e a outros determinantes da competitividade. JOSÉ FRANCISCO DE LIMA GONÇALVES é professor de economia da FEA-USP e economista-chefe do Banco Fator.