UM TAL DE ZÉ PEDRO CHINÊS Lannoy Dorin Você sabe quem é José Pedro da Silva? Não?! Pois é, a TV não o entrevista, porque está pouco interessada em dar ao povão exemplos de uma grande vida. Zé Pedro era o “Chinês”, devido aos seus olhos puxados, de uma turma de alunos superdotados de Pitajuí na década de 1960. Morava numa casinha de madeira, ao lado da de alvenaria que eu alugava em 66. Seu pai tinha um carrinho de mão, com o qual vendia pipoca, amendoim e bexigas de todas as cores no jardim central. Zé Pedro “Chinês”, como os colegas de sua classe, tornou-se pintor, destino de todos os alunos de dona Maud Pires Arruda, a catedrática de Desenho do Instituto de Educação Alfredo Pujol. E, como era aluno de minha mulher, que lecionava Inglês no ensino médio, vendeu-lhe um lindo quadro de uma vila pesqueira italiana. Essa tela hoje pertence a meu filho Luciano, o jornalista, que é colecionador de livros e raridades em geral. Eu e família deixamos Pirajuí em abril de 67. Fomos morar em Araçatuba. Assim, perdi contato com ex-colegas e ex-alunos meus e de minha mulher, gente maravilhosa da terra de Tito Madi, o famoso compositor e cantor que o Rio de Janeiro “roubou” de Pirajuí. Um belo dia, ao falar de Zé Pedro a Eduardo, que lecionava na Psicologia de Itatiba, este me contou que o conhecera no tempo de Botucatu. “O Zé Pedro morava no seminário dos padres, e sei que se dedicou à cirurgia cardíaca”, disse-me ele. Nessa época, início dos anos 80, eu me correspondia com Sônia Gaiane, minha inesquecível ex-aluna de Pirajuí e psicóloga em Fresno, Califórnia, EUA. Então lhe escrevi, dizendo de minha alegria pelo sucesso do Pedro “Chinês”. Ela me respondeu que ele a visitara. Fora a um congresso em Cleveland e, ao se dirigir para Stanford, dera uma parada na casa dela. Pois é, esse José Pedro da Silva, que teve o apoio de amigos de Pirajuí e estudou Medicina pintando quadros de pessoas da família de professores, por seus méritos tornou-se renomado cirurgião, ou seja, conhecido e respeitado em todo o mundo. Há anos, Zé Pedro é cardiologista da Beneficiência Portuguesa de São Paulo, onde, além de centenas de cirurgias em adultos, tinha feito até outubro de 2008 cirurgia de correção de hipoplasia em 55 crianças. A técnica do dr. Norwood foi por ele aperfeiçoada durante 3 anos. Esse tipo de cirurgia é uma operação excepcional, sendo necessárias três para corrigir o defeito congênito. Elas têm início após o nascimento do bebê, sendo este diagnosticado quando ainda no útero. É difícil transportar ao papel a felicidade que sinto por ver um jovem, que estudou com poucos recursos materiais, tornar-se um exímio profissional tão útil à sociedade. Útil?! Não, 2 exemplar! Para encerrar e a título de curiosidade, digo que, ao se ver materialmente melhor de vida, Zé Pedro deu um sítio ao pai. Este, comovido, agradeceu e, com jeito, disse humildemente que, embora sitiante, não iria abandonar o carrinho de pipoca, amendoim e bexigas. Como o (a) leitor (a) pode deduzir, o Zé Pedro foi um menino pobre. Mas seu pai e sua mãe sabiam que nem sempre a falta de dinheiro serve de justificativa para a má educação dos filhos. Eles lhe deram o que faz de uma criança um homem de verdade. Deram-lhe um ambiente de paz e disciplina, com compreensão, diálogo e amor. (Entrevistando a Sra. Eliana César Assumpção, que foi prof.ª de Inglês de José Pedro da Silva, disse-me ela que ele assistia as aulas com atenção incomum. “Nem para os lados olhava”, asseverou a mestra, com a cabeça balançando positivamente, a revelar admiração pelo ex-aluno pirajuiense.)