RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO ENSINO DE QUÍMICA
ALAN VINICIUS CORDEIRO
Licenciando em Ciências/Química pelo IFSC - São José;
Orientadora: Profa. Dra. Paula Alves de Aguiar
Resumo: O objetivo do presente ensaio é analisar a importância das
interações que existem na relação professor aluno e como isso interfere no
espaço de ensino aprendizagem, especificamente nas aulas de Química no
IFSC – câmpus Florianópolis. Com a compreensão dessas interações podemos
afirmar a partir dos estudos de Freire (1996) e Leite (2005), por exemplo, que
essa relação que contribui no processo de ensino e aprendizagem. Este
trabalho apresenta um estudo bibliográfico e a análise de dados obtidos no
decorrer do estágio curricular.
Palavras Chaves: Relação professor-aluno, afetividade, interação, diálogo.
Introdução
Durante o segundo semestre do ano de 2014, do curso de Licenciatura
em Ciências da Natureza- Habilitação Química do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – Câmpus São José, na
disciplina de Estágio Supervisionado de Observação II, teve como proposta
observar cinco aulas de Química no IFSC- Câmpus Florianópolis.
Meu foco nas observações de aprofundar no tema “Relação-professoraluno” com objetivo geral de “analisar a importância dessa interação como fator
que interfere no ensino e aprendizagem”. Este tema me chama atenção pelo
fato de que esta relação é muito importante no espaço educativo. Durante meu
ensino fundamental gostava muito da disciplina de Ciências, porque era uma
matéria que considerava relevante e o professor explicava muito bem o
conteúdo havia também uma relação muito harmoniosa com os alunos. Essa
experiência pessoal contribuiu para instigar-me sobre qual a relevância da
relação entre professores e alunos na apropriação dos conhecimentos
escolares.
Para atingir o objetivo geral, procurei pesquisar e observar relações
entre a teoria e prática, e como elas auxiliam na capacidade de análise da
prática de ensino. Outro ponto que me instigou no decorrer do estágio foi como
se processa a relação professor-aluno baseada no diálogo e no afeto, assim
como suas implicações na eficácia do processo educativo.
Veremos que essa relação ultrapassa os métodos de ensino, pois
percebemos que na sala de aula observada durante o estágio, existem outros
fatores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem como, por exemplo,
a afetividade, que é determinante nesta relação. Outro fator que está
intrinsicamente relacionado é a dialogia, ou seja, o diálogo faz parte dos
processos educativos constitui-se como uma via de mão dupla onde ambos
(professor e aluno) estão em constante aprendizagem. A partir das análises do
campo de estágio, concluímos que todos esses fatores estão intrinsicamente
ligados e são fundamentais para que haja uma verdadeira aprendizagem
significativa no espaço de sala de aula.
Para realizar este ensaio busquei na literatura autores como Freire
(2005, 1996,
1975), Leite
(2005),
Lopes
(2009), Galvão
(1995). A
fundamentação será apresentada a partir da pesquisa e também de aspectos
considerados fundamentais nas observações. Durante a pesquisa foram
observados cinco aulas de Química no IFSC câmpus Florianópolis durante
cinco semanas. Também foi realizado um questionário com o professor que
lecionava as aulas observadas.
Reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem
A interação professor aluno é intrínseca ao processo de ensino e
aprendizagem. De acordo com Freire (2005), é fundamental que haja diálogo
nessa interação, para que a prática educativa seja um instrumento
emancipatório na constituição dos sujeitos.
[...], o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em
que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao
mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um
ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornarse simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes.
(FREIRE, 2005, p. 91).
Leite (2005) aponta que o processo de mediação pedagógica é
fundamental na relação que se estabelece entre o sujeito/aluno e o objeto de
conhecimento/conteúdos escolares, lembrando que, em sala de aula, o
professor é o principal agente mediador, embora não o único. É entendido
então por Vygotsky (apud LEITE, 2005, pg.361) o aluno como um sujeito
interativo, ou seja, um sujeito que desempenha um papel ativo nos processos
de interação vivenciados.
Para Freire (1996, p.52) por sua vez, a construção dos conhecimentos
deve ser dialógica como retrata:
O fundamental é que o professor e alunos saibam que a postura deles,
professores e alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não
apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. Que imporá é que o professor
e alunos se assumam epistemologicamente curiosos.
Segundo Lopes (2009) na teoria de Henri Wallon, encontramos
subsídios importantes no que diz respeito à dimensão afetiva do ser humano e
como ela é significativa na constituição da pessoa e do conhecimento. Para
Wallon deve-se levar em conta questões que estão diretamente relacionadas
ao pessoal, moral e existencial do aluno. Isso reforça da importância da
afetividade e de que os professores devem buscar aspectos que cercam tanto
o ser humano, quanto questões de conteúdos e técnicas educativas. Portanto é
importante compreender a teoria de Wallon para que se discuta a afetividade
nas práticas educativas. Como lembra Almeida (1999, p.29), “a inteligência não
se desenvolve sem afetividade, e vice-versa, pois ambas compõem uma
unidade de contrários”.
A separação do intelecto e do afetivo é um problema da Psicologia
Tradicional, segundo Kohl (1992, p. 76), com base em Vygotsky:
Uma vez que esta apresenta o processo de pensamento como fluxo
autônomo de “pensamentos que pensam a si próprios”, dissociados
da plenitude da vida, das necessidades dos interesses pessoais, das
inclinações e dos impulsos daquele que pensa (Kohl, 1992, p. 76).
Nessa perspectiva percebe-se que se deve levar em consideração
especificidades culturais como, por exemplo, afeto e emoção ao planejar,
refletir e vivenciar as práticas educativas.
O desenvolvimento humano pode ser entendido como um processo de
apropriação dos elementos e processos culturais, ocorrendo no sentido do
externo (relações interpessoais) para o interno (relações intrapessoais),
mediado pela ação do outro (pessoas físicas ou agentes culturais) (LEITE,
2005). A aprendizagem desempenha um papel fundamental no processo de
desenvolvimento. Essas concepções estão ligadas as mediações pedagógicas
que existem entre os sujeitos. Segundo o educador Gabriel, observado durante
o estágio curricular, o ensino de química tem o papel de “despertar no aluno a
curiosidade científica, para que possa relacionar os saberes escolares com o
que acontece no seu mundo cotidiano, e, desta forma poder avaliar os
impactos da mesma na sociedade”. (PROFESSOR ENTREV – 03/11/2014).
As mediações pedagógicas ocorrem através de práticas e situações
concretas, que possibilitam a aumentar as chances de aprendizagem. Essas
mediações pedagógicas estão intrinsicamente ligados aos objetivos do ensino.
O ensino aprendizagem tem o objetivo principal de haver uma aprendizagem
significativa de ensino, sendo que para alcançar este objetivo, deve-se buscar
práticas dialógicas.
Afetividade
Entende-se que cada ser humano, ao longo de sua existência, constrói
um modo de relacionar-se com o outro, baseado em suas vivências e
experiências (LOPES, 2009). Sendo assim é de fundamental importância
compreender que a sala de aula é um espaço de convivências e relações
heterogêneas, com diferentes ideias, crenças e valores.
Para Galvão (1995), o desenvolvimento do adolescente como os
observados na aula de química, é marcado por muitos conflitos, que são
próprios do ser humano, alguns são importantes para o crescimento, outros
provocam muito desgaste e transtornos emocionais. O espaço escolar precisa
criar um ambiente mais estimulante e afetivo que possibilite a esse adolescente
enxergar-se nesse processo. Por esse motivo, a mediação do professor é uma
contribuição fundamental para dar sentido ao seu existir e ao seu pensar, além
da construção do conhecimento escolar. Porém, essa ideia não pode ser
confundida com o professor não poder impor limites ao aluno. O professor deve
perceber que além de transmitir conhecimentos e preocupar-se com a
apropriação dos mesmos, compromete-se com a ação que realiza, percebendo
o aluno como um ser importante, dotado de ideias, sentimentos, emoções e
expressões (LOPES, 2009).
Na segunda semana de observação do estágio curricular e primeira no
espaço de sala de aula, pude observar esse aspecto de interação professor
aluno, conforme destaquei no diário de campo, “dessa aula o que mais me
chamou atenção foi da relação do professor com os alunos, onde ele abordava
seus conteúdos de forma descontraída e também conversava e brincava com
eles”. (Diário de campo Alan – 03/10/2014). Assim, podemos perceber que o
professor observado percebe esses aspectos que envolvem sentimentos, e
expressões dos alunos e que considera cada aluno como um ser único e
importante.
Para finalizar e contribuir com as reflexões acerca da afetividade na
escola, considero importante destacar a contribuição de Freire (1996, p.146)
Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação
como experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as
emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma
espécie de ditadura racionalista. Nem tampouco jamais compreendi a
prática educativa como uma experiência a que faltasse rigor em que
se gera a necessária disciplina intelectual.
Podemos observar nessa afirmação, que Freire ressalta a ideia de que o
processo de ensino e aprendizagem não se pode dar de modo neutro, não
levando em conta os sentimentos e emoções dos alunos. A teoria de Wallon
considera as questões afetivas como molas propulsoras que promovem o
avanço e o desenvolvimento dos indivíduos. Assim, é necessário conceber a
sala de aula como um rico espaço de relações entre alunos e professores.
A afetividade, por sua vez, tem uma concepção mais ampla e complexa,
envolvendo uma gama maior de manifestações, englobando sentimentos (de
origem psicológica), além da emoção (origem biológica) (Leite, 2005). Segundo
Leite (2005) ao abordar o tema da afetividade, pode perceber-se que Wallon
(1968; 1989) e Vygotsky (1998) apresentam pontos comuns. Os dois autores
apontam o caráter social da afetividade, que se desenvolve a partir das
emoções (de caráter orgânico) e vai ganhando complexidade, passando a
atuar no universo simbólico. Leite (2005) mostra algumas pesquisas como de
Tassoni (2000; 2001) e Negro (2001), que analisaram o papel na afetividade no
processo de mediação do professor, direcionando o olhar para a relação
professor-aluno. Nesse sentido, Leite e Tassoni (2002, p.13) salientam que ‘é
possível afirmar que a afetividade está presente em todos os momentos do
trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor, o que extrapola a sua
relação “cara a cara” com o aluno’.
Sendo assim, a afetividade é um conceito amplo, constituindo-se partir
das relações estabelecidas durante o processo de desenvolvimento humano,
envolvendo vivências e formas de expressão complexas, desenvolvendo-se
com a apropriação, pelo indivíduo, dos processos simbólicos da cultura, que
vão possibilitar sua representação (LEITE, 2012).
As relações entre professor e alunos durante o estágio
Um professor pesquisador em sua prática docente diária permite que ele
seja reflexivo sobre os valores e saberes da sua docência. Essa ação também
fornece que se tenha uma forte valorização da prática que possibilite a lidar
com novas situações e momentos de incerteza e indefinição em sua vida
escolar. “Após a explicação geral no quadro de hibridização e sobre a valência
do carbono, o professor passou um vídeo no projetor sobre os orbitais do
carbono, explicado detalhadamente num programa de modelo de três
dimensões. Depois do vídeo o professor retornou ao quadro para relembrar
outros conceitos, como os ângulos de suas ligações”. (Diário de Campo Alan –
24/11/2014). A partir dessa observação pude perceber que ao usar o recurso
do vídeo e explicar depois no quadro o professor dialogou e relacionou o
conteúdo que eles estavam vendo com o vídeo. Com isso os conceitos
aprendidos deram-se de forma compartilhada com o professor juntamente com
os alunos.
. Leite (2012) ressalta que o conceito de mediação pedagógica não se
refere a ideias metafóricas, mas a relações concretamente estabelecidas e
vivenciadas, em sala de aula, que podem ser acessadas pelo olhar do
pesquisador,
através,
obviamente,
de
metodologias
adequadas
às
características dos fenômenos estudados. Na terceira semana de observação
percebi que “no final da aula foram propostos exercícios sobre os orbitais
orgânicos, sendo que os alunos faziam os exercícios e o professor chamava no
quadro para eles resolverem” (Diário de Campo Alan – 10/11/2014). Desse
modo pude perceber que o conhecimento era construído coletivamente por
partes dos alunos com o professor que mediava os conceitos dos exercícios.
Sendo assim o professor não se colocava como o detentor do conhecimento,
mas sim o formava com os alunos na prática educativa.
Considerações finais
Durante todo o espaço das observações do estágio e a construção do
ensaio pude perceber o quão rico é a relação dialógica estabelecida entre
professor e aluno. Através de todos os processos e espaços vivenciados
verifiquei que esse aspecto atinge as salas de aula seja, qual for à disciplina,
pois efetivamente faz a diferença.
A análise do processo de ensino e aprendizagem voltado na relação
professor-aluno deve ser de alguma forma observada pelos professores, para
que assim possam alcançar os objetivos de aprendizagem que a educação
realmente precisa, ou seja, o desenvolvimento da aprendizagem significativa.
Ao olhar o aluno como um sujeito da aprendizagem e o professor sujeito
mediador, contribui-se para construção de práticas educativas que coadunem
com os interesses dos protagonistas do processo educativo.
Referências
ALMEIDA, A. R. S. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999.
GALVÃO, I. Uma concepção Dialética do desenvolvimento infantil. Rio de
Janeiro: Vozes,1995.
FREIRE, Paulo. A Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática
educativa. 21ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
______. Pedagogia do oprimido. 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
LOPES, R. de C. S. A relação professor aluno e o processo ensino
aprendizagem. Disponível em:
www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1534-8.pdf. Acessado
em: 27 de dezembro de 2014.
LEITE, S. Afetividade nas práticas pedagógicas. São Paulo. Temas em
Psicologia, 2012. Vol. 20, no 2, 355 – 368.
______. A afetividade na sala de aula: um professor inesquecível. São Paulo.
Psicologia Escolar e Educacional, 2005. Volume 9 Número 2 247-260.
OLIVEIRA, M. K. O problema da afetividade em Vygotsky. In: DE LA TAILLE,
Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo:
Summus, 1992.
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