ASSOCIAÇÃO JUINENSE DE ENSINO SUPERIOR DO VALE DO JURUENA AJES INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA – ISE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM Adriana Cristiani Tavares ORIENTADOR: Prof. Ilso Fernandes do Carmo ALTA FLORESTA/2008 ASSOCIAÇÃO JUINENSE DE ENSINO SUPERIOR DO VALE DO JURUENA AJES INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA – ISE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM Adriana Cristiani Tavares ORIENTADOR: Prof. Ilso Fernandes do Carmo “Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Psicopedagogia com Ênfase em Educação Infantil”. ALTA FLORESTA/2008 ASSOCIAÇÃO JUINENSE DE ENSINO SUPERIOR DO VALE DO JURUENA AJES INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA – ISE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL BANCA AVALIADORA ORIENTADOR Prof. Ilso Fernandes do Carmo RESUMO A afetividade constitui um domínio tão importante quanto à inteligência para o desenvolvimento humano. A afetividade representa a capacidade de expressar sentimentos e emoções. Ela é importante na construção da felicidade, na formação de pessoas estáveis, capazes de conviver com o outro, saber ouví-lo e valorizá-lo. Na escola, as relações afetivas são importantes, pois não há transmissão de conhecimento sem interação entre pessoas. A afetividade é, pois parte integrante da educação, se esta se dispuser a construir o homem por inteiro. Esta pesquisa de cunho bibliográfico, tem como objetivo principal averiguar a influência da afetividade no ensino-aprendizagem dos alunos. Através de autores como, Piaget e Wallon, pôde-se perceber que o desenvolvimento cognitivo dos alunos é influenciado pelo desenvolvimento afetivo, e que o cognitivo não se separa do afetivo. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................05 1 AFETIVIDADE....................................................................................................................07 1.1 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL..........................................................................................08 1.2 AFETIVIDADE SEGUNDO PIAGET...............................................................................09 1.3 ETIVIDADE SEGUNDO WALLON.................................................................................11 2 A AFETIVIDADE NA SALA DE AULA..........................................................................15 2.1 A AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO.............................................16 2.2 A INFLUÊNCIA DO RELACIONAMENTO ENTRE PROFESSOR E O ALUNO NA FORMAÇÃO INICIAL DO AUTOCONCEITO.....................................................................19 2.3 O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DO AUTOCONCEITO................................21 CONCLUSÃO.........................................................................................................................23 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................25 INTRODUÇÃO Sabe-se que o ser humano é social por natureza. O ato de relacionar-se inicia no nascimento, quando todos passam a fazer parte da sociedade família. No decorrer do desenvolvimento da vida, as pessoas vivenciam diversas situações de convivência, pertencendo aos mais diversificados grupos sociais. As relações humanas, diversas e complexas, são os alicerces da formação integral da pessoa, portanto os vínculos afetivos desempenham um papel essencial no desenvolvimento de um indivíduo capaz de viver em um mundo em constante transformação e atuar nele. As ciências da Educação e a Psicologia têm dado uma progressiva atenção aos estudos da afetividade na aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, os profissionais da educação devem dar maior importância ao fator afetividade nas relações entre professor e aluno, pois relações afetivas positivas são a base essencial na construção do conhecimento significativo. Na escola, diante de diferentes profissionais, o professor é que tem mais contato com a criança dentro do espaço educacional, por isso, torna-se o referencial para a construção da personalidade da criança e da sua auto-imagem, no sentido de oferecer atenção devida ao seu desempenho escolar, fazendo com que o amor-próprio seja solidificado, pois faz parte do processo de aprendizagem de vida e é o sentimento obrigatório em uma existência satisfatória. Dentro deste contexto, desenvolveu-se uma pesquisa de cunho bibliográfico, com o tema afetividade no processo ensino-aprendizagem com objetivo de averiguar a 06 influência da afetividade na aprendizagem, pois sabe-se que o desenvolvimento cognitivo é influenciado diretamente pelo desenvolvimento afetivo. Para o desenvolvimento do trabalho buscou-se fundamentação teórica sobre o conceito de afetividade, segundo Piaget, afetividade segundo Wallon , afetividade na sala de aula e relação de afetividade entre professor e aluno. 1 AFETIVIDADE Pensar em afetividade é esperar uma educação com relevância social e, logo, em uma escola construída a partir de respeito, compreensão e autonomia de idéias. Já que se pretende formar cidadãos honestos responsáveis, a formação do emocional é fundamental para qualquer indivíduo. “A afetividade é tão importante no desenvolvimento de uma pessoa quanto é a inteligência. A aprendizagem é um processo que leva muito tempo e que necessita do amadurecimento de vários aspectos do aprendiz: o cognitivo, o emocional, o motor, entre outros”. (SALTINI, 1997: 64). A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei 9.394, Art. 2º, nos oferece os dois mais importantes princípios da afetividade e amor no âmbito escolar, o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, que são inspirados nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. Ambos têm por fim último o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania ativa e sua qualificação para as novas ocupações no mundo do trabalho. Segundo FERREIRA (2004: 102), o verbete afetividade é “conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam como sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor, insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza”. BRIGGS (2000: 7), define a importância da afetividade na vida de uma criança como: “Ajudar as crianças a desenvolver sua auto-estima é a chave de uma aprendizagem bem sucedida”. 08 A afetividade sempre apareceu ligada a Educação, tanto que normalmente o papel do educador foi considerado pertinente à mulher que, acreditava-se, era mais afeita às questões da afetividade. O processo de conhecer a si mesmo e ao outro está interligado e nessa relação está a importância da afetividade e as conseqüências da sua perda no processo de desenvolvimento global da criança Intuitivamente, professores, pais e educadores percebem, no dia a dia, a importância dos laços afetivos no processo de educação. Também no campo cientifico, muitas pesquisas caminham na direção de entender de que forma a afetividade se relaciona com a educação, entre os postulados teóricos estão os de Jean Piaget e Wallon, a respeito dos processos afetivos no desenvolvimento da aprendizagem. 1.1 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL A Constituição Federal de 1988 é atualmente no Brasil, um dos referenciais de cidadania e vivência da dignidade do ser humano. Sua promulgação representou teoricamente para os brasileiros a possibilidade de uma liberdade sem peias, e através dela a educação alcançou um lugar de destaque. “A Constituição de 1988, assegura igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola; a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar toda a produção artística, intelectual; a valorização da autonomia e da participação popular; a consagração ao princípio de um país plural que convive com todo o tipo de cultura e manifestação popular. Sem medo de ser diferente e com orgulho de suas peculiaridades culturais”. (CHALITA, 2001:103). Apesar das dificuldades para a execução prática de seus princípios, pode-se perceber através das observações de CHALITA (2001), que a Constituição não se prende apenas a um saber escolar vedado aos brasileiros que possuem menos posses, e sim a todos os cidadãos de nosso país. Assim observa-se o que diz o Art. 205 da Constituição Federal: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, de seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988 : 13). A educação desse modo é apresentada como um dos prováveis caminhos para a formação do individuo. Neste aspecto, vejamos o Inciso III do Art. 1° desta mesma Constituição que nos fala da dignidade da pessoa humana, ao tratar de seus fundamentos 09 essenciais, privilegiando a educação, colocando-a como uma das alternativas para a formação da dignidade da pessoa humana. O outro texto jurídico que analisa as finalidades da educação no Brasil é a Lei 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, que trata das Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, mais conhecida como LDB, traz em seus primeiros artigos a seguinte notação: “Art. 1º - A Educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e a organização da sociedade civil e nas manifestações culturais. Art. 2º - A educação dever da família e do Estado inspirada nos princípios de liberdade nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1997 : p. 7). Compreende-se assim, ao refletir-se sobre os artigos da LDB bem como da Constituição, que a educação é apresentada não apenas como um processo que se restringe ao ambiente escolar, mas em todos os lugares onde as pessoas possam relacionar-se de modo saudável e permitir-se aprender umas com as outras, desde um conhecimento técnico, onde o professor de Química ensina as interações atômicas, até ao jovem que ensina outro jovem os primeiros passos de uma dança. Desse modo, pode-se extrair quais são as finalidades da educação: 1°) O pleno desenvolvimento da pessoa, do educando, do ser humano; 2°) Seu preparo para o exercício da cidadania; e 3°) Sua qualificação para o trabalho. Procura-se analisar primordialmente a primeira finalidade da educação, o desenvolvimento total do ser humano, de forma consciente e feliz, pois somente assim formar-se-á o cidadão atuante na sociedade e o profissional de sucesso, independente de sua área de atuação. Desse modo, faz-se necessária a efetivação da primeira finalidade, as outras poderão ser otimizadas, pois a formação do ser humano é pressuposto básico para formação de um profissional de êxito. 1.2 AFETIVIDADE SEGUNDO PIAGET A busca e descrição das estruturas ou formas de organização da inteligência são o núcleo da teoria de Piaget, a epistemologia genética e o método clínico-crítico de investigação. A psicologia do desenvolvimento tem como base a epistemologia genética. O autor defende a tese da correspondência entre as construções afetivas e cognitivas, ao longo 10 da vida do indivíduo, e parte para as relações entre a afetividade, inteligência e a vida social para explicar a gênese da moral. Sua tese sobre as relações entre afetividade e inteligência, é de que ambos estão indissociáveis e integradas ao desenvolvimento psicológico, não sendo possível ter-se duas psicologias, uma da afetividade e outra da inteligência, para explicar os comportamentos. A inteligência e a afetividade são diferentes em natureza, mas indissociáveis em sua conduta concreta, não há conduta unicamente afetiva, assim como não existe uma conduta unicamente cognitiva. Enfim, considerando que “esses dois aspectos são ao mesmo tempo, irredutíveis, indissociáveis e complementares, não é, portanto, muito para admirar que se encontre um notável paralelismo entre suas respectivas evoluções” (PIAGET & INHELDER, 1990: 24). A afetividade interfere constantemente na inteligência, estimulando, acelerando ou retardando esse processo. A afetividade não se restringe às emoções e aos sentimentos, mas engloba também as tendências e a vontade. O termo funções afetivas, lembra sua natureza seletiva em virtude da afetividade. Sobre as emoções primárias, refere-se a WALLON (1975) e seu estudo sobre o medo do recém-nascido, ligada a uma sensação proprioceptiva: a perda do equilíbrio. Quanto aos sentimentos mais evoluídos, eles seriam mais ligados a elementos cognitivos. PIAGET (1990), retorna a idéia de que toda conduta visa a adaptação, sendo que o desequilíbrio traduz uma impressão afetiva particular. Para ele, as formas só podem ser concebidas em seu dinamismo de maneira relacional e genética. As operações intelectuais tendem a formas de equilíbrio das quais a mais importante é a reversibilidade. PIAGET (1990), diz que a inteligência e afetividade são de natureza diferentes, a energética da conduta vem da afetividade e as estruturas vêm das funções cognitivas, engloba ao mesmo tempo, o sujeito, os objetos e as relações entre o sujeito e o objeto. Apresenta um paralelo entre o desenvolvimento afetivo e o desenvolvimento da inteligência, tendo como referência a sua teoria genética da inteligência e colocando de lado as construções cognitivas e afetivas. De acordo com a teoria de PIAGET (1990), o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. Embora nem sempre seja focalizado por psicólogos e educadores, o desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao cognitivo e tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Segundo 11 PIAGET (1990: 89), “o aspecto afetivo por si só não pode modificar as estruturas cognitivas, mas pode influenciar que estruturas modificarem”. Se o desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao desenvolvimento cognitivo, as características mentais de cada uma das fases do desenvolvimento serão determinadas para a construção da afetividade. Quando se examina o raciocínio das crianças sobre questões morais, um dos aspectos da vida afetiva, percebe-se que os conceitos morais são construídos da mesma forma que os conceitos cognitivos. Os mecanismos de construção são os mesmos. As crianças assimilam as experiências aos esquemas afetivos do mesmo modo que assimilam as experiências às estruturas cognitivas. O importante é entender que no decorrer de todo processo de desenvolvimento a afetividade é como uma "energia" que impulsiona as ações, ficando claro, no caso da escola, a importância da relação entre professor e aluno, de modo que ambos convivam em um ambiente de harmonia, e que a aprendizagem, assim, possa fluir com mais facilidade, havendo maior entendimento e maior interação entre ambos. “A afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto a razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos variados, e obter êxito nas ações. Neste caso, não há conflito entre as duas partes. Porém, pensar a razão contra a afetividade é problemático porque então dever-se-ia, de alguma forma, dotar a razão de algum poder semelhante ao da afetividade, ou seja, reconhecer nela a característica de móvel, de energia” (PIAGET, apud LA TAILLE, 1992 : 65-66). 1.3 AFETIVIDADE SEGUNDO WALLON Segundo WALLON (1975), a emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. É fundamental observar o gesto, a mímica, o olhar, a expressão facial, pois são constitutivos da atividade emocional. WALLON (1975), dedicou grande parte de seu trabalho ao estudo da afetividade, adotando, além disso, uma abordagem fundamentalmente social do desenvolvimento humano. Busca, em sua psicogênese, articular o biológico e o social. Atribui às emoções um papel de primeira grandeza na formação da vida psíquica, funcionando como uma liga entre o social e o orgânico. As relações da criança com o mundo exterior são, desde o início, relações de sociabilidade, visto que, ao nascer, não tem meios de ação sobre as coisas circundantes, razão 12 porque a satisfação das suas necessidades e desejos tem de ser realizada por intermédio das pessoas adultas que a rodeiam. “Por isso, os primeiros sistemas de reação que se organizam sob a influência do ambiente, as emoções, tendem a realizar, por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma fusão de sensibilidade entre o indivíduo e o seu entourage” (WALLON, 1975 : 162). WALLON (1975), também estabelece uma estreita ligação entre as emoções e a atividade motora. Para ele, " a emoção corresponde a um estádio da evolução psíquica situado entre o automatismo e a ação objetiva, entre a atividade motriz, reflexa, de natureza fisiológica e o conhecimento" (WALLON, 1975 : 91). Logo ao nascer, a criança manifesta um tipo de movimento totalmente ineficaz do ponto de vista da transformação do ambiente físico, que WALLON (1975), chamou de "impulsivo". Esses movimentos tornam-se expressivos, organizados e intencionais através da comunicação que se estabelece entre o bebê e o ambiente humano, por meio de respostas marcadas pela emoção. É, portanto, a partir das interpretações dos adultos que os gestos da criança ganham significado. WALLON (1968), estabelece uma distinção entre emoção e afetividade. Segundo o autor, as emoções são manifestações de estados subjetivos, mas com componentes orgânicos. Contrações musculares ou viscerais, por exemplo, são sentidas e comunicadas através do choro, significando fome ou algum desconforto na posição em que se encontra o bebê. Ao defender o caráter biológico das emoções, destaca que estas originam-se na função tônica. Toda alteração emocional provoca flutuações de tônus muscular, tanto de vísceras como da musculatura superficial e, dependendo da natureza da emoção, provoca um tipo de alteração muscular. “Identifica emoções de natureza hipotônica, isto é, redutoras do tônus, tais como o susto e a depressão. (...) Outras emoções são hipertônicas, geradoras de tônus, tais como a cólera e a ansiedade, capazes de tornar pétrea a musculatura periférica” (DANTAS, 1992 : 87). A afetividade, por sua vez, tem uma concepção mais ampla, envolvendo uma gama maior de manifestações, englobando sentimentos (origem psicológica) e emoções (origem biológica). A afetividade corresponde a um período mais tardio na evolução da criança, quando surgem os elementos simbólicos. Segundo WALLON (1968), é com o aparecimento destes que ocorre a transformação das emoções em sentimentos. A possibilidade de representação, que conseqüentemente implica na transferência para o plano mental, confere aos sentimentos uma certa durabilidade e moderação. 13 Como se pode observar, WALLON (1968) defende que, no decorrer de todo o desenvolvimento do indivíduo, a afetividade tem um papel fundamental. Tem a função de comunicação nos primeiros meses de vida, manifestando-se, basicamente, através de impulsos emocionais, estabelecendo os primeiros contatos da criança com o mundo. Através desta interação com o meio humano, a criança passa de um estado de total sincretismo para um progressivo processo de diferenciação, onde a afetividade está presente, permeando a relação entre a criança e o outro, constituindo elemento essencial na construção da identidade. Da mesma forma, é ainda através da afetividade que o indivíduo acessa o mundo simbólico, originando a atividade cognitiva e possibilitando o seu avanço. São os desejos, as intenções e os motivos que vão mobilizar a criança na seleção de atividades e objetos. Para WALLON (1975:111), “o conhecimento do mundo objetivo é feito de modo sensível e reflexivo, envolvendo o sentir, o pensar, o sonhar e o imaginar”. “É a atividade emocional que realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social. A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida orgânica: corresponde à sua primeira manifestação. Pelo vínculo imediato que se instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao universo simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história. Dessa forma é ela que permitirá a tomada de posse dos instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva. Neste sentido, ela lhe dá origem". (DANTAS, 1992 : 8586). WALLON (1975), divide o desenvolvimento infantil em estágios. Observa-se que, em sua psicogênese, em cada um desses estágios a criança estabelece um tipo de interação, tanto com o meio humano como com o físico. Em cada fase do desenvolvimento, os aspectos afetivos e cognitivos estão em constante entrelaçamento. WALLON (1975), destaca os conceitos de alternância e preponderância funcionais, referindo-se à predominância alternada da afetividade e da cognição nas diferentes fases do desenvolvimento. “Apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não se mantém como funções exteriores uma à outra. Cada uma, ao reaparecer como atividade predominante num dado estágio, incorpora as conquistas realizadas pela outra, no estágio anterior, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação” (SEBER, 1997 : 45). No estreito entrelaçamento entre afetividade e cognição, as conquistas do plano afetivo são utilizadas no plano cognitivo, e vice-versa. Dentro deste contexto percebe-se a importância dos aspectos afetivos para o desenvolvimento psicológico e constata-se que, limitá-los ao alcance de uma única teoria, ou seja, ao pensamento de um único pesquisador, é considerá-los apenas parcialmente, o que 14 significa comprometer substancialmente toda a rigorosidade das análises e reflexões empreendidas. Segundo WALLON (1975), não se separa o aspecto cognitivo do afetivo. Seus trabalhos dedicam um grande espaço às emoções como formação intermediária entre o corpo, sua fisiologia, seus reflexos e as condutas psíquicas de adaptação. WALLON, apud LA TAILLE, 1992:193), “a afetividade é anterior ao desenvolvimento da inteligência, assim compreende que afetividade e inteligência, portanto, são aspectos indissociáveis, influenciados pela socialização”. Em sua teoria a afetividade é um domínio funcional, cujo desenvolvimento é dependente da ação de dois fatores: o orgânico e o social. A afetividade, assim como a inteligência, não aparece pronta nem permanece imutável. Ambas evoluem ao longo do desenvolvimento; são construídas e se modificam de um período a outro, pois, à medida que o indivíduo se desenvolve, as necessidades afetivas se tornam cognitivas. Já para PIAGET (1990), o desenvolvimento intelectual é considerando como tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. Paralelo ao desenvolvimento cognitivo está o desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e emoções em geral. Portanto, PIAGET (1990), demonstra em sua teoria que geneticamente a afetividade pode levar a aceleração ou retardamento, mas não é a causa da formação das estruturas cognitivas. O aspecto afetivo por si só não pode modificar as estruturas cognitivas, mas pode influenciar que estruturas modificar. 2 A AFETIVIDADE NA SALA DE AULA Na evolução biológica do homem, é comprovado que o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da afetividade, isto é, da curiosidade, da paixão. Desde muito cedo é ensinado que deve-se comportar de maneira racional e controlar nossas emoções, mesmo sabendo que, ao negá-las, pode-se gerar sofrimento. Vive-se em uma cultura que contrapõe emoção e razão como se tratasse de dimensões antagônicas do espaço psíquico. “Os aspectos cognitivos e afetivos da personalidade não constituem universos opostos. Não há nada que justifique voltar-se a educação para somente um deles, excluindo o outro”. (MONT-SERRAT, 2005 : 22). GOLSE (1998 : 43), defende que: “todas as ações humanas, qualquer que seja o espaço operacional em que se dão, se fundamentam no emocional, porque ocorrem em um espaço de ações especificado a partir de uma emoção. O raciocínio também”. Em nossa vida cotidiana há um entrelaçamento entre nosso emocionar e nosso viver e conviver, com o nosso racional, que deve conter parte de afetividade, de subjetividade e de amor. A educação precisa reconhecer isso, já que aponta o enobrecimento dos sentimentos como sua necessidade mais urgente para o século XXI. Na sala de aula é preciso trabalhar com a afetividade, para se formar seres mais humanos, e isso só é possível pela vivência desses sentimentos. MORIN (2002) assinala que a afetividade pode asfixiar o conhecimento, mas pode também fortalecê-lo. Para ele há um eixo intelecto/afeto, a capacidade de emoções é indispensável ao estabelecimento de comportamentos racionais. 16 A escola, pode se tornar um espaço legítimo para a construção da afetividade, uma vez que está centrada na intervenção sobre a inteligência, de cuja evolução depende a evolução da afetividade. A vida principia com a afetividade e a cognição sincreticamente misturadas, e estas, no decorrer do desenvolvimento, vão se diferenciando, se integrando, prevalecendo ora uma, ora outra. “A escola possibilita interações diversas entre parceiros, ao mesmo tempo em que proporciona situações e experiências essenciais para a construção do indivíduo como pessoa. É através das experiências como mundo social, especificamente eu-outro, que o organismo, em toda sua plasticidade, vai elaborando e reestruturando um dos aspectos que nos caracterizam como seres humanos: o aspecto afetivo. Não é apenas no nível interpessoal que isso se dá, mas também na relação indireta com o outro, que é a relação com a cultura” (MENEZES, 2000 : 63). Conclui-se, então, que à escola e mais especificamente ao professor é dado o importante papel social de entender o aluno na sua dimensão humana, na qual os aspectos intelectuais e afetivos estão presentes e se interpenetram em todas as manifestações do conhecimento. Geralmente as escolas elaboram uma programação que privilegia o aspecto cognitivo sobre o afetivo, ignorando que desenvolvimento afetivo e intelectual, são aspectos diversos de uma mesma e única realidade: o desenvolvimento pessoal do indivíduo. Portanto, é necessário encarar o afetivo como parte do processo de conhecimento, já que ambos são inseparáveis. 2.1 A AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO Segundo PIAGET (1990), o processo de desenvolvimento passa pela dimensão do social, e envolve cognição, afeto e moral. O elemento poderoso que é a afetividade, influencia nossas atividades intelectuais, e a esta seleção de atividades, Piaget chama de "interesse", que são desenvolvidas não pelo cognitivo, mas pelo afetivo. Pesquisando comportamento infantil, o que para PIAGET (1990), é de suma importância, passa-se a conhecer as fases pelas quais passa a criança, para entender o desenvolvimento afetivo, e ajudar na compreensão da relação conflitante entre professor – aluno. Neste processo, ambos precisam conviver em harmonia, para que a aprendizagem possa fluir com mais facilidade, gerando maior rendimento e interação. "A 17 afetividade é a mola propulsora das ações, e a razão está a seu serviço”. (PIAGET, 1990: 109) O relacionamento entre professor e aluno precisa ser de amizade, de respeito mútuo, não se concebe mais a idéia de ensinar em um ambiente hostil. O respeito que a criança desenvolve pelo adulto dá origem a dois sentimentos distintos: afeto e o medo. Para Piaget, uma criança não irá obedecer a um adulto que tenha medo, se por ele não houver afeto, da mesma maneira não irá desobedecer outro que sinta estima, se por ele também não tiver um pouco de medo. Por isso, PIAGET (1990), entende que se houver afeto, há a capacidade de desenvolver o respeito mútuo, tão necessário e que através dele a aprendizagem flua com mais facilidade. Chega-se a um ponto importante, em que toda intervenção de um professor em uma relação entre as crianças, precisa ser permeada de afeto e segurança, para que elas tenham capacidade de chegar a um acordo, pois esta capacidade é que vai dar a elas a confiança de enfrentar suas dificuldades. Assim como uma relação com muitos elogios vai gerar uma falsa confiança, gerando ainda mais insegurança na criança, tornando a aprendizagem superficial, o aluno pode passar então a realizar suas atividades somente em função de recompensas. Aprender também é saber lidar com as frustrações do não-saber. Para isso é preciso que o educador encoraje, seja atencioso quando solicitado, promova desafios possíveis ajudando-a a lidar com estas situações. A prática educativa deve ser permeada por solidariedade, em situações diárias de prazer na construção do conhecimento, pois não há mais espaço para o individualismo, nem por parte do aluno e muito menos por parte do professor. Todas estas atitudes são tomadas através do afeto que inclui os sentimentos, interesses, impulsos ou tendências que vão constituir os padrões de comportamento. O educador precisa ter consciência dos interesses que contribuam para o desenvolvimento intelectual, e segundo Piaget, "o professor deve ser colaborador e não um mestre autoritário". Através deste professor colaborador, desta reciprocidade há a descentração afetiva que leva aos sentimentos e a vida moral. Mas o afeto só é mútuo e sólido quando esta reciprocidade ocorre com uma outra pessoa, quando estas tem os mesmos interesses e valores. Levando estes termos para o dia-a-dia escolar, é preciso que haja entre professor e aluno interesses comuns, só assim haverá um bom rendimento na aprendizagem. Deve existir por 18 parte do professor respeito aos valores sociais dos alunos que são diferentes de um para o outro, assim criando um ambiente de respeito, compreensão, amizade e muitas outras relações que contribuam para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, que deve ser um dos maiores objetivos da escola, dando a ela a importante missão de gerar a interação social, o desenvolvimento moral - afetivo, como elementos fundamentais no processo de construção de pensamento, durante o processo de ensino – aprendizagem. Assim, para PIAGET (1990), o grande desafio da educação seria favorecer o desenvolvimento intelectual em harmonia com o desenvolvimento afetivo-moral, para que o sujeito possa conquistar sua autonomia intelectual, afetiva e moral, tendo como base as leis de reciprocidade construídas em suas interações com o meio físico-social e histórico-cultural. O professor não deve ser comprometido só com a construção do conhecimento do aluno, mas deste conhecimento como um todo, um profissional envolvido com o desenvolvimento da autonomia cognitiva, moral, social e afetiva. Já para WALLON (1975), a expressividade oferece maneiras de identificar estados emocionais internos. No entanto, ao se apropriar do conhecimento acerca dos "recursos expressivos" para a promoção de uma integração dialética entre afeto e cognição, o professor pode vir a deparar com situações inesperadas, devido à complexidade que envolve a dinâmica das emoções. Conhecer a dinâmica responsável pelo desencadeamento das emoções é o primeiro passo rumo a uma educação emocionalmente inclusiva. Cabe a escola, na pessoa do professor repensar alguns valores dentro de sua "prática" pedagógica. Neste contexto, a afetividade vem ressignificar preencher as lacunas de uma educação que, por vezes, tem se mostrado insuficiente para a formação integral do indivíduo. WALLON (1975), fala de um relacionamento tensionado pelo abismo entre os reais interesses da criança e suas obrigações escolares, o que ocorre em função da má preparação dos professores para conhecerem as diferenças individuais de seus alunos e também do uso de uma pedagogia estática. Nessa perspectiva, certos recursos como prêmios, punições, chamar o sentimento de responsabilidade do aluno, entre outros, acabam sendo utilizados, o que para o autor, não favorece a autonomia da criança. WALLON (1975), diz que é a partir da sua própria experiência, das repetições, das diferenças que se apresentam, que a criança se torna capaz de distinguir e reconhecer o que está de acordo ou não com as suas expectativas e necessidades, o que conseqüentemente a 19 levam ao aprendizado. E isso se dá, através de uma análise bem conduzida das atividades escolares e dos seus resultados. Por isso, a formação dos professores não pode se limitar aos livros, mas às experiências pedagógicas, que devem ser pensadas, refletidas e analisadas, provocando ações onde se evidencie e se realizem as novas conquistas do conhecimento. Essa idéia comporta, no seu bojo, a idéia de “atividade”, mas de uma atividade com conteúdos de aprendizagem bem definidos. No entanto, a escola está muito preocupada com o ensino intelectualizado, dando pouca oportunidade para que o aluno seja capaz de se desenvolver também nos seus aspectos afetivos e motores, o que segundo ele, seria fundamental, inclusive para o desenvolvimento intelectual, uma vez que o desenvolvimento de um aspecto conduz ao desenvolvimento e aprimoramento do outro. É a pessoa inteira que se desenvolve, na relação com o meio físico e social. Além dos aspectos psicológicos e didáticos da relação, temos que considerar os aspectos históricos, políticos e sociais que também determinam essa relação. Dessa maneira todas as reflexões na importante relação entre professor-aluno, mostram que o afeto também é muito importante no dia-a-dia do ser humano, enfatizando o respeito unilateral da criança pelo adulto. Esse respeito deve ser trabalhado em exercício de cooperação, na convivência em grupo, a partir da experiência histórica de cada um e de seu nível de desenvolvimento. São os esquemas afetivos da criança com o seu meio, que irão formar o caráter da criança, e o sentimento de respeito que a criança nutre em relação a outras pessoas. Fica evidente a importância que tem para os educadores, o conhecimento da afetividade, para o melhor desenvolvimento da aprendizagem do aluno e, consequentemente para uma melhor relação entre este e o professor. 2.2 A INFLUÊNCIA DO RELACIONAMENTO ENTRE PROFESSOR E O ALUNO NA FORMAÇÃO INICIAL DO AUTOCONCEITO O desenvolvimento humano não está pautado somente em aspectos cognitivos, mas também e, principalmente, em aspectos afetivos. Assim, a sala de aula é um grande laboratório para que se observe e questione os motivos que levam o convívio escolar do professor e aluno, muitas vezes, a ficar desgastado e sem estímulo. 20 Sabe-se que o ser humano tem grande necessidade de ser ouvido, acolhido e valorizado contribuindo dessa forma para uma boa imagem de si mesmo. Neste sentido, a afetividade está intimamente ligada à construção da auto-estima. Sendo assim, sua importância em toda relação é fundamental para os sujeitos envolvidos. Logo, a relação entre professor e aluno, deve ser mais próxima possível, pautada em partilha de sentimentos e respeito mútuo das diferentes idéias. “Se o principal objetivo do sistema educacional é um dos fatores que influenciam a auto-estima da criança, e se a própria auto-estima do professor é outro, o terceiro é o ambiente em sala de aula. Isso se refere à maneira como a criança é tratado pelo professor e vê como ele trata as outras crianças“ (BRADEN, 1994 : 56). Vale ressaltar que a tarefa de educar deveria ser, para a maioria das famílias e professores, uma função tão natural quanto respirar ou andar. No entanto, educar apresenta em suas ações familiares e educacionais, e dentro de teorias consideradas ideais, uma complexa tarefa a ser desempenhada. O contato com diferentes grupos sociais possibilita a construção do autoconceito da pessoa. A família e outras pessoas que convivem com a criança, fazem parte do seu primeiro grupo social representando neste momento, seu contato afetivo, que pode ser positivo ou negativo, influenciando no futuro desta criança. O autoconceito que essa criança terá de si refletirá em suas ações e na forma como será tratada ou mesmo percebida pelos outros. Quando a criança ingressa na escola e tem uma visão negativa de si, demonstra um comportamento diferente dos demais colegas como, agressividade ou apatia e, na maioria das vezes é considerado preguiçoso, desatento, irresponsável, ou seja, aluno-problema e, automaticamente, encaminhada pela professora ao Serviço de Orientação Educacional, pois seu desempenho escolar apresenta-se comprometido. Porém, a questão está relacionada a inúmeros fatores, inclusive, no autoconceito que este aluno faz de si, quando não acredita no seu potencial de resolver situações desafiadoras e desanima no primeiro obstáculo que encontra. Por isso, a escola deve propiciar melhores condições de aprendizagem, selecionando atividades e posturas necessárias, que promovam o resgate da auto-estima do aluno. O aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Ele pode acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento, e determinar sobre que 21 conteúdos a atividade intelectual se concentrará. 2.3 O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DO AUTOCONCEITO O papel da escola, enquanto relação professor/aluno, é de suma importância para que a formação da auto-estima seja pautada em segurança, autonomia de idéias, conceitos que o próprio aluno tenha de si e que contribuem para seu desempenho escolar e de sua vida como um todo. A questão da afetividade e auto-estima é uma preocupação mundial. Todos os segmentos da sociedade têm essas abordagens em seus discursos e buscam práticas que possam condizer com o que acreditam verdadeiramente. A afetividade no trato com as pessoas é um pressuposto do que autores referem-se como o resgate a valores humanos esquecidos com a agitação do dia-a-dia. “A relação professor e aluno deve ser baseada em afetividade e sinceridade, pois: Se um professor assume aulas para uma classe e crê que ela não aprenderá, então está certo e ela terá imensas dificuldades. Se ao invés disso, ele crê no desempenho da classe, ele conseguirá uma mudança, porque o cérebro humano é muito sensível a essa expectativa sobre o desempenho”. (ANTUNES, 1996: 56). Como se pode ver a escola, como parte integrante e fundamental em uma sociedade, não pode ficar alheia a esta busca. Entretanto, apropria-se de pensamentos de teóricos como Wallon e Piaget, para basear suas ações pedagógicas e transformar a relação professor e aluno em um momento mais rico no processo ensino-aprendizagem. Tais conhecimentos perdem sua validade quando professores e técnicos não estão comprometidos com mudanças em suas idéias tradicionais ou posturas, que trazem ranços de práticas escolares que apenas depositam informações nos alunos, desconsiderando assim a afetividade no processo ensino-aprendizagem. Diante disso, é preocupante o número de casos que mostram alunos envolvidos em agressões entre colegas ou discussões com professores, casos estes, que observados em sua essência, demonstram carência afetiva, demonstrando que o conceito que o aluno tem de si é negativo. Sabe-se, no entanto, que a escola não é a solução para todas as dificuldades existentes do ser humano, porém, como órgão educacional que tem como uma de suas 22 funções a formação do cidadão como sujeito construtor do seu contexto histórico, pode e deve contribuir para mudanças significativas na relação professor e aluno. Além da sala de aula que oferece conteúdos e provas, a afetividade está presente em cada ação e busca seu espaço no espelho que a turma repassa aos técnicos quando dispõem do diário de notas, conselho de classes, conselho escolar e tantos outros instrumentos e setores que retratam esta relação. Por conseguinte, para a construção da auto-estima é necessário buscar a responsabilidade e não a culpa, criar um clima de confiança que faça com que a pessoa sintase genuinamente aceita, compreendida e respeitada, sentimentos que ajudam a trabalhar núcleos emocionais que bloqueiam condutas inadequadas. Os educadores sabem que as crianças aprendem melhor quando estão satisfeitas com elas mesmas e que bons sentimentos são importantes. No entanto, alguns professores desconhecem seu papel de espelho dentro de uma sala de aula, esquecendo que seus alunos os admiram e estão preocupados em ser iguais a eles, acabando por imitá-los em suas atitudes e até pensamentos. Se os professores percebessem essa imitação sem dúvida procurariam policiar suas palavras e posturas. Que bom seria se professores e alunos pudessem espelhar-se em fatos e pessoas positivas, que emanassem confiança, autonomia e sinceridade. Diante do que foi exposto, evidencia-se a presença contínua da afetividade nas interações sociais, além da sua influência também contínua nos processos de desenvolvimento cognitivo. Nesse sentido, pode-se pressupor que as interações que ocorrem no contexto escolar também são marcadas pela afetividade em todos os seus aspectos. Pode-se supor, também, que a afetividade se constitui como um fator de grande importância na determinação da natureza das relações que se estabelecem entre os sujeitos (aluno) e os diversos objetos de conhecimento (áreas e conteúdos escolares), bem como na disposição dos alunos diante das atividades propostas e desenvolvidas. CONCLUSÃO Falar em afetividade é acreditar em uma educação com relevância social e, logo, em uma escola construída a partir de respeito, compreensão e autonomia de idéias. Uma vez que se pretende formar cidadãos honestos responsáveis, a formação da auto-estima é fundamental para qualquer indivíduo. Infelizmente, o currículo atual da maioria das escolas prioriza o desenvolvimento cognitivo, excluindo a emoção humana e o afeto do processo de aprendizagem. A relação afetiva entre professor e aluno pode ajudar os alunos a desenvolverem atitudes e pensamentos positivos que estariam contribuindo na sua autoestima, através da valorização deste relacionamento em sala de aula. A escola, sobretudo a escola pública, costuma receber um público heterogêneo. Para muitos educadores, a escola é a primeira oportunidade de conversar com pessoas diferentes (aspectos sociais, raciais, religiosos). Todos os alunos estão na sala de aula usufruindo o mesmo direito à educação. É excelente oportunidade para que aprendam, cada um na sua singularidade. Dessa maneira, desenvolver o vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a disciplina tornam-se conquistas significativas para o autocontrole do aluno e seu bem estar escolar. Percebe-se uma forte relação entre professor e aluno, influenciando na formação da auto-estima, pois muitas vezes o aluno vai para a sala de aula em busca de respostas que esclareçam o seu verdadeiro papel na sociedade. 24 Dentro deste contexto, esperam-se mudanças na educação a partir de conscientização de novas metodologias que insiram cada vez mais o aluno em uma vida escolar que retrate sua realidade e que busque a contextualização, porém, olhando-se de outro prisma, a solução para a educação pode estar no afeto. Afeto este que inclua, que proporcione crescimento e valorização do ser humano e reconhecimento pessoal como sujeito ativo na construção da história. Espera-se que este apesar de não ser inédito venha reforçar a necessidade dos professores incluírem a dimensão afetiva em sua prática pedagógica, refletindo sobre a mesma e preocupando-se com um futuro mais "humano" para a sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, Celso. Alfabetização emocional. São Paulo: Terra, 1996. BRANDEN, Nathaniel. Auto-estima e os seus 6 pilares. São Paulo: Saraiva, 1994. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Subsecretaria de Edições Técnicas, 1997. CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001. BRIGGS, Dorothy C. A auto-estima do seu filho. São Paulo: Martins Fontes, 2000. DANTAS, H. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: De LA TAILLE et all. Piaget, Vygotsky e Wallon: as teorias psicogenéticas em discussão. 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