UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO Por: Marly Leite da Silva Orientador Ms Nilson Guedes de Freitas ABRIL/2005 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO Por : Marly Leite da Silva 3 AGRADECIMENTOS O ato de agradecer esta alicerçado na simplicidade em demonstrar a gratidão aqueles que de modo direto ou indiretamente, contribuíram para a confecção desse trabalho acadêmico, a todos os autores, Corpo Docente, e colegas de curso. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho de pesquisa ao meu marido e meu sobrinho. Foram eles, cada um a seu tempo e a seu modo, que me inspiraram a querer sempre mais para poder transmitir o melhor e enriquecer os conhecimentos na busca constante do aperfeiçoamento pessoal e profissional; também ao meu querido filho, que é a alegria da minha vida. 5 RESUMO A pesquisa bibliográfica trata da afetividade na relação professoraluno, definido-a como condição imprescindível para o desenvolvimento da criança na escola pública de ensino fundamental. Tem como pretensão levar o professor a entender as diversas atitudes e comportamentos dos alunos em sala de aula levando-o refletir, também sobre sua prática pedagógica. É uma reflexão das relações interpessoais; da diversidade cultural e da complexidade da própria instituição escolar compreendida com as particularidades do processo ensino-aprendizagem que envolve diretamente interesses e desempenho do corpo docente dos alunos e respectivas famílias e comunidades e da realidade que precisa ser compreendida em uma visão maior, formar o aluno para um novo tempo; para o desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto realização e de conscientização do seu próprio papel na sociedade. Para Freire (1996), expressar a afetividade ao aluno esta é a base para o sentimento de confiança. A análise final sugere ainda a necessidade da educação continuada e da auto-avaliação docente como fatores importantes não apenas para melhor lidar com alunos, mas para seu aperfeiçoamento pessoal e profissional. Palavra Chave: Afetividade.confiança.professor.aluno. 6 EPIGRAFE A dor tem seu aspecto amargo, mais o tem também doce; tudo dependera do lado por onde olhemos. É duro trabalhar muitos dias semeando a semente e cuidar dela; mais é agradável colher os frutos; é duro passar horas a fio estudando, mas é agradável receber o título e o diploma; é duro realizar esforços e mais esforços para construir a casa, mais é agradável ter em seguida seu próprio lar, é duro fazer qualquer esforço mais logo é agradável gozar do fruto gerado. Para chegar a ser bom de verdade, temos que realizar também grandes esforços, conseguir penosas vitórias, porém em seguida podemos usufruir a alegria de vir a ser o que devemos ser. Que não desanimem os esforços que se devem realizar, alegremo-nos com os resultados conseguidos por esses esforços. Alfonso Milagro 7 SUMÁRIO Introdução .................................................................................................... 08 Capitulo I ......................................................................................................11 Produção do Conhecimento Capitulo II ......................................................................................................17 A importância da relação professor aluno na aprendizagem Capitulo III .................................................................................................... 23 Espontaneidade, Respeito, Liberdade e participação Capitulo IV ................................................................................................... 29 Mudança na educação Conclusão .................................................................................................... 35 Referência Bibliográfica ............................................................................... 38 Anexo ........................................................................................................... 40 Índice .......................................................................................................... 42 Folha de avaliação ....................................................................................... 44 8 INTRODUÇÃO Atualmente verifica-se cada vez mais o aumento da violência, resultante de inúmeros fatores sociais, mais como reflexo de uma grande ausência de modelos afetivos originários inicialmente do meio familiar. Em conseqüência de diversos problemas sociais surge a desestruturação da família. cabendo a escola tentar recuperar a afetividade perdida, numa relação professor-aluno mais próxima e dialógica. Tomando como base os estudos e utilizando como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica, tentaremos responder ao problema que é destacar qual a importância das relações interpessoais e da afetividade na relação professor-aluno do 1º segmento nas escolas públicas de nova Iguaçu? Onde o objetivo geral é analisar a diversidade sócio-cultural presente na instituição Escolar, verificando as causas que interferem na construção do conhecimento e a importância da afetividade no desenvolvimento e formação do aluno. Faz-se necessário refletir sobre os fatores que contribuem para a formação do indivíduo enquanto ser social e o processo pedagógico que cada um de nós, professores, educadores comprometidos com o desenvolvimento psicosocial do indivíduo que estamos preparando para inserir na sociedade; vendo a escola como uma instituição fundamental para a formação cidadã necessária a constituição de uma sociedade digna. É preciso pensar a escola não apenas como um lugar ou de produção e de divulgação do saber, mas também, um espaço de troca de intercâmbio de relações, isto é, de aprendizagem social onde os processos de aprendizagem presentes nos diferentes espaços sociais precisam ser incluídos e valorizados. Valorizando também as relações interpessoais e 9 clima socialmente positivo, em termos de respeito e liberdade que são fundamentais para o desenvolvimento do educando. Cabe, então, apontarmos os momentos que norteiam o desenvolvimento das idéias que se pretende apresentar No 1º capitulo, referimo-nos a produção do conhecimento em suas dimensões: intelectual, afetiva e cultural; explicando como se dá a construção do sujeito na relação com o conhecimento, que permite a apreensão lógica das realidades. Abordamos a dimensão afetiva como um conhecimento de si mesmo e a dimensão cultural, pois trata-se de sujeitos contextualizados inseridos em uma cultura. O conhecimento é produzido por um processo histórico pelo qual os sujeitos em relação com o mundo, com os outros sujeitos transformam a natureza e a si mesmos. A sociedade expressa esse conhecimento através da arte, ciência, tecnologia, educação mitos, política, criando um processo de simbolização e permitindo que a experiência acumulada seja transmitida e transformada pela dimensão cultural, os sujeitos inserem-se no conhecimento, mediante a aprendizagem. No 2º capítulo, considerando que o processo de aprendizagem se passa na convergência das dimensões intelectuais, afetivas e culturais e marca um lugar para o sujeito, o lugar de professor-aluno pode contribuir ou não na formação mais integral do aluno e enfatizando a importância da afetividade nessa relação. No 3º capitulo tratamos de espontaneidade, respeito e liberdade, reconhecendo a importância da diversidade cultural existente nas instituições de ensino. As questões de auto-estima, auto-imagem continuam como questões básicas que só serão trabalhadas e desenvolvidas em uma realidade concreta e objetiva. Atendendo as necessidades do educando tanto com relação aos aspectos cognitivos e psicomotores como afetivos. Favorecendo as relações entre o desenvolvimento e aprendizagem entre desenvolvimento e seu ambiente-sócio-cultural. 10 No 4º capitulo analisaremos a necessidade de uma educação em movimento valorizando o aperfeiçoamento pessoal e profissional do professor. Promovendo uma reflexão sobre a necessidade da educação continuada e da auto-avaliação docente, currículo, programas e regulamentos. Mencionamos os aspectos da relação professor-aluno os quais devem ser abordados na formação do professor, e instrumentá-lo para construir com os alunos um espaço de autonomia e autoria de pensamento. Nas considerações finais enfatizamos a importância da reflexão sobre a prática docente, em especial, das relações estabelecidas na escola,que possamos contribuir para a resignificação da mesma. 11 1. PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO Os seres humanos para sobreviver precisam transformar a natureza, o mundo em que vivem. Esse processo não ocorre de forma individual, mas sim em conjunto, agindo em sociedade. Como explica a Profª. Marilena Chaui, a origem da sociedade coincide com a dos próprios sujeitos. Estes são autores que, através da ação, colocam a sociedade histórica no real. o real não são coisas, nem idéias, não são dados empíricos nem ideais, mas o trabalho pelo qual uma sociedade se institui , se mascara, se oculta, constrói seu imaginário e simboliza sua origem, sem cessar de repensar essa instituição, seu imaginário e seus símbolos (Marilena Chaui 1982, p.17). A expressão desta construção que cria a ordem simbólica da sociedade, a partir das relações dos sujeitos entre si, com a natureza e suas respectivas interpretações, e materializada sob a forma de padrões de comportamento, costumes, linguagem, crenças, valores, produtos técnicos, científicos e denomina-se cultura. Os sujeitos necessitam se apropriar deste real, conhecer o mesmo. Esta atividade de busca tem por objetivo obter soluções aos desafios que surgem para a satisfação de suas necessidades, de seus desejos. Ao agir sobre o mundo, os sujeitos sofrem a interferência do mesmo. A verdade do mundo e do homem não é dada: é buscada. E nesta procura ela é construída, marcando o homem e o mundo, deixando gravadas no homem e no mundo as marcas da ação do homem sobre o mundo e do mundo sobre o homem (1993, p. 24). Não podemos esquecer que o ser humano é capaz de produzir conhecimentos por possuir características específicas que o diferencia de outros animais. 12 Veiga (1992) explica esta diferença ao afirmar que o animal traz consigo um programa de computador chamado instinto, sem precisar negociar nada com ninguém. Já o bebê ao nascer é quase totalmente incapaz. O autor conclui que o bebê necessita negociar com o mundo, através dos adultos. Estes são mediadores entre a criança e a cultura, pois ambos, criança e adulto, estão inseridos em uma sociedade histórica. Isto significa que, para “existir” enquanto sujeito, este bebê necessita da aprendizagem que se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, como explica Sara Pain. A produção do conhecimento através da aprendizagem pode ser abordada a partir de três dimensões fundamentais: intelectual, afetiva e cultural. Sendo que as mesmas se articulam entre si. É na dimensão intelectual que se dá a construção da objetividade do sujeito, permitindo a apreensão da realidade. Esta apreensão ocorre através da utilização de esquemas mentais tornando acessível o objeto de conhecimento. Já a dimensão afetiva proporciona a construção da subjetividade, dando origem ao sujeito na construção do conhecimento, pois na medida que o sujeito conhece ele significa o objeto e se auto significa. 1.1 Construção da Objetividade: Capacidade de Organização Lógica De acordo com os pressupostos piagetianos, existe um paralelo entre o processo de reinvenção por parte da criança na apropriação do conhecimento e conseqüentemente no desenvolvimento da inteligência, com o processo de construção contínua. “Conhecer um objeto e agir sobre e transforma-lo, apreendendo os mecanismos dessa transformação vinculados com as ações transformadoras”. (Piaget, 1970, p.30). A teoria piagetiana nos fala como o ser humano constrói o real na mente (o desenvolvimento da inteligência) e explica como os sujeitos vão conhecendo e interpretando o mundo e, construindo-se enquanto sujeitos. 13 Para este teórico, o ser humano nasce com uma bagagem hereditária e programada da própria espécie (filogênese). A maturação da bagagem filogenética do sujeito acontece a partir da interação com o meio (físico, o Outro, a cultura). O desenvolvimento cognitivo é um processo que se realiza em todo ser humano e tem um caráter seqüencial ocorre numa série de estágios, sendo cada um deles necessário. Piaget explica que o processo é contínuo e produz estados de equilíbrio. Estes são denominados Estruturas. Ao conjunto de estruturas básicas que possuem coerência na forma específica de interpretar o mundo, em determinados momentos, denominamos estágios ou períodos de desenvolvimento Identificam-se quatro estágios descritos por Piaget: Estágio da inteligência sensório-motora (0 a 2 anos) Estágio da inteligência pré-operatória ou intuitiva (2-6 anos) Estágio da inteligência operatória (7-12 anos) Estágio da inteligência operatória formal (a partir da adolescência). Cada estágio resulta, necessariamente do precedente e, ao mesmo tempo o prepara para o seguinte. O alcance de uma etapa superior na organização inteligente, não se consegue senão com um progressivo intercâmbio do sujeito com o meio onde ele vai provando suas possibilidades de domínio, num jogo permanente de ações. Intercâmbio que, inicialmente, der-se através de ações materiais que vão progressivamente sendo interiorizadas e transformadas em operações. (FERNANDEZ, 1991, p 73). Verifica-se que as operações intelectuais e a socialização estão intrinsecamente relacionadas.No início de sua vida, o sujeito está totalmente centrado, não se diferenciando dos objetos ou do mundo. As diversas fases do egocentrismo indicam a capacidade do sujeito assumir pontos de vista que não os dele, sua dificuldade em aceitar posições diferentes frente ao mesmo problema. 14 O gradativo relacionamento com os outros sujeitos propicia a inserção na vida social. Conclui-se que as relações estabelecidas em sociedade interferem contribuindo ou não. Piaget (1970, p.32) não acredita em relações sociais que sempre favoreçam o desenvolvimento, fazendo uma clara distinção entre dois tipos de relações sociais: coerção e cooperação. Coerção é a relação entre dois indivíduos “na qual intervém um elemento de autoridade e de prestígio”. O sujeito aceita o que o outro lhe transmite como verdade absoluta, devido ao lugar de poder em que se encontra este outro. Por estar coagido o sujeito não participa da construção do conhecimento, aceita como válido o produto final e tende a repetir o que lhe impuseram. Este tipo de relação social corresponde a um baixo nível de socialização, age como um freio ao desenvolvimento da inteligência , impossibilita dessa forma o desenvolvimento da inteligência, impossibilita dessa forma o desenvolvimento das operações mentais e, conseqüentemente, a construção da objetividade do sujeito. As relações de cooperação representam justamente aquelas que vão pedir e possibilitar esse desenvolvimento. A cooperação pressupõe a coordenação das operações de dois ou mais sujeitos, proporcionando discussão, troca de pontos de vista diferentes, possibilitando um alto nível de socialização e a construção de uma objetividade na qual os sujeitos podem ser criativos e transformadores. (IVES, 1992, p.19). Ives identifica uma limitação na teoria piagetiana que não faz referência a cultura (crenças, religiões ideologia, classes sociais) ao remeterse as influências da interação social no desenvolvimento cognitivo. 1.2 A Construção da Subjetividade: Significação Simbólica O sujeito desde sua origem é um ser desejante e a constituição de sua significação simbólica ocorre a partir de sua constante negociação com o Outro. Conforme Fernandez, (1991, p.22), o Outro “está constituído por 15 todos os outros, que simbolicamente permitem reconhecer a individualidade construída”. A aprendizagem assume papel fundamental, pois se dá sempre pela intermediação de um outro-primeiro da mãe, depois pelos demais representantes da cultura. O nível simbólico criado, a partir das relações dos sujeitos entre si, com a natureza e das suas respectivas interpretações, e a expressão de um determinado processo histórico materializando-se através da dimensão cultural. O sujeito apropria-se do nível simbólico pela via do consciente, por meio da inteligência e pela via do inconsciente através do desejo que organiza sua vida afetiva de significações. “A linguagem, o gesto, e os afetos agem como significantes, com os quais o sujeito pode dizer como sente seu mundo”.(Fernandez, 1991, p.74). A mesma explica que teoricamente, ao observar as atitudes do sujeito, podemos discriminar o processo objetivante (lógico-intelectual) do processo subjetivante (simbólico-desejante): a soma de ambos os processos e o ato que resulta. Portanto, no processo de aprendizagem, interagem o nível cognitivo e o nível desejante do sujeito, além do organismo e do corpo. O conhecimento não é em parte influência do meio e em parte produto de herança; o conhecimento não está no sujeito, nem no objeto, nem no somatório dos dois, entre o sujeito e o objeto existe a ação e é essa que lhe permitirá construir seu conhecimento. 1.3 Dimensão Cultural Para falar de produção de conhecimento, não basta explicar sua dimensão objetiva e subjetiva.E preciso levar em conta a dimensão cultural. Tal dimensão está relacionada com as dimensões objetiva e subjetiva do sujeito, pois se trata de um sujeito contextualizado, histórico, inserido numa cultura. 16 Mesmo existindo tendências gerais de organização na história dos grupos humanos, não é possível estabelecer seqüências fixas para detalhar fases de cada realidade cultural, pois a produção de cada cultura é resultado de uma história particular e de suas relações com outras culturas. A sociedade expressa esse conhecimento através da arte, religião, esportes, tecnologia, ciência política educação, mitos. Os grupos humanos codificam sua realidade em palavras, idéias, doutrinas, teorias rituais, ou seja, criam um processo de simbolização, de substituição de uma coisa por aquilo que a significa, permitindo que a experiência acumulada seja transmitida e transformada. A cultura é um processo histórico pelo qual os sujeitos, transformam a natureza e a si mesmos. O trabalho de transformar e significar o mundo é o mesmo que transforma e significa o sujeito, é uma prática coletiva onde a ação é motivada pela sociedade na qual o homem se transforma em ser humano e em parte da cultura, esse processo de conhecer conhecendo constrói socialmente a consciência. (BRANDÃO, 1989, p.65). É importante salientar o papel da aprendizagem, pois a mesma inscreve o ser humano como sujeito de uma cultura, podemos afirmar que o processo de aprendizagem se passa na convergência das dimensões intelectuais, afetivas e culturais e marca um lugar para o sujeito. Esse processo é, portanto, mediado pelos “outros”. Entre esses outros destacamse além dos pais, o professor. No próximo capítulo, será abordado o papel do professor enquanto o “outro” que é mediador entre sujeito e a cultura. 17 2. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NA APRENDIZAGEM Na produção do conhecimento, como já foi mencionado, interagem três dimensões fundamentais: a intelectual, a afetiva e a cultural. Essa atuação transferencial inconsciente pode gerar atitudes que são justificadas conscientemente pelo professor com argumentos cujas origens ele desconhece, gerando autoritarismo, coersão, competição. Essas atitudes refletem na forma de produção do conhecimento pelo aluno. Tanto a dimensão cultural, que permite a apreensão da realidade, como a dimensão afetiva, que permite a auto-significação e a significação da realidade pelo sujeito, ambas são mediadas pela dimensão cultural. A percepção da realidade pelo sujeito quando criança se constrói na interação com os membros se sua família e nessa interação vão se estabelecendo modelo, significados que vão fortalecendo a individualidade desse sujeito. Os sujeitos, e produtores de um processo histórico são contextualizados, inseridos em uma determinada cultura. A aprendizagem possibilita ao sujeito inserir-se na vida social. através da aprendizagem o sujeito é inserido, de forma mais organizada no mundo cultural e simbólico, que o incorpora a sociedade... a escola e, então, participante desse processo de aprendizagem que inclui o sujeito no seu mundo sócio cultural. (NADIA BOSSA, 1994, p.67). É necessário insistir no papel do professor: ele é um profissional educador de fato, comprometido não só com a construção do conhecimento do aluno, mas desde como um todo. Um professor que saiba viabilizar, entre seus alunos, as trocas necessária ao exercício de cooperações que irão 18 sustentar o desenvolvimento de personalidade autônomas no domínio cognitivo, moral, social e afetivo. Dentre as possibilidades para a escolha docente aposentadas pela autora, está o amor aos alunos, que pode atuar de forma possessiva. Segundo Nádia Bossa: permitir e liberar, mediante corinho e segurança, o aluno no seu caminho em busca do saber, relativizando as coisas, não apresentando respostas como verdade terminadas, mas acompanhando-o na reconstrução de conhecimentos..., Que se sempre provisórios, conforme a eterna reformulação dos saberes, que se acredita sejam importantes para a vida dos homens em sociedade. (1994, p.71) É a dimensão afetiva que inclui os sentimentos, interesses, impulsos ou tendências, como a vontade e valores que constituem os padrões de comportamento. Segundo a teoria piagetiana, para que o ensino-aprendizagem contribua pra o desenvolvimento da inteligência do aluno, deve metodologicamente favorecer múltiplas interações entre os alunos e os conteúdos. Segundo essa teoria, o aluno constrói aos poucos seu conhecimento através da ação. O professor orienta o processo e canaliza as experiências, traduzidas pelos alunos, para que ocorra a apropriação de conhecimento significativo. O professor, desafiando os alunos a conhecer, cria um espaço onde podem ocorrer situações de desequilíbrio e equilíbrio para que os conteúdos escolares possam ser assimilados e acomodados. Cabe ao professor propiciar situações propiciar situações desencadeadoras de conflitos cognitivos, pois tais estando vinculadas ao processo de socialização do sujeito. Dessa forma, o professor pode contribuir para o desenvolvimento da inteligência, propiciando relações sociais cooperando ou, ao contrário, propiciando relações sociais cognitivas. 19 No processo educativo as relações coercitivas, estabelecidas por professores, estão vinculadas ao autoritarismo, a concepção de conhecimento como pronto, como uma única verdade a ser apresentada. Este tipo de relação, não contribuiu para o desenvolvimento da inteligência. Geralmente tais sujeitos, que estabelecem este tipo de relação, possuem uma visão de mundo estática, fragmentada e concebem a produção histórica e cultural da humanidade como pronta, devendo ser reproduzida. Já as relações, que procuram criar um espaço de cooperação entre professor e aluno, priorizando a discussão, troca de pontos de vista, contribuem para o desenvolvimento da inteligência, da socialização e, conseqüentemente, para o exercício de relações democráticas. Neste contexto, procura-se trabalhar o processo de construção do conhecimento, desafiando os alunos a perguntar, a pensar, a estabelecer um espaço criativo e de autoria do pensamento. Geralmente tais sujeitos questionam e procuram contribuir para a transformação das relações de poder. Os mesmos concebem os sujeitos como produtores da história e procuram contribuir para sua formação. ...a experiência é sempre necessária para o desenvolvimento intelectual... o sujeito deve ser ativo, deve transformar as coisas e descobrir, então, a estrutura de suas próprias ações sobre os objetos . ... as crianças necessitam comunicar-se com as outras. Este é um fator essencial ao desenvolvimento intelectual. Cooperação e na verdade cooperação. O professor deve proporcionar os instrumentos que a criança possa usar para decidir as coisas por si própria ... A verdade já feita é apenas uma meia verdade. O principal objetivo da educação é criar homens que sejam capazes de criar coisas novas, não simplesmente de repetir o que outra geração já tenha feito- homens que sejam criativos, inventivos e descobridores. O segundo objetivo da educação é formar mentes que possam ser crítica, possam verificar e não aceitar tudo que lhes seja oferecido. O grande perigo hoje são os slogans, opiniões coletivas, tendências prontas de pensamento. (Paulo Freire, 1991, p. 94). Paulo Freire também defende a importância do estabelecimento de relações professor/aluno baseadas na cooperação, na democracia e como ele diz, no diálogo para contribuir na formação de sujeitos críticos. 20 O autor enfatiza que os professores não são neutros, estão inseridos num processo histórico, em uma cultura. De forma consciente ou não, assumem, na relação com o aluno, uma opção progressista, democrática ou autoritária, reacionária (1993, p.98). A opção educação e a democracia se vive “em sua cotidianeidade escolar, que submete sempre a sua análise crítica, a difícil mais possível e prazerosa experiência de falar aos educandos e com eles” (Paulo Freire, 1993 p.87); isto é, criando um espaço de diálogo que contribui para a formação de cidadãos e cidadãs responsáveis e críticos. Tal contribuição não é suficiente pra mudar o modo, mas considera que as relações democráticas na escola contribuem fundamentalmente para a construção da democracia. Segundo o mesmo, para o estabelecimento de tal dialogo, é necessário que os educadores saibam o que se passa no mundo concreto dos educandos. Para uma prática competente e compromissada Paulo Freire (1993) enfatiza a necessidade da formação permanente do educador, implicando em uma reflexão crítica sobre a prática, pois a mesma está influenciada pelos “condicionamentos que o contexto cultural tem sobre nós, sobre nossa maneira de agir, sobre nossos valores” (Paulo Freire, 1993, p.106) Paulo Freire diz também que não existe ensinar sem aprender, pois para ele... o aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica na medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensamento, rever-se em suas posições; em que procura envolver com a curiosidade dos alunos e os diferentes caminhos e veredas que ela o faz percorrer. (PAULO FREIRE, 1993, p.110). Do que foi abordado, pode-se dimensionar a importância do papel do professor do processo de ensino-aprendizagem. No âmbito da dimensão 21 cultural, a educação como um ato político, no âmbito da dimensão afetiva, o professor como mediador para acelerar o desenvolvimento dos esquemas mentais do aluno. Destaca-se estes aspectos, devido a nossa preocupação com um processo de aprendizagem, que se dá no âmbito da relação professor aluno, que tenha como perspectiva a formação de sujeitos críticos, com autonomia e com autoria de pensamento. Não basta que o professor tenha acesso aos aspectos conscientes desse processo, as vantagens de uma aprendizagem democráticas, com diálogo, não autoritária, com cooperação entre ensinantes e aprendentes. Faz-se necessário, além disso que o professor possa tomar conhecimento dos aspectos inconscientes que permeiam essa relação e que são decorrentes de sua corporeidade, de sua modalidade de aprendizagem que foram constituídas ao longo de sua vida na relação com os “outros”, apropriando-se de mandatos da cultura na qual estão inseridos e que influenciam em sua atuação. Para que o professor possa proporcionar uma aprendizagem que privilegia a autonomia, criatividade, autoria de pensamentos dos alunos, é preciso que o mesmo vivencie este tipo de aprendizagem, podendo libertar esse desejo de conhecer tudo, contactando com a função positiva de ignorância e com o limite de conhecer parcialidades. A relação professor - aluno não se limita à expressão relações humanas, abrange todas as dimensões do processo ensino-aprendizado que se desenvolve na sala de aula também dando estrutura ao aprendizado, orientando. O importante é entender que no decorrer de todo processo de desenvolvimento a afetividade é como uma “energia” que impulsiona as ações, ficando claro, no caso da escola, a importância da relação entre professor e aluno, de modo que ambos convivam em um ambiente de 22 harmonia, e que a aprendizagem, assim, possa fluir com mais facilidade, havendo maior rendimento e maior interação entre ambos. O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motivação possa ser despertada por um numero cada vez maior de objetivos ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações, e a razão está ao seu serviço (LA TAILLE, 1992:65). Acreditamos que a escola deve se ocupar com seriedade com a questão do saber, do conhecimento. Se um professor for competente, ele, através do seu compromisso de educar para o conhecimento, contribuirá com a formação da pessoa, podendo inclusive contribuir para a superação de desajustes emocionais. 23 3. ESPONTANEIDADE, RESPEITO, LIBERDADE E PARTICIPAÇÃO A criança é um ser em desenvolvimento em que predomina a atividade lúdica, através da qual descobre, conquista o mundo, uma grande novidade para ele. Um ser em que predomina a fantasia, a imaginação, o jogo, atividades quase únicas de seu dia-a-dia antes do início da escolarização. Um ser que prevalece a espontaneidade. O aprendizado é um processo meramente cognitivo ou intelectual. O modo como nas sentimos influi poderosamente em como e quando aprendemos Ignorar essa dimensão emocional não conduz a nada e, alem disso prestar atenção ao âmbito afetivo dos alunos pode melhorar o aprendizado convencional das matérias (PEDRO MORALES, 1999, p.61) O autoritarismo excessivo, em que não se permite à criança manifestar-se livremente, em especial quando essa manifestação importa em discordância, resulta num ser passivo, dependente, sem iniciativa. Com a iniciativa de reprimir o erro, muitas vezes o professor tolhe uma iniciativa participativa, corta uma possibilidade de aprendizagem, impede um desenvolvimento mais espontâneo. Afinal, o erro geralmente é o caminho para o acerto. A qualidade das relações interpessoais manifesta-se de muitas maneiras: dedicar tempo à comunicação dos alunos, manifestar afeto e interesse, interagir com os alunos com prazer. A relação professor aluno é uma relação profissional. É claro que essa profissão é um tanto especial. Nela, as próprias emoções e sentimentos desempenham um papel que não está presente em outra ocupação mais mecânica ou burocrática. (PEDRO MORALES,1999,p.62) É preciso conquistar o educando mostrando-lhe que o conhecimento pode ser trabalhado de diferentes formas e não somente nas mais tradicionais, seja aplicando recursos tecnológicos, alternativos para tornar o 24 ensino uma atividade prazerosa com a implementação de atividades em grupo que envolvam tema do cotidiano dos alunos. Principalmente, quando o professor vai trabalhar numa comunidade que não é a sua, surge à necessidade de que ele compreenda a realidade diferente dos alunos. Ao mesmo tempo pelo contato com o professor, os alunos podem tomar conhecimento de outras realidades, diferentes da sua. Esse intercambio pode ser útil para a formação de pessoas abertas, tolerantes, e para o desenvolvimento de uma visão de conjunto, integrada, útil ao domínio e à utilização do conhecimento. 3.1 A Espontaneidade Na medida em que todos os comportamentos passam a ser controlados por um rígido sistema de recompensas e punições, sobra pouco espaço para comportamentos espontâneos, gratuitos. Se toda vez que sentir vontade de fazer algo, o indivíduo tiver que se preocupar com conseqüência desse comportamento, pelas possíveis punições desenvolverá grande insegurança e dependência em relação aos outros. Embora o fato de viver em sociedade exige de todas as pessoas o respeito, o que caracteriza o comportamento humano é justamente o fato de que pode mudar constantemente, em razão de modificação das situações. Na medida em que o comportamento se torna um hábito, fruto de condicionamento, perde essa característica humana, torna-se automático. Acusa-se a escola de matar a espontaneidade, de controlar de maneira rígida todos os comportamentos da criança. Na verdade, não é necessário que assim seja. A escola pode criar oportunidades para a livre manifestação da criança. Tais momentos são importantes para a criança possa conhecer-se melhor, possa colocar em prática suas preferências, possa desenvolver características próprias. 25 O desejo de saber e a necessidade de compreender estão dentro da criança e vão se prolongar através das inúmeras perguntas que ela vai fazendo, pois a curiosidade e o prazer da descoberta e o conhecimento fazem parte da própria dinâmica da vida. “nada nem ninguém pode obrigar alguém a desejar” (CORDIÉ, 1996, p.23). A formação da personalidade individual esta na dependência das oportunidades de que as pessoas dispõem para agir de maneira espontânea, segundo seus desejos e preferências sem o risco de punições externas. O único risco que pode existir é aquele que resulta do próprio comportamento: se subir numa arvore pode cair, se não estudar não aprenderá, etc. 3.2 A Liberdade A educação para a liberdade é outro fator que leva a escola a contribuir para a mudança social. O indivíduo educado para ser livre é aquele capaz de analisar criticamente uma situação e, a partir dessa análise, toma a decisão que acha mais viável diante dela; poderá concluir que a situação é a mais adequada e, por isso, lutar para mantê-la; mas também julgar que a situação deve ser modificada e contribuir para a mudança. A liberdade não se ensina, qual matéria escolar teórica, mas se aprende praticando. Assim, não adianta o professor e a escola declararemse a favor da liberdade se, ao mesmo tempo, reprimirem toda e qualquer manifestação dos alunos. Num clima de liberdade, o professor pode discordar do aluno, e viceversa, mas cada um defende o direito do outro expor seu ponto de vista. Quando há liberdade, desenvolve-se um clima de respeito mutuo, de valorização da pessoa do outro. Compreende-se que, sendo respeitados em seu direito de divergir, o individuo também considere necessário respeitar os demais e sua liberdade. A educação deve ser um processo onde o aluno se sinta livre para fazer descobertas e partilhá-las com os colegas. O que só é possível quando 26 o professor oportuniza essa possibilidade, através de uma prática reflexiva e aberta para mudanças. Aceitação afetiva (ao menos a não recusa) será sempre importante para que as mensagens que consideramos valiosas cheguem aos alunos. Boas mensagens se perdem simplesmente porque se recusa o mensageiro. O professor pode ensinar mais com que é, do que com aquilo que pretende ensinar, seu modo de fazer as coisas implica mensagens implícitas de efeitos que podem ser positivos ou negativos, se aceitam ou recusam suas atividades e seus valores, reforça-se o interesse ou o desinteresse pelo aprendido. Os estudantes precisam pensar sobre as próprias atitudes e reconhecer os sentimentos que movem suas ações. Quando eles fazem isso, surgem oportunidades de na prática, construir valores positivos. O modo como os professores enxergam os alunos é essencial para o sucesso da aprendizagem. Quando não julgam e procuram se aproximar do aluno, acreditem nele, observam seu comportamento e incentivam suas capacidades, ele tem tudo para crescer. A flexibilidade é importante; é fundamental não se aprisionar por um papel, o professor se apresenta da forma como é, pessoas humanas, com sentimentos e opiniões pessoais, com algo pessoal a comunicar ocasionalmente e, além disso, professores. (PEDRO MORALES, 1999). Os professores têm a responsabilidade ética e moral de fazer-se consciente do impacto que eles têm sobres os alunos. O impacto e influência sobre os alunos vão além dos conhecimentos e habilidades que é ensinado; incide-se sobre valores, hábitos, motivações e como eles vêem a si mesmos; não se limita a contemplar o mero aprendizado das matérias como objetivo único, ou mais importante, a relação com os alunos na sala de aula adquiri toda a sua importância. 27 Escola é lugar onde se faz amigo, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, confeitos. ...escola é sobretudo gente, gente que trabalha, gente que estuda, gente que se alegra, que se conhece, que se estima. O diretor e gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente e a escola será bem melhor na medida em que cada ser se comporta como colega, como amigo. Nada de ilha cercada de gente por todos os lados. Nada de ser como tijolo que forma paredes indiferentes, frio, só. Importante na escola não é só estudar, é também criar laços de amizade e criar ambiente de camaradagem, é convencer, se amarrar nele. Ora é lógico ....em uma escola assim vai ser faceou estudar, crescer, fazer amigos, educar e ser feliz. (PAULO FREIRE, 1999) Tal influência não se dá apenas nos conhecimentos e do desenvolvimento intelectual, mas também no desenvolvimento moral, no discernimento dos próprios valores. Um bom relacionamento com os alunos, se não haver eficácia na tarefa docente, não é uma boa relação de um ponto de vista mais integral. Segundo Sara Pain (1988, p.80) “a aprendizagem pode ser definida de modo muito geral, como o processo de transmissão de conhecimento”, transmissão esse que não ocorre em bloco, de forma mecânica, e sim através do que chama de “insígnias” ou sinais de conhecimento. O ensinante faz um recorte do conhecimento transmitindo sinais que levam conhecimento e ignorância, para que o aprendente possa, transformando tais sinais, reproduzi-los. O conhecimento transmitido e definido pela autora como “a organização operatória de um código, isto é, as regras pelas quais se pode gerar significado”. (Sara Pain, 1988, p.80). Segundo a mesma, não ocorre auto-aprendizagem, pois as estruturas mentais não atuam no vazio. Mesmo havendo autodidatismo, esta sempre relacionado a um processo de identificação com um outro que serve como modelo. Além de o processo de aprendizagem pressupor a existência do outro, a relação estabelecida entre o sujeito que aprende e o outro é mediada pelo corpo dos mesmos. 28 Alicia Fernandez (1994, p.44) explica que o aprender e o ensinar ocorrem através do corpo dos sujeitos. A construção desse corpo que serve de mediação na relação de aprendizagem “é uma construção realizada sobre a “matéria-prima” que dá o organismo, atravessado pela inteligência e o desejo, em um momento histórico determinado”. 29 4. MUDANÇAS NA EDUCAÇÃO No processo ensino-aprendizagem, em qualquer contexto em que se esteja inserido, é necessário que se conheça as categorias que integram este processo como elementos fundamentais para um melhor aproveitamento da aprendizagem. A interação social é uma forma privilegiada de acesso a informação, de acesso ao objeto de conhecimento. O sujeito, em todas as suas dimensões, é de formação histórica, isto é seu pensamento, a sua consciência surgem como emanação direta da concretude de suas interações. As escolas devem oportunizar a este sujeito o conhecimento cientifico e tecnológico, de forma a democratizar o saber em sua totalidade. O conhecimento é herança da comunidade, direito de todos, e a escola tem o compromisso de resignificar este acervo cultural. É necessário que haja a compatibilização entre objetivos educacionais, as expectativas da clientela e os recursos existentes, o que pressupõe o conhecimento prévio da escola e da comunidade, tal conhecimento favorece uma definição mais realista das metas propósitos, e conseqüentemente maior segurança no alcance dos resultados esperados. Para atender as necessidades básicas da educação, é preciso que a formação de professores seja repensada, de modo que esteja comprometida em reverter as práticas pedagógicas que ignoram a cultura do aluno. O favorecimento da prática reflexiva no espaço escolar deve ser entendido como estratégia para ser empregada como ações pedagógicas significativas que contribuam para a prática docente, preparando o profissional para superar as dificuldades que envolvem o ensinar e aprender. 30 É importante valorizar as relações que se desenvolvem no ato educativo, reforçando ao professor que é preciso considerar, no desenvolvimento de suas atividades, tanto suas ações quanto as ações de seus alunos. As ações devem ser adotadas para o interesse dos alunos e para a concretização dos objetivos sócio-educacionais da instituição escolar. É necessário que o professor reflitam sobre seus atos pedagógicos. Considerando relevantes as relações intra e interpessoais que ocorrem no espaço escola, transformando-se em um investigador da própria prática. Neste sentido a prática educativa, na escola, deve primar pelas relações de solidariedade, proporcionar situações que lhe dêem prazer de construir conhecimento de crescer junto com o outro. Não há mais espaço para uma educação individualista, quer que seja do ponto de vista do aluno ou do professor. A educação hoje está centrada na relação do sujeito meio, nas dinâmica das trocas de ação que viabilizam a formatação de personalidades que fortalecem enquanto co-participantes de um grupo e como produtores do seu saber. (REIS, 1997, p.83). 4.1 Visão de Conjunto Escola e comunidade não devem ser vistas isoladamente, mas interagindo e atuando em conjunto para a formação de novas gerações. A escola será tanto mais eficiente quanto mais estiver aberta às condições do país e do mundo em que vivemos. O interesse pelos problemas atuais que infligem a humanidade não poderia deixar de existir dentro da escola, na medida em que esta pretende formar pessoas para atuarem de forma construtiva. A escola cidadã e democrática, voltada para a promoção e transformação dos sujeitos. A escola comprometida com a aprendizagem, com a produção do saber e com a intervenção na realidade. 31 Este ideal de escola que sonhamos se constrói no cotidiano e em ação concretas. Ações que se efetivem na formação continuada de professores, além do apoio pedagógico e na reorganização do espaço escolar, no esforço para a aprendizagem de todos, na avaliação formativa e na opção por práticas pedagógicas que considerem o aluno como sujeito de sua própria aprendizagem, que inclui os múltiplos saberes reconstruídos nos diferentes espaços sociais. A educação escolar tanto pode atuar historicamente, constituindo em fator de mudança interna e externa. Para entender o comportamento, as reações, os anseios, e as necessidades, torna-se indispensável o conhecimento e a compreensão do meio, suas características, as forças que nele atuam e as expectativas em relação à escola. A comunidade e a escola são fontes de recursos com os quais os educadores poderão e deverão contar com os quais para a consecução dos objetivos educacionais propostos. A compatibilização entre os objetivos educacionais, as expectativas da clientela e os recursos existentes o que pressupõe o conhecimento prévio da escola e da comunidade; tal conhecimento prévio da escola e da comunidade; tal conhecimento favorece uma definição mais realista das metas propostas, e conseqüentemente maior segurança no alcance dos resultados esperados. No novo papel do professor e da escola, que não são mais as únicas fontes de informação dos jovens. O educador assume agora a função de juntar os conteúdos curriculares com conhecimentos que vêm de fora da escola e de ajudar os alunos a relacionar o aprendizado com o mundo. A aprendizagem escolar é decisiva na construção coletiva de significados de valores e de conduta, sendo que o jovem se sensibiliza quando faz parte de um grupo – a família, a escola, a sociedade. Os 32 estudantes precisam pensar sobre suas próprias atitudes e reconhecer os sentimentos que movem suas ações. As novas conquistas trazem novos valores, novas leituras da realidade. A visão de conjunto permite compreender que mesmo fato pode ser visto de vários pontos de vista, de varias perspectivas, todas elas possíveis e viáveis. O aluno será estimulado a desenvolver a compreensão e a tolerância em relação a posições e pontos de vista alheios. Entendemos o conhecimento não como um acúmulo de informações, mas como resultado dos fazeres e saberes resultantes da necessidade humana de conhecer e intervir na realidade. Este conhecimento não é neutro, mas sócio-historicamente constituído e está em constante movimento. A escola deve oferecer ao aluno pra relacionar-se com a realidade de forma ativa e critico. Essa realidade, não só do aluno, mas a do próprio contexto histórico que a determina precisa ser compreendida em uma visão maior. Estamos formando o aluno para um novo tempo; para a formação de desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania. A adversidade e cultural deve ser respeitada. As regras de convivência devem basear-se no respeito ao outro, na solidariedade, na construção da autonomia moral. 4.2 Formação permanente e continuada 33 Para alcançar melhoria na qualificação de ensino, dos fatores primordiais é a formação dos profissionais envolvidos no processo ensino e aprendizagem, no reconhecimento do valor que estes representam. O potencial do professor canalizado para o processo ensinoaprendizagem é que faz a diferença, seu desempenho em termos de conhecimento, atitudes, habilidades com relação ao processo ensino aprendizagem fazem parte da melhoria da qualidade de educação, valorizando a criatividade, respeitando o simbólico, permitindo recuperar a poesia. O conhecimento não exclui o sentimento, o desejo o afeto. Todos os fatores que interferem na percepção do sujeito devem ser analisados no sujeito que ensina, o professor, ele também deve ter suas “necessidades básicas” satisfeitas para buscar auto-realização, formação e valorização profissional, valorização de si mesmo e de perspectiva de futuro. A formação de professores em uma perspectiva intelectual crítica não deveria ser entendida como circunscrita ao período de formação acadêmica inicial, mas sim como um processo contínuo de aperfeiçoamento e aprofundamento reflexivo de professores sobre sua prática docente. Em nome de um projeto que vislumbre a educação de futuras gerações nos valores da tolerância e justiça social; acredita-se que a formação intelectual de professores representa um importante passo nesta longa caminhada. (CORDIÉ, 1997, p.232). Para que o professor possa propiciar uma aprendizagem que privilegia a autonomia, a criatividade, a autoria de pensamentos dos alunos, é preciso que o mesmo vivencie este tipo de aprendizagem para que possa dar novo significado seu “papel de professor” podendo libertar seu desejo de conhecer tudo, reconhecendo seus limites. A avaliação não pode ser uma prática classificatória e excludente. Deve ser um processo permanente de reflexão sobre a prática pedagógica, que permita repensá-la no intuito de promover a aprendizagem de todos. A prática reflexiva no espaço escolar deve ser entendido como estratégia a ser empregada nas ações pedagógicas; que contribuem para a profissionalização docente preparando este profissional a superar as dificuldades que envolve as questões práticas do ato de ensinar e aprender. 34 É necessário que os profissionais diretamente envolvidos tenham momentos de partilha e avaliação do trabalho. Essa formação deve instrumentalizá-lo para que possa lidar, em especial, com a dimensão afetiva desse processo para que não seja um obstáculo e sim facilitador ao processo de aprendizagem. O trabalho solitário e exclusivista poderá levar ao enfraquecimento e ao distanciamento dos objetivos propostos. Considerando o professor como um medidor propiciando um espaço de diálogo, tanto na sala de aula como em todos os espaços da escola, possibilitando a viabilização de processos de aprendizagem que priorizem o desenvolvimento pessoal. É preciso resgatar profissionalização do professor, reconfigurar as características de sua profissão na busca da identidade profissional. A formação do educador deverá ter como finalidade a consciência crítica da educação e o que implica num compromisso radical pela melhoria da qualidade do ensino. Considerando-se os limites e possibilidades da ação educativa em relação aos determinantes sócio-econômicos e políticos que configuram uma determinada formação social. E de vital importância que o educador tenha compromisso e envolvimento no trabalho que realiza com seu aluno tanto no aspecto intelectual como afetivo. 35 CONCLUSÃO As reflexões acerca da afetividade na importante e difícil relação entre professores e aluno, feitas a luz das principais teóricos da Psicopedagogia: Piaget, wallon, Vigotsky, deixam claro que a afetividade e inteligência se misturam, dependendo uma da outra para evoluir, visto que a dimensão objetiva é um elemento marcante para o desenvolvimento da espécie humana. É de fundamental importância que o professor esteja consciente de sua responsabilidade, tomando decisões de acordo com os valores morais e as relações sociais de sua época, considerando ainda as condições de vida familiar e social de seus alunos. O respeito mútuo, de fundamental importância para a criança, deve ser trabalhado em exercício de cooperação, na convivência em grupo, a partir da experiência histórica de cada um e de seu nível de desenvolvimento. São os esquemas mas afetivos, construídos na interrelação da criança com o seu meio, que irão formar o caráter da criança, e o sentimento de respeito que a criança nutre em relação a outras pessoas. Podemos, então identificar a necessidade de que o professor veja seus alunos com mais atenção, para entender suas condutas e não fazer julgamentos precipitados. Entendemos que o professor deve estar, antes de tudo comprometido com a educação, com o conhecimento de forma a contribuir com a formação da pessoa, do desenvolvimento de sua personalidade, como participante do grupo social em que vive. Finalmente; compreendemos que investir na formação do professor é o passo que a escola deverá dar para lidar com a questão da transferência, que vai além de suas habilidades teóricas e metodológicas. Enfim fica evidente a importância que tem para nós educadores, o conhecimento da afetividade, quer que seja através das emoções, da força 36 motora das ações ou do desejo e da transferência, para o melhor desenvolvimento da aprendizagem do aluno e, conseqüentemente, para uma melhor relação entre este e o professor. A escola, portanto, deve voltarse para a qualidade das suas relações, valorizando o desenvolvimento afetivo, social e não apenas cognitivo, como elementos fundamentais no desenvolvimento da criança como um todo. Priorizando as interações entre os próprios alunos e deles com o professor, o objetivo da escola, então, é fazer com que os conceitos espontâneos, que as crianças desenvolvem na convivência social, evoluam para o nível de conceito científico. Conteúdos significativos valorizam o universo social e histórico da criança, buscando a transformação de seus conceitos espontâneos em conceitos científicos. É a dimensão afetiva que incluem sentimentos, interesses, impulsos ou tendências, como os valores que constituem padrões de comportamentos, por isso é importante uma educação que legitime o papel dos interesses espontâneos, na atividade diária da escola. A atividade escolar deve centrar-se em situações de experiências onde são ativadas as potencialidades, capacidades, necessidades e interesses naturais do aluno. Os sujeitos produtos e produtores de um processo histórico, estabelecem a mediação com o mundo, a partir das interações construídas no decorrer de suas vidas. Considerando o professor como um mediador significativo para inserção dos sujeitos na cultura, enfatizando a necessidade de auto reflexão sobre a prática docente para propiciar um espaço de diálogo, tanto na sala de aula como em todos os espaços da escola ; possibilitando a viabilização de processos de aprendizagem que priorizem a afetividade como fator importante nesse processo. 37 Acreditamos que a formação teórica e prática do professor aliada a uma consciência política das tarefas sociais que deve cumprir pode contribuir para a elevação da qualidade do ensino e da formação cultural dos alunos. A adoção de uma linha de conduta no relacionamento com os alunos que expresse confiabilidade, coerência, segurança, manifestando interesse sincero pelos alunos nos seus progressos e na superação das dificuldades, na formação de vínculos que gerarão conhecimentos de forma prazerosa para todos. Acreditamos que essas considerações possam ser ponto de partida para refletirmos sobre a relação de qualidade com o aluno visando a melhoria no processo ensino-aprendizagem. 38 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ANTUNES, C. Alfabetização Emocional: Novas Estratégias. Rio de Janeiro (Petrópolis): Vozes, 1999. BRANDÃO,Carlos Rodrigues. A Educação como Cultura. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1985. BEARTH, Ruth M. Como a criança pensa. São Paulo: Ibrasa, 1993. BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil, contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Medicas, 1994. CORDIÉ, Anny. Os atrasados não existem: Psicanálise de crianças com fracasso escolar. Porto Alegre: Arte médicas, 1996. CURY, Augusto. Pais Brilhantes e Professores Fascinantes. Rio de Janeiro, sextante, 2003. FARIA Amália Rodrigues. O desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. São Paulo: Ática, 1989. FREIRE, P. Pedagogia da esperança. Um encontro com a pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. 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Gente, 1996 40 ANEXOS 41 42 ÍNDICE Capa ........................................................................................................... 01 Folha de Rosto ............................................................................................ 02 Agradecimento ............................................................................................ 03 Dedicatória .................................................................................................. 04 Epígrafe ....................................................................................................... 05 Resumo ....................................................................................................... 06 Sumário ....................................................................................................... 07 Introdução .................................................................................................... 08 Capítulos I .................................................................................................... 11 1. PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO 1.1. Construção de Objetividade: capacidade de organização lógica 1.2. A construção da Subjetividade: Significação Simbólica 1.3. Dimensão Cultural Capítulos II ................................................................................................... 17 2. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NA APRENDIZAGEM Capítulos III .................................................................................................. 23 3. ESPONTANEIDADE, RESPESITO, LIBERDADE E PARTICIPAÇÃO 3.1. A Espontaneidade 3.2. A liberdade 43 Capítulos IV ................................................................................................. 29 4. MUDANÇAS NA EDUCAÇÃO 4.1. Visão de conjunto 4.2. Formação permanente e Continuada Conclusão ................................................................................................... 35 Bibliografia ................................................................................................... 38 Anexos ......................................................................................................... 40 Índice ........................................................................................................... 42 Folha de avaliação ....................................................................................... 44