UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ CURSO DE LICENCIATURA EM BIOLOGIA MODALIDADE A DISTÂNCIA Módulo V - Processos Reprodutivos Eixo Temático - Biologia, Sociedade e Conhecimento Unidade: Diversidade Humana Flávia Cristina de Mello Doutora em Antropologia Social (UFSC), Mestre em Etnologia, Bacharel em Ciências Sociais (UNICAMP) Profa. Adjunta da área de Ciências Sociais (UESC) Diversidade Humana A espécie humana possui uma ampla diversidade de aspectos físicos, de modos de viver, de regras sociais, hábitos e formas de obter a subsistência. Apresenta também diferentes formas de interagir com o meio ambiente, de interagir com outros animais e de interagir entre si. Apesar da grande diversidade de fenótipos e de formas de organização social que a humanidade apresenta, tratase de uma única espécie biológica. Portanto, não existem diferentes raças humanas. A noção de que há diferentes “raças humanas” foi uma construção política e ideológica, baseada na crença etnocêntrica de que as sociedades européias ocupavam um estágio superior de “evolução” perante as outras sociedades do mundo. Nos textos indicados para as leituras, encontramos descrições das várias teorias desenvolvidas na história do pensamento ocidental para se pensar nesta diversidade apresentada pela espécie humana. Como vimos na apostila, o “racismo científico” é baseado em argumentos de superioridade e inferioridade entre os diferentes povos e os diferentes tipos físicos, associando ao conceito de “raça” aspectos que biologicamente não se sustentam cientificamente. A partir de autores racistas e evolucionistas, definiu-se aquela clássica divisão entre os estágios de evolução das sociedades, distinguindo-as entre “selvagens”, “bárbaros” ou “civilizados”. Somando-se ao racismo e etnocentrismo que permeavam o pensamento europeu, o “Evolucionismo Social” foi uma teoria desenvolvida no final do século XIX, que baseou-se nas teorias darwinianas de evolução das espécies. Da perspectiva do poder, o racismo foi uma estratégia para justificar a exploração, escravização e invasão territorial que os povos europeus praticavam desde o século XV, nas diversas partes do mundo. Estes paradigmas do “Evolucionismo Social” e do “Racismo Científico” foram superados por paradigmas derivados do “Relativismo Cultural”. O “Relativismo Cultural” propõe considerar que cada sociedade humana passou por diferentes processos durante seu desenvolvimento histórico e que isso definiu e define suas escolhas culturais. Atualmente, a ciência moderna constatou que não podemos definir a diversidade humana a partir do conceito de raça. A diversidade da humanidade tem suas bases no aspecto que efetivamente difere este animal dos outros seres estudados pela zoologia: O advento social e coletivo chamado “Cultura”. A reflexão sobre estas questões são o objetivo central deste nosso encontro: Compreender como o advento da “CULTURA” propiciou as diferenciações entre os primatas antropóides e o homo sapiens e homo sapiens sapiens. Retomando os pontos abordados pelos textos lidos e pela apostila, temos que os conceitos de “Cultura”, de “diversidade cultural” e de “diversidade humana” convergem para a compreensão de que as teorias que dividem os seres humanos em diferentes raças não têm fundamento científico. Muito se escreveu sobre esta diversidade no pensamento ocidental: De Confúcio, na China a Heródoto, na Grécia antiga, formulou-se reflexões a respeito das diferenças entre as culturas humanas. (ver Laraia, 1997). Teorias baseadas no determinismo geográfico ou ambiental, no determinismo biológico e no evolucionismo social vão tentar explicar tais diferenças. Contudo, atualmente constata-se que as diferenças não se baseiam em elementos fisiológicos originais, nem mesmo em razões utilitaristas. As escolhas adaptativas muitas vezes seguem razões simbólicas, determinadas pela cultura da cada grupo. A única diferença inconteste presente na espécie humana, comum à maioria dos mamíferos é o “Dimorfismo Sexual”: Fêmeas e machos humanos são distintos entre si. Já a diversidade de fenótipos apresentada pela espécie humana, não tem bases biológicas e sim deve-se à diversidade de formas de interação dos indivíduos desta espécie com o meio ambiente que ocupou desde de sua mutação original. Por isso, em um mesmo ambiente, dois grupos humanos podem assumir opções totalmente distintas nas suas práticas de organização social, de produção de subsistência ou de relação com o meio ambiente. Vejamos os elementos trazidos pelos textos que vocês lerão para esta Unidade: Vimos na apostila abordagens sobre o conceito de “raça” e das teorias do chamado “racismo científico”. Estas teorias reduzem a questão da diferença entre os seres humanos e entre os povos humanos ao aspecto físico. A leitura do texto indicado, de Tim Ingold (1998), nos mostra que estas diferenças não se restringem ao aspecto biológico, fisiológico ou fenotípico dos indivíduos. Ao contrário, são as diferenças culturais que produzem as diferenças físicas nos diferentes grupos humanos. E são as diferentes constituições dos indivíduos que produzem a diferença de comportamentos e escolhas. O que é animal e o que é aprendido socialmente no comportamento de cada um de nós? O que trazemos de instinto e como isso se manifesta? Manifestem suas impressões a partir das leituras dos textos: Pontos importantes que devemos reter destas discussões: A espécie humana surge no continente africano e deslocase em sucessivas migrações, espalhando-se pelo resto do mundo. Neste processo de mutação, os novos seres humanos vão se modificando, devido aos níveis de nutrição, às formas de trabalho e obtenção da subsistência, ao nível maior ou menor de insolação ao que estavam expostos, etc. As mutações apresentadas pelos humanos desde um período remoto da história da humanidade até os dias de hoje estão diretamente relacionadas às práticas e escolhas culturais destes grupos. E estas diferentes formas de interação com o meio ambiente baseia-se na “Diversidade Cultural” A cor da pele, por exemplo, é uma característica fenotípica que responde a escolhas culturais de certos grupos humanos. Ao invés de serem grupos com origens diferentes ou diferenciações biológicas distintivas de raças, a cor da pele entre os humanos está relacionada às trajetórias de suas migrações. Os povos que permaneceram em regiões tropicais e subtropicais mantiveram um nível de melanima necessário à proteção do tecido dérmico aos altos níveis de insolação aos quais estavam expostos. Aqueles grupos humanos que migraram para regiões onde haviam baixos índices de insolação, desenvolveram menor concentração de melanina, para facilitar a absorção da radiação solar. Assim, a cor da pele é apenas uma diferenciação fenotípica superficial, que não tem correspondência a nenhuma outra mutação relevante do aspecto genotípico. O entendimento deste pressuposto científico, de as diferenças entre cor de pele, cor dos olhos e aspecto físico não são suficientes para definir uma distinção de raça é o ponto central da discussão apresentada pela apostila. E nos possibilita compreender que a Diversidade Humana está pautada na diversidade cultural desenvolvida pelos diferentes grupos humanos, nos diferentes pontos do mundo, e não em aspectos puramente biológicos. A partir da leitura dos textos, reflita sobre aspectos da Diversidade Humana, nesta perspectiva da Diversidade Cultural Para avançar em leituras sobre este tema, sugiro a leitura de um texto clássico sobre o assunto, de um antropólogo francês chamado Claude Levi-Strauss: “Natureza e Cultura” - o primeiro capítulo do livro chamado “Estruturas Elementares do Parentesco” Este texto reflete sobre os possíveis elementos que influenciaram na transição do ser humano em seu estado de natureza ou animalidade, para seu estado cultural, ou humanidade. Para mais indicações de leituras, dúvidas, trocas de reflexão etc. fiquem a vontade para me escrever: [email protected]