Traçado isso, pode-se dizer que “o imperativo categórico seria aquêle que representa uma ação como necessária por si mesma, sem relação com nenhum outro escopo, como objetivamente necessária.”3. O imperativo categórico é uma espécie de lei da moralidade, tendo o valor de lei prática, pois é possível saber anterior e imediatamente o seu conteúdo. “O imperativo categórico é, pois, um só e precisamente êste: Procede apenas segundo aquela máxima [princípio subjetivo da ação], em virtude da qual podes querer ao mesmo tempo que ela se torne em lei universal.”4. É importante frisar que essa primeira formulação do imperativo categórico não se confunde com a chamada regra de ouro (“faça aos outros o que deseja que os outros façam a você”), já que isso depende de fatos contingentes, ao passo que o imperativo categórico obriga a abstração dessas contingências. Por exemplo, seu irmão falece em um acidente de carro e sua mãe, idosa e doente, pergunta por ele. Segundo a regra de ouro, você tomaria por base a sua própria vontade (colocando-se no lugar da sua mãe) para decidir o que fazer, o que torna a regra bastante subjetiva. Por outro lado, para Kant, isso não é importante, pois sua mãe é um ser racional e merecedor de respeito, merecendo ouvir de você a verdade5/6. O próximo passo, então, é cogitar se existe algo cuja existência em si mesma tenha valor absoluto (fim em si mesma), a ponto de assumir-se como princípio de imperativo categórico possível. Nesse ponto, começa a se delinear a ideia kantiana de que o homem (e, em geral, todo ser racional) existe como fim em si, não apenas 3 4 5 6 KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de António Pinto de Carvalho. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1964. p. 75. (grafia da época mantida) Idem, p. 82-83. SANDEL, Michael J. Justiça – o que é fazer a coisa certa. Tradução de Heloisa Matias e Maria Alice Máximo. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. p. 157158. Aliás, para Kant, dizer que alguém tem ou não direito à verdade é sem sentido, pois, objetivamente, isso equivaleria a dizer que a verdade depende da vontade de que uma dada proposição seja verdadeira ou falsa. Assim, o mais próximo disso que se pode aceitar é a assertiva de que o homem tem direito à sua própria veracidade (a verdade subjetiva na sua pessoa). (KANT, Immanuel. À paz perpétua e outros opúsculos. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, [s.d.]. p. 174) O direito na cultura pop 85