Unidade I – OG: Introdução à Ética. Professor: Flany Toledo otesgimento da vida a vida racional. Aula 3 - OE: A Ética de Kant Nome do(a) aluno(a): Nº Turma: Preâmbulo Immanuel Kant ou Emanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo alemão, geralmente considerado como o último grande filósofo dos da era moderna, indiscutivelmente um dos seus pensadores mais influentes. O dever, uma idéia cristã Até o cristianismo nossas ações, isto é, as atitudes visíveis que fazíamos é que eram julgadas virtuosas e viciosas (como vimos em Aristóteles). A concepção cristã introduz uma nova idéia na moral: a idéia do dever, isto é, a idéia de que a virtude é a obrigação de cumprir uma ordem interna, no caso o que é ordenado pelas leis divinas e que estas (as leis divinas), não estão escritas nos livros, mas no coração dos seres humanos. Assim, para ser virtuoso basta consultar a vontade de deus em nossos corações. Trata-se de oferecer um caminho seguro para nossa vontade, que sendo livre, porém fraca, sente-se dividida entre o bem e o mal. Sabemos que o cristianismo acredita na existência de deus e de uma alma imortal, assim, em algum momento teríamos que prestar contas de nossos atos. Surgia, então, restrições à liberdade de se fazer o que se queria. Entretanto, eis que surge uma nova indagação: Se a ética exige um sujeito autônomo (aquele que age por vontade própria), a idéia de dever não introduziria a heteronomia, isto é, o domínio de nossa vontade por um poder estranho a nós (no caso Deus)? A Crítica da razão prática e a ética de Kant Um dos filósofos que tentou resolver a questão foi Kant. Para ele, não existe bondade natural; por natureza, somos sensíveis, por isto somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis sedentos de prazeres insaciáveis, pelo quais mentimos, roubamos e até matamos. É justamente por isso que necessitamos do dever para nos tornamos seres morais. A solução consiste, desse modo, em considerar o dever como algo que nasce em nosso interior, proposto pela razão, razão esta, que não é somente “razão teórica”, capaz de conhecer, mas também é “razão pura prática”, razão capaz de determinar à vontade e a ação moral. Em outros palavras, a razão pura prática tem como objetivo determinar a vontade (ou seja, mover a vontade) e, portanto, possui uma realidade objetiva (precisamente a determinação ou a moção da vontade). Kant quer provar que existe uma “razão pura prática” que por si só (sem misturar-se a motivos dependentes dos impulsos e da sensibilidade – a posteriori, em suma, da experiência -imanente) pode mover e determinar a vontade. Portanto, a razão pura prática é transcendente (prescinde da experiência) e é a priori (independe dos sentidos). Para tanto, vai operar uma crítica dirigida à razão “pratica em geral”, especificamente a razão prática empiricamente condicionada, isto é, ligada a experiência. É precisamente isso que Kant critica, o fato da razão prática permanecer sempre e só ligada à experiência e querer, por si só, determinar a vontade. Por isso, o título de seu livro é “Crítica da razão prática1”. 1 Em sua obra mais famosa – Crítica da razão pura, Kant faz o contrário: critica as pretensões da razão teórica (que representam um excesso) de transcender a experiência e alcançar por si só o objeto. Na Crítica da razão prática Kant tem por objeto “afastar a razão empiricamente condicionada da pretensão de fornecer, por si só, o fundamento exclusivo de determinação da vontade” Trata-se, então, de mostrar que existe uma razão pura prática, suficiente por si só (como pura razão, sem o auxílio de impulsos sensíveis), para mover a vontade. Segundo Kant, somente nesse caso podem existir princípios morais válidos sem exceção para todos os homens, isto é, leis morais que tenham valor universal. A lei moral ou Imperativo Categórico A moral Kantiana está fundamentada na concepção de dever expresso por meio de Lei moral, o que Kant chama de Imperativo Categórico - dever válido para todos os homens, em todos os tempos e lugares, portanto, de valor universal, isto é, uma forma que vale para toda e qualquer ação moral. Deste modo, o imperativo categórico ou lei moral não pode consistir em ordenar certar coisas, por mais nobres e elevadas que sejam. Isto significa que a lei moral não depende de conteúdo somente de sua forma, sua essência consiste precisamente em sua validade em função de sua forma de lei, por sua racionalidade: “Age de tal forma que a norma de tua conduta posa ser tomada como lei universal”. Obedecê-lo é obedecer a si mesmo, já que ele brota de um exame feito pelo sujeito, portanto, longe de ser uma imposição externa feita à nossa vontade, é a imposição que a razão pura prática faz a si mesma daquilo que ela própria criou, é a manifestação mais alta de humanidade. Assim, existe um dever universal que se identifica com o aperfeiçoamento moral do homem, não há perfeição moral maior do que cumprir o dever, sob a forma de lei ou do imperativo categórico. Por dever damos a nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa ação moral e por isso somos autônomos. Dessa forma, agir moralmente significa reconhecer que todo homem é um fim em si mesmo, e não um meio que se usa para atingir determinada finalidade. Desenvolvendo o imperativo expresso acima, temos: “Age de tal maneira que trates a humanidade, em tua própria pessoa e na pessoa de cada outro ser humano, jamais meramente como um meio, porém sempre ao mesmo tempo como um fim”. De outra maneira: não faça aos outros o que não quer que façam a você. Kant e a Felicidade Para Kant, assim como para a Aristóteles, a finalidade humana é a felicidade que, em Kant, é atingida buscando a perfeição própria, isto é, com o desenvolvimento pleno das capacidades intelectuais, morais e físicas. Entretanto, dependemos que a sociedade - como um todo proporcione os meios para nosso desenvolvimento pleno, portanto, dependemos do outro para ser pleno, feliz. Deste modo, os fins que cada ser humano deve buscar são: a perfeição própria e a felicidade dos outros. Tais metas surgem como um dever, portanto, temos a obrigação de nos impor. Se eu tenho o direito e a obrigação de desenvolver minhas capacidades, o outro também tem: Direito seu, direto meu. Em outros termos: jamais interfira na liberdade alheia. Novamente temos, não faça aos outros o que não quer que façam a você ou “Age de tal forma que a norma de tua conduta posa ser tomada como lei universal”, voltamos ao imperativo categórico. Doutrina do Direito Kant entendia a lei interna (Direito Natural) como uma lei universal baseada em princípios racionais a priori. Mas lembremos, universal não porque necessariamente ocorrerá, como é o caso das leis da natureza, mas universal por valer para todos os homens. Isto significa que o dever pode não ser cumprido. Por que? Porque para Kant, além de seres morais somos obviamente seres naturais, submetidos à natureza – nosso corpo e nossa psique são feitos de apetites, impulsos, desejos e paixões. Assim a concepção de dever surge para domar nossa parte natural e impor nosso ser moral. Mas, quando a natureza fala mais alto deve existir uma lei externa (Direto Positivo), que lida com a forma como um indivíduo exerce ou sofre ingerência do outro, inclui até a possibilidade de restrição à liberdade de cada indivíduo para que se respeite a liberdade de todos. Filosofando (tarefa complementar)2 1) Explique a oposição imanente / a posteriori versus transcendente / a priori. 2) Qual a função do direito positivo na ética Kantiana 3) Explique como Kant resolve a questão da Heteronomia introduzida pela concepção de dever do cristianismo. 4) “Se deus esta morto e a alma é mortal, tudo é permitido”, disse Ivan Karamazov, personagem da obra Os irmãos Karamazov, do escritor russo Fiodor Dostoievski. a) Segundo Kant, comente essa afirmação. b) Em que medida a visão de Ivan Karamazov destoa da visão de Kant? 2 A tarefa complementar visa aprofundar o entendimento do aluno acerca da aula. Não é obrigatória e nem vale nota. O aluno que quiser resolvê-la fará por vontade própria e poderá discutir suas respostas com o professor pessoalmente nos plantões de dúvidas de sua unidade. Portanto, as respostas não devem ser enviadas virtualmente, mas, sim discutidas presencialmente. Logo, o aluno que se propor a fazê-la deverá ter disponibilidade para freqüentar os plantões.