Bernoulli
Questão 01
FILOSOFIA
Resolve
2008
Leia este trecho:
“Com efeito, ter a noção de que a Cálias, atingido de tal doença, tal remédio deu alívio, e a
Sócrates também, e, da mesma maneira, a outros tomados singularmente, é da experiência;
mas julgar que tenha aliviado a todos os semelhantes, determinados segundo uma única
espécie, atingidos de tal doença, como os fleumáticos, os biliosos ou os incomodados por
febre ardente, isso é da arte.”
ARISTÓTELES. Metafísica, Livro I, cap. I. Tradução de Vinzenzo Cocco. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 11.
Com base na leitura desse trecho e considerando outras informações presentes nesta obra
de Aristóteles, REDIJA um texto, explicando, do ponto de vista do autor, a diferença entre
arte (conhecimento técnico) e experiência.
Resposta:
Para Aristóteles a primeira forma de conhecimento que adquirimos se faz a partir da
experiência. Esta formada a partir das sensações, arquivadas na memória e que, com a
repetição, funda uma experiência. A experiência é um conhecimento singular, particular,
no qual o homem que a executa sabe como fazer, porém não conhece as razões e os
porquês, mas sabe que resultará em uma ação efetiva, como exemplo o remédio que
deu alivio a Cálias e logo após a Sócrates.. No momento em que o homem consegue unir
várias experiências e colocá-la a partir de princípios universais, de juízos universais, criase a arte, como, por exemplo, saber que todos os doentes atingidos por tal doença serão
aliviados. A arte é o conhecimento dos homens teóricos, que dominam os conhecimentos
técnicos e que por sua vez sabem fazer e sabem “os porquês”. Portanto Aristóteles julga
que há mais saber e conhecimento na arte do que na experiência, que os homens de arte
são mais sábios que os homens de experiência.
Bernoulli
Questão 02
FILOSOFIA
Resolve
2008
Preparo da Carne Humana em Episódio Canibal. Gravura de Theodore de Bry que ilustra
os relatos das viagens de Hans Staden ao Brasil. In: BELLUZZO, Ana Maria de Morais.
O Brasil dos viajantes. São Paulo: Objetiva Metalivros, 1999. p. 70.
A propósito da prática de canibalismo entre os selvagens do Novo Mundo, Montaigne
escreveu:
“Não me aborrece que salientemos o horror barbaresco que há em tal ação [o canibalismo],
mas sim que, julgando com acerto sobre as faltas deles, sejamos tão cegos para as
nossas. Penso que há mais barbárie em comer um homem vivo que em comê-lo morto,
em dilacerar por tormentos e por torturas um corpo ainda cheio de sensibilidade, assá-lo
aos poucos, fazê-lo ser mordido e rasgado por cães e porcos [...] do que assá-lo e comêlo depois que ele morreu.
..........................................................................................................................
Portanto bem podemos chamá-los de bárbaros com relação às regras da razão, mas não
com relaçãoa nós, que os sobrepujamos em toda espécie de barbárie.”
MONTAIGNE, M. Dos canibais. Ensaios, Livro I. Tradução de Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 2000. p. 313-314.
Com base na leitura desse trecho e considerando outras idéias contidas nessa obra
de Montaigne, IDENTIFIQUE e COMENTE o objetivo do filósofo no capítulo citado de
Ensaios.
Resposta:
Montaigne parte da indagação do canibalismo ser considerado, realmente, um ato bárbaro
e selvagem por parte dos índios Tupinambá. Desta forma, Montaigne nos direciona a
indagarmos se o ato de canibalismo pode ser analisado sobre o prisma da nossa própria
cultura. Ao esboçar um olhar isento de juízo, e de conseguir apreender o outro em suas
diferenças e em sua dignidade, Montaigne nos mostra que não podemos julgar a cultura
do outro sob a perspectiva da nossa cultura, que no ato de canibalismo há um princípio de
dignidade, que busca no outro suas qualidades e dignidades, e que, por vez, se encontram
dentro de um ato mais nobre do que os atos da sociedade francesa, que matam pessoas,
que se fazem ser rasgados por cães e porcos sobre pretexto de devoção e fé. Montaigne
nos direciona, desta forma, a dimensão humana de práticas absolutamente estranhas ao
homem recém saído da idade média sob a característica de não se apoiar em um juízo
de valor.
Bernoulli
Questão 03
FILOSOFIA
Resolve
2008
Leia estes quadrinhos:
WATTERSON, Bill. A vingança da babá. Editora Best News, 1997. v. I, p. 78.
Kant estabelece que as ações das pessoas, para serem realmente éticas, devem pautar-se
no seguinte princípio, denominado imperativo categórico:
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se
torne lei universal.”
Kant. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 224.
REDIJA um texto, relacionando as declarações do garoto Calvin ao imperativo categórico
kantiano.
JUSTIFIQUE sua resposta.
Resposta:
Para falarmos do Imperativo Categórico em Kant, partimos de que toda ação se faz a partir
do Imperativo Categórico. O Imperativo Categórico consiste na máxima que o indivíduo age
para toda a humanidade em todo o tempo, tendo como base que a sua ação se torne lei
universal. Ao analisarmos as declarações do garoto Calvin, notamos que suas declarações
vão contra o defendido por Kant, pois partem de uma ação de característica individual para
o universal: “Então eu vou fazer o que eu tiver de fazer, e deixar os outros discutirem se
é certo ou não”. De acordo com Kant, o imperativo categórico se funda no momento em
que sua ação não é voltada ao indivíduo, mas que consiste na máxima que a tua ação
possa servir de espelho para toda a humanidade, e que aquele que realiza a ação queira
que a tua ação sirva para o outro a todo o momento.
Bernoulli
Questão 04
Resolve
FILOSOFIA
2008
Leia este fragmento de poema:
“E a nova Filosofia coloca tudo em dúvida,
O Elemento fogo é deixado de lado,
O sol está perdido, e também a Terra,
E nenhuma sabedoria humana é capaz de guiar essa busca.
E livremente os homens confessam que este mundo se esgotou,
Quando procuram nos Planetas e no Firmamento tanta novidade
Vêem que tudo está de novo pulverizado em Átomos,
Tudo em pedaços, toda coerência se perdeu.”
DONNE, J. An Anatomy of the world (1611).
Nesse fragmento, John Donne, poeta inglês do século XVII, expressa sua inquietação
diante da dissolução do cosmos aristotélico por Copérnico.
Com base na leitura do poema e considerando outros conhecimentos sobre a revolução
científica do século XVII, EXPLIQUE a afirmação:
“E a nova Filosofia coloca tudo em dúvida...”
Resposta:
Ao partirmos de que “a nova Filosofia coloca tudo em dúvida” remetemos nosso olhar à
perspectiva do homem do século XVII. A nova Filosofia fez com que o homem perdesse
seu lugar no mundo, ou mais exatamente, perdesse o próprio mundo que formava o quadro
de sua existência e o objeto de seu saber, uma vez que a nova Filosofia veio quebrar os
paradigmas passados, a visão de mundo que resultava do olhar contemplativo, das ciências
contemplativas e geradas pelo homem apoiado na religiosidade. A nova Filosofia do século
XVII trouxe ao homem um momento de insegurança, a necessidade de se projetar a procura
de novas respostas, a procura de novos conhecimentos a partir da ciência empírica, dotada
de experimentações e longe de especulações, um novo olhar de descobertas e dúvidas
acerca do real conhecimento.
Bernoulli
Questão 05
FILOSOFIA
Resolve
2008
Leia estes trechos:
“Entende-se por ‘preconceito’ uma opinião ou um conjunto de opiniões, às vezes até mesmo
uma doutrina completa, que é acolhida acrítica e passivamente pela tradição, pelo costume
ou por uma autoridade de quem aceitamos as ordens sem discussão.
..........................................................................................................................
Para se libertarem dos preconceitos, os homens precisam antes de tudo viver numa
sociedade livre.”
BOBBIO, Norberto. A natureza do preconceito. Elogio da serenidade e outros ensaios morais.Tradução de Marco
Aurélio Nogueira. São Paulo: Editora UNESP, 2002. p. 103 e 118.
Com base na leitura desses trechos e considerando outras informações presentes nesse
capítulo de Bobbio, REDIJA um texto, explicando por que, do ponto de vista do autor, a
democracia é capaz de combater preconceitos.
Resposta:
Para Bobbio, o preconceito se constrói a partir de uma crença ou de um conjunto de opiniões
de forma acrítica, por isso podemos afirmar que não faz parte da esfera do não racional.
Para que possamos quebrar estes preconceitos precisamos estar em uma sociedade que
seja livre, que possa deixar os seus indivíduos manifestarem suas opiniões, suas idéias e
suas intenções. Para que possa ocorrer este princípio fundamental do desenvolvimento das
consciências, necessitaremos da democracia, uma vez que, pela democracia, as opiniões
são livres e, portanto, são forçadas a se chocarem e, ao se chocarem, acabam por rever
seus próprios conceitos.
Bernoulli
Questão 06
FILOSOFIA
Resolve
2008
Leia este trecho:
“Certa vez, segui um rastro de açúcar no chão de um supermercado, empurrando meu
carrinho de um lado para o outro de uma estante, procurando o comprador com o saco
de açúcar rasgado para lhe dizer que ele estava fazendo uma bagunça. A cada volta em
torno da estante, o rastro ficava mais grosso. Parecia, no entanto, impossível pegá-lo.
Finalmente, percebi que eu era o comprador que estava tentando alcançar.
No início, acreditei que o comprador com o saco de açúcar rasgado estava fazendo uma
bagunça. E estava certo. Eu não acreditava, no entanto, que eu estava fazendo uma
bagunça. Isso parece ser algo em que passei a acreditar. Quando passei a acreditar nisto,
parei de seguir o rastro em torno da estante e mudei a posição do saco rasgado no meu
carrinho.”
PERRY, John. The Problem of the Essential Indexical. The Problem of the Essential
Indexical and Other Essays. Stanford: CSLI Publications, 2000. p. 27.
Com base na leitura desse trecho,
A) IDENTIFIQUE e CARACTERIZE as duas crenças do comprador no supermercado.
B) EXPLIQUE a diferença entre essas duas crenças, relacionando-as ao comportamento
do comprador.
Resposta:
A) O comprador parte de que há alguém com um saco de açúcar fazendo uma bagunça no
supermercado ao deixar o saco rasgado sujar o ambiente. Sua crença se faz na perspectiva
do outro como causador do problema. No segundo momento a crença do autor e de que
ele era o causador do problema (sujeira), e que ele era o responsável pelo ocorrido, e lhe
coube apenas mudar o saco rasgado de posição e alterar a sua trajetória.
B) Podemos fazer um paralelo sobre a perspectiva do indivíduo. O indivíduo percebe e
age de acordo com a sua perspectiva de avaliação e comportamento momentâneo. Desta
forma, ao analisarmos o comportamento do comprador, percebemos em primeiro momento
que a sua postura foi notar que havia alguém fazendo “uma bagunça”. Porém ao perceber
que ele é que estava fazendo uma bagunça, custou a acreditar que ele era o responsável
pelo incidente, pois a perspectiva foi remetida ao seu eu, e que não se via sendo capaz
de executar uma ação tão absurda quanto aquela vivenciada.
Download

Questão 01 FILOSOFIA - Escola Crescer Podium