XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO MORAL
Alana Paula de Oliveira – FCT/UNESP1
Maria Suzana De Stefano Menin – FCT/UNESP2
Apoio Financeiro: FAPESP
O presente texto aborda as relações entre escola e família em projetos de educação
moral. Temos o intuito de apresentar os resultados parciais de uma pesquisa de
Mestrado, que se deu a partir de uma questão intrigante obtida nas análises de dados de
uma pesquisa maior, na qual atuamos com bolsa de iniciação científica – PIBIC/CNPq.
Há uma concepção frequente de que educar moralmente crianças e adolescentes deveria
ser uma função da família, mas como esta não está cumprindo com a sua
responsabilidade, a escola deve suprir tal necessidade. Para este texto, apresentaremos
uma revisão da literatura de Educação Moral e, também, de autores que estudam a
relação família-escola para compreendermos os pressupostos sobre este tipo de
educação. Além disso, descreveremos uma análise de 150 questionários respondidos por
agentes escolares de escolas de ensino fundamental (6º ao 9º ano) e médio do estado de
São Paulo, retirados do banco geral de dados da pesquisa maior, que fizemos para
investigar se as famílias têm sido envolvidas nos projetos de educação moral realizados
pelas escolas. Como resultados, verificamos que muitos autores apontam que esta
educação deve ser dada por ambas as instituições – escola e família – de modo que uma
complemente a outra por meio de uma parceria. No entanto, dos 150 questionários
analisados, apenas seis projetos pareceram realmente envolver as famílias e
demonstraram ser bem sucedidos. Isto nos faz pensar em diversas indagações e
destacamos a seguinte: A concepção de que a Educação Moral é função da família
influencia no fato das escolas pouco desencadearem movimentos de participação dos
pais nas atividades escolares dos filhos?
Palavras-chave: Educação Moral. Escola. Família
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INTRODUÇÃO
O presente texto busca apresentar os resultados parciais da pesquisa de
Mestrado “Escola- família: relações possíveis em projetos de educação moral em escolas
públicas”, que tem o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP) e é vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da
Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP.
A pesquisa que apresentamos é decorrente de uma pesquisa maior intitulada
“Projetos bem sucedidos de educação moral: em busca de experiências brasileiras”, na
qual atuamos com bolsa de iniciação científica – PIBIC/CNPq nos anos de 2009 e 2010.
Essa pesquisa foi coordenada pela Profa. Dra. Maria Suzana De Stefano Menin e contou
com o apoio de um grupo de pesquisadores participantes da ANPEPP (Associação
Nacional de Pós-Graduação em Psicologia), pertencentes a diferentes universidades
brasileiras3 .
A pesquisa maior teve como objetivo geral investigar e descrever experiências
de educação moral e/ou educação em valores morais em escolas públicas de ensino
fundamental (6° a 9° ano) e ensino médio de diversos estados brasileiros, que pudessem
ser consideradas, primeiramente, pelos seus próprios proponentes e, depois, por critérios
retirados da Psicologia da Moralidade, como experiências bem sucedidas.
A partir das leituras e análises dos dados empíricos coletados nesta pesquisa,
verificamos que há uma concepção frequente dos agentes escolares de que a educação
moral deveria ser dada pela família, mas como esta não está cumprindo com a sua
responsabilidade, a escola deve suprir tal necessidade. Muitos educadores pensam,
ainda, que a escola não deve educar moralmente, o que oculta a função da escola como
influenciadora nesse processo.
Definimos, assim, o seguinte objetivo geral da pesquisa de Mestrado: a nalisar
as concepções da escola em relação ao papel da família na educação moral de crianças e
adolescentes. E elencamos objetivos específicos a seguir: verificar na literatura atual
sobre Psicologia e Educação Moral a posição dos autores em relação o papel da escola e
da família na Educação Moral das crianças e adolescentes; investigar se as escolas
concebem educação moral como tarefa sua ou se atribuem à família esta função;
analisar as justificativas dadas pelas escolas para responsabilizar as famílias pela
Educação Moral e as possíveis origens dessa concepção.
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Neste texto, utilizando alguns resultados parciais de levantamento bibliográfico
e de análises de dados, buscaremos responder as seguintes indagações: A educação
moral deve ser dada pela família ou pela escola? Deve haver parceria? As famí lias têm
sido envolvidas em projetos bem sucedidos de educação moral realizados em escolas
públicas?
Temos como base a literatura atual sobre Educação Moral que se inspira na
Psicologia do Desenvolvimento, com os seguintes autores: Aquino e Araújo (2000);
Araújo (2000); Cortina (2003); Puig (2004); Serrano (2002); La Taille (2009); Cortella
e La Taille (2009); Shimizu (1998); Carvalho (2002); Goergen (2007); Trevisol (2009).
E, também, autores que discutem a relação escola- família, tais como: Castro e Regattieri
(2009); Perrenoud (2000); Almeida (1999); Vequi (2008); Gutfreind, (2010); Vinha e
Assis (2005).
.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A princípio, acreditamos que é necessário definirmos educação moral. Para
tanto, podemos nos embasar na teoria de Piaget, que é utilizada por diversos autores do
campo da moralidade, assim como pelos Parâmetros Curriculares Nacionais ( BRASIL,
1998), que apresentam diretrizes para a realização da educação moral nas escolas. A
Educação Moral deve possibilitar a formação de personalidades autônomas a partir das
relações estabelecidas uns com os outros; desta maneira, esta educação não pode dar-se
por imposição de valores, sendo os métodos utilizados tão importantes quanto os fins
que se pretende alcançar (PIAGET, 1930/1996).
Sabe-se que a família é a base para a vida social da criança, pois é através dela
que se fazem as primeiras interações com as regras e o mundo social, não havendo
possibilidade de a escola assumir essa responsabilidade (TREVISOL, 2009; VINHA e
ASSIS, 2005).
[...] antes dos 3-4 anos ou 6-7 anos, conforme o país, não é a escola, e sim a
família que desempenha o papel de educadora. Poderão, talvez, alegar então
que, mes mo ad mitindo esse papel construtivo das interações sociais iniciais,
o direito à educação diz respeito, antes de mais nada, à criança já formada
pelo meio familiar e apta a receber u m ensino escolar [...]. Entretanto,
dissociando-se dessa forma o processo educativo em dois períodos ou
segundo duas esferas de influência, das quais a primeira seria fo rmad ora,
limitando-se a segunda à transmissão de conhecimentos particulares, torna-se
a empobrecer o significado do direito à educação. Não somente se restringe o
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alcance construtivo desse último, mas também se separa a escola da vida
(PIA GET, 1948/ 1994, p. 34).
Mesmo que, atualmente, a educação formal aconteça mais cedo do que Piaget
previu (1948/1994), o professor não pode nem deve substituir os pais. Mas, nas relações
do dia-a-dia, precisa também contribuir em suas práticas com o oferecimento de
vivências qualificadas em todos os aspectos do desenvolvimento dos alunos; assim, esse
professor pode proporcionar à criança ou ao adolescente um ambiente propício para a
incorporação de valores morais, tenha essa construção se iniciado ou não na família.
Pois, nem sempre a criança se apropria dessa base moral nos períodos adequados, com
relações de respeito mútuo, reciprocidade e cooperação, chegando à escola desprovido
de valores e princípios (GUTFREIND, 2010; VINHA e ASSIS, 2005).
Entre outras coisas, o que distingue o meio familiar do meio escolar é a
natureza e a diversidade das relações que os constituem. A idade escolar
proporciona à criança a possibilidade de estabelecer relações diversificadas e
facultativas. Essa oportunidade, de conviver num amb iente menos
estruturado e menos estável do que a família, proporciona a participação em
grupos, cuja interação inclui seguir regras, assumir tarefas e, principalmente,
reconhecer suas capacidades e respeitar a si próprio mediante o outro
(ALM EIDA, 1999, p. 240).
Desse modo, assim como afirmam Almeida (1997; 1999) e Galvão (1996) em
seus estudos sobre a teoria walloniana, é inegável o papel fundamental que a escola
desempenha no desenvolvimento da criança e do adolescente, uma vez que permite
inúmeras interações e vivências diferentes do grupo familiar, pois na família sua
posição é sempre fixa, enquanto que na escola é possível a diversidade de papéis e de
posições.
Além disso, a escola permite a relação entre iguais que, segundo Piaget
(1930/1996), é de suma importância para o desenvolvimento moral da criança. Por meio
desta relação, todos têm o mesmo poder de influência uns sobre os outros e podem usar
as regras para regularem mutuamente seus comportamentos e decidirem o que é correto
dentro de um coletivo, sem que haja uma autoridade coordenando as ações. Isto é, a
convivência e as trocas entre iguais fazem com que a autonomia seja estimulada, pois a
criança passa a compreender a importância da regra e a cumpre não apenas porque tem
medo da punição ou castigo de uma autoridade (adulto), mas a obedece porque foi
construída pelo grupo a partir de uma necessidade.
A educação moral deve ser inserida nas escolas, de modo a possibilitar a
construção coletiva de valores, normas e regras, orientando os alunos a viverem de
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forma harmônica e respeitosa em sociedade. Isso deve ser feito por meio da reflexão do
aluno, a fim de incentivar sua autonomia, através de meios e estratégias que favoreçam
sua participação ativa (PIAGET, 1932/1977; SERRANO, 2002; CORTINA, 2003;
PUIG, 2004; CORTELLA e LA TAILLE, 2009).
Entretanto, a escola que, muitas vezes, inspira-se no modelo nuclear de família,
julga e responsabiliza as famílias pelo que a criança manifesta no ambiente escolar;
principalmente, por problemas disciplinares ou dificuldades na aprendizagem, causando
um conflito de expectativas, bem como promovendo situações que geram o afastamento
entre estas instituições.
É importante que a escola e seus profissionais não busquem culpados, mas que
possibilitem a participação da família no processo educacional, a fim que esta
compreenda os problemas escolares e pedagógicos passados na escola, bem como que
possa expor suas principais dificuldades familiares de educação, o que aumenta as
chances de um trabalho escolar de qualidade (CASTRO e REGATTIERI, 2009;
PERRENOUD, 2000; TREVISOL, 2009).
Nesse sentido, é desejável que os princípios e valores que regem a educação
familiar estejam em sintonia com a filosofia da escola, e ambas apontem na direção da
construção de valores éticos, pois “uma ligação estreita e continuada entre os
professores e os pais pode possibilitar, além de informação mútua, intercâmbio de ajuda
recíproca e de divisão de responsabilidades” (TREVISOL, 2009, p. 166).
Para tanto, é fundamental que se tenha claro o papel da família e da escola
nesta educação, pois, mesmo que ambas tenham que caminhar juntas, uma não deve
desempenhar o papel da outra, mas sim complementarem-se. Cada uma deve cumprir
sua tarefa em seu modo e tempo, de modo que a função de uma se inicie quando
terminar a da outra e vice- versa. Além disso, não se devem reproduzir os modelos
familiares na escola, pois são as diferenças de relações que proporcionam à criança o
desenvolvimento como indivíduo e a capacidade de relacionar-se em grupos sociais
(ALMEIDA, 1999).
[...] família e escola, tornam-se dois pilares fundamentais do processo
educativo e suas funções são complementares. Hoje, mais do que nunca, é
preciso um encontro dinâmico entre estas duas realidades, entre os projetos
da família e da escola, no qual representam os espaços sócio-educativos, nos
quais a criança se desenvolve. Nessa perspectiva, diante de uma sociedade
em mudanças, torna-se imprescindível que família e escola, se integrem na
tarefa de ensinar as crianças a viverem na sociedade atual, sociedade esta,
que emergem novos valores e necessidades. (VEQUI, 2008, p. 12).
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Portanto, mesmo que a Educação Moral se dê em espaços e modos diferentes
nas escolas e nas famílias, não podemos deixar de enfatizar a necessidade de
desencadear movimentos de colaboração e parceria entre ambas, sendo fundamental a
reflexão sobre a importância da relação entre estas instituições educativas, pois, uma é
capaz de preencher lacunas existentes na outra.
METODOLOGIA
A pesquisa de Mestrado que apresentamos é uma continuidade das análises dos
dados coletados na pesquisa maior. A coleta se deu através de questionários na forma on
line ou escrita, aplicados a agentes escolares de escolas públicas de ensino fundamental
(6º ao 9º ano) e ensino médio de vários estados brasileiros.
O questionário foi composto por 24 questões, sendo algumas dissertativas e
outras objetivas. As duas primeiras questões foram elaboradas para apreender as
concepções dos educadores sobre a educação moral e as demais questões buscavam
informações e descrições detalhadas dos projetos realizados nas escolas.
Num primeiro momento, apresentamos a pesquisa às Secretarias de Educação e
solicitamos a autorização para aplicação dos questionários. Em algumas regiões, as
Secretarias ou Diretorias de Ensino divulgaram a pesquisa e incentivaram a participação
dos agentes escolares que tivessem experiências bem sucedidas para relatar; algumas,
ainda, encaminharam os questionários às escolas.
Na pesquisa de Mestrado que agora apresentamos, propomos uma análise mais
aprofundada de 150 questionários obtidos na pesquisa maior para identificarmos as
concepções dos respondentes, os espaços e modos de Educação Moral que vêm
acontecendo, bem como as experiências que fazem, ou não, parcerias com as famílias.
Selecionamos 107 questionários advindos da região oeste do estado de São Paulo e 43
questionários da cidade de São Paulo.
Neste texto, apresentaremos os resultados da primeira análise feita dos 150
questionários. Buscamos identificar, de acordo com critérios retirados da literatura da
área, as escolas que realizaram projetos bem sucedidos de educação moral e que
contaram com a parceria das famílias. Esta seleção aconteceu para que pudéssemos
visitar as escolas e entrevistar os proponentes e participantes das experiências
selecionadas.
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Fizemos uma leitura de todas as questões que compunham o questionário,
verificando nelas se as famílias comparecem nas respostas, de que forma e em quais
questões. Para maior organização e compreensão das respostas, elaboramos um quadro,
enumeramos os questionários (de 1 a 150) em linhas, em colunas colocamos todas as
questões em que as famílias foram citadas e, enfim, relacionamos as respostas dos
sujeitos.
Com a leitura e análise do quadro, foi possível perceber de que forma as
famílias aparecerem nas respostas dos sujeitos e, sobretudo, pudemos verificar quais
respostas apresentaram as famílias como parcerias. Selecionamos os questionários nos
quais os respondentes mencionaram a parceria com as famílias nos projetos, fizemos a
leitura dos mesmos novamente para analisar as experiências e selecionar as que foram
interessantes. Fizemos contato com os responsáveis pelos projetos selecionados e, a
partir de maiores informações e esclarecimentos, elegemos os bem sucedidos e que
realmente demonstraram uma relação de parcerias com as famílias.
RESULTADOS
Para verificar como as famílias compareceram nas experiências, nos
propusemos a realizar uma leitura das seguintes questões: “Por favor, relate brevemente
como foi essa experiência” e “Houve participação da comunidade escolar?”, a qual
contou com a alternativa “Famílias” para poder ser assinalada.
Porém, numa primeira leitura dos questionários, identificamos que as famílias
comparecem nas respostas de mais questões, as quais apresentamos a seguir: 1) Na sua
opinião, a escola deve dar Educação Moral ou Educação em Valores aos seus alunos? 2)
Se você respondeu sim à questão anterior, diga, em resumo, como essa educação
poderia se dar? 3) Por favor, relate brevemente como foi essa experiência. 4) Você acha
que essa experiência que relatou poderia ser conside rada como bem sucedida? 8) Houve
participação da comunidade escolar? 11) Que temas ou assuntos foram mais trabalhados
nessa experiência? 12) Como esse temas foram trabalhados (que métodos foram
usados)? 13) Qual foi a principal finalidade buscada nessa experiência, ou seja, porque
ela aconteceu? 14) De alguma forma a comunidade em volta da escola provocou essa
experiência? 15) Você percebeu mudanças no ambiente escolar com a experiência? 16)
Esta experiência foi avaliada? 18) Você gostaria de falar algo mais sobre esta
experiência de Educação Moral que descreveu?
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Vimos, então, que em 12 questões as famílias são citadas nas respostas dos
agentes escolares, sendo que o questionário completo apresenta em sua totalidade 24
questões.
A partir da leitura e análise dos 150 questionários, verificamos que a família
aparece de alguma forma nas respostas de 94 questionários (63%); sendo que, por outro
lado, isto não aconteceu em respostas de 56 sujeitos (37%).
Em 42 questionários as famílias foram mencionadas na primeira parte do
questionário referente às concepções dos agentes escolares sobre a educação moral nas
escolas. Identificamos que as famílias apareceram de quatro formas diferentes: 1) As
famílias estão desestruturadas; há uma ausência dos pais na educação moral dos filhos;
os valores familiares estão se perdendo; os pais não têm tempo devido a jornada de
trabalho; sendo assim, a escola deve dar educação moral para suprir uma necessidade
(81%). 2) A escola não deve dar educação moral, porque é função da fa mília (5%). 3) A
escola deve educar moralmente em parceria com a família (9%). 4) A escola deve
complementar a educação familiar (5%).
Dos 94 questionários, em 31 as famílias estiveram relacionadas apenas nas
duas primeiras questões. Destes 31 questionários, 20 responderam apenas a primeira
parte e não descreveram projetos de educação moral. Sendo assim, 11 sujeitos relataram
alguma experiência na qual estiveram envolvidos; porém, nestes casos, as famílias não
apareceram nas descrições dos projetos e, possivelmente, não estiveram envolvidas nas
experiências.
Tivemos, então, 63 respondentes que mencionaram as famílias ao descreverem
as experiências que participaram. É interessante destacar que o questionário contou com
a questão “Houve participação da comunidade escolar?”, a qual apresentava alternativas
para serem assinaladas, dentre elas a opção “Famílias”. Constatamos que, dos 63
questionários, em 23 esta opção foi assinalada, mas a família não foi citada em respostas
de outras questões. Deste modo, não sabemos se realmente aconteceu o envolvimento
das famílias nestes projetos.
Assim, obtivemos 40 questionários que os agentes escolares fizeram
referências às famílias. No entanto, em apenas 20 identificamos que as famílias
compareceram, de certa forma, como parceiras ou como envolvidas nas experiências.
Nos demais, constatamos que a maioria dos respondentes anunciou as famílias como
ausentes na educação moral dos filhos.
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Como vimos, esta mesma queixa apareceu na concepção da maior parte dos
sujeitos que mencionou as famílias na primeira parte do questionário. Esta tendência de
resposta, muitas vezes, sugere que a educação moral não deveria ser uma função da
escola. Contudo, cabe à escola fazer parte da formação existencial de seus alunos, ao
invés de apenas contribuir na formação profissional, pois “a escola é uma verdadeira
usina de sentidos, sentidos de vida (ética) e de convivência (moral), e não há outra
instituição social de que se possa dizer o mesmo” (LA TAILLE, 2009, p. 80).
Numa última leitura e análise dos 20 questionários selecionados, elegemos 10
projetos interessantes para entrar em contato com os seus responsáveis. Verificamos,
por meio de questionamentos por telefone, que cinco desses projetos pareciam
realmente envolver as famílias. Nas respostas dos responsáveis pelos outros projetos
que, apesar de serem interessantes, notamos que as famílias atuam passivamente; ou
seja, apenas frequentam as escolas quando são convocadas para reuniões de pais ou
quando os seus filhos desobedecem às regras.
Gomes (1993) já apontava que a participação dos pais na educação escolar dos
filhos não é tão aparente e freqüente (uma ou duas vezes por semestre). A autora explica
que há reuniões em que os professores apenas expõem o desempenho e o
comportamento dos alunos, muitas vezes, em forma de queixas. A participação também
acontece em eventos festivos, em que os pais ajudam com dinheiro, donativos e com
seu trabalho. Chamam-se os pais em casos de comportamento inadequado do aluno, de
rendimento escolar baixo e, ainda, quando a escola identifica que o aluno precisa de
acompanhamento psicológico. Ou seja, mesmo que não se possa generalizar tal
situação, pois deve-se considerar o contexto escolar, as características das famílias e dos
educadores, pode-se dizer que os pais não são interagidos dos acontecimentos da esfera
escolar e, muitas vezes, os preferem longe da escola.
No mesmo sentindo, Carvalho (2004) afirma que, se as professora estão
satisfeitas com as suas condições de trabalho e se os alunos estão desenvolvendo a
aprendizagem, não se tem a necessidade da presença dos pais. Pelo contrário, “as
professoras recorrem aos pais quando se sentem frustradas e impotentes - quando os/as
estudantes apresentam dificuldades de aprendizagem e/ou de comportamento, com as
quais elas não conseguem lidar” (CARVALHO, 2004, p. 44).
Finalmente, os projetos considerados interessantes do ponto de vista da
educação moral e que aparentemente demonstraram envolver as famílias como parceiras
foram os seguintes:
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
Projeto “Meio Ambiente”, que vem acontecendo em uma escola estadual de
ensino fundamental (6º ao 9º série) e ensino médio da cidade de Arco Íris. A iniciativa
se deu em 2004 com o intuito de diminuir a quantidade de lixo nas ruas da cidade e se
perdura até o momento. As atividades começaram com discussões em salas de aulas
para a conscientização dos alunos; posteriormente, confeccionaram panfletos
informativos sobre o meio ambiente e reciclagem que foram distribuídos pelos alunos
em toda cidade; e, então, incentivaram as famílias a separarem os lixos.

Projeto “Educação, Saúde e Cidadania”, que vem sendo realizado desde 2006
em uma escola da cidade de Regente Feijó, que conta com ensino fundamental (6º ao 9º
série) e ensino médio. O intuito é trabalhar a prevenção da saúde, solidariedade, paz,
educação ambiental, reconstrução de valores, redução do índice de violência. O projeto
é articulado aos demais projetos pedagógicos da escola e os professores trabalham os
temas no decorrer de suas disciplinas. No final do ano letivo, a escola, com a parceria de
outros segmentos da cidade (farmácias, mercados, lojas, etc.), promove uma corrida,
que envolve a participação dos professores, pais, alunos e também dos moradores da
cidade. Para se inscrever na corrida, os participantes têm que doar alimentos nãoperecíveis. Com a arrecadação, a escola monta cestas básicas e doam para as famílias
dos alunos que mais precisam.

Projeto “Ética e Cidadania” de uma escola estadual de ensino fundamental (6º ao
9º série) e ensino médio da cidade de Araçatuba. O projeto objetiva a convivência
saudável fundamentada em valores éticos e no respeito ao outro e às diferenças. Os
temas mais trabalhados são os direitos e deveres, respeito ao próximo e relações
interpessoais, através da discussão do estatuto da criança e do adolescente, do diálogo e
palestras. De acordo com a responsável pelo projeto, não se tem 100% das famílias
presentes na escola, mas a maioria participa frequentemente de reuniões, ajuda a
planejar os gastos com as verbas obtidas, contribui na resolução de problemas internos.

Escola Estadual Silvestre Augusto do Nascimento, na cidade de Araçatuba, de
ensino fundamental (6º ao 9º série) e ensino médio. A respondente do questionário que
relatou a experiência realizada nesta escola apontou que o trabalho com valores faz
parte do Programa Político Pedagógico e é realizado por meio de vários projetos; como,
por exemplo, “Prevenção também se ensina” e “Educadores da Paz”. A maior parte da
equipe escolar se dedica a uma prática educativa e não punitiva. Os projetos são
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interligados e há uma culminância na Feira de Ciências, na qual as famílias participam e
prestigiam os trabalhos dos alunos.

Experiência iniciada em 2008 em uma escola de ensino fundamental (6º ao 9º
série) e ensino médio da cidade de Pirapozinho. As atividades iniciaram-se dentro de
sala de aula com estudos, debates, elaboração de material, sobre hábitos, costumes,
esporte, alimentação saudável, sedentarismo, e depois a escola realizou uma gincana
recreativa que se estendeu às famílias, pois os alunos saíram para uma caminhada na
comunidade. O objetivo do projeto era conscientizar os alunos e as famílias sobre os
hábitos de vida saudável. Porém, no contato com a respondente do questionário, ela nos
informou que a experiência não acontece mais na escola. Em 2012 deram início a outra
projeto sobre indisciplina, que tem como proposta a parceria da família. A participação
da família está prevista para acontecer em reuniões, dinâmicas, auto-avaliações e,
inclusive, relataram que uma psicóloga ficaria responsável por orientar as famílias e os
professores em casos de indisciplinas dos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o que foi exposto, pode-se concluir, amparando-se na
fundamentação teórica apresentada, que o ambiente familiar é o primeiro espaço de
contato da criança com as relações sociais e é através da família que a criança começa
compreender como estas relações são constituídas. No entanto, este ambiente não é o
único que possibilita e define as experiências sociais da criança, suas experiências e o
seu desenvolvimento.
Também é
função
da
escola dar
Educação
Moral,
independentemente da família fazê-lo ou não.
Entretanto, vimos nos resultados obtidos através das análises de dados
empíricos que, muitas vezes, os agentes escolares acreditam que a função de educar
moralmente é exclusivamente da família, mas que esta se encontra ausente e, por isto, a
escola deve suprir tal necessidade. Porém, este dado nos intriga, uma vez que é
anunciado nos estudos de autores da área da Psicologia da Moralidade, que a escola
deve propiciar espaços para discussões e reflexões sobre valores morais, a fim de
enriquecer a capacidade, em seus alunos, de vida coletiva, uma vez que esta instituição
é um dos principais espaços sociais para a Educação Moral (SHIMIZU, 1998;
CARVALHO, 2002; GOERGEN, 2007).
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Consideramos, também, importante destacar que de 150 questionários
analisados, apenas cinco pareceram realmente envolver as famílias nos projetos de
educação moral e se mostraram bem sucedidos. Esta é uma questão a se pensar, pelo
fato de que autores defendem a parceria entre escola em família, por acreditarem que
esta relação contribui para um trabalho escolar de qualidade (CASTRO, REGATTIERI,
2009; PERRENOUD, 2000; TREVISOL, 2009; VEQUI, 2008; AQUINO, ARAÚJO,
2000; ARAÚJO, 2000).
Também é uma quantidade relativamente baixa de projetos bem sucedidos,
considerando que há diretrizes que sugerem as possibilidades deste tipo de educação nas
escolas, como, por exemplo, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998).
Este estudo nos fez pensar em diversas questões, tais como : A concepção de
que a Educação Moral é função da família influencia no fato das escolas pouco
desencadearem movimentos de participação dos pais nas atividades escolares dos
filhos? Qual a origem desta concepção? Faltam medidas governamentais efetivas que
incentivem a educação moral nas escolas com a parceria das famílias? O baixo índice de
envolvimento dos pais em projetos de educação moral de escolas públicas se dá pela
falta de formação dos educadores que, consequentemente, não sabem como aproximar
as famílias dos espaços escolares?
Buscaremos responder a estas indagações em estudos futuros, de modo a
aprofundar nossos conhecimentos sobre o tema em questão. Estas são também
sugestões e indicações para que estudiosos e pesquisadores da área possam refletir e
investigar a respeito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Wallon. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 13, n. 2, mai/ago. 1997.
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AQUINO, J. G.; ARAÚJO, U. F. (Org.) Em Foco: Ética e educação. Educação e
Pesquisa, São Paulo, v.26, n.2, jul./dez. 2000.
ARAÚJO, U. F. Escola, democracia e a construção de personalidades morais. Educação
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CARVALHO, J. S. Podem a ética e a cidadania ser ensinadas? Pro-posições: Revista da
Faculdade de Educação, Campinas, v.13, n.3, 2002.
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XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
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2005.
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Mestranda do Programa de Pós -Graduação em Educação da FCT/UNESP.
Professora Titular do Programa de Pós -Graduação em Educação da FCT/UNESP.
3
CNPq - Processo: 470607/2008-4. Equipe: Maria Su zana de Stefano Menin (coordenadora da pesquisa);
Maria Teresa C. Trev isol (vice-coordenadora); Alessandra de Morais Shimizu; Ana Valéria Lustosa;
Denise Tardeli; Helo isa M. Alencar; Ju liana Ap. M. Zechi; Leonardo Lemos de Souza; Luciana S.
Borges; Márcia Simão; Patrícia Bataglia; Rau l Aragão Martins; Solange Mezzaroba; Ulisses Ferreira
Araújo; Valéria A morim Arantes de Araújo.
2
Junqueira&Marin Editores
Livro 1 - p.004256
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relação escola-família em projetos de educação moral