XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 A ABORDAGEM DOS CONTEÚDOS DE BOTÂNICA A PARTIR DOS PRESSUPOSTOS DO ENSINO MÉDIO INOVADOR Maria Sarajane Farias Da Costa Mariana Souza Gomes Maria José Lima Da Silva RESUMO: A biologia como ciência, ao longo da história da humanidade, vem construindo modelos que buscam explicar e compreender o fenômeno vida. Sabendo da importância dessa disciplina, o professor deve buscar estratégias que despertem o interesse e facilitem a aprendizagem dos conteúdos. Pesando nisso o presente trabalho traz um relato de experiência didática com a utilização de estratégias metodológicas diversificadas no ensino dos conteúdos de biologia, a partir dos pressupostos do Ensino Médio Inovador. O objetivo deste trabalho consistiu em introduzir na escola pública estratégias diversificadas, com o intuito de substituir a rigidez da metodologia tradicional por aquelas que favorecem a dinamização da abordagem dos conteúdos de botânica no 2° ano do Ensino Médio. As atividades foram realizadas pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), na escola Estadual Dr. Elpídio de Almeida, em Campina Grande-PB. Após o reconhecimento do campo de atuação, identificamos que nas escolas da rede pública existem aspectos relacionados aos procedimentos didático-metodológicos da aula que limitam e/ou dificultam o processo de ensino-aprendizagem. Uma das alternativas para a dinamização da abordagem dos conteúdos de botânica nas aulas da rede pública de ensino consistiu da utilização de atividades práticas laboratoriais e de recursos tecnológicos. Entendemos que estes se constituem em estratégias metodológicas inovadoras, a partir dos pressupostos do Ensino Médio Inovador, pelo fato de contribuírem para a aprendizagem significativa e oferecer aos estudantes uma oportunidade de vivenciar os processos e eventos biológicos por meio da contextualização e problematização. Por outro lado, a utilização de ferramenta midiática e de aulas práticas laboratoriais, também demonstrou ser uma importante ferramenta na superação da metodologia tradicional, tão frequentemente adotada na escola pública. Palavras-chave: Estratégias metodológicas; escola pública; ensino de botânica; Ensino Médio Inovador; PIBID. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006259 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 1 INTRODUÇÃO: A biologia como ciência, ao longo da história da humanidade, vem construindo modelos que intencionam explicar e compreender o fenômeno vida. Sob o ponto de vista da importância que a biologia assume na vida das pessoas, o professor deve buscar estratégias que despertem o interesse e facilitem a aprendizagem dos estudantes acerca dos conteúdos; sobretudo daqueles que se encontram diretamente relacionados com o seu cotidiano. Apesar dos constantes avanços da ciência e das tecnologias observa-se que o ensino de Biologia e Ciências permanecem ainda, na maioria dos casos, restrito às aulas expositivas. Uma vez que esse ensino trata de aspectos do nosso dia-a-dia, Suavé, Goveia e Pereira (2010) sugerem que o conhecimento científico deva repercutir e influenciar nas concepções previamente elaboradas pelos estudantes, promovendo assim uma formação ampla do cidadão contemporâneo, apresentando-se a necessidade de aplicar estratégias metodológicas que viabilizem a dinâmica das aulas e promovam a busca autônoma pelo conhecimento. Conforme Krasilchik (2004) a biologia pode se apresentar como uma das disciplinas mais relevantes e merecedoras da atenção dos alunos, ou como uma das disciplinas mais insignificantes e pouco atraentes; dependendo do que for ensinado e de como isso for feito. Com efeito, sabendo da grandeza dessa disciplina, Lepienski e Pinho (2007) sugerem que o professor recorra a outras modalidades didáticas tais como: instrumentos audiovisuais, ferramentas computacionais, práticas no laboratório e na sala de aula, atividades de campo, programas de estudo por projetos e discussões; dentre outras; na tentativa de envolver os alunos. Nesse sentido, as inúmeras estratégias didáticas podem e devem compor o ensino de biologia na tentativa de superar as metodologias tradicionais que inviabilizam o significativo processo de ensino-aprendizagem. Para Campos e Nigro (1999) esse processo terá significado se o professor aplicar idéias construtivistas, fazendo com que os estudantes estejam em intensa atividade mental. Portanto, expor os conteúdos e exigir dos estudantes a sua memorização não se caracteriza mais como uma forma eficiente na atual sociedade do conhecimento, cabendo, ao professor, auxiliar o aprendiz na busca e coordenação do que aprende dentro de um esquema conceitual mais amplo. Uma das alternativas para a dinamização das aulas na rede pública seria a utilização das atividades práticas laboratoriais e a utilização de recursos tecnológicos; Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006260 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 uma vez que viabilizam a aprendizagem com significado e oferece aos estudantes uma oportunidade de vivenciar processos e eventos biológicos por meio da contextualização e da problematização. Para Leite, Silva e Vaz (2005) essas aulas ao serem desenvolvidas no ambiente de laboratório podem despertar a curiosidade e, consequentemente, o interesse do aluno; visto que a estrutura do mesmo pode facilitar, entre outros fatores, a observação de fenômenos e conceitos estudados nas aulas teóricas. Faria Filho (2010) sugere que a massificação da escola remete a necessidade urgente de sua democratização, ressaltando ainda mais as dificuldades nela existentes e gerando um impacto na formação de professores. No entanto, programas ou currículos inadequados têm promovido uma generalidade na comunidade escolar, pois tratam as classes populares de forma homogênea, sem ressaltar as suas heterogeneidades como é enfatizado por Esteban (2007). Na tentativa de promover a valorização da escola pública foi elaborado o programa do Ensino Médio Inovador (EMI, BRASIL, 2009), que busca viabilizar medidas promissoras que contribuam para o progresso da qualidade do Ensino Médio das escolas públicas. A proposta do EMI (BRASIL, 2009) se preocupa com o modismo do sistema escolar, ao propor um currículo dinâmico direcionado para o desenvolvimento de ações que visam a melhoria no ensino médio como: a superação das desigualdades de oportunidades educacionais; universalização do acesso e permanência do adolescente na escola, oferta de aprendizagem significativa, priorizando a interlocução com as culturas juvenis. Dessa forma o documento norteador das práticas do EMI orientam as escolas no que diz respeito às novas formas de organização das disciplinas curriculares de forma articulada por meio de atividades integradoras, a partir das relações existentes entre os eixos formativos trabalho, ciência, tecnologia e cultura (BRASIL, 2009). Nessa perspectiva é necessário que o currículo escolar oferte atividades de estudo com a utilização de novas tecnologias de comunicação que viabilizem a aprendizagem significativa, desenvolvendo os conhecimentos e habilidades associados a aspectos comportamentais, que propiciem ao educando a capacidade de criar iniciativas empreendedoras (BRASIL, 2009). Visando melhorar a qualidade do Ensino Médio nas escolas públicas de Campina Grande, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) em parceria com Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006261 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 Governo do Estado implantaram o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A partir dessa associação o PIBID vem fortalecer a ideia de um plano de ação pedagógica focada nas ações de fortalecimento e do desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras. O projeto de PIBID proposto pela UEPB contempla os pressupostos do EMI com ênfase nas ações de fortalecimento da gestão dos sistemas de ensino médio e nas que garantam sustentabilidade das unidades escolares (BRASIL, 2009). Em relação à formação dos professores, o projeto contribui para a formação inicial dos bolsistas, promovendo mudanças de compreensão dos futuros docentes sobre suas próprias concepções acerca da praxis, como também auxiliar na formação continuada dos professores colaboradores e supervisores. A escola onde este trabalho foi realizado é credenciada no programa do Ensino Médio Inovador (EMI), que está em fase de adaptação a essa nova forma de entender e desenvolver o ensino. Tendo em vista que o EMI visa um currículo dinâmico, participativo e contínuo, estimulando novas formas de organização das disciplinas integradoras de modo articulado. Por outro lado, o EMI também visa o aperfeiçoamento dos instrumentos didático-pedagógicos para a dinamização das aulas, com o material de apoio às práticas e recursos tecnológicos compatíveis com as exigências do mundo moderno (BRASIL, 2009). Nessa perspectiva e, mediante as instruções contidas no documento Orientador do Ensino Médio Inovador, o presente trabalho objetivou introduzir na escola pública estratégias inovadoras; capazes de substituir a rigidez da metodologia tradicional por uma mais flexível e adequada à dinamização da rotina da abordagem dos conteúdos de botânica para estudantes da 2° ano. A sua importância reside no fato de evidenciar que é possível desenvolver na escola pública estratégias didáticas diversificadas como ferramentas disponíveis na promoção da aprendizagem significativa dos conteúdos. 2 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO Este trabalho foi desenvolvido com os estudantes da escola Estadual de Ensino Médio Elpídio de Almeida (Prata), situada na Rua Duque de Caxias, 235, no bairro da Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006262 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 Prata, Campina Grande-PB. As atividades foram propostas para dez alunos na turma da 2ª Série do Médio, no turno da tarde. A pesquisa constituiu de quatro momentos. No primeiro momento foi necessário fazer uma análise situacional da escola: conhecer as suas dependências, levantar o material disponível para as práticas e, ao mesmo tempo, introduzir os bolsistas na realidade da escola antes de intervir na sua realidade. O segundo momento consistiu do planejamento das atividades, com o objetivo de propor estratégias metodológicas inovadoras que se adequassem aos conteúdos abordados em aula, com o intuito de promover a aprendizagem significativa. Para isso foi levada em consideração as observações da etapa anterior e, mediante a análise do contexto escolar, sinalizaram para a necessidade de introdução de atividades práticas laboratoriais. Nessa perspectiva, foi elaborada uma sequência didática que incluiu várias atividades práticas laboratoriais (experimentais, demonstrativas e de modelagem). Após o planejamento houve a execução das atividades, constituindo assim, o terceiro momento, que se deu com o desenvolvimento de três práticas distintas com os conteúdos de botânica, envolvendo de oito a dez estudantes da 2ª Série do ensino médio. Antecedendo a aula prática sobre as Briófitas (Prática I) foram realizadas diversas atividades, dentre as quais uma aula com a utilização de ferramenta multimidiática (projetor multimídia) com imagens de Briófitas e os seus ciclos reprodutivos. Após essa a aula foi realizada uma prática demonstrativa, na qual foram apresentadas aos estudantes exemplares de briófitas previamente coletadas na escola para que identificassem os aspectos anatômicos das plantas. A abordagem do conteúdo de Pteridófitas (Prática II) também seguiu o mesmo molde da aula de Briófitas. Na aula prática os estudantes foram levados para o laboratório para observar os aspectos evolutivos das samambaias a partir de suas características anatômicas e fisiológicas. Após a aula demonstrativa eles produziram modelos explicativos para o ciclo de vida das samambaias, por meio da técnica de Frame Box. Para a realização dessa atividade foram utilizados os materiais: caixa de CD, massa de modelar, palito de dente, canetas coloridas, tesoura, estilete e lupa. No final da técnica os estudantes foram estimulados a apresentar a sua criação, enfatizando a sua percepção acerca das características anatômico-evolutivas principais que distinguem as Briófitas das Pteridófitas. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006263 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 A última prática desenvolvida foi com o conteúdo de Angiospermas (Prática III). Para esta prática foram utilizadas flores de Hibiscus (Papoula) e os estudantes foram instigados a reconhecer as estruturas reprodutivas e as relacionar com as suas funções. Os materiais utilizados nesta prática foram flores de Hibiscus, lupa, estilete, pincel fino, microscópio, lâminas de barbear e água. No decorrer da atividade os estudantes eram estimulados a desenhar as estruturas visualizadas como as pétalas, o androceu, sépalas, ovário, estames, antera, grão de pólen, gineceu e cálice, pois a partir dos desenhos eles seriam capazes de associar a estrutura com o conceito das mesmas, atribuindo assim, as funções de cada estrutura. O quarto momento foi constituído pela avaliação, coleta e análise dos dados. A avaliação se caracterizou pela visão de ação mediadora sugerida por Hoffmann (1994), que propõe a reorganização do saber, de forma que os educandos e professores busquem coordenar seus pontos de vista, deixando de lado o critério sentencioso do certo ou errado. Nessa perspectiva surge uma relação intensa com os educandos promovendo uma comunicação verbal por meio de explicações, orientações e encaminhamento. Para a coleta de dados os estudantes foram convidados a responder três questões: 1) Que diferenças você percebeu entre as aulas sem recurso audiovisual e a com o uso de recurso midiático? 2) Diante do que foi exposto, que conceitos você obteve sobre as Briófitas?. A intenção dessas questões foi avaliar as impressões que as aulas com estratégias diversificadas (recurso multimidiático e aulas laboratoriais) haviam causado nos estudantes, bem como analisar a capacidade crítica dos mesmos em assinalar a importância do seu emprego na construção dos conceitos de Biologia. Após o recolhimento dos questionários foi feita uma leitura geral das respostas, para identificar os padrões das mesmas. Em seguida foi criada uma planilha com as repostas dos participantes, cujos resultados permitiram a construção das categorias de análise, com base nas impressões expressas pelos sujeitos da pesquisa. As categorias foram estruturadas a partir dos benefícios que o recurso oferece, sendo elas: a. Entendimento do assunto: grupo de respostas que refletiram a compreensão após a utilização do recurso; b. Dinamização da aula: reuniu as respostas que caracterizaram aulas mais atrativas, elaboradas, dinâmicas e interessantes; Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006264 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 c. Emprego de imagens: a junção de todas as falas que repercutiam as ideias de desenho, figuras e imagens; d. Morfologia: emprego das respostas que refletem os aspectos do tamanho, e das estruturas das Briófitas; e. Estruturas reprodutivas: relacionam os aspectos que condizem com a reprodução das Briófitas; f. Classificação no Reino Vegetal: agrupamento das respostas dos educandos quanto à compreensão da classificação das Briófitas no reino Plantae. Para análise dos resultados empregou-se o método de análise do conteúdo proposto por Bardin (1977), que permitiu as interpretações da opinião dos participantes em relação à importância das atividades desenvolvidas para a compreensão dos conteúdos abordados. Nessa perspectiva utilizou-se, para interpretação das respostas às questões abertas do formulário aplicado aos participantes, a análise Lexical das respostas, com base na representação expressa. Os critérios para a análise do envolvimento e participação dos estudantes nas aulas práticas foi empregada a frequência, a utilização dos objetos e instrumentos de laboratório e a contribuição das atividades realizadas na aprendizagem dos conteúdos por meio de um instrumento de avaliação, tendo como pressuposto a avaliação mediadora proposta por Hoffmann (1994), partindo do pressuposição do diálogo e do acompanhamento do educando em cada atividade desenvolvida. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Numa perspectiva geral, as atividades partiram de um ideal de uma escola ativa e criadora, com a promoção da aprendizagem por processos de sistematização dos conhecimentos elaborados, como caminho de superação à memorização (BRASIL, 2009), bem como, os questionamentos que sempre ficavam da teoria podiam ser extintos, pois na perspectiva de uma avaliação mediadora o professor tende a ultrapassar a visão comportamentalista de conhecimento, ponderando as dificuldades dos educandos no que diz respeito ao processo de aprendizagem (HOFFMANN, 1994). No primeiro momento da prática I o conteúdo foi abordado de forma teórica, no decorrer da aula os estudantes não demonstravam nenhum interesse pelo assunto, devido ser algo desconhecido era tido como sem importância. No segundo momento em Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006265 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 que se utilizou de uma estratégia metodológica diferenciada os estudantes demonstraram mais interesse, pois as imagens tornavam a aula mais atrativa. Morin, Ciurana e Motta (2003) veem ressaltar que na perspectiva complexa, a teoria não é nada sem o método, os dois juntos constituem componentes indispensáveis do conhecimento complexo. Portanto, a teoria necessita de um método para elucidar circunstâncias e compreender as complexidades do conhecimento, que em algumas situações as dificuldades tendem a aumentar quando se trata de conhecimentos abstratos, sendo, portanto, recomendável submeter os estudantes em contato direto com os seres e fenômenos a serem estudados. Com o conteúdo de pteridófitas utilizou-se tanto do recurso midiático como estratégia de grupo, dividindo assim, a sala em duas equipes. Apesar de ter sido mais lúdico do que laboratorial, os alunos possuíam o mesmo espírito investigativo, e a utilização da técnica Frame Box proporcionou a dinamização da aula e uma descontração no seu decorrer. A junção do lúdico com os processos laboratoriais despertou ainda a criatividade, como também se pôde verificar a espontaneidade. Para Silvestre, Sousa e Santos (2011) esses diferenciados suportes didáticos dão condições para que os estudantes possam realizar mais intensamente seus anseios de interlocução durante as aulas, sendo eles muitas vezes inerentes ao contexto sociocultural de cada indivíduo participante. Após a técnica a professora pediu que os grupos relatassem as estruturas pertencentes às Pteridófitas e em que elas se distinguem das Briófitas. Nessa atividade vários aspectos foram trabalhados como o espírito investigativo, a criatividade, a oratória e o trabalho em grupo, sendo então, uma aula cheia de significados e aprendizado, apesar de ser simples. Esteban (2007) ressalta que através de atividades coletivas não se busca o consenso que harmoniza o discurso, negando as diferenças e silenciando as tensões, mas sim verificar que essas diferenças e as tensões são tratadas como meio de ruptura, tendo em vista que todos participam buscando o mesmo conhecimento. Na última prática das Angiospermas, os estudantes tiveram a oportunidade de manusear o microscópio, e visualizar estruturas apresentadas nos livros. Com isso verificou-se o envolvimento dos mesmos nas atividades propostas, pois eles sentiam-se os próprios descobridores das estruturas da planta, porque durante a prática a professora os deixou à-vontade para criarem suas lâminas e em seguida visualizarem. Nessa Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006266 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 perspectiva a aula prática funcionou de contraponto as aulas teóricas, atuando como um poderoso catalisador no processo de aquisição de novos conhecimentos. Para Morin, Ciurana e Motta (2003) o método nesse sentido é o que ensina a aprender, fortalecendo a proposta do EMI (BRASIL, 2009) quando sugere o desenvolvimento de atividades capazes de estimular a capacidade de aprender do estudante, desenvolvendo o seu autodidatismo e autonomia. Durante as atividades foi possível perceber nos educandos a construção do conhecimento, pois a partir da avaliação, enquanto dialógica, sugerida por Hoffmann (1994), foi possível conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e também pelo professor, como ação-reflexão-ação que perpassa na sala de aula em direção a um saber apropriado, enriquecido, carregado de significados e compreensão. Bem como, foi constatado o que acontece com os conteúdos de biologia, que sempre são tidos como difíceis pela complexidade dos seus nomes, remetendo a idéia de que para se efetuar uma boa aprendizagem é necessária à descaracterização da complexidade da disciplina. E ainda foi possível constatar a importância da utilização de plantas do próprio ambiente escolar, visto que os estudantes já estão familiarizados com elas, estimulando nos educandos o desejo pelo conhecimento e, proporcionando uma aula atrativa e diferente. Com a análise dos discursos dos participantes da pesquisa foi possível criar categorias para demonstrar com elementos numéricos a positividade ou não da utilização de estratégias diferenciadas na rotina escolar. Tendo por base a primeira questão surgiram as categorias expressas na figura 1. Ela faz alusão à porcentagem das falas dos educandos, demonstrando a positividade do emprego do recurso midiático, onde 35% dos estudantes destacaram que o maior benefício do mesmo é uso das imagens; 33% relataram que o recurso promove o entendimento do assunto, pois a partir dele é possível ter visualização dos conteúdos abordados; 24% ressaltaram a dinamicidade que ele promove na aula; e 8% preferiram não opinar, pois chegaram atrasados na aula. Na segunda questão, os estudantes foram capazes de descrever claramente os conceitos sobre as briófitas, o que comprova a eficiência do recurso, pois permite a visualização das imagens. Para a análise dessa questão foram criadas outras categorias a partir da freqüência com que os conceitos aprendidos pelos estudantes se repetiam. Na figura 2 estão contidos os conceitos de maior significância que nortearam a Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006267 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 aprendizagem acerca do conteúdo de briófitas. Os educandos na sua maioria sabiam descrever características das briófitas quanto a sua morfologia, representando assim 69% da amostragem; os 27% descreveram quanto a sua classificação no Reino Plantae; e por fim apenas 4% foram capazes relatar sobre as estruturas reprodutivas das briófitas. A partir dos discursos acerca do que foi aprendido pelos estudantes, após a aula com recurso, verificou-se a importância de utilizar da tecnologia como aliada no processo de ensino-aprendizagem, pois uma disciplina como biologia, não dá pra ensiná-la apenas na teoria. Bem como, pôde-se refletir a respeito da produção do conhecimento pelo educando na superação da problemática do erro na perspectiva dialógica e construtivista, nessa representação ele passa a ser positivo e fecundo, que para Hoffmann (1994) o erro será um elemento fundamental na formação do conhecimento pelo ser humano. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: Partindo do pressuposto que este trabalho teve o intento de introduzir na escola pública estratégias metodológicas capazes de substituir a rigidez de uma metodologia tradicional por uma mais flexível pode-se concluir que as práticas desenvolvidas tiveram significado para a vida da comunidade escolar. Bem como, na execução das atividades práticas verificamos a sua importância no ensino de biologia, pois elas são excelentes aliadas para que os alunos tenham contato direto com material biológico e fenômenos naturais incentivando o envolvimento, a participação e o trabalho em equipe. Após as práticas concluímos que aula de laboratório ideal é difícil acontecer, pois estamos falando de muitas pessoas envolvidas e elas têm que estar motivadas. Como também foi analisado que o êxito das práticas não depende de equipamentos caros ou de alta tecnologia, mas só terão êxitos as práticas que promovam a aprendizagem efetiva. Entretanto, devemos nos atentar para não cairmos no modismo e acabar executando atividades no laboratório como meio de comprovar conceitos e leis apresentadas na teoria. Por isso para a execução de aulas no laboratório devem-se tomar alguns cuidados como manter os participantes sempre motivados e planejar bem as ações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. ed. Persona. Lisboa, 1977. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006268 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 BRASIL. Programa: Ensino Médio Inovador. Documento Orientador. 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A coordenação do subprojeto de biologia do PIBID e a supervisão de área pelas orientações. Aos gestores da escola Estadual de Ensino Médio Elpídio de Almeida (Prata) pelo espaço cedido para que fosse possível e aos estudantes que se disponibilizaram em participar das atividades. ANEXO 01: Figura 1: Categorias das representações dos estudantes da 2ª série acerca dos benefícios do recurso midiático como estratégia metodológica para a ruptura das aulas tradicionais na rede pública. ANEXO 02: Figura 2: Categorias dos conceitos mais relevantes sobre as Briófitas a partir das representações dos educandos após o uso da ferramenta midiática. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.006270