Artigo Inédito O relacionamento dos ângulos nasolabial e dos incisivos superiores com o plano palatino durante a fase do “patinho feio” Vania Célia Vieira de SIQUEIRA*, Conceição Eunice CANUTO**, Hélio SCAVONE JR***, Paulo Eduardo NEGREIROS**** Resumo Durante o período de erupção dos caninos permanentes, os incisivos superiores podem assumir alterações de posição (fase do “patinho feio”) assim como o ângulo nasolabial pode ser influenciado pelo grau de protrusão dos dentes ântero-superiores. Com o propósito de estabelecer os valores cefalométricos médios para os ângulos nasolabial (ANL) e dos incisivos superiores com o plano palatino (1.PP); determinar a existência ou não de dimorfismo sexual para essas grandezas; verificar se os valores médios destas variáveis exibiram alterações entre as faixas etárias; avaliar a possível correlação entre esses ângulos e observar se a fase do “patinho feio” exerce repercussões sobre essas medidas, os autores realizaram uma pesquisa cefalométrica transversal em 99 jovens brasileiros leucodermas, de ambos os sexos, com oclusão normal, na faixa etária dos 07 aos 11 anos. Os valores médios obtidos para o ANL aos 7, 8, 9, 10 e 11 anos de idade foram de, respectivamente, 114,40º (dp=10,15); 112,10º (dp=9,15); 108,76º (dp=9,06); 110,15º (dp=9,64) e 110,13º (dp=12,04). Para o ângulo 1.PP, as médias foram de 68,15º (dp=5,80); 67,81º (dp=3,70); 68,47º (dp=4,52); 68,40º (dp=4,22) e 68,63º (dp=4,70). Aplicando-se o teste “t” para cada uma das faixas etárias, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre os sexos, tornando possível associálos em um único grupo. Além disso, a análise de variância indicou F=0,96 para o ANL e F=0,091 para o 1.PP, revelando a inexistência de diferenças estatisticamente significantes entre as faixas etárias avaliadas. Finalmente, calculando-se o coeficiente de correlação de Pearson entre o ANL e o 1.PP, foram observados valores de R=0,14 aos 07 anos, R=0,14 aos 08 anos; R=0,41 aos 09 anos; R=0,18 aos 10 anos e R=0,43 aos 11 anos de idade. O coeficiente de correlação total (R=0,06) evidenciou ausência de significância estatística. Concluíram que as variáveis cefalométricas ANL e 1. PP não exibiram correlação entre si e também não apresentaram alterações significantes durante a faixa etária observada. Estes resultados sugerem que a erupção dos caninos permanentes superiores não exerce repercussões apreciáveis sobre a inclinação vestibulolingual dos incisivos superiores e sobre o ângulo nasolabial, durante a fase do “patinho feio”. Palavras-chave: Ângulo nasolabial. Patinho feio. Oclusão normal. Dentição mista. *Profa. Assistente Doutora da disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba UNICAMP. Profa. Adjunta III da disciplina de Ortodontia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUC/MG. **Profa. Titular da disciplina de Ortodontia da Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina FAFEOD. ***Prof. Associado do curso de Mestrado em Ortodontia da UNICID. ****Especialista em Ortodontia pela FOB USP. Mestre em Ortodontia pela FOP UNICAMP. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 31 Maringá, v. 8, n. 6, p. 31-42, nov./dez. 2003 SIQUEIRA, V. C. V.; CANUTO, C. E.; SCAVONE JR, H.; NEGREIROS, P. E. The relationship of the nasolabial angle and the superior incisors inclination in relation to the palatal plane during the “ugly-ducking” phase Abstract During the period of the permanent cuspids eruption, the superior incisors may assume positional changes (“ugly ducking” phase). The nasolabial angle, in his turn, may also be influenced by the magnitude of the anterosuperior teeth protrusion. Therefore, this transversal cephalometric research has been conducted using a sample of 99 roentgenograms of white brasilian children, from both sexes and with normal occlusion, between the ages of 7 to 11 years. The objectives of this investigation were to establish the mean cephalometric values for the nasolabial angle (NLA) and for the superior incisors inclination in relation to the palatal plane (1.PP); to determine if there is sexual dimorphism for these variables; to verify if the mean values of this cephalometric variables exhibited appreciable change between the age periods; to evaluate the possible correlation between these angles and, finally to observe if the “ugly-ducking” period influences these measures. The mean values obtained for NLA at 7, 8, 9, 10 and 11 years of age were, respectively 114,40º (sd=10,15); 112,10º (sd=9,15); 108,76º (sd=9,06); 110,15º (sd=9,64); 110,13º (sd=12,04). For the 1.PP angle the mean values were 68,15º (sd=5,80); 67,81º (sd=3,70); 68,47º (sd=4,52); 68,40º (sd=4,22) and 68,63º (sd=4,70). After applying the student “t” test for comparison of these mean values between sexes, for every one of the age periods, it was verified that there weren’t statistically significant gender differences. Furthermore, the variance analysis indicated a F value of 0,96 for the NLA and 0,091 for 1.PP, demonstrating the lack of statistically significant differences between the age periods analyzed. The Pearson’s correlation coefficients between NLA and 1.PP, indicated values of R=0,14 at 7 years, R=0,14 at 8 years; R=0,41 at 9 years, R=0,18 at 10 years and R= 0,043 at 11 years of age. The total correlation (R=0,06) revealed the lack of statistical significance. Therefore, the authors concluded that NLA and 1.PP variables didn’t exhibit correlation among them and they also didn’t demonstrated significant changes during the age periods studied. These results suggest that the eruption of the superior permanent cuspids don’t exert appreciable repercussions over the vestibulolingual superior incisor inclination and over the nasolabial angle, during the “ugly-ducking” phase. Key words: Nasolabial angle. “Ugly-ducking”. Normal occlusion. Mixed dentition. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. ARNETT, G. W.; BERGMAN, R. T. Facial keys to orthodontic diagnosis and treatment planning: part II. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 103, no. 5, p. 395-341, 1993. BAUME, A. T. A cephalometric evaluation of the normal skeletal and dental pattern of children with excellent occlusions. Angle Orthod, Appleton, v. 21, no. 2, p. 96-103, 1951. BRANDÃO, A. M. B.; ABRAÃO, J.; CAPELOZZA FILHO, L. Avaliação da correlação entre as características dentárias esqueléticas e tegumentares em portadores de má oclusão Classe II divisão 1ª., obtidas pela cefalometria e análise facial numérica. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 7, n. 1, p. 27-35, 2002. BROADBENT, B. H. The face of the normal child. Angle Orthod, Appleton, v. 7, no. 4, p. 183-208, 1937. BROADBENT, B. H. Ontogenic development of occlusion. Angle Orthod, Appleton, v. 11, no. 4, p. 222-241, 1941. BURSTONE, C. J. The integumental profile. Am J Orthod, St. Louis, v. 44, no. 1, p. 1-25, 1958. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 7. BURSTONE, C. J. Distinguishing developing malocclusion from normal occlusion. Dent Clin North Am, Philadelphia, p. 479-491, 1964. 8. CLEMENTS, B. S. Nasal imbalance and the orthodontic patient. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 55, no. 3, p. 244-264, 1969. 9. CLEMENTS, B. S. Nasal imbalance and the orthodontic patient. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 55, no. 4, p. 329-352, 1969. 10. CLEMENTS, B. S. Nasal imbalance and the orthodontic patient. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 55, no. 5, p. 477-497, 1969. 11. CLINCH, L. M. Symposium aspects of the dental development of child. The development of the deciduous and mixed dentitions. Dent Practner, [S. l.], v.17, no. 4, p.135-144, 1966. 12. HOUSTON, W. J. B. Analysis of erros in orthodontic measurements. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 83, no. 5, p. 382-390, 1983. 41 Maringá, v. 8, n. 6, p. 31-42, nov./dez. 2003 O relacionamento dos ângulos nasolabial e dos incisivos superiores com o plano palatino durante a fase do “patinho feio” 13. JANSON, G. R. P. et al. Fechamento ortodôntico do diastema entre incisivos centrais superiores durante a dentadura mista: relato de um caso clínico. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 3, n. 4, p. 72-78, 1998. 14. KROGMAN, W. M.; SASSOUNI, V. A syllabus in roentgenografic cephalometry. Philadelphia: Library of Congress, 1957. 15. McNAMARA Jr., J. A . A method cephalometric evaluation. Am J Orthod, St. Louis, v. 86, no. 6, p. 449-469, 1984. 16. MOORREES, C. F. A., et al. Growth studies of the dentition: a review. Am J Orthod, St. Louis, v. 55, no. 6, p. 600-616, 1969. 17. NANDA, R. S. et al. Growth changes in the soft facial profile. Angle Orthod, St. Louis, v. 60, no. 3, p.177-190, 1990. 18. OWEN, A. H. Diagnostic black cephalometrics. Part I. J Clin Orthod, Boulder, v. 18, no. 6, p. 400-422, 1984. 19. POSEN, J. M. A longitudinal study of the growth of the nose. Am J Orthod, Boulder, v. 53, no. 10, p. 746-756, 1967. 20. SCHAEFFER, A. Behavior of the axis of human incisor teeth during growth. Angle Orthod, Appleton, v. 19, no. 4, p. 254-275, 1949. 21. SCHEIDMAN, G. B. et al. Cephalometric analysis of dentofacial normals. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 78, no. 4, p. 404-420, 1980. 22. SCHWARZ, A. M. A pratical evaluation of the X ray headplate. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 47, no. 8, p. 561-585, 1961. 23. SILVA FILHO, O. G. et al. Avaliação cefalométrica do ângulo nasolabial aos 07 anos,12 anos, 19 anos de idade, numa amostra de oclusão normal. R Soc bras Ortodon, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4, p. 108-113, 1990. 24. SIQUEIRA, V. C. V.; PRATES, N. S. Crescimento craniofacial: estudo cefalométrico em jovens brasileiros com oclusão normal, no período da dentição mista. R bras Odontol, Rio de Janeiro, v. 52, n. 2, p. 50-55, 1995. Endereço para correspondência Vania C. V. Siqueira - Rua José Corder, 87 - Jardim Modelo - Piracicaba - SP. Brasil. Cep 13.400-010 - e-mail: [email protected] R Dental Press Ortodon Ortop Facial 42 Maringá, v. 8, n. 6, p. 31-42, nov./dez. 2003