Tema: Ligação covalente, por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes Curso Introdução à Química / 1º Período de Farmácia Tema: LIGAÇÃO COVALENTE por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes Introdução A existência de compostos (agregados estáveis de átomos) é o ponto central da Química. Esta aula apresenta a natureza física das ligações químicas e regras úteis para determinarmos quais configurações de átomos podem formar agregados estáveis. 1. A natureza Física das ligações químicas No modelo planetário Rutherford-Bohr o átomo é formado de um núcleo pequeno (10-15m, 100000 vezes menor que a dimensão do átomo) de carga positiva que concentra grande parte da massa do átomo (cerca de 99,9%). Os elétrons estão em órbitas circulares ao redor do núcleo na região denominada eletrosfera. “Portanto, as forças interatômicas (ou ligação química, ou intramoleculares) são de natureza elétrica e magnética.” 2. Importância dos elétrons da última camada Hipótese: Segundo o modelo atômico de Bohr os elétrons nos átomos estão dispostos em camadas, com o núcleo no centro. Cada camada teria um número característico de elétrons e somente os da camada mais externa estariam envolvidos na combinação de um átomo com outros para formar agregados estáveis. Dada a importância dos elétrons de valência (da camada mais externa), os elementos são organizados na tabela periódica pelo seu número de elétrons na camada de valência. 3. Construindo Moléculas Com a aproximação dos átomos, os elétrons são rearranjados numa nova estrutura. O objetivo é de otimizar a atração e minimizar as repulsões, localizando os elétrons entre os núcleos. Neste caso, os núcleo são mutuamente atraídos pelos elétrons que pertencem a todo o sistema. Universidade Federal de Alfenas – Unifal 1 Tema: Ligação covalente, por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes 4. Curso Introdução à Química / 1º Período de Farmácia Fatos experimentais importantes Os elementos são dispostos na tabela periódica de modo que elementos com propriedades físicas e químicas semelhantes ficam na mesma coluna, chamada de grupo ou família. Os elementos He, Ne, Ar, Kr, Xe e Rn, da coluna 18 e conhecidos como gases nobres, não podem combinar-se com outros elementos para formar agregados estáveis (pelo menos era o que se pensava até meados da década de 60). 5. Regra do octeto - A mágica do número 8 Tirando o coelho da cartola Portanto, considerando a hipótese que os elétrons da camada mais externa (ou camada de valência) seriam os mais importantes na combinação de um átomo com outros e o fato que os gases nobres não podem combinar-se com outros elementos para formar agregados estáveis, podemos concluir que os gases nobres teriam uma configuração eletrônica estável na última camada. Assim, os demais elementos da tabela período, que não possuem o número de elétrons, na última camada, de um gás nobre, procurariam adquirir este número mágico. 6. Teoria eletrostática O segredo revelado 8 é o número máximo de elétrons na camada de valência para os elementos dos primeiros períodos. Portanto, esta é a quantidade máxima de elétrons que podemos colocar entre os núcleos e favorecer o máximo a atração. 7. Representações adequadas Representação de Lewis Segundo Visão epistemológica de Boltzmann a teoria de ligação química (Eletrostática ou TOM) é uma imagem útil para descrição do comportamento da natureza (fatos experimentais), e deve ser aceita, segundo o critério de utilidade pela comunidade científica. Universidade Federal de Alfenas – Unifal 2 Tema: Ligação covalente, por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes 8. Curso Introdução à Química / 1º Período de Farmácia Exemplos Regras de procedimento: a. Contar o número total de elétrons valência b. Determinar o número de pares de elétrons c. Acomodar os pares, favorecendo o máximo de pares de elétrons entre o núcleos, lembrando o limite de 4 pares para os elementos do 2º período e 2 para o 1º período. Molécula Número de elétrons de valência Número de pares de elétrons Representação de Lewis Geometria O2 H 2O CO2 CO NH3 NH4+ NO3- HNO3 CH4 Universidade Federal de Alfenas – Unifal 3 Tema: Ligação covalente, por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes Curso Introdução à Química / 1º Período de Farmácia C2H2 9. Exceções Quase tudo! 8 é o número máximo de elétrons na camada de valência para os elementos dos primeiros períodos. Portanto, esta é a quantidade máxima de elétrons que podemos colocar entre os núcleos e favorecer o máximo a atração. Átomos com o P, S e Xe admitem mais de 8 elétrons na camada de valência. Camadas de valência com subníveil d podem ter até 18 elétrons, evidentemente que ainda devemos levar em conta o volume do átomo central, que pode não acomodar 9 ligantes a sua volta. Molécula Número de elétrons de valência Número de pares de elétrons Representação de Lewis Geometria PCl5 XeF4 BF3 SF6 10. Regra do octeto, melhor dizer regra do “maior número possível” Segundo o modelo atômico de Bohr os elétrons nos átomos estão dispostos em camadas, com o núcleo no centro. Cada camada teria um número característico de elétrons e somente os da camada mais externa estariam envolvidos na combinação de um átomo com outros para formar agregados estáveis. Com a aproximação dos átomos, os elétrons são rearranjados numa nova estrutura. O objetivo é de otimizar a atração e minimizar as repulsões, localizando os elétrons entre os núcleos. Neste caso, os núcleo são mutuamente atraídos pelos elétrons que pertencem a todo o sistema. Assim a quantidade máxima de elétrons que podemos colocar entre os núcleos favorece a atração. 8 é o número máximo de elétrons na camada de valência para os elementos dos primeiros períodos. Universidade Federal de Alfenas – Unifal 4 Tema: Ligação covalente, por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes Curso Introdução à Química / 1º Período de Farmácia _______________________________________________________________ “Vamos agora reelaborar esta ideia de um ponto de vista mais atual” 11. A hipótese de de Broglie (1924) (*) de Broglie sugeriu, inspirado na simetria da natureza, que o dualismo onda-partícula, até então reconhecido apenas no caso das radiações, era uma propriedade da matéria, em especial dos elétrons. Portanto, de Broglie atribuiu a uma partícula de momento p um comprimento de onda λ, dado por λ= h , p onde h é a constante de Planck. Agora as propriedades do elétron passam a ser descritas por uma função de onda ψ. de Broglie observou que esta hipótese leva a quantização do momento angular do elétron (postulado de Bohr - 1913) 2πr = nλ = n h h logo L = pr = n = nh p 2π e que esta quantização equivale a formação de órbitas estacionárias (postulado de Bohr - 1913). n2h 2 n2 rn = r = = r0 mkZe 2 Z Em 1927 a hipótese de de Broglie foi confirmada experimentalmente. 12. Interpretação de Born (*) A função de onda ψ está associada ao elétron no átomo. Segundo a interpretação de Born a probabilidade de encontrar o elétron num volume dr ao redor de r é dado por r r r P(r ) = ∫ψ (r ) 2 dr τ 13. TOM (teoria do orbital molecular) (*) Imagine uma molécula formada por dois núcleos, A e B (a mais simples seria H2+, com um único elétron). A função de onda ψmolécula está associada ao elétron na molécula. A funções ψmolécula é obtida resolvendo a equação Hψmolécula=Eψmolécula, onda H é o hamiltoniano da molécula. Devido a dificuldade de resolver Hψmolécula=Eψmolécula, para sistemas de muitos elétrons, podemos considerar a hipótese que ψmolécula= CAψA+CBψB, Universidade Federal de Alfenas – Unifal 5 Tema: Ligação covalente, por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes Curso Introdução à Química / 1º Período de Farmácia onde ψA e ψB são orbitais atômicos relativos aos núcleos A e B, ou seja funções de onda do elétron nos átomos isolados. A função de onda ψmolécula está associada ao elétron na molécula. Segundo a interpretação de Born a probabilidade de encontrar o elétron num volume dr ao redor de r é dado por ψmolécula2= CA2ψA2 + 2CACBψAψB + CB2ψB2, (*) No lado direito da equação, o primeiro e terceiro termo são as probabilidades de encontrar um elétron nos átomos A e B, se estes fossem átomos isolados. O segundo termo leva em consideração a interferência das funções de onda. Este termo é a diferença entre as nuvens eletrônicas nos átomos isolados e na molécula. 14. Ligação covalente (*) Esta ideia de um ponto de vista mais atual Portanto, o segundo termo, da equação (*), representa um aumento na densidade de carga entre os núcleos quando a interferência é construtiva, o que aumenta a força que atrai o “elétron” aos dois núcleos (A-e-B), possibilitando a estabilidade do agregado. Portanto a energia associada ao estado ψmolécula, resultado de uma interferência construtiva, é menor que a energia do elétron no estado fundamental do átomo isolado. < q >= ∫ eψ 2o τ dr 2 Termo da eq .(*) Fe = 2 × k Ze < q > r2 E pe = −2 × k Ze < q > r Na ligação iônica (100%) uma das constantes, CA ou CB, é nula. No entanto, toda ligação iônica tem um caráter covalente, 2CACBψAψB,e todo ligação covalente um caráter iônico, CA2ψA2 ou CB2ψB2. 15. Número de orbitais moleculares (*) Como o número de elétrons na molécula é a soma dos elétrons no átomo isolado, e considerando o princípio de exclusão de Pauli que estabelece não existir mais de dois elétrons num mesmo orbital (ψ2) num átomo, podemos concluir que o número de orbitais moleculares é sempre igual ao número de orbitais atômicos que interferem. Exemplo: H2 σ1s = ψg(H2) = ψ1s(H)+ ψ1s(H) orbital ligante (OL) σ1s* = ψu(H2) = ψ1s(H)- ψ1s(H) orbital antiligante (OAL) O símbolo σ ou π estão relacionados com a simetria do orbital formado. 16. Regras para sobreposição dos orbitais (*) Para combinação de dois orbitais atômicos de dois átomos diferentes, devemos observar: - diferença de energia pequena - átomos suficientemente próximos - simetria adequada 17. Energia dos orbitais moleculares (*) A ordem crescente de energia dos orbitais moleculares foi determinada experimentalmente (dados espectroscópicos): σ1s σ1s* σ2s σ2s* σ2p π2p π2p* σ2p* (para átomos mais pesados que o O) σ1s σ1s* σ2s σ2s* π2p σ2p σ2p* π2p* (para átomos mais leves que o O) 18. Os casos das moléculas de H2 e O2 (*) H: 1s1 H: 1s1 H2: σ1s2σ1s* a. Ordem de ligação OL= (no de elétrons nos OL - no de elétrons nos OAL)/2 Universidade Federal de Alfenas – Unifal 6 Tema: Ligação covalente, por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes Curso Introdução à Química / 1º Período de Farmácia OL= (2-0)/2=1 19. Comparação dos modelos (*) 20. Caráter iônico e covalente Toda ligação química tem um caráter iônico e covalente. Na ligação iônica (100%) uma das constantes, CA ou CB, é nula. No entanto, toda ligação iônica tem um caráter covalente, 2CACBψAψB,e todo ligação covalente um caráter iônico, CA2ψA2 ou CB2ψB2. 21. Eletronegatividade Assim, quando se forma uma ligação covalente, os elétrons utilizados para formar a ligação não precisam ser distribuídos igualmente entre os dois átomos. A eletronegatividade é a tendência de um átomo atrair elétrons em sua direção quando combinado formando compostos. Pauling sugeriu uma forma de avaliar a eletronegatividade dos átomos. Considerando que a ligação A-B é mais forte, devido ao caráter iônico, do que se deveria esperar para uma ligação covalente pura, denominamos esta diferença de ∆: ∆ = energia da ligação real – energia da ligação 100% covalente. A energia da ligação real pode ser medida e a energia da ligação 100% covalente calculada por E(A-B 100% covalente) = [E(A-A) x E(B-B)]1/2 Pauling postulou que a diferença de eletronegatividade entre dois átomos é dado por χ(B)- χ(A)=0,1017∆√, para ∆ medido em kJmol-1. Assumindo χ(H)=0 podemos calcular a eltronegatividade dos demais átomos. Ocorre uma ligação com 50% de caráter iônico quando a diferença de eletronegatividade entre os átomos é de 1,7. 22. Carga formal 23. Momento de dipolo Nas ligações covalentes entre dois átomos diferentes, existe uma densidade eletrônica maior em torno do átomo mais eletronegativo, e consequentemente este átomo terá uma carga parcial negativa, δ-, e o outro átomo uma carga parcial positiva, δ+. Assim, duas cargas δ- e δ+ separados por uma distância r, caracterizam um dipolo. O efeito por ele criado é proporcional ao produto da carga, δ, com a separação, r, definido como momento de dipolo (uma grandeza vetorial): p=qr. Quando temos numa molécula, mais de uma ligação polar, devemos calcular o momento de dipolo da molécula, p=Σqr. Universidade Federal de Alfenas – Unifal 7 Tema: Ligação covalente, por Prof. Dr. Nelson H. T. Lemes Curso Introdução à Química / 1º Período de Farmácia Tratando-se de uma quantidade vetorial, a geometria (conformação espacial) da molécula é determinante no valor da resultante p. Universidade Federal de Alfenas – Unifal 8