_________________________________________________________________________ Metodologia METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo e retrospectivo, realizado a partir de uma experiência de 15 anos com uso de solução de papaína, em pacientes com lesões de pele, internados ou em tratamento ambulatorial, num hospital particular da cidade de São Paulo. 1. AMOSTRA A amostra deste estudo foi constituída por 118 pacientes que receberam tratamento com solução de papaína, divididos em três grupos: - 37 pacientes com úlcera diabética (UD) - 40 pacientes com úlcera de pressão (UP) - 41 pacientes com úlcera venosa (UV) Estes tipos de lesão foram selecionados por terem sido os mais freqüentemente encontrados, entre os pacientes tratados exclusivamente com solução de papaína . Critérios de Inclusão Para a inclusão dos pacientes, neste estudo, adotamos os seguintes critérios: a) ter uma única ferida; b) ter fichas com registros suficientes para preenchimento completo dos dados do paciente, da ferida e da sua evolução, do 1º ao 28º dia de tratamento; _________________________________________________________________________________ 42 _________________________________________________________________________ Metodologia c) ter sido tratado exclusivamente com solução de papaína a 10%, quando o leito da ferida encontrava-se recoberto por necrose, e a 2% na presença de tecido viável; d) ter consentimento do paciente e/ ou familiar e da equipe médica responsável para a aplicação da solução de papaína. Solicitamos autorização do familiar quando, por qualquer motivo, o paciente estava impossibilitado de responder por si. A solicitação era precedida de explicação verbal sobre a ação da papaína na cicatrização de feridas. Sempre que solicitado, oferecemos literatura específica sobre o assunto aos profissionais, pacientes e familiares. A aceitação dos pacientes e familiares ao método proposto foi sempre imediata, numa demonstração de esperança na resolução dos seus problemas de pele. 2. DESCRIÇÃO DA TÉCNICA DE CURATIVO COM SOLUÇÃO DE PAPAÍNA 2.1. Material . água bidestilada estéril . papaína em pó (6.000 USP-U/mg)* . jogo de pinças esterilizadas para curativo simples . espátula de madeira esterilizada . recipiente de vidro estéril para diluição _________________________________________________________________________________ 43 _________________________________________________________________________ Metodologia . gazes esterilizadas . fita adesiva Utilizamos, neste estudo, apenas a papaína com grau farmacêutico 6.000 USP-U/ mg, produzida e comercializada pela empresa MERCK*, que segue as especificações da farmacopéia americana, garantindo assim seu grau de pureza, de atividade, limite do nível de contaminantes, inclusive, microbiológico (MERCK, 1992). 2.2 PROCEDIMENTO PARA O CURATIVO COM SOLUÇÃO DE PAPAÍNA - Preparo da solução Preparamos solução de papaína em recipiente de vidro estéril, diluindose o pó da enzima em água bidestilada estéril, na proporção necessária à obtenção da concentração desejada. Assim, por exemplo, para o preparo de solução a 2%, diluímos 2 gramas de pó de papaína em 100 mililitros de água bidestilada. Recomenda-se preferencialmente o uso da água bidestilada por não conter íons livres, o que favorece a estabilização do sítio ativo. A papaína sofre oxidação quando em solução aquosa e em contato com metais pesados como o ferro, zinco e cobre o que diminui gradativamente sua atividade (MEDINA, 1980). Portanto, tomamos alguns cuidados para reduzir ao máximo os fatores que pudessem favorecer essa oxidação: preparar a solução em recipiente de vidro e utilizá-la, imediatamente, após o seu preparo. _________________________________________________________________________________ 44 _________________________________________________________________________ Metodologia - Limpeza da ferida Realizamos limpeza sempre com muito cuidado para não lesar os tecidos. Na presença de tecido necrótico ou desvitalizado no leito da lesão, procedemos à limpeza com uso de gazes embebidas na solução de papaína. Em caso de ferida recoberta por tecido de granulação, efetuamos a limpeza com solução de papaína em jato (utilizando-se seringa) para não lesar os tecidos neoformados. Quando a lesão possuía grande quantidade de exsudação, fazíamos higienização prévia com soro fisiológico. - Aplicação da solução e cobertura da lesão Avaliação prévia do tipo de tecido que recobria a ferida foi realizada para se determinar a concentração da solução a ser utilizada. Nas feridas totalmente recobertas com tecido necrótico, utilizamos solução de papaína a 10%, até o início da exposição de tecido viável, quando passamos a utilizar solução de papaína a 2%, mesmo na presença de pequenas áreas remanescentes de necrose. Para a cobertura da lesão, aplicamos sempre gazes embebidas na solução de papaína, na concentração previamente definida. Sobre as gazes úmidas colocamos gazes secas ou compressas de gaze, suficientes para adequada proteção do curativo e garantia do conforto do paciente. Fixamos com fita adesiva antialérgica, exceto quando se fazia necessário o enfaixamento, em casos de lesão muito exsudativa ou quando a pele do paciente estava fragilizada. _________________________________________________________________________________ 45 _________________________________________________________________________ Metodologia Determinamos a freqüência de troca dos curativos, de acordo com a quantidade de exsudação produzida pela lesão, para evitar maceração da pele e dos tecidos neoformados. Das 118 feridas tratadas, 6 (5,08%) exigiram duas trocas diárias e apenas 2 (1,69%), três trocas. 3. COLETA DE DADOS 3.1. Instrumento Trata-se de uma ficha para registro dos dados do paciente, da ferida e da sua evolução, contendo duas partes distintas (ANEXO I). A primeira, para anotação dos dados relacionados com a identificação pessoal do paciente e com as características da ferida no momento da sua primeira avaliação. A segunda completa os dados relativos à ferida, necessários ao seu acompanhamento evolutivo. Os dados levantados para a caracterização dos pacientes foram: idade, sexo, peso, altura, medicação utilizada e doença de base. Investigamos estas variáveis pela possibilidade de somar elementos, tanto para a melhor compreensão dos fatores associados à causa ou manutenção da lesão, como para elencar as orientações necessárias a cada paciente. Consideramos as medidas de peso (P) e altura ( A) para possibilitar a avaliação do estado nutricional dos pacientes. Segundo WAITZBERG (1995), a capacidade de o paciente responder às necessidades energéticas exigidas pelo trauma, “depende basicamente dos depósitos corpóreos de energia potencial e substratos bioquímicos ativos, itens reconhecidos como estado nutricional, que variam com a oferta, _________________________________________________________________________________ 46 _________________________________________________________________________ Metodologia assimilação e utilização de nutrientes exógenos essenciais.” Optamos por realizar a avaliação do estado nutricional dos pacientes, através do uso do Índice de Massa Corpórea (IMC = P/ (A)2), obtido através da aplicação do Normograma de Quetelet (ANEXO 2), adaptado de Bray apud WAITZBERG (1995), que possibilita classificar o estado nutricional, a partir do peso e altura em: obeso, acima do peso, aceitável e abaixo do peso e emagrecido. Para a caracterização das lesões, examinamos os seguintes aspectos: estágio, tempo de lesão, cultura do exsudato, local da lesão, estruturas comprometidas, aspecto, dimensões, presença de exsudato, sinais flogísticos e dor na lesão. Os dados obtidos, nesta etapa, correspondem às condições anteriores ao tratamento com solução de papaína. Estágio da lesão: optamos por determinar o estágio das feridas, segundo o modelo proposto no American National Pressure Ulcer Advisory Panel, onde, em 1989, foi elaborada uma relação consensual que propunha um sistema universal de graduação para avaliação de úlceras de pressão. Este sistema classifica as lesões em quatro estágios, segundo graus crescentes de comprometimento tecidual (DEALEY, 1996): estágio I: eritema na pele ainda intacta, que não empalidece. estágio II: lesão parcial da pele, envolvendo a epiderme e/ ou derme. A úlcera é superficial e pode ter forma de bolha, abrasão ou cratera. estágio III: ferida com lesão total da pele, envolvendo a epiderme, a derme e a camada subcuticular. A úlcera se apresenta como cratera. estágio IV: grande destruição, envolvendo outros tecidos, como músculos, _________________________________________________________________________________ 47 _________________________________________________________________________ Metodologia tendões ou ossos. Segundo MASH (1990), as normas do referido Painel servem como instrumento de padronização para a prática clínica e para a realização de pesquisas. Tempo de lesão: levantamos este item, pedindo ao paciente ou ao familiar que informasse, o mais precisamente possível, quando foi rompida a integridade da pele, na área da atual úlcera. Este dado foi utilizado para avaliação da idade da ferida, registrando-o em meses. Cultura do exsudato: a obtenção deste item baseou-se em registros, no prontuário do paciente, sobre a realização ou não de cultura do exsudato e o seu resultado. Solicitamos todas as culturas, antes do início do tratamento, em acordo com a equipe médica responsável, quando o paciente apresentava sinais clínicos de infecção, como sinais inflamatórios ao redor da lesão, associados à hipertermia, exsudação purulenta abundante ou resultados alterados do leucograma. Não realizamos controle posterior dessas culturas. Local da lesão: buscando registro prático e objetivo deste dado, fizemos a descrição do local da ferida, além da demarcação em diagrama do corpo humano, em posição frontal e dorsal, conforme proposta por HEMPHILL (1990) e HESS (1995). Estruturas comprometidas: avaliamos o comprometimento ou não de pele, músculos e ossos, como mais um parâmetro para determinar o nível de profundidade da lesão e estabelecer mais um dado na avaliação evolutiva dos tecidos da lesão. _________________________________________________________________________________ 48 _________________________________________________________________________ Metodologia Realizamos esta avaliação por análise macroscópica das características de cada estrutura (cor, textura, umidade e aspecto geral). Aspecto da lesão: neste item, foram registrados os tipos de tecido presentes no leito da ferida: tecido necrótico, de epitelização e de granulação. Embora muitas feridas possam ser consideradas “mistas”, por conter mais de um tipo destes tecidos, recobrindo a lesão ao mesmo tempo, optamos, neste estudo, por considerar o tipo de tecido predominantemente observado no leito da ferida. Segundo DEALEY (1996), a aparência da ferida é um indício do estágio de cicatrização em que se encontra a lesão e de possíveis complicações que possam estar presentes. Dimensões da lesão: existem vários métodos descritos para se obter o registro das dimensões de uma ferida. Para fins deste estudo, utilizamos a medição simples, método que, apesar de estar sujeito a imprecisões, é descrito por diversos autores como uma forma simples, prática e econômica de mensuração (Mc CULLOCH; KLOTH, 1990; HEMPHILL, 1990; SUSSMAN, 1990; COOPER, 1992; DEALEY, 1996; HESS, 1995). Tendo em vista a natureza retrospectiva do estudo, este foi o método de mensuração possível, a partir das medidas disponíveis. As lesões foram aferidas em milímetros, considerando-se as medidas do maior comprimento, largura e profundidade, obtidas com auxílio de uma haste rígida esterilizada, para se obter um critério que pudesse servir posteriormente como parâmetro evolutivo das dimensões da lesão. Para a medida de profundidade, a haste foi introduzida perpendicularmente na região mais profunda da ferida, mensurando-se o segmento introduzido _________________________________________________________________________________ 49 _________________________________________________________________________ Metodologia correspondente ao nível dos bordos, com régua milimetrada. Os valores iguais ou inferiores a 2 milímetros foram considerados como de valor zero. Os parâmetros utilizados para a avaliação das dimensões das feridas foram a sua área (comprimento x largura) e profundidade. As medidas foram obtidas pela própria pesquisadora. Presença de exsudato: quanto a esta variável, registramos a presença ou a ausência de exsudato e o seu aspecto (observando-se cor, odor, quantidade e consistência), segundo avaliação visual, no momento da troca dos curativos. Adotamos uma classificação adaptada de HESS (1995), incluindo-se os seguintes tipos de exsudato: seroso, sero-purulento, purulento e sero-sanguinolento. Sinais flogísticos: estes sinais refletem o estado inflamatório local que, segundo JARAMILLO ANTILLÓN (1994), COTRAN; KUMAR; ROBBINS (1994), caracteriza-se pela presença de edema, calor rubor e dor. Foi avaliada a presença ou não destes sinais no local da lesão. Consideramos como presença de sinal flogístico a identificação de pelo menos um deles. Dor na lesão: Um dos instrumentos de avaliação de dor, reconhecidos por diversos especialistas, é a avaliação verbal (JENSEN; KAROLY, 1992; LEE, 1993; CLEELAND, 1994;). Baseados na escala de apreciação verbal simples de Keele, proposta por LEE (1993), utilizamos escala compreendendo 4 qualificativos com relação à queixa de dor (ausência, discreta, moderada ou intensa). Questionamos o paciente sobre a ocorrência de dor na lesão e sua intensidade, anterior ao início do tratamento com papaína. _________________________________________________________________________________ 50 _________________________________________________________________________ Metodologia Na segunda parte da ficha, registramos dados que possibilitassem a análise evolutiva das feridas. As informações anotadas nesta parte referemse ao 1º, 7º, 14º, 21º e 28º dias de tratamento com solução de papaína. Para o acompanhamento evolutivo das lesões, no decorrer deste período, consideramos os seguintes parâmetros: estruturas comprometidas, aspecto da lesão, dimensões da lesão, presença de exsudato, sinais flogísticos, dor na lesão, durante os curativos e entre eles. A avaliação evolutiva destes parâmetros seguiu os mesmos critérios utilizados na caracterização das lesões. No Apêndice, ilustramos a evolução de algumas feridas acompanhadas neste estudo, apresentando o seu registro fotográfico em diferentes dias de avaliação. 4. TRATAMENTO ESTATÍSTICO Análise Estatística Apresentamos as variáveis qualitativas ou classificatórias relativas aos pacientes e às lesões, em tabelas, contendo freqüências absolutas (n) relativas (%). Analisamos a e associação entre estas variáveis e a variável “grupo” (úlcera diabética, úlcera de pressão e úlcera venosa), em cada condição de avaliação, com o teste qui-quadrado ( 2) ou teste exato de Fisher. Apresentamos, descritivamente, as variáveis quantitativas, idade do paciente, tempo de lesão, área e profundidade no 1o dia de avaliação, por meio de médias, desvios padrão, medianas, valores mínimos e máximos. As médias das variáveis, cuja condição de distribuição normal não foi rejeitada, foram _________________________________________________________________________________ 51 _________________________________________________________________________ Metodologia avaliadas, em relação aos grupos, com a análise de variância com um fator de classificação. Quando significante, prosseguiu-se à análise com teste de Tukey para discriminar as diferenças. Quando não foi observada distribuição normal, utilizamos o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis e teste de Dunn. Submetemos as variáveis quantitativas, área e profundidade, aferidas em mais de uma condição de avaliação ( 1o, 7o, 14o, 21o e 28o dias), transformação logarítmica para obter distribuição à gaussiana, permitindo assim a utilização de um teste paramétrico. Foram estudadas segundo a técnica multivariada de análise de perfil de médias. Esta técnica tem como objetivo analisar, simultaneamente, as variáveis “grupo” e “condição de avaliação”, seus efeitos conjuntos (interação) e isolados. As três hipóteses básicas a serem testadas na análise de perfil são: H01 Os perfis de médias dos grupos estudados são paralelos entre si, ou seja, não existe in teração entre o fator grupo e o fator condição de avaliação. UD UP UV 1º 7º 14º 21º 28º Te m po _________________________________________________________________________________ 52 _________________________________________________________________________ Metodologia H02 Os perfis de médias dos grupos estudados são coincidentes, ou seja, não existe efeito do fator grupo. UD UP UV 1º 7º 14º 21º 2 8º Temp o H03 Os perfis de médias dos grupos estudados são paralelos ao eixo das abscissas, ou seja, não existe efeito do fator condição de avaliação. UD UP UV 1º 7º 14º 21º 28º Tempo Para a análise da redução das médias de área e profundidade, ao longo do tempo, realizamos o cálculo de médias, de acordo com a seguinte fórmula: ( x2 redução percentual das x1 ).100. x1 Os valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significantes e se encontram destacados na apresentação dos resultados. _________________________________________________________________________________ 53 _________________________________________________________________________ Metodologia * Relatório de especificações técnicas e análise de produto fornecido pela Merck S.A. Indústrias Químicas * United States Pharmacopeia – Unidades por miligrama _________________________________________________________________________________ 54 This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF.