REFLEXÕES:
Essas premissas reeditam dilemas antigos, relativos
aos critérios de saúde e de doença, do que é normal e
anormal na conduta humana...
uma vez que
a linha divisória entre o normal e o patológico não é
fixa e seus limites são imprecisos...,
estando condicionados a fatores genéticos e
ambientais, expressos na versatilidade histórica de
diferentes estruturas sociais e culturais.
REFLEXÕES:
Desde a Grécia antiga, já existia uma concepção dinâmica e universal de
saúde e doença. Os antigos já consideravam que a natureza, tanto no
homem quanto fora dele, convivia em permanente sintonia.
A perturbação dessa sintonia seria a doença.
A doença como uma perturbação do equilíbrio natural da vida:
Assim, a doença tem sido vista como a síntese da expressão do todo que
perde a harmonia e o equilíbrio.
Mas essa perda de harmonia e de equilíbrio também significa movimento em
crescente espiral na busca de novas sintonias, processo de adaptação a
situações novas, esforço da natureza na conquista de novas manifestações. A
doença passa a ser situação de “crise” normativa”, revolucionária, que o
organismo forja para se curar e alcançar novas manifestações.
A visão objetiva da doença:
Pasteur demonstrou que a doença pode ter uma causa externa. A teoria
microbiana de doença contagiosa mostrou que a doença entra e sai do
homem como por uma porta. Assim, a natureza externa pode estar em
discordância, discrepância com a natureza humana.
REFLEXÕES:
Até hoje, o pensamento médico oscila, entre essas duas
representações da doença:
-as perturbações marcadas pela desarmonia com o ambiente
reafirmam a teoria dinâmica ou funcional.
- as doenças de carência, infecciosas ou parasitárias fazem parte
da teoria ontológica;
Essas duas concepções têm um ponto em comum, porque
encaram o fato de estar doente como uma situação polêmica, uma
luta do organismo contra algo estranho ou uma luta interna contra
forças que se opõem, porque a vida não conhece indiferença, a
vida é polaridade dinâmica. A vida pede a reestruturação da
totalidade orgânica, que é o de enfrentar tudo que constitui
obstáculo à própria Vida, sua manutenção e seu desenvolvimento.
É a Vida que dá valor ao viver, ao normal em qualquer nível,
porque ela que é a atividade normativa.
“BOM É TUDO QUE TEM VALOR DE SOBREVIVÊNCIA”K.LORENZ, 1963.
REFLEXÕES:
Do ponto de vista etimológica, normal significa “enquadramento”, o que
não se inclina nem para a direita, nem para a esquerda. Portanto, o que
se conserva em um justo meio-termo.
Daí, normal é aquilo que “deve ser” ...
O normal está em conformidade com a lei, natural, sem defeitos ou
problemas físicos ou mentais.
–Ser normal significa ser sadio? – O que se opõe ao normal? – Por
que se referir ao normal e patológico? – Por que não se referir ao
normal e anormal?
“Ser anormal” consiste em se afastar, radicalmente, da norma.
O anormal não é patológico, porque anormal é o que se desvia, está
fora, é irregular.
Patológico, sim, implica pathos, sentimento direto e concreto de
sofrimento e impotência, sentimento de vida contrariada. É patológico,
porque a referência é a norma, a estrutura modificada.
REFLEXÕES:
Como a vida tem um valor subjetivo, o conceito de normal passa a ter
várias características normativas, desde um referencial estatístico até
uma imagem ideal, que guia o sentido comum de saúde.
Os conceitos de saúde ganham também significações variadas
segundo as épocas e as necessidades emergentes das culturas e
civilizações.
A tentativa de elucidação dessa suposta antinomia saúde/doença
tem gerado investigações em quatro perspectivas:
1- Normalidade como ideal (utopia),
2- Normalidade como média estatística,
3- Normalidade como saúde,
4- Normalidade como processo.
1- NORMALIDADE COMO IDEAL
A perspectiva de normalidade como utopia remete ao conceito
estabelecido pela O. M. S., que considera Saúde como um
“estado de perfeito bem estar físico, psíquico e social”.
Essa definição traduz mais a “de felicidade”, do que a de
saúde humana.
Por outro lado, “bem-estar” significa manifestação de saúde,
mas não a saúde mesmo.
Torna-se importante, também, não esquecer que o mal-estar,
em determinadas situações, pode constituir o máximo de
saúde que se expressa.
Nesse sentido, não se deve falar em perfeita saúde, pois
saúde é um bem orgânico. -“Seria a saúde um estado de
razoável harmonia entre o sujeito e sua própria
realidade?”
2- NORMALIDADE COMO MÉDIA ESTATÍSTICA
A metodologia estatística nos remete a termos como desvios, médias e
probabilidades. ..
Essa perspectiva de normalidade é relativa, uma vez que aquilo o
que se considera normal hoje, poderá não ser amanhã, e o
contrário é verdadeiro.
Fromm tem razão ao expor que “se milhões de criaturas
compartilham os mesmos vícios, eles não se transformam em
virtudes; se praticam os mesmos erros, não os converte em
verdades e a manifestação da mesma forma de patologia
mental, não torna as pessoas mentalmente sadias”.
Se procurarmos o verdadeiro número das pulsações cardíacas de
um sujeito pela média das medidas tomadas várias vezes durante
um mesmo dia, teremos precisamente um número falso, porque os
valores médios são desprovidos de sentido no que se refere ao
mesmo indivíduo.
2- NORMALIDADE COMO
MÉDIA ESTATÍSTICA
Os indivíduos reais se afastam mais ou menos desse modelo estatístico e é,
precisamente nisso, que consiste a sua individualidade.
É sempre o indivíduo que se toma como ponto de referência.
Uma média, obtida estatisticamente, não permite dizer se determinado
indivíduo, presente diante de nós, é normal ou não.
Porque a média não é o equivalente da norma, mas um indício, uma
tendência, um indicador... dela.
Um traço humano não seria normal porque é freqüente, mas seria
freqüente por ser normal.
2- NORMALIDADE COMO MÉDIA ESTATÍSTICA
A metodologia estatística nos remete a termos como desvios, médias e
probabilidades. ..
Fromm tem razão ao expor que “se milhões de criaturas
compartilham os mesmos vícios, eles não se transformam em
virtudes; se praticam os mesmos erros, não os converte em
verdades e a manifestação da mesma forma de patologia
mental, não torna as pessoas mentalmente sadias”.
Se procurarmos o verdadeiro número das pulsações cardíacas de
um sujeito pela média das medidas tomadas várias vezes durante
um mesmo dia, teremos precisamente um número falso, porque os
valores médios são desprovidos de sentido no que se refere ao
mesmo indivíduo.
2- NORMALIDADE COMO MÉDIA ESTATÍSTICA
A fronteira entre o normal e o patológico é amplo e impreciso.
É sempre a medida do possível.
É sempre o indivíduo que avalia essa transformação, porque é
ele que sofre as conseqüências dessas novas condições.
Ser normal, para o ser vivo, também é viver em determinado
meio, sabendo que as flutuações e novos acontecimentos são
possíveis.
NORMALIDADE COMO SAÚDE :
Ser sadio e ser normal não são também fatos equivalentes, já que
o patológico é uma variação da norma, um desvio do espectro
normal.
O que caracteriza a saúde é a possibilidade de poder ultrapassar a
norma, de tolerar infrações e instituir outras normas em novas
situações.
Por exemplo: Permanecer com uma conduta adaptativa e dinâmica frente
a uma situação de violência ou, em determinadas condições, sentir-se sadio,
apesar de ser portador de alguma anomalia.
Portanto, a saúde se torna uma margem de segurança às
infidelidades do meio.
O ser vivo não vive entre leis, mas entre seres e acontecimentos,
que modificam e diversificam essas leis.
A vida para o ser vivo ignora a rigidez geométrica...
A vida é diálogo ou combate com um meio em que há fugas,
vazios, esquivas e resistências inesperadas.
1- NORMALIDADE COMO SAÚDE :
Para Leriche, “ a saúde é a vida no silêncio dos órgãos”.
Inversamente, então, a doença seria aquilo que perturba os homens
no exercício normal de sua vida e em suas ocupações e, sobretudo,
aquilo que os faz sofrer.
Mas “o silêncio dos órgãos” não equivale, necessariamente, à
ausência de doença.
Em suma, a doença é uma nova ordem fisiológica e a terapêutica e
deve ter como objetivo adaptar o homem doente a essa nova ordem.
Segundo Aristóteles, toda ciência procede do espanto. O espanto
vital é a angústia suscitada pela doença...
4- NORMALIDADE COMO PROCESSO
A normalidade como processo leva em conta a perspectiva
histórica do indivíduo, permitindo-se a avaliação de um
atributo à luz de seu significado atual e sua evolução.
A normalidade se torna adaptação, que se interioriza e se integra
à organização individual. É importante não perder de vista que o
dinamismo fundamental não consiste em se adaptar ao mundo,
mas em se realizar no mundo.
Não esquecer também que o patológico nem sempre se deduz
linearmente do normal, porque o que acontece é a substituição de
uma ordem por outra.
4- NORMALIDADE COMO PROCESSO
Só se compreende o ser humano em seu ambiente, com sua
plasticidade técnica, e ânsia de dominar o meio.
Para os humanos, a saúde é um sentimento de segurança na
vida, sentimento para o qual não se impõe nenhum limite.
A saúde é uma maneira de abordar a existência com uma
sensação não apenas de possuidor ou portador, mas também
como sujeito criador de valor, instaurador de normas vitais.
É bom que se deixe registrado que:
“O indivíduo normal nunca se adapta completamente, mas o
psicopata é inadaptável”(E. Trillat )
E, em se tratando do NORMAL E PATOLÓGICO,
-COMO FICAM AS CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES?
-O QUE SIGNIFICA PARA ELES A SUA NORMAL- ANORMALIDADE?
-Sofrem, por acaso , de uma certa “normose”?
- Serão, talvez, “normóticos” ou “normopatas”?
Seres em desenvolvimento apresentam imaturidade em suas
estruturas, são plásticos em sua organização morfofuncional e
lábeis em suas manifestações comportamentais.
Sua vida não se limita a seu organismo. Saúde não é problema
para adolescentes...e isso significa que a possibilidade de abusar
da saúde faz parte da saúde.
Eles consideram seu corpo como um instrumento, um trampolim
para ações possíveis e impossíveis.
Anseiam por liberdade, mas não possuem maturidade para
reconhecer o conjunto de limites da liberdade...
Portanto, é para além do corpo que é preciso olhar, para
julgar o que é normal ou patológico para a adolescência e
juventude.
É nesse contexto que o conceito de vulnerabilidade, fatores de
risco e fatores protetores, oriundos do CAMPO DOS DIREITOS
HUMANOS, adentra o campo da saúde.
Esses conceitos emergem para ampliar os horizontes normativos
e permitir-lhes as necessárias curvaturas do espaço-tempo do
Cosmos infanto- juvenil...
A promoção à saúde significa a promoção dos direitos
humanos...portanto, o resgate da dignidade humana através das
políticas públicas...
do estabelecimento de diálogos, de reconstrução de pontes
lingüísticas entre o mundo tecnocientífico e o senso comum.
O sucesso desse empreendimento está em assegurar, como
normalidade, a consciência e a vivência de CIDADANIA e como
norma de saúde para todos...
“Se a Ética existisse, teríamos
menos necessidade de justiça”Montaigne (1833-1592)
Portanto, somente, através de leis, instauradas pela conquista da
CIDADANIA , que haverão de se reconhecer os limites justos para
qualquer que seja a conduta, normal ou patológico, dos sujeitos...
A CIDADANIA insere TODOS ao desenvolvimento do Estado, e
TODOS devem investir na promoção de políticas nacionais voltadas
à concretização dos genuínos anseios humanos...
A CIDADANIA constrói espaços de diálogo e convivência plural,
tolerantes e eqüitativos, entre as diferentes representações
humanas; de forma que o adolescente se sinta sujeito de suas
ações, membro da coletividade, com todas as singularidades que se
entrelaçam; reconhecendo direitos e deveres, percebendo sua
normalidade e de seus desvios...
Ser normal é sentir-se incluído e também poder incluir todos no
mais audacioso projeto de viver a plenitude da própria vida!
Um dos primeiros ensaios de globalização no mundo ...
Isso significa também aceitar as mudanças sociais, com suas
“novas” representações sociais ...
LEI FEDERAL ORGÂNICA DA SAÚDE N° 8.080/1990
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE LEI N°8.069/1990
ART. 2° A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o estado prover as
condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1° - ... acesso universal e igualitário às ações
e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação. § 2° - O dever do Estado não exclui o
das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.
. Art. 227- É dever da Família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los à
salvo de toda forma de negligência,discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
ONU – Direito das Mulheres - Direito à vida - Direito à liberdade e a segurança pessoal - Direito à
igualdade , à liberdade de todas as formas de discriminação - Direito à informação e a educação Direito à privacidade -Direito à saúde - Direito a construir relacionamento conjugal e a planejar sua
família -Direito à decidir ter ou não ter filhos e quando tê-los - Direito aos benefícios do progresso
científico - Direito à participação política - Direito a não ser submetida a torturas e maus-tratos.
ART. 13- Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra crianças e adolescentes serão
obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízos de
outras providências legais.
Incluir é descobrir também que existem condições perenes e que
estão em toda parte onde existe a vida!
contar
Se nascemos em uma sociedade que impede
a concretização de seus próprios valores...
o reconhecimento da contradição entre o
ideal e a realidade é o primeiro momento de
liberdade, como recusa da violência.
Contra uma rede perversa,
somente a rede do pescador...
A RELAÇÃO ÉTICA é uma
CONSTRUÇÃO HUMANA:
Exige esforço evolutivo!
É preciso vivê-la, testemunhá-la,
transparente aos sujeitos, em
qualquer circunstância...
É preciso respeitar o espaço onde ocorre a vida...
a cultura dentro da qual se realiza a prática...
e os sujeitos que se sujeitam á nossa prática...
Isto inclui nossos gestos, nossas emoções, nossa
afetividade, nossos desejos.
Não há prática
verdadeira que não seja
um ensaio Ético e
Estético.
Decência e Boniteza têm
que andar de mãos
dadas!
Paulo Freire
A Lei prescreve que se faça por dever a ação,
que o AMOR faria livre e espontaneamente!
Trabalhar com crianças e adolescentes exige consciência do
inacabado. ..
Eu me experimento como ser cultural, histórico, inacabado
Onde há vida, há o inacabado...
Não se trata somente de não esquecer para
não repetir... Mas não esquecer de esquecer
para construir a cooperação e vivências
compartilhadas...
Felizes os famintos de justiça,
porque nunca serão saciados!
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NORMALIDADE COMO MÉDIA ESTATÍSTICA