Capítulo 11 Análise de capacidade de processo 11.1 Introdução 11.2 Índice de capacidade (Cp) 11.3 Cpk 11.4 Qual é a diferença entre Cp e Pp (e Cpk e Ppk)? 11.5 Não normalidade é um problema. 11.6 Questões e exercícios 11.7 Referências 1 11.1 Introdução • Neste capítulo, vamos apresentar índices de capacidade para processos centrados no meio das especificações (Cp), e para processos não centrados (Cpk). • Os limites de especificação medem a tolerância permitida da variabilidade de uma característica importante do produto ou processo. A tolerância é calculada pelo engenheiro desenhista do processo ou produto na hora da sua concepção antes de qualquer tentativa de fabricação. • Os limites de controle, por outro lado, são valores calculados dos dados observados no chão da fábrica e são valores práticos e não teóricos. Tolerância mede o que deve ser, enquanto limites de controle medem o que realmente é. • O índice de capacidade é uma medida da relação numérica entre os dois conceitos. 2 11.2 Índice de capacidade (Cp) Para processos centrados, o índice de capacidade (Cp) é a distância entre o limite de especificação superior (LES) e o limite de especificação inferior (LEI) dividido pela variabilidade natural do processo igual a 6 desvios padrão (veja a discussão sobre a figura 7.3). Índice de capacidade = (LES – LEI)/6 desvios padrão Nesta expressão, o valor 6 desvios padrão é chamado muitas vezes “6 sigma” na literatura específica. O desvio padrão é calculado com uma das expressões S X i X 2 s= R d2 n 1 A primeira expressão é o desvio padrão do processo estimado com valores individuais, não os valores em subgrupos. A segunda expressão é o desvio padrão calculado na base dos subgrupos oriundo das amplitudes (R) de cada subgrupo. O desvio padrão dos valores individuais é maior que o desvio padrão baseado nos subgrupos, como foi apresentado no capítulo 2, seção 2.6 sobre o desvio padrão de Shewhart. O coeficiente d2 foi apresentado na tabela 2.3 dos coeficientes de Shewhart. 3 X Tabela 11.1 – Relação entre Cp e taxa de rejeição Um valor de Cp igual a 2,0 significa que a taxa de rejeição fica em 0,002 unidades por PPM, em outras palavras 2 em 1 bilhão. Por outro lado, um Cp igual a 0,55 significa que o processo não é capaz e que a taxa de rejeição é 10%. Taxa de rejeição – Distância de limites de soma dos dois lados especificação da média em do processo (bicaudal) desvio padrão - Z 0,000000002 6,00 0,0000006 5,00 0,000002 4,75 0,00002 4,26 0,0003 3,62 0,0004 3,54 0,0005 3,48 0,0006 3,43 0,0007 3,39 0,0008 3,35 0,0009 3,32 0,0010 3,29 0,0011 3,26 0,0012 3,24 0,0018 3,12 0,0020 3,09 0,0022 3,06 0,0023 3,05 0,0024 3,04 0,0027 3,00 0,007 2,70 0,008 2,65 0,009 2,61 0,01 2,58 0,02 2,33 0,1 1,64 Cp 1,999 1,667 1,584 1,422 1,205 1,180 1,160 1,144 1,130 1,118 1,107 1,097 1,088 1,080 1,040 1,030 1,021 1,016 1,012 1,000 0,899 0,884 0,871 0,859 0,775 0,548 4 11.3 Cpk Muitos processos não são centrados exigindo a utilização do índice de capacidade Cpk. Cpk será selecionado entre o menor valor de Cpl (l = lower = inferior) e Cpu (u = upper = superior). Assim, a formulação para Cpk segue: Cpk = mínimo[Cpl = (média – LEI)/3σ; Cpu = (LES – média)/ 3σ] Reescrevendo a expressão com dados do exemplo da Mi-Au, figura 11.1 Cpk = mínimo[(1009 – 950)/3*(47,24/2,326); (1050 – 1009)/3*(47,24/2,326) = mínimo[59/60,92; 41/60,92] = mínimo[0,97; 0,67] = 0,67 Por que somos obrigados a selecionar o índice do pior lado? Se for permitido selecionar qualquer lado, há um incentivo desonesto para escolher o lado que sempre da o maior índice. 5 Figura 11.1 – Histograma dos dados MiAu, processo não centrado Histograma - Processo levemente não centrado 25 Freqüência 20 15 LEI = 950 MÉDIA = 1008,83 LES = 1050 10 5 0 943,96 954,43 964,896 975,362 985,828 996,294 1006,76 1017,226 1027,692 1038,158 1048,624 1059,124 Mais 6 11.4 Qual é a diferença entre Cp e Pp (e Cpk e Ppk)? O Cp utiliza o desvio padrão de Shewhart e se apóia em uma suposição importante, o processo sob investigação está estável e sob controle sem interferências de causas especiais, e, portanto as diferenças de médias e desvios padrão entre subgrupos não são grandes. Por outro lado, o Pp é calculado com o desvio padrão dos valores individuais. É comum usar Pp em processos onde a estabilidade é questionada porque não sofreram monitoramento por gráfico de controle, talvez seja num processo novo e o gráfico de controle ainda não foi estabelecido. 7 Cp e Pp calculados com dados da seção 8.2 O desvio padrão de Shewhart, do processo sem causas especiais e sob controle, é 47,24/2,326 = 20,3. A estimativa do desvio padrão dos valores individuais é = 22,5. Assim o índice de capacidade Cp = (1050 – 950)/6*20,3 = 0,82, e o índice de performance Pp = (1050 – 950)/6*22,5 = 0,74. 8 11.5 Não normalidade é um problema. Índices de capacidade, que se transformam em taxas de rejeição como consta na tabela 11.1, dependem de cálculos feitos com 6 desvios padrão. Se a relação entre o valor do índice e a taxa de rejeição não existisse, então o índice não teria nenhuma força analítica. Aliás, neste caso a suposição de normalidade é absolutamente necessária considerando a sensibilidade do índice quando a normalidade não é respeitada. A variável não normal deve ser transformada em normal por alguma transformação matemática apropriada (veja o início do capítulo 3). 9 11.7 Referências • Miranda, R. (2005) Um modelo para a análise da capacidade de processos com ênfase na transformação de dados. Mestrado em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil. • • Soares, A. (2006) O Índice de Capacidade Multivariado como Instrumento para a Avaliação do Processo em Uma Operação de Usinagem. Mestrado em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil. 10