INSTRUTOR SURDO: FOCALIZANDO AS PRÁTICAS DE ENSINO DA LÍNGUA BRASILEIRAS DE SINAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Autoras: Karen Santos Lopes; Cristina Broglia Feitosa de Lacerda INTRODUÇÂO O instrutor surdo tem se mostrado o profissional adequado no ensino da língua de sinais aos sujeitos surdos (BRASIL, 2002), no entanto apesar das propostas bilíngues enfatizarem sua importância junto a educação desses alunos, não são poucos os projetos implantados que não contratam esse profissional. São muitas as razões e justificativas para esses acontecimentos, que vão desde a falta de uma formação adequada, que contemple as necessidades pedagógicas do educando à falta de informação consistente sobre quem será esse profissional no ambiente escolar e quais as suas reais contribuições no desenvolvimento linguístico da criança surda. Faz necessário então discutirmos sua relevância, por se tratar de um profissional, cuja responsabilidade recairá no ensino da língua de sinais a indivíduos com atraso significativo de linguagem, podemos dizer que são responsáveis na constituição do sujeito surdo. Desde o nascimento, o bebe humano é colocado em relações peculiares com os adultos que estão ao seu redor, o que determina que todo o seu contato com a realidade (incluindo aqueles relacionados às funções biológicas mais elementares) seja socialmente mediado. É nesse processo que a criança inicia-se no meio social, cultural e também linguístico. Dessa forma, sua subjetividade, e todo o seu processo de desenvolvimento é medido por seus familiares, por meio da linguagem.( LACERDA e LODI, 2009). No caso da criança surda, este processo esbarra-se no primeiro contato, a criança ao estar privada da audição, não poderá partilhar da mesma língua que seus familiares, reduzindo-se as possibilidades de interação e compressão, de si, do outro e do mundo que a cerca. Como consequência desse atraso de linguagem, observa-se a dificuldade de organização do pensamento, de suas ações, realização de novas aprendizagens, compreensão de conceitos entre outras tão essenciais a vida cotidiana. Para que o desenvolvimento de uma criança surda ocorra de forma similar ao de uma criança ouvinte, deve ser oferecidas oportunidades para que ela possa interagir com interlocutores que lhe insiram em relações sociais significativas por meio de uma língua que favoreça a sua condição linguística. Será por meio das interações estabelecidas com e pela criança que ela poderá desenvolver funções superiores e enfim constituir-se sujeito da linguagem (LACERDA e LODI, 2009). Por esse motivo, as autoras afirmam ser necessário à criança surda o estabelecimento de relações com surdos e/ou ouvintes fluentes na língua de sinais para que venham a ter um desenvolvimento análogo ao de uma criança ouvinte no que se refere ao desenvolvimento de linguagem. O adulto neste caso assume uma postura fundante nesse processo, por meio dele as crianças assimilam ativamente aquelas habilidades que foram construídas pela história sócial, internalizam as regras cotidianas, assimilam os diferentes papeis que cada um ocupa em seu círculo de relações, será através das intervenções do adulto que os processos psicológicos mais complexos também começaram a se formar. (Vygotsky, 1984). É nesse sentido que o instrutor surdo se mostra ser indispensável ao processo do desenvolvimento da criança surda, a medida que a maioria são filhos de pais ouvintes que desconhecem ou pouco conhecem a língua de sinais. Será o instrutor surdo (o outro), aquele que tecerá junto a criança a forma mais primitiva e essencial do humano, a linguagem. O instrutor surdo é o profissional responsável pelo desenvolvimento linguístico da criança surda e com isso também pela expansão e generalização na formação de conceitos pela mesma que devido a sua limitação linguística, esse processo também se mostra em desvantagem quando equiparado ao de uma criança ouvinte. Frente a isso as estratégias utilizadas pelos instrutores surdos devem ser cuidadosamente escolhidas, uma vez que as experiências conceituais vivenciadas pela criança surda são reduzidas. Os instrutores surdos serão os responsáveis pela necessidade imediata da criança na descoberta do mundo, é nesse sentido que são necessárias práticas que contemplem uma relação dialética, contextualizada em contrapartida com práticas sistematizadas. METODOLOGIA Esta pesquisa é parte do trabalho final de conclusão de curso da autora, intitulado Instrutor Surdo: Reflexões Sobre as Práticas de ensino da Língua Brasileira de Sinais. Neste trabalho, será apresentado a parte referente a entrevista realizada com uma instrutora surda que atua na educação infantil a respeito de suas práticas no ensino dessa língua a crianças surdas. Ao abordar o tema na educação infantil é possível analisarmos de forma detalhada e compreender quais as estratégias que melhor se adequam a esse nível. Optou-se por uma entrevista semiestruturada individual. As entrevistas foram gravadas em áudio e vídeo para que os depoimentos apresentados em LIBRAS fossem posteriormente analisados. Após a entrevista, a vídeo gravação foi transcritas no qual por meio desse instrumento foi possível identificar os temas dominantes que foram reunidos para uma discussão geral. Foram realizadas categorias de análise para que fosse possível recortar alguns trechos da entrevista por palavras, expressões ou frases que reúnam em si um sentido pertinente a certo conteúdo. Identificados os temas foi realizado uma análise apoiando-se nos materiais teórico de referência, focalizando os aspectos explicativos e reflexivos sobre o presente depoimento. RESULTADOS As estratégias utilizadas pelos instrutores surdos devem expressar todo o potencial visual que a língua de Sinais exibe, uma vez que suas responsabilidades estão intimamente ligada aos processos de desenvolvimento e aquisição de linguagem pela criança Surda sendo, portanto um profissional essencial nesse processo pedagógico. Através dos relatos, observouse que na educação Infantil tais exigências se fazem ainda mais presentes, necessitando que as práticas sejam contextualizadas, lúdicas e levem a criança a compreender o uso e as funções de sua língua materna, a Libras. Campello (2007) traz essas reflexões também para o uso da Língua de Sinais, argumentando que este tem sido um campo pouco explorado. A Língua de Sinais, por suas características viso-gestuais, possui uma diversidade de signos e de outros sistemas de significação por meio da velocidade, movimentação e da expressividade da leveza das mãos; dos braços que podem configurar desenhos; e das expressões faciais que muitas vezes são ininteligíveis para a percepção do olhar humano menos treinado, mas que pode ser muito significativa para o “olhar surdo”. Aproveitar as experiências visuais na e da Língua de Sinais pode produzir estratégias de ensino eficientes, já que esta língua inscreve-se no lugar da visualidade e encontra na imagem uma grande aliada junto às propostas educacionais e às práticas sociais (MARTINS, 2010). Em relação as dificuldade citada pela instrutora, destaca-se a falta materiais pedagógicos apropriados aos surdos e mais ainda, no que diz respeito a materiais que enfoquem a aprendizagem da Libras. Verificou-se que na maior parte das vezes, são os próprios profissionais que tomam a iniciativa em elaborar materiais para a expansão da língua de sinais nos alunos. A profissional questionou também a pouca quantidade de livros infantis que adotam a LIBRAS como primeira língua. Para suprir essa necessidade, nota-se que esta faz uso das tecnologias cedidas pela escola, como filmadoras, televisores, Power point. Conforme descrito acima, ainda se faz necessário a compreensão de que a própria língua possui um aparato visual, fazendo dela em si um recurso estratégico de aprendizagem. Trabalhos como, teatros, narrações de histórias entre outros pode se tornar importantes ferramentas na expansão da língua e na compreensão de suas discrepâncias. Em suma, esses são pequenos recortes que nos permitem refletir sobre a necessidade de reavermos as condições do ensino da língua de sinais, cabe ressaltar que o estudo priorizou demarcar estratégias que deram certo e que portanto, pode vir a ser um bom exemplo para futuras práticas que se iniciam. CONCLUSÕES A educação de alunos surdos tem sido foco das recentes discussões acerca da inclusão escolar, especialmente no que se refere às metodologias empregadas no ensino desses sujeitos. Sob tal aspecto torna-se relevante aprofundar os estudos sobre o ensino da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para alunos surdos, considerando que esta tem se mostrado eficaz na comunicação e educação destes alunos e a escassez de trabalhos relacionados a essa temática. Nesse sentido o presente estudo se destaca por analisar as estratégias utilizadas por instrutores surdos para o ensino de Libras, em um espaço educacional bilíngue, cujas propostas visam o respeito às singularidades dos alunos surdos e configuram um espaço de construção de ideias mais igualitário. Acreditando-se que esse profissional tem fundamental importância no desenvolvimento da língua e na aquisição de inúmeros conceitos pela criança, pretendeu-se discutir e refletir acerca dos aspectos relacionados às suas práticas de ensino as dificuldades relacionadas a este momento e a sua formação. Espera-se, a partir do conhecimento e reflexão dessas práticas, que possamos contribuir para ações futuras de formação e atuação desses profissionais. REFERÊNCIAS Brasil. Decreto 5.626. Regulamenta a lei 10.436, de 24 de Abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais- LIBRAS, e art.18 da lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000.Publicada no diário oficial da união de 22/12/2005. Campello, A.R.S Pedagogia Visual / Sinal na Educação dos Surdos In : Quadros, R. M; Pelin, G. (orgs). Estudos Surdos II. Petrópolis: Arara Azul. (2007) LACERDA, C.B.F de; LODI, A.C.B. Uma escola duas línguas: Letramento em língua portuguesa e língua de sinais nas etapas inicias de escolarização. Porto Alegre: Editora Mediação, 2009. Cole, M & Scribner,S. “Introdução”: VYGOTSKY,L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,1984. Martins, V. R Implicações e conquistas da atuação do intérprete de língua de sinais no ensino superior. Educação Temática Digital, Campinas (2006), V7, n.2, p. 157-166.