PROGRAMA DE DISCIPLINA 1 . I D E N T I F I C AÇ ÃO : Curso: Pedagogia /Administração Disciplina: Língua Brasileira de Sinais Carga Horária: 60 h Nº. dias/aula: 36 2 . E M E N T A: Com esta disciplina pretende-se dar uma visão panorâmica da lingüística em relação aos conceitos de língua, linguagem, universais lingüísticos, cultura e comunidades lingüísticas. Considerações sobre as dimensões lingüísticas, metodológicas e políticas da educação bilíngüe para surdos nos contextos da escola regular e especial. Os serviços de tradução e interpretação de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. A língua brasileira de sinais - Libras, quando se apresentará uma introdução à gramática da Libras. 3. OBJETIVOS: • • • • • • Analisar as bases político-pedagógicas que fundamentam a proposta bilíngüe na inclusão para surdos; Reconhecer os direitos lingüísticos dos alunos surdos; Apresentar conceitos básicos de Lingüística aplicados a Libras; Demonstrar porque existe Comunidades Surdas; Apresentar a língua Brasileira de Sinais. Comunicar-se em Língua Brasileira de Sinais de forma simples 4 . J U S T I F I C AT I V A A ausência de formação teórica em lingüística tem levado os professores, que trabalham com surdos, a terem preconceitos ou, quando já aceitando a língua brasileira de sinais (Libras), a deformarem sua estrutura, misturando-a com a língua portuguesa. Esta disciplina poderá ir ao encontro desta necessidade e fortalecerá uma proposta bilíngüe para a educação especial para as crianças surdas, pois ao se aceitar a diferença, respeitando o direito lingüístico da comunidade surda brasileira, pode-se dar condições mais adequadas para uma aprendizagem realmente eficaz. Em todos os países, os surdos são minorias lingüísticas como outras, mas não devido à imigração ou à etnia, já que nasceram de famílias que falam a língua oficial da comunidade maior, a qual também pertencem por etnia; eles são minoria lingüística por se organizarem em associações onde o fator principal de agregação e inclusão é a utilização de uma língua gestual-visual por todos os associados. Sua inclusão está no fato de poderem ter espaço onde não há repressão de sua condição de surdo, podendo expressar-se da maneira que mais lhes satisfazem para manterem entre si uma situação prazerosa no ato de comunicação. Quando imigrantes vão para outros países, formando guetos, a língua que trazem, geralmente, é a língua oficial de sua cultura, sendo respeitada, enquanto língua, no país onde imigram, mas as línguas dos surdos, por serem de outra modalidade – gestual-visual – e por serem utilizadas por pessoas consideradas “deficientes” – por não poderem, na maioria das vezes, expressarem-se como ouvintes – eram desprestigiadas e até bem pouco tempo, proibidas de serem usadas nas escolas e em casa de criança surda com pais ouvintes. Este desrespeito, fruto de um desconhecimento, gerou um preconceito, e pensava-se que este tipo de comunicação dos surdos não poderia ser língua e se os surdos ficassem se comunicando por “mímicas”, eles não aprenderiam a língua oficial de seu país. Mas várias pesquisas, que foram desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa, Felipe (1991), mostraram o contrário. Se uma criança surda, dependendo do seu grau de surdez, puder aprender a língua de sinais da comunidade surda de sua cidade, à qual, geralmente, se inserirá mais cedo ou mais tarde, ela terá mais facilidade em aprender a língua oral-auditiva da comunidade ouvinte, a qual também pertencerá, porque a criança, quando começa a internalizar as estruturas lingüísticas da língua de sinais, recebe o feedback, necessário para a organização dos frames desta língua, coisa que não acontece com uma língua de modalidade oral-auditiva. Na aquisição da língua de sinais, como primeira língua (L1), a criança surda terá menos dificuldade para a aquisição de uma língua oral-auditiva, como segunda língua (L2), devido ao seu conhecimento internalizado do funcionamento de uma língua que aprendeu pelo processo natural, ou seja, espontaneamente. Todas as línguas possuem os mesmos universais lingüísticos, variando apenas a modalidade, Felipe (1998); daí é preconceito e ingenuidade dizer, hoje, que uma língua é superior a qualquer outra, já que elas independem dos fatores econômicos ou tecnológicos das culturas que as utilizam, não podendo ser classificadas em desenvolvidas, subdesenvolvidas ou, ainda, primitivas. As línguas se transformam a partir das necessidades da comunidade lingüística que a utiliza. Uma criança surda precisará se integrar à comunidade surda para poder ficar com um bom desempenho na língua desta comunidade. Como os surdos estão em duas comunidades precisam manter esse bilingüismo diglóssico, Felipe (1998), e uma língua ajuda a compreensão da outra. Portanto, numa perspectiva lingüística, uma comunidade surda não é um “lugar” aonde pessoas deficientes, que têm problemas de comunicação se encontram, mas um ponto de articulação política, pois cada vez mais, os surdos se organizam enquanto minoria lingüística e lutam por seus direitos lingüísticos e de cidadania; é o que se podem constatar nas reivindicações para programas televisionados com legenda, intérpretes em estabelecimentos públicos, e uma proposta de mudança na política educacional para surdos com a oficialização da Libras, Felipe (1992/93). 5. CONTEÚDOS: 1. Breve histórico da educação de surdos; 2. Legislação e políticas públicas; 3. Direitos lingüísticos dos surdos; 4. Inclusão do Surdo: diferentes leituras e práticas na atualidade; 5. A atuação do tradutor e interprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa no contexto da educação inclusiva; 6. Cultura, Identidade e Comunidades Surdas; 7. Língua Brasileira de Sinais: conhecimento do léxico e aspectos gramaticais 6 . M É T O D O ( P r o c e d i m e n t o s ): A proposta será desenvolvida através de: aula expositiva dialógica; leitura e análise de textos; discussão participada; sistematização de pontos teóricos relevantes; práticas de atividades em sala de aula; reflexão sobre os fundamentos teóricos. As aulas de Libras contarão com a participação de um professor surdo, as atividades que envolvem a compreensão e produção em sinais serão sempre em seus contextos; estas situações serão criadas a partir de diálogos, narrativas, jogos, dramatizações, entre outros. Convívio com os surdos através de visitas a comunidade surda. 7 . AV AL I AÇ ÃO : A avaliação terá um caráter processual, garantindo espaços para refletir sobre os conhecimentos construídos durante a disciplina. Além de observação no que tange à compreensão e expressão da libras, participação, freqüência nas atividades e contribuições teóricas. O alcance das metas, que constituem os segmentos dos objetivos, estabelecerá o indicador das avaliações em grupo e individuais. 8. RECURSOS: Quadro, retro projetor, sistema multimídia, TV, DVD e VHS, amplificador de áudio, microfone sem fio de lapela 9 . B I B L I O G R AF I A: BÁSICA BRASIL. Presidência da República. Lei Nº 10.436, de 24 de abril de 2002. _____. Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. CAPOVILLA, Fernando César; RAPHAEL, Walkiria Duarte. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira Vol I e II. São Paulo: Edusp – Editora da Universidade de São Paulo, 2001. _____. Enciclopédia da língua de sinais brasileira: o mundo dos surdos em libras. São Paulo: Edusp – Editora da Universidade de São Paulo, 2005. COMPLEMENTAR DICIONÁRIO www.acessobrasil.org.br/libras/ FELIPE, Tanya A.; MONTEIRO, Myrna S.. Libras em contexto: curso básico. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2004. FERNANDES, Eulália. Surdez e bilingüismo. Porto Alegre: Mediação, 2005. HARLAN, Lane. A máscara da benevolência: a comunidade surda amordaçada. Lisboa: Instituto Piaget, 1992. LABORIT, Emmanuelle. O vôo da Gaivota. São Paulo: Best Seller, 1994. QUADROS, Ronice Muller de; KAMOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira: Estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. SACKS, Oliver. Vendo Vozes: uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro: Imago, 1989. SKLIR, Carlos. (Org.). Atualidades da educação bilíngüe para surdos. Porto Alegre: Mediação, 1999. _____. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2001. _____. Educação e exclusão: abordagem sócio-antropológicas em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 2001. SOARES, Maria Aparecida Leite. A educação do surdo no Brasil. Campinas: Autores Associados, 1999. THOMA, Adriana da Silva; LPOES, Maura Corcini (Orgs.). A invenção da Surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Su: EDUNISC, 2005. _____. Adriana da Silva; LPOES, Maura Corcini (Orgs). A invenção da surdez: espaços e tempos de aprendizagem na educação de surdos. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006.