X Encontro dos Assessores de Comunicação Social das
Universidades Comunitárias
O COMPORTAMENTO DO JOVEM UNIVERSITÁRIO
FATORES QUE INFLUENCIAM A COMUNICAÇÃO
INSTITUCIONAL
UM OLHAR ANTROPOLÓGICO
José Márcio Barros
[email protected]
PUC MINAS
JUVENTUDE, JUVENTUDES ?
• falar de juventude é se referir a uma categoria
socialmente produzida, isto é, a relação entre ciclos
vitais e faixas etárias definidas culturalmente e não
naturalmente;
• do ponto de vista antropológico cada contexto
sócio-cultural constrói suas representações sobre a
juventude, define a posição social dos jovens e o
tratamento decorrente desta posição;
• em sociedades complexas (heterogêneas) tais
representações, posições e tratamentos são
plurais;
• universalmente, juventude está associada a um
período de vida, marcado pela complementação do
desenvolvimento físico, mudanças psicológicas e
sociais e a passagem da condição infantil para a
adulta, mas…
• segundo Helena Abramo, a duração, os conteúdos
e significados sociais da juventude variam de
cultura para cultura;
• em sociedades mais simples e homogêneas essa
passagem é mais delimitada e ritualizada, sendo
portanto, mais facil (porque mais impositiva)
• em sociedades complexas como a nossa, a
pluralidade de sentidos e instituições, complicam o
processo
CARACTERÍSTICAS DA JUVENTUDE:
• TRANSITORIEDADE: passagem de uma condição
de dependência (infância) para a autonomia
(adulto)
• IMPRECISÃO E AMBIGUIDADE: limites são
imprecisos e contraditórios
• NEGATIVIDADE : o que já não se é mais e ainda
não se chegou a ser
• SUSPENSÃO DA VIDA SOCIAL: marginalidade e
moratória. O jovem está fora do sistema produtivo
e condenado a experimentar para aprender
• INDEPENDÊNCIA: processo de individuação
• CRISE POTENCIAL: a turbulência e tensão
trazidas pela puberdade e as tensões trazidas
pela ambiguidade geram um estado de revolta
latente
A JUVENTUDE UNIVERSITÁRIA:
• entre os anos 60 e 70 a universidade se
constituia como lugar privilegiado para uma
sociabilidade alternativa, uma cultura política
contestatória
• com a abertura nos anos 80, há um
esvaziamento político da instituição em função
da existência de outros atores e personagens na
vida política da sociedade brasileira
• o aumento de vagas e a crise de qualidade do
ensino universitário alteram os significados da
universidade para o aluno
A JUVENTUDE DOS ANOS 90:
• Segundo Helena Abramo o universo juvenil é
marcado :
• pela crise do espaço universitário
• enfraquecimento da idéia de cultura alternativa
• presença intensa da industria cultural na
experiência identitária
• a moda jovem se fortalece junto ao
enfraquecimento do estilo juvenil
• o consumo de roupas, música e lazer
constituem a identidade juvenil dos anos 90
QUEM SÃO NOSSOS JOVENS ALUNOS ?
Conforme a pesquisa Juventude: Cultura e
cidadania realizada pela Fundação Perseu
Abramo com jovens de 15 a 24 anos
residentes nas 9 regiões metropolitanas do
Brasil em 2000, seus hábitos culturais são os
seguintes:
O QUE OS JOVENS FAZEM NAS HORAS LIVRES
ATIVIDADE
%
SAB/DOM / 2ª à 6ª
Sair e/ou conversar com amigos
Assistir TV
Ir a bar ou restaurante
Assistir atividade esportiva
Praticar esporte
Ler
Ir ao cinema
Dormir
Ir ao teatro, cantar em coral
29
27
25
21
09
07
07
05
0
/
/
/
/
/
/
/
/
/
20
55
03
09
08
15
01
11
0
CONSIDERANDO TUDO, EM RELAÇÃO À SUA VIDA
HOJE OS JOVENS DIZEM QUE ESTÃO :
SATISFAÇÃO
Muito satisfeitos/as
Mais ou menos satisfeitos/as
|Pouco satisfeitos/as
Nada satisfeitos/as
Satisfeitos/as
Não responderam
%
45
37
08
02
07
01
Uma outra pesquisa intitulada Juventude Brasileira e
Democracia – participação, esferas e políticas
públicas realizada pelo Ibase e Pólis entre julho de
2004 e novembro de 2005, em sete Regiões
Metropolitanas
(Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de
Janeiro, Salvador e São Paulo) e no Distrito Federal,
apresenta os seguintes dados:
Mas é preciso lembrar que mais da metade dos(as) jovens
entrevistados(as) não estava na escola e, para esses(as), não é
possível ter acesso à informação por meio de professores(as) e
ou colegas da escola
OUTRAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES :
1 – Segundo o Indicador Nacional de Alfabetismo
Funcional, divulgado pela Ação Educativa e pelo
Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope:
• apenas 9% dos brasileiros são analfabetos,
• 31% só entendem anúncios ou títulos (nível 1)
• 34% conseguem encontrar informações não
explícitas em pequenos textos (nível 2)
• mas somente 26% da população consegue
interpretar os textos que lê (nível 3)
• 57% das pessoas que concluíram o ensino
fundamental ou têm o ensino médio incompleto
não chegaram ao nível 3
• 35% dos universitários não chegaram ao nível
pleno.
OUTRAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES :
2 – Segundo Renato Sabattini, um dos
analfabetismos mais sutis e que mais estragos
causa é o analfabetismo científico, ou seja, a
ignorância sobre os conhecimentos mais básicos de
ciência e tecnologia que qualquer pessoa precisa ter
para "sobreviver" razoavelmente em uma sociedade
moderna. Atualmente, vivemos cercados de um
sem-número de equipamentos, processos e funções
sofisticadas, que a maioria das pessoas utiliza
corriqueiramente sem nem mesmo refletir sobre o
que está por trás daquilo.
A PARTIR DESTE CENÁRIO,
COMO PENSAR A COMUNICAÇÃO COM NOSSOS
JOVENS UNIVERSITÁRIOS ?
1
Reconhecer que comunicação e cultura são duas
faces de uma mesma realidade. São processos de
produção, circulação e compartilhamento de
sentidos e valores.
2
Comunicar é tornar algo comum, compartilhado.
Isso quer dizer que o empobrecimento político e
cultural do ambiente da universidade e sua
transformação em espaço subalterno ao mercado,
gera um empobrecimento no capital simbólico e
comunicacional da universidade.
3
Reconhecer que o ambiente da universidade vai se
desvitalizando:
• lugar de passagem e não de permanência
• banalização da educação
• reprodução das ações e representações típicas da
sociedade de consumo
• disciplinamento e superficialização das trocas,
interações (quadro de avisos, aluno como cliente,
etc)
4
A ESCOLA DEVE reconhecer que a comunicação em
seu interior sofre dos mesmos desafios da
sociedade da informação: há uma exacerbação que
gera desinformação e abandono da necessidade de
transformar informação em conhecimento.
5
Perceber a comunicação como processo
essencialmente simbólico, significa reconhecer seu
papel de construir valores mais que o de emitir
sinais.
Assim afirma-se o papel da arte e da cultura no
cumprimento da missão de formar cidadãos através
do ensino, da pesquisa e da extensão. Isso significa
deixar de vê-la “como um algo a mais que ela pode
oferecer” para vê-la como centro da formação que
deve ser proporcionada
6
A ESCOLA DEVE se comprometer com a tarefa de
minimizar a carência da experiência cultural num
país de tanta riqueza e diversidade cultural e assim
transformar o ambiente interno da universidade num
espaço de trocas alternativas.
7
Assim fazendo a comunicação na universidade pode
contribuir para:
• a unidade entre a razão e a sensibilidade;
• e a construção de experiências coletivas sensíveis,
fundamentais para a consolidação de uma cidadania
moderna.
PRINCÍPIOS PARA
UMA POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO E CULTURA
NAS UNIVERSIDADES
1 – a comunicação e a cultura como elementos
centrais na estruturação de uma nova sociabilidade
no espaço da universidade e nas comunidades em
que atua;
2 – a comunicação e a cultura como elementos
integrantes das ações de planejamento estratégico
da instituição e das políticas e diretrizes de ensino,
pesquisa e extensão;
4– A comunicação na universidade deve respeitar e
valorizar a diversidade cultural;
5 – deve-se dar prioridade às experiências com
produtos e processos comunicacionais-artísticoculturais não-convencionais, experimentais e
alternativos à industria cultural.
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Palestra José Marcio Barros - Associação Brasileira das