Teoria Organizacional Módulo 2 – O que é uma Organização? Prof Doutor Rodrigo Magalhães 1 Índice 1. O Conceito de Organização 2. Teorias Clássicas de Organização 3. O Movimento das Relações Humanas 4. Abordagem Sistémica da Organização 5. Caso Prático - A Companhia Hovey e Beard 2 1. O Conceito de Organização 3 Conceito de Organização (Os elementos base) CONTRIBUTOS ACADÉMICOS: ADMINISTRAÇÃO Psicologia PESSOAS TAREFAS Sociologia ORGANIZAÇÃO Psicologia Social Antropologia ENVOLVENTE e TECNOLOGIA OBJECTIVOS e ESTRUTURA Estratégia 1ª aula 4 Conceito de Organização (Organização enquanto Sistema Aberto) ENVOLVENTE MEDIATA Utilizadores e beneficiários directos e indirectos Demográfica ENVOLVENTE IMEDIATA ÁREAS FUNCIONAIS SI/TI Fornecedores Finanças e Contabilidade Sindicatos Ecológica SISTEMAS ORGÂNICOS DE GESTÃO Objectivos, Estratégias Políticas, Autoridade, Comunicação, Informação e Avaliação ´Logística Recursos Humanos I&D Instituições do Governo Marketing Opinião Pública e Comunidade Científica Meios de Comunicação Social Tecnológica 5 Conceito de Organização (Algumas Definições) Sistema de actividades conscientemente coordenadas, de forças ou actividades de duas ou mais pessoas, dispostas a cooperar para o alcance de um propósito comum Barnard, Chester , As funções do executivo, 1938/68 De acordo com esta definição, a existência de uma organização presupõe: (1) Pessoas capazes de comunicarem entre si, (2) dispostas a cooperar e contribuir com a sua acção, (3) para atingir uma finalidade comum 6 Conceito de Organização (Algumas Definições) Organizações são entidades que surgem para operar tecnologias que são impossíveis de ser utilizadas por indivíduos ou por outras organizações James Thompson, Organizations in Action, 1967 De acordo com esta definição, a existência de uma organização presupõe: (1) A capacidade de utilizar uma tecnologia, entendida como a capacidade de produzir bens ou serviços através do domínio de um sistema produtivo (2) A capacidade de utilizar essa tecnologia melhor do que outras entidades 1.1 7 Conceito de Organização (Algumas Definições) Sistemas vivos, que existem numa envolvente mais vasta, da qual dependem para a satisfação das suas diversas necessidades Morgan (1986, p.39) De acordo com esta definição, a existência de uma organização presupõe: 1) 2) 3) - 8 Conceito de Organização As organizações diferem de outras colectividades como a família, congregações religiosas, clubes de futebol, entre outras, por possuírem características próprias tais como: Trabalho Impessoalidade Hierarquia Dimensão Objectivos Eficiência/Eficácia Fronteiras Controlo 9 Conceito de Organização Característica Trabalho Descrição • A característica principal que define uma organização é o trabalho. As pessoas descrevem a sua actividade como consistindo em trabalho • Exceptuando as pequenas organizações, a maior parte das pessoas não se conhece Impessoalidade • As funções normalmente não dependem das características individuais mas sobretudo de um conjunto de atributos técnicos e profissionais. • O ênfase é colocada nas tarefas e não nas pessoas: o mais importante é a execução da tarefa • As organizações caracterizam-se por uma diferenciação de poder, isto é, por uma hierarquização de autoridade Hierarquia • Os problemas a resolver devem ser classificados e categorizados para que a responsabilidade pela pela sua solução possa ser atribuída a diferentes níveis hierárquicos 10 Conceito de Organização Característica Descrição Dimensão • As organizações têm, no plano teórico, potencial para crescer continuamente • O crescimento do volume de operações implica aumento do número de unidades organizacionais e pessoas Objectivos • Todas as organizações perseguem um conjunto de objectivos razoavelmente bem definidos • Os objectivos sempre são de vários tipos e geralmente requerem decisões para equilibrar conflitos de interesses Eficiência/ Eficácia • As organizações procuram usar os recursos de forma a obter a maior quantidade de produto com a menor quantidade de recursos dentro de certos parâmetros de qualidade • Na satisfação das necessidades dos “stakeholders” a eficiência constitui um valor central para as organizações modernas. 4.3 11 Conceito de Organização Característica Descrição Fronteiras • Todas as organizações tem limites que determinam seus relacionamentos para a troca de bens e serviços com a envolvente e que as distinguem das outras organizações • As fronteiras das organizações são cada vez mais permeáveis pelos múltiplos relacionamentos que devem ser realizados para garantir o cumprimento dos objectivos Controlo • Todas as organização dispõem de um sistema de controlo que deve assegurar adaptação da organização as sinais da sua envolvente externa e interna • A capacidade de melhoramento do desempenho de uma organização tem, como base, fluxos de informação de retorno (feedback) sobre a eficácia e eficiência do seu desempenho 12 2. Teorias Clássicas de Administração Taylor: enfase nas tarefas Fayol: enfase na administração Weber: enfase na autoridade 13 Teorias Clássicas de Organização Princípios da Administração Científica (F. W. Taylor) Os objectivos da Administração Científica podem ser resumidos da seguinte forma: • Eliminar todo desperdício de esforço humano: estudos de tempos e movimentos • Adaptar o operário à tarefa • Treinar os operários para que respondam às exigências dos respectivos trabalhos • Maior especialização de actividades: desenho de cargos e tarefas baseados na divisão do trabalho e na especialização do operário • Estabelecer normas bem detalhadas de actuação no trabalho: padronização, condições de trabalho, supervisão funcional, salários e prémios 14 Teorias Clássicas de Organização Principais Críticas à Administração Científica (F. W. Taylor) • Mecanicismo da Administração Científica • Super-especialização do operário • Visão microscópica do homem • Ausência de comprovação científica • Abordagem incompleta da organização • Limitação do campo de aplicação • Abordagem prescritiva e normativa 15 Teorias Clássicas de Organização Princípios e funções básicas da Administração (Fayol) Organização Planeamento Controlo Comando Coordenação Administration Industrielle et Générale (1916) 16 Teorias Clássicas de Organização Princípios e Funções da Administração (Fayol) PRINCÍPIO DEFINIÇÃO substituir a improvisação pela ciência, através da aplicação de métodos científicos PLANEAMENTO conceber um plano de acção, as etapas a percorrer e os resultados a atingir no curto, médio e longo prazo reunir tudo o que é útil para o funcionamento da organização: matérias-primas, meios de trabalho e pessoal ORGANIZAÇÃO/ PREPARAÇÃO construir uma estrutura para o corpo social da organização, com uma unidade de comando e uma definiçaõ clara de responsabilidades seleccionar cientificamente os trabalhadores de acordo com as suas aptidões, prepará-los e treiná-los, bem como preparar as máquinas e equipamentos de produção 17 Teorias Clássicas de Organização Princípios e Funções da Administração (Fayol) PRINCÍPIO DEFINIÇÃO pôr em funcionamento o corpo social da empresa, a partir de uma hierarquia de chefias COMANDO/ EXECUÇÃO COORDENAÇÃO distribuir distintamente as atribuições e as responsabilidades, para que a execução do trabalho seja mais disciplinada pôr em ordem e harmonia todos os actos da organização em todas as suas partes: técnica, comercial e financeira 18 Teorias Clássicas de Organização Princípios e Funções da Administração (Fayol) PRINCÍPIO DEFINIÇÃO verificar se o trabalho está sendo executado de acordo com as normas estabelecidas e segundo o plano previsto CONTROLE verificar que o comando está aser exercido 19 Teorias Clássicas de Organização As Origens do Modelo Burocrático (Max Weber) Tipos de sociedade TRADICIONAL CARISMÁTICA LEGAL, RACIONAL OU BUROCRÁTICA Exemplos • • • • Clã, Tribo Família Sociedade medieval • Grupos revolucionários • Partidos políticos • Nações em revolução Estado moderno • Grandes empresas • Exército Tipos de autoridade Características TRADICIONAL • Não é racional • Poder herdado ou delegado • Baseado no Senhor • Tradição, hábitos, usos e costumes • Forma patrimonial e forma feudal • Não é racional, nem herdada, nem delegável • Baseada no “carisma” • Característi-as pessoais (heroísmo, magia, poder mental) • Características do líder • Inconstante e instável • Escolhido conforme lealdade e devoção ao líder e não por qualificações técnicas Legal, racional, impessoal, formal • Meritocrácia • Justiça da Lei • Promulgação e regulamentação de normas legais previamente definidas • Burocracia CARISMÁTICA LEGAL, RACIONAL OU BUROCRÁTICA Legitimação Organização administrativa 20 Teorias Clássicas de Organização O Modelo Burocrático de Max Weber Características RACIONALIDADE PRECISÃO Descrição • Em relação ao alcance dos objectivos da organização • Na definição do cargo e na conhecimento exacto dos deveres operação, pelo RAPIDEZ NAS DECISÕES • Cada um conhece o que deve ser feito e por quem e as ordens e os papéis transitam através de canais preestabelecidos UNIVOCIDADE DE INTERPRETAÇÃO • Garantida pela regulamentação que é espefíca e escrita • A informação é discreta, unicamente conhecida pelas pessoas previamente indicadas UNIFORMIDADE DE ROTINAS E PROCEDIMENTOS • Favorece a padronização, reduz os custos e os erros já que todos os procedimentos estão escritos 21 Teorias Clássicas de Organização O Modelo Burocrático de Max Weber Características Descrição • Substituição do pessoal que é afastado CONTINUIDADE DA ORGANIZAÇÃO • Os critérios de selecção e escolha do pessoal baseiamse na competência e capacidade técnica REDUÇÃO DA FRICÇÃO ENTRE AS PESSOAS • Cada funcionário conhece aquilo que é exigido dele e quais são os limites entre as suas responsabilidades e as dos outros CONSTÂNCIA • Os mesmos tipos de decisões devem ser tomadas nas mesmas circunstâncias SUBORDINAÇÃO • Dos mais novos aos mais antigos dentro de uma forma escrita e bem conhecida, de modo que o superior possa tomar decisões que efectem o nível mais baixo 22 Teorias Clássicas de Organização O Modelo Burocrático de Max Weber Características Descrição CONFIABILIDADE • A organização é conduzida de acordo com regras conhecidas, sendo que grande número de situações similares são metodicamente tratadas dentro da mesma forma sistemática • As decisões são previsíveis e o processo decisório, por ser despersonalizado, elimina a discriminação pessoal BENEFÍCIOS PARA AS PESSOAS • As pesoas são treinadas para se tornarem especialistas nos seus campos particulares, podendo seguir uma carreira profissional na organização em função de seu mérito pessoal e competência técnica 23 Teorias Clássicas de Organização As Disfunções da Burocracia Princípios/Vantagens Disfunções/Desvantagens 1. Importância das normas e 1. Internalização de normas e regulamentos regulamentos: prever todas as situações que deixam de ser meios e passam a ser fins 2. Comunicações formais: tudo por escrito para comprovação 2. Excesso de papel, atrasos, filas, extravio de documentos 3. Divisão de trabalho rígida, especialização, funções estanques: evitar abusos de poder 3. Receios de mudança, apego à rotina, estagnação profissional 4. Poder deriva exclusivamente do cargo ocupado: evitar proteccionismos e “apadrinhamentos” 4. Tendência para a incompetência 5. Relações hierárquicas perfeitamente estabelecidas e delimitadas; obrigações e deveres estabelecidos por normas 5. Fraca comunicação entre as pessoas; ausência de cooperação; suprevalorização dos títulos e dos sinais de autoridade; castração da capacidade de liderança e iniciativa; tendência para “passar a responsabilidade” 24 3. Movimento das Relações Humanas 25 O Movimento das Relações Humanas Elton Mayo (1880-1949) As experiências de Hawthorne: Anos 20 - problemas nas fábricas: • Rotatividade do pessoal • Quebra de produtividade • Abatimento moral dos trabalhadores As experiências da iluminação (1924-1927) (ausência de relação entre iluminação e produtividade) A experiência da sala de testes de montagem de relés (1927-1933) (um grupo separado experimental sob observação – produtividade melhorava quando observador estava presente) O programa de entrevistas (1928-1930) (produtividade aumentava porque “as entrevistas serviam de válvulas de escape”) A experiência da abservação da montagem de terminais (1931-1932) (produtividade aumentava quando ao grupo experimental era possível estabelecer as suas próprias regras de interacção e produção) 26 O Movimento das Relações Humanas Conclusões das experiências de Hawthorne (1924-1933): A motivação dos trabalhadores é mais emocional do que económicoracional As organizações são sistemas sociais e cooperativos e não sistemas mecânicos As organizações integram normas e estruturas formais bem como procedimentos e regras informais, sendo importante conciliar estas duas dimensões no dia-a-dia A consideração do grupo (e não do indivíduo) como a unidade de análise A defesa da participação dos trabalhadores nas decisões que afectam o seu trabalho O líder como elemento chave para o moral e satisfação no grupo de trabalho Criação do Homem Social (na teoria organizacional) 27 4. A Abordagem Sistémica às Organizações 28 Organização como Sistema Aberto A teoria de sistemas abertos adaptada às organizações Todos os sistemas fazem parte de um sistema maior: o suprasistema, que constitui o ambiente (envolvente) externo do sistema hierárquicamente inferior Todos os sistemas são constituídos por sistemas mais pequenos: os sub-sistemas Todos os sistemas têm fluxos de informação, materiais e energia que procedem do ambiente como entradas, passam por processos de transformação dentro do sistema e saem como saídas ou resultados O resultado do funcionamento de um sistema é maior do que a simples soma das suas partes constituintes (sinergia) 29 Organização como Sistema Aberto A Organização Enquanto Sistema Aberto Sub-sistema de adaptação (à envolvente) Entradas Recursos Sub-sistema técnico ou de produção Sub-sistema de gestão Sub-sistema de manutenção (organização) Saídas Bens e Serviços Sub-sistema de apoio (entradas e saídas) Sub-sistemas interrelacionados executam o processamento interno do sistema Retroalimentação 30 Organização como Sistema Aberto SUB-SISTEMAS DEFINIÇÃO Sub-sistema de adaptação (à envolvente) • Sub-sistema que tem por função a realização de mudanças internas na organização, por forma a adaptá-la ás exigências e contingências da envolvente externa. Exemplos? Sub-sistema técnico ou de produção • Sub-sistema responsável pela transformação dos inputs recebidos e da energia disponível em outputs. É aquilo que geralmente é referido como a “tecnologia” da organização. Exemplos? Sub-sistema de manutenção (organização) • Sub-sistema directamente relacionado com a organização e os equipamentos que ajudam à execução do processo de trabalho. Exemplos? Sub-sistema de apoio (entradas e saídas) Sub-sistema de gestão • Sub-sistema que realiza as trasacções com a envolvente, importando inputs e exportando outputs. Exemplos? • Sub-sistema ligado ás actividades de comando, coordenação e controle dos outros sub-sistemas. Exemplos? 31 Organização como Sistema Aberto CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS ABERTOS • • • • • • • • Importação, transformação e exportação de energia Ciclos de eventos Entropia negativa Informação como input, retroacção negativa e processo de codificação Estado firme e homeostasia dinâmica Diferenciação Equifinalidade Limites e fronteiras 32 Organização como Sistema Aberto CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS ABERTOS Entradas (Inputs) DEFINIÇÃO • O sistema importa e recebe inputs do ambiente, tais como recursos, energia e informação, que lhe proporcionam os meios necessários para seu funcionamento Processamento • Os sistemas transformam a energia disponível de forma a reorganizar os inputs recebidos Saídas (Outputs) • As entradas devidamente processadas e transformadas em resultados são exportadas de novo para o ambiente na forma de produtos, serviços, energia ou informação Ciclos de eventos • Qualquer sistema aberto funciona em ciclos recorrentes de input - transformação - output 33 Organização como Sistema Aberto CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS ABERTOS Entropia negativa DEFINIÇÃO • Para sobreviver os sistemas têm de contrariar o processo entrópico, i.e. a tendência para a desorganização e desintegração. Os sitemas abertos têm a capacidade de gerar entropia negativa •Para além dos inputs de energia, há um conjunto de inputs com informação de retorno, no sentido de regular ou manter o funcionamento do sistema dentro de certos parâmetros. Retroacção ( Feedback ) A retroacção negativa funciona como dispositivo de correcção sistémica que permite ao sistema evoluir no sentido do seu equilíbrio. A absorção de qualquer input é sempre objecto de selecção por parte do sistema, i.e. O sistema só está apto a reagir a sinais (codificados) que estejam de acordo com o seu funcionamento padrão 34 Organização como Sistema Aberto CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS ABERTOS DEFINIÇÃO Homeostasia dinâmica • Os sistemas necessitam de alguma constancia (i.e equilibrio interno) no seu modo de funcionamento, a qual é conseguida através de mecanismos de retroacção Diferenciação • Os sitemas abertos tendem a mover-se no sentido da maior especialização e elaboração. Os padrões difusos são substituídos por funções especializadas Equifinalidade • Um sistema pode atingir o mesmo estado final a partir de condições iniciais diferentes e através de diferentes percursos • Constituem a separação entre o que é o sistema e o que é o ambiente que o envolve externamente. Limites ou fronteiras • Representam a periferia da organização que se relaciona com seu ambiente externo. 35 5. Caso Prático A Companhia Hovey e Beard 36