INSTITUTO MATOGROSSENSE DE ECONOMIA AGROPECUÁRIA IMEA ESTUDO 5: PREÇO MÍNIMO DO BOI GORDO – PAP 2012/13 1. INTRODUÇÃO As questões relacionadas a política agrícola brasileira começaram a tomar forma a partir dos efeitos da crise de 1929 na economia cafeeira. No entanto, essas questões sempre tiveram como foco o respaldo e incentivo a atividade agrícola, e assim garantir o abastecimento do país. Deste modo, a pecuária de corte brasileira, apesar de sua importância econômica, não recebeu a devida atenção com relação à necessidade de uma política visando a segurança do produtor no momento da comercialização de sua produção. E essa falta de mecanismos de proteção, acessíveis e respaldados pelo governo justamente no momento crucial da comercialização da produção, acaba por gerar uma insatisfação em relação ao futuro da atividade nos produtores. Deste modo, acabam inibindo maiores investimentos na atividade capazes de resultar em um aumento da produtividade. O preço do boi gordo em cada região é ainda influenciado por questões econômicas locais, tendo a logística para escoamento da produção como fator para a composição do preço regional. Assim como o cenário de oferta (rebanho para abate) e demanda (indústrias atuantes na compra) encontrado em cada região, sendo afetado por aquisições e paralisação de frigoríficos que alteram a composição das forças de mercado. Isso agrava quando verificamos que, a atividade da pecuária de corte possui a característica da existência de ciclos econômicos de altas e de baixas nos preços conhecido como “ciclo da pecuária”. Esse ciclo é fruto da oscilação da oferta de bovinos destinados ao abate, que sofre a influência direta do descarte de fêmeas. Sendo essa maior opção pelo abate de matrizes observada em períodos em que a alternativa encontrada pelo pecuarista se torna mais atraente em razão da queda na remuneração por bezerros. Com isso, essa maior oferta de fêmeas para o abate acaba por pressionar para baixo o preço pago pelo boi gordo. No entanto, após certo período de maior abate de fêmeas, surge uma menor oferta de bezerros e com isso verifica-se uma pressão de alta para os preços do boi gordo e uma maior opção dos pecuaristas pela retenção de fêmeas. Deste modo, a formação das condições do abastecimento de hoje foram definidas, em parte, pela situação financeira de anos atrás, descompassando o repasse de preços para a população. Neste sentido, uma política de preço mínimo para o setor pode vir a ser desenvolvida, a partir de um valor estabelecido pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), como solução para minimizar esses problemas e permitir a continuação dos investimentos nesta cultura e consequentemente do abastecimento constante do mercado brasileiro e outros países. A definição do preço mínimo a ser pago ao produtor deve ser baseada no valor dos custos ligados diretamente à produção (custos operacionais) e, portanto, esta política deve ser construída para atender os produtores apenas nas regiões onde efetivamente se identificar prejuízos, permitindo o acionamento do gatilho dos mecanismos que garantem o recebimento do preço mínimo. 2. METODOLOGIA E RESULTADOS Definindo-se como o preço mínimo apropriado a ser pago pela arroba do boi gordo, aquele que consiga cobrir os custos diretos da produção, sendo calculado como o valor do custo operacional. Deste modo, adotando-se apenas o Custo Operacional Efetivo da atividade da engorda, isto é, o custo direto envolvido na operação da atividade, em que se excluem os custos da terra e a depreciação. Desta maneira, encontra- se qual o preço necessário de venda, para que o produtor não tenha prejuízo com as operações da produção. Com os resultados obtidos através do levantamento de custo de produção para a atividade da engorda na pecuária de corte em Mato Grosso, elaborado pelo Imea, conforme tabela que está presente no Anexo I deste trabalho, é possível encontrar os seguintes custos envolvidos na operação de maneira resumida. Tabela 1 - Custo da engorda em Mato Grosso (R$/@) Itens 2010 2011 1. MANEJO SANITÁRIO E REPRODUTIVO 1,04 1,12 2. SUPLEMENTAÇÃO 2,26 2,32 3. VOLUMOSOS 0,00 0,00 4. RENOVAÇÃO DE PASTAGEM 4,85 6,46 5. RECUPERAÇÃO DE PASTAGEM 3,69 3,07 6. CONTROLE DE PRAGAS 0,08 0,09 7. OUTRAS OPERAÇÕES 0,02 0,02 8. AQUISIÇÃO DE ANIMAIS 38,93 41,24 9. MÃO DE OBRA 4,62 4,62 10. OUTROS CUSTOS 10,30 10,59 COE (1 + 2 +...+ 10) 65,78 69,51 instrumento de auxílio ao produtor permitindo o acesso a outros mercados, diminuindo ainda as distorções regionais. Essa subvenção seria então resultante do preço estabelecido em leilão, a partir do estabelecimento de um preço mínimo, de modo a compensar o produtor pela diferença residual. Com esta base, o preço mínimo partiria do levantamento do custo de produção regional, levando-se em conta os custos e características do sistema de produção local, minimizado possíveis problemas de desabastecimento. Fonte: Imea COE - Custo Operacional Efetivo Deste modo, chegou-se a um custo mínimo para a atividade de R$ 65,78/@ na média do ano de 2010 e de R$ 69,51/@ no ano de 2011. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim sendo, o Instituto acredita que a criação de uma política quanto a proteção da atividade da pecuária de corte no momento da comercialização é interessante. Isto sendo feito através de um mecanismo de garantia de preços mínimos da arroba do boi gordo. Considerando a evolução dos instrumentos de garantias aos preços mínimos desenvolvidas pelo governo federal que acompanhou a modernização dos instrumentos de comercialização. Inicialmente, os preços mínimos eram garantidos por meio de aquisições diretas do governo federal e empréstimos, com ou sem opção de venda, no caso de garantias para o financiamento. Posteriormente, foram criados os contratos de opção pública de venda, que para a possibilidade de venda da produção, o governo passou a ter a prerrogativa de determinar o local, data, qualidade e tipo de produto negociado em bolsa de mercadorias, Em seguida, a política de preços mínimos foi aprimorada com a criação do prêmio para escoamento da produção. Através deste instrumento, o governo concede uma subvenção econômica a aquele adquirir determinado produto pelo valor de referência, escoando a produção, Deste modo, o governo passou a garantir um maior volume da produção com um menor volume financeiro, pois os recursos públicos passaram a ser apenas no valor da subvenção. Assim, o uso do mecanismo do prêmio para o escoamento da produção da pecuária corte poderia surgir como Presidente: Rui Carlos Ottoni Prado Superintendente: Otávio Lemos de Melo Celidonio Analistas: Carlos Ivam, Cleber Noronha, Daniel Ferreira, Elisa Gomes, Felipe Argeu, Gemelli Lyra, João Buschin, Meuryn Lima, Otávio Behling Junior, Talita Takahashi e Thiago Assis Estagiários: Arthur Pinheiro, Bruno Battaglini, Gabriela de Oliveira, Inessa Alves, João Paulo Vilela, Laryana Miranda, Raruan Pacheco. ANEXO I CUSTO DA BOVINOCULTURA DE CORTE EM MATO GROSSO POR SISTEMA DE PRODUÇÃO (R$/@) Engorda Itens Variação (1011) 2010 2011 1. MANEJO SANITÁRIO E REPRODUTIVO 1,04 1,12 7,65% Vacinas 0,39 0,46 18,66% Controle Parasitário 0,65 0,65 0,99% Insumos para reprodução animal 0,00 0,00 0,00% 2. SUPLEMENTAÇÃO 2,26 2,32 2,43% Suplementação mineral 2,26 2,32 2,43% Concentrados 0,00 0,00 0,00% Operações mecanizadas 0,00 0,00 0,00% 4. RENOVAÇÃO DE PASTAGEM 4,85 6,46 33,06% Fertilizantes/Corretivos 1,47 1,87 26,91% Defensivos 0,36 0,32 -8,67% Plantio 1,91 3,14 64,97% Operação mecanizada 1,12 1,12 0,00% 5. RECUPERAÇÃO DE PASTAGEM 3,69 3,07 -16,80% Fertilizantes/Corretivos 0,00 0,00 0,00% Defensivos 3,49 2,87 -17,74% Operação mecanizada 0,20 0,20 0,00% 6. CONTROLE DE PRAGAS 0,08 0,09 12,59% Defensivos 0,05 0,06 18,41% Operação mecanizada 0,02 0,02 56,06% 7. OUTRAS OPERAÇÕES 0,02 0,02 2,45% Defensivos 0,01 0,01 4,12% Operação mecanizada 0,01 0,01 0,00% 8. AQUISIÇÃO DE ANIMAIS 38,93 41,24 5,95% Compra dos animais 36,63 38,88 6,13% Comissão 1,10 1,17 6,13% Transporte 1,20 1,20 0,00% 9. MÃO DE OBRA 4,62 4,62 0,00% Manejo do gado 2,61 2,61 0,00% Outros 2,01 2,01 0,00% 10. OUTROS CUSTOS 10,30 10,59 2,77% Assistência Técnica 0,08 0,09 15,34% Impostos 2,20 2,47 12,43% Seguros 0,00 0,00 0,00% Financiamentos 0,00 0,00 0,00% Custos Administrativos 8,02 8,02 0,00% COE (1 + 2 +...+ 10) 65,78 69,51 5,67% 11. CUSTOS FIXOS 9,80 8,81 -10,14% Depreciação de máq. e equipam. 0,81 0,81 0,00% Custo da terra 8,99 8,00 -11,05% COT (COE + 11) 75,59 78,32 3,62% Fonte: Imea COE - Custo Operacional Efetivo COT - Custo Operacional Total