Ano 6 - Edição 26 - Outubro de 2014
Custos sobem mais que inflação, mas pecuarista ainda
obtém ganhos de margem
Por Graziela Correr, Analista de Mercado; Equipe Pecuária de Corte
Os custos de produção da pecuária de
corte brasileira seguem em alta em 2014,
com variações que superam o aumento
da inflação (média geral dos preços da
economia). O Custo Operacional Efetivo
(COE) avançou expressivos 14,13% de janeiro a setembro, e o Custo Operacional
Total (COT), 11,84%, na “média Brasil”
(que abrange de forma ponderada, segundo os respectivos rebanhos, os estados do AC, BA, GO, MA, MT, MS, MG, PA,
PR, RS, RO, SP e TO). No mesmo período,
o IPCA, índice oficial de inflação do País,
acumulou alta de 4,61%.
PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
Segundo expectativas do Banco Central,
apontadas no fim de setembro, a economia nacional fechará 2014 praticamente
estagnada, com leve aumento de 0,26%,
frente ao crescimento de 2,5% em 2013.
A agropecuária é o setor que apresenta
a melhor perspectiva, com avanço estimado de 2,27%, ainda assim, bem menor
que os 7,3% do ano passado.
Para os próximos quatro anos, as expectativas de crescimento da economia são
modestas, como é possível observar na
Figura 2. Em 2015, espera-se uma leve
retomada do crescimento, na média de
1,06%. A agropecuária, mais uma vez,
deve apresentar melhor desempenho
frente aos outros setores da economia,
com crescimento médio previsto em
2,87% ao ano.
Nos últimos dez anos (out/2004 a
set/2014), o COE registrou forte variação de 150,84%, e o COT, de 164,33%,
enquanto o IPCA subiu 70,23%, evidenciando que os custos de produção da pecuária aumentam com maior intensidade
que os preços gerais da economia.
Mesmo com os custos maiores, o pecuarista tem conseguido obter melhora em
suas margens, favorecido pela alta significativa de preço do bezerro e da arroba.
No acumulado deste ano (janeiro a setembro), o Indicador ESALQ/BM&F/Bovespa do boi gordo (estado de São Paulo)
subiu 14,67%, e o indicador do bezerro
para Mato Grosso do Sul teve alta de
25,09% em termos nominais. No mesmo
período, a margem média do pecuarista
em relação ao COT registrou aumento de
3,7%. Só no último trimestre (jul-set/14),
a margem teve elevação de 19%. Numa
perspectiva mais longa, constata-se que,
em 10 anos, enquanto o bezerro valorizou-se 184,8%, o preço da arroba teve
incremento de 114,3%, também em termos nominais e na “média Brasil”.
Por outro lado, é preciso considerar os
aspectos macroeconômicos desfavoráveis neste momento, entre eles o desempenho negativo do setor industrial
e a expectativa de crescimento pífio do
Figura 1: Variações acumuladas do COT, preço da arroba e do bezerro.
Fonte: Cepea/CNA
Figura 2: Crescimento do PIB do Brasil em 2013 e expectativa de 2014-2018.
Fonte: Banco Central do Brasil
2
Acompanhar os investimentos produtivos também é importante para análise da
saúde da economia de um país. Os dados
de variação dos investimentos (Formação
Bruta de Capital Fixo - FBCF) sugerem certa sazonalidade, como apresentado na Figura 3. É possível notar “ciclos” de acordo
com o período do mandato do governo
federal, com queda inicial, recuperação
nos anos seguintes e nova redução no
quarto ano, refletindo incertezas geradas
pela eventual troca de governo. No segundo trimestre (abr-jun/14), houve queda
de 0,7% nos investimentos, embora nos
últimos 18 anos (de 1996-2014) o país tenha acumulado um forte crescimento de
964%.
O nível de investimento guarda certa relação com a taxa de juros, de modo que
o cenário de queda deste ano decorre,
entre outros fatores, do aumento da taxa
de juros (Selic), que está em 11% ao ano.
Com a expectativa de maior controle da
inflação, as projeções dos agentes de
mercado (Boletim Focus, out/14) é de
que a taxa de juros para 2015 tenha média de 11,88% ao ano.
Figura 3: Variação trimestral do volume da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)
Fonte: Contas Nacionais - IBGE.
Rentabilidade de confinamento pode cair em 2015
Por Rildo Moreira e Moreira, Analista de Mercado, e Douglas Matheus; equipe Pecuária de Corte Cepea
Frente às perspectivas econômicas para
o próximo ano, a rentabilidade do confinador de boi pode cair cinco pontos
percentuais em 2015, quando comparado com 2014. Simulação realizada pelo
Cepea mostra que, se todos os insumos
analisados (ração, medicamento, suplementação mineral e animal de reposição)
se valorizassem 5,6% - acompanhando o
índice de inflação IGP-M projetado no fim
de setembro –, a margem de rentabilidade do produtor por animal diminuiria dos
atuais 15% (animal e insumos comprados
em setembro/14) para 10%, como apresentado na Figura 4.
De acordo com colaboradores do Cepea,
confinadores começam a planejar a produção do próximo ano, tendo em vista
que grande parte dos animais confinados
em 2014 já foi ofertada. A Assocon (Associação Nacional dos Confinadores) prevê
que o número de animais confinados no
país aumente cerca de 4% em 2014, em
relação a 2013, superando 4 milhões de
cabeças.
Esse avanço se respalda nas boas perspectivas de demanda por carne bovina, tanto interna quanto externa, e nos
patamares elevados de preços do boi
gordo. Na média de setembro, o Indicador ESALQ/BM&F/Bovespa subiu 4,3%,
na comparação com o mês anterior, e
16,5%, em relação a setembro de 2013,
em termos nominais.
Se todos os insumos
se valorizassem
5,6%, a margem
de rentabilidade do
produtor por animal
diminuiria dos atuais
15% para 10%
Para os animais de reposição, a expectativa é que os valores também continuem
altos em 2015, devido à oferta restrita.
O baixo volume de animais, por sua vez,
decorre, entre outros motivos, da seca
que atingiu principalmente o norte do
Paraná, São Paulo, Minas Gerais, centro-sul de Goiás e sul de Mato Grosso do Sul.
Como resultado do baixo volume hídrico,
a taxa de mortalidade do bezerro aumentou, de modo que a alimentação das vacas ficou prejudicada com a escassez de
forragem de boa qualidade.
A valorização do bezerro também tem
sido puxada pela demanda de recriadores que se sentem estimulados pelos
preços em elevação do boi gordo. Além
disso, o abate crescente de matrizes reforça a pressão sobre a oferta de bezerros. Em 2013, segundo dados do IBGE,
foram abatidas 14,46 milhões de vacas e
novilhas, superando em 10% o máximo
até então registrado, em 2006.
Quanto à alimentação, especialistas esperam redução nos preços da soja em
2015, com o anúncio de safra recorde
nos Estados Unidos (o preço do farelo de
soja acompanha a cotação do grão). Para
o milho, o cenário ainda é incerto.
Para a simulação, foi considerado um boi
magro de 18 meses com 360 kg (12 arrobas), a ser confinado com uma dieta
composta por 16% de forragem, 64% de
milho e 20% de farelo de soja, acrescida
de 165 gramas de sal mineral com 40 gramas de P por dia. As perdas no processo
de distribuição da ração foram estimadas
em 10%.
Como resultado, o animal confinado ganharia 1,6 quilo por dia, atingindo, ao
final dos 90 dias, incremento de 150 kg
(5 arrobas), que o levaria para o total de
510 kg (17 arrobas) com rendimento de
carcaça de 54%.
Para a projeção, foi utilizado o vencimento de outubro/15 do boi gordo praticado
3
na BM&F/Bovespa, conforme o ajuste de
30/09/2014, de R$ 135,50/@. Os preços
do farelo de soja e do milho foram calculados com base no contrato de março/15, também ajustado no encerramento de setembro, de R$ 724,47/tonelada
para o farelo e de R$ 422,50/tonelada
(R$ 25,35/saca 60 kg) para o milho. Para
estimar a variação dos preços dos insumos, foi utilizada a previsão para 2015 do
IGP-M, segundo o boletim Focus de 26 de
setembro de 2014, de 5,6%.
Para o boi magro, considerou-se a média
das praças de SP no dia 30/09/2014, de
R$ 1.676,88. Na simulação, não foram
considerados a depreciação de equipamentos, gastos administrativos, impostos
e mão de obra.
Figura 4: Resultados da simulação da rentabilidade do confinamento em 2015.
Fonte: Cepea/CNA
Terceiro trimestre mantém cenário positivo, com
destaque para a cria
Por Gabriela Ribeiro, Analista de Mercado, e Gabriel Guarda; equipe Pecuária de Corte Cepea
O ano de 2014 tem sido positivo para o
pecuarista brasileiro, especialmente para
o produtor de cria. A forte valorização
do bezerro, de 22,4% no acumulado de
janeiro a setembro (Indicador ESALQ/
BM&F/Bovespa – MS), em termos nominais, permitiu ganhos de margem ao criador durante praticamente todos os nove
primeiros meses do ano. No terceiro trimestre, especificamente, o Indicador do
bezerro acumulou alta de 2,5%, garantindo novos ganhos ao pecuarista de cria.
O abate crescente de fêmeas, combinado
à forte seca em várias regiões brasileiras
desde o fim do ano passado, resultou na
baixa oferta, tanto de animais para reposição como para abate, e na consequente
valorização de ambos. Também contribuiu para os aumentos de preços do boi
magro e do bezerro a demanda aquecida
de recriadores, reforçada no segundo e
terceiro trimestres pelo confinamento.
Além das altas nos preços do bezerro,
as quedas nas cotações de importantes
insumos utilizados na atividade favoreceram o pecuarista de cria. Só no terceiro
trimestre, o Indicador do milho ESALQ/
BM&F/Bovespa acumulou forte queda
de 12,5%, e o Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&F/Bovespa, caiu 10%. A
pressão veio da safra recorde de grãos
2013/2014 no Brasil e 2014/2015 nos Estados Unidos (em fase de colheita).
A valorização do
bezerro, de 22,4% no
acumulado de janeiro
a setembro, permitiu
ganhos de margem
ao criador durante
praticamente todos
os nove primeiros
meses do ano
Para a semente forrageira, os preços
também recuaram no trimestre, em
5,11%, na média Brasil (que engloba os
estados do AC, BA, GO, MA, MT, MS, MG,
PA, PR, RS, RO, SP e TO). Mesmo com o
aumento na demanda visando à reforma
de pastagem em setembro, a oferta do
produto foi superior, o que pressionou
os valores do insumo. Com o início da
temporada das chuvas na região Centro-Sul, pecuaristas se preparam para fazer
a reforma de pastagem. Assim, as casas
agropecuárias abastecem os estoques
do insumo.
Já para o pecuarista de recria-engorda,
os preços maiores da reposição representaram um encarecimento dos custos
no terceiro trimestre do ano. Ainda assim, a margem do recriador foi positiva,
impulsionada pela valorização superior
da arroba. Enquanto o COT (Custo Operacional Total) subiu 1,1% de julho a setembro, o boi gordo se valorizou 5,6% no
mesmo período, conforme o Indicador
ESALQ/BM&F/Bovespa.
No balanço do ano, o boi gordo também
acumula forte valorização, de 14%, em
termos nominais. Além da oferta restrita
de animais para abate, o bom desempenho das exportações contribui para elevar as cotações internas, uma vez que
ajuda a enxugar o volume disponibilizado no mercado doméstico. De janeiro a
setembro, o volume de carne bovina in
natura embarcado aumentou 7% em relação ao mesmo intervalo do ano passado. Em receita, o incremento foi de 11%
em igual comparativo, segundo dados da
Secex.
Na BM&F/Bovespa, os contratos do boi
gordo fechados no último dia útil de
setembro apontavam valores crescentes para os três meses seguintes: de R$
130,40 para o vencimento outubro/14,
de R$ 131,50 para novembro/14, e de R$
132,59 para dezembro/14.
4
Variação Mensal e Acumulada (2014)
COE (1)
Estados
jul
COT (2)
ago
set
jan-set
jul
Boi Gordo R$/@
ago
set
jan-set
jul
ago
set
jan-set
Ponderações
Bahia
-1,87%
2,88%
5,94%
14,10%
-1,58%
2,44%
5,09%
11,34%
-3,34%
5,15%
9,97%
21,37%
5,70%
Goiás
1,74%
0,96%
2,98%
18,69%
1,61%
0,88%
2,59%
16,90%
1,93%
2,44%
4,40%
15,35%
12,27%
Minas
Gerais
1,56%
1,53%
-0,32%
14,30%
1,25%
0,94%
-0,42%
11,16%
2,03%
2,34%
3,71%
13,03%
15,99%
Mato
Grosso
1,03%
1,16%
-1,01%
10,33%
1,03%
0,70%
-0,73%
8,17%
3,95%
1,25%
3,22%
18,99%
11,96%
Mato
Grosso do
Sul
0,83%
0,73%
1,09%
10,67%
0,49%
0,81%
0,45%
8,15%
3,73%
1,61%
4,16%
16,79%
13,34%
Pará
6,40%
-2,94%
0,17%
14,36%
5,80%
-2,44%
0,18%
12,46%
5,27%
2,08%
5,48%
20,64%
10,35%
Paraná
0,16%
5,52%
1,43%
15,93%
0,21%
4,65%
1,29%
13,48%
0,44%
1,61%
4,13%
13,06%
5,24%
Rio Grande
do Sul
4,58%
-0,30%
-0,15%
6,83%
4,01%
-0,25%
-0,01%
6,29%
3,96%
-2,17%
-1,19%
8,16%
7,87%
Rondônia
1,56%
0,71%
2,07%
13,92%
1,31%
0,57%
1,84%
11,79%
4,38%
1,45%
3,64%
20,50%
6,80%
São Paulo
1,09%
2,35%
1,60%
17,26%
1,04%
1,82%
1,32%
14,39%
3,56%
3,57%
4,06%
13,82%
5,99%
Tocantins
-1,10%
2,96%
0,05%
14,35%
-1,67%
2,20%
0,04%
12,15%
2,05%
2,53%
5,45%
20,69%
4,50%
Brasil**
2,79%
-0,02%
0,87%
14,13%
2,42%
-0,02%
0,69%
11,84%
3,40%
3,22%
4,33%
14,67%
100%
1 - Custo Operacional Efetivo (COE)
2 - Custo Operacional Total (COT)
* Corresponde ao quanto cada estado representa no total dos custos da pecuária no Brasil.
** Referente a 85,02% do rebanho nacional segundo o Rebanho Efetivo Bovino PPM / IBGE 2012.
Valor da arroba considerado - Indicador Boi Gordo Esalq/BM&FBovespa - Estado de São Paulo.
Fonte: Cepea/USP-CNA
Variação dos Principais Indicadores Econômicos
Indicadores
Jul/2014
Ago/2014
Set/2014
IGP-M
0,38%
-0,27%
0,20%
Acumulado Janeiro IGP-M
1,82%
1,55%
1,75%
Variações dos Preços dos Principais Insumos da Pecuária de Corte (2014)
Média Ponderada para BA, GO, MT, MS, PA, RO, RS, MG, PR, TO e SP
Média das Ponderações COT
Grupos dos Custos
Set/14
Variação mensal e acumulada
Jul
2,54%
Ago
Set
0,67%
1,26%
jan - set
Bezerro e outros animais de reprodução*
38,21%
25,09%
Suplementação Mineral
11,66%
0,74%
0,04%
0,41%
4,94%
Dieta
0,84%
0,08%
-2,34%
-0,90%
-0,15%
Adubos e Corretivos
2,61%
2,22%
-0,36%
0,24%
4,06%
Sementes Forrageiras
3,01%
-0,94%
0,66%
-7,51%
-8,90%
Máquinas Agrícolas
6,32%
0,00%
0,00%
0,00%
-4,00%
Implementos Agrícolas
1,45%
-0,94%
-0,40%
0,00%
-4,34%
Defensivos Agrícolas
1,64%
2,62%
0,78%
1,28%
3,21%
Medicamentos - Vacinas
1,33%
0,35%
0,35%
0,24%
-2,41%
Medicamentos - Controle Parasitário
1,03%
0,77%
0,04%
0,45%
3,22%
Medicamentos- Antibióticos
0,26%
0,16%
0,21%
0,43%
2,72%
Medicamentos em geral
0,13%
1,22%
1,01%
-0,59%
6,46%
Insumos para reprodução animal
0,00%
0,71%
-0,29%
0,23%
9,09%
Mão de Obra
14,53%
0,00%
0,00%
0,00%
6,78%
Construção Civil
9,73%
1,02%
-0,10%
0,64%
6,66%
Brinco de Identificação
0,02%
1,17%
1,93%
-0,40%
14,75%
Outros (Energia, Administrativos, Utilitário)
7,23%
*Indicador do Bezerro ESALQ/BM&FBovespa, Mato Grosso do Sul
Boletim Ativos da Pecuária de Corte
é um boletim mensal elaborado pela
Superintendência Técnica da CNA e Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada Cepea/Esalq - da Universidade de São Paulo.
Reprodução permitida desde que citada a fonte.
CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E
PECUÁRIA DO BRASIL
SGAN - Quadra 601 - Módulo K - Brasília/DF
(61) 2109-1419 | [email protected]
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