INSTITUTO MATO-GROSSENSE DE ECONOMIA AGROPECUÁRIA IMEA 07/08/2015 2º LEVANTAMENTO DAS INTENÇÕES DE CONFINAMENTO EM 2015 O segundo levantamento das intenções de confinamento em Mato Grosso para 2015 foi realizado ao longo do mês de julho, como de costume, pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A lista de contatos, que no primeiro levantamento era de 210 pessoas, aumentou para 219 no total, com o objetivo de sempre alcançar o máximo número possível de bovinocultores que trabalham com confinamento. Desta lista, 141 técnicos, gerentes ou proprietários foram contatados pelo Imea, o que representa 64,4% de toda a amostra. Como pode ser visto na Tabela 1, houve movimentos distintos quanto à quantidade de animais confinados nas sete macrorregiões de Mato Grosso. Na região noroeste, onde encontra-se o menor rebanho confinado do Estado (11.417 cabeças), a quantidade de animais aumentou 60% devido à ampliação da amostra de produtores contatados. Outras regiões que apresentaram aumento de rebanho foram a oeste e a norte, com aumentos de 15,1% e 12,5%, respectivamente. Entretanto, o volume de animais destas regiões representa apenas 30,6% do rebanho do Estado. Assim como constatado no levantamento de abril, o posicionamento do produtor quanto a confinar ou não praticamente não se alterou. Neste levantamento, 60,6% reafirmaram que irão confinar em 2015, o que vai de encontro com o relatório de abril, quando os confinadores já haviam adquirido mais de 80% dos insumos. Ou seja, com quase tudo já comprado para rodar o confinamento, voltar atrás não se tornou uma opção. Já os indecisos e os que não irão fechar os animais diminuíram para 2,8% e 36,6%, respectivamente. É importante ressaltar que a diminuição de animais a serem confinados se deu basicamente nas principais regiões confinadoras do Estado, que são: nordeste, médio-norte, centro-sul e sudeste. Este movimento é importante porque estas regiões juntas no levantamento de abril representavam quase 79,3% do rebanho total, ao passo que no levantamento de julho, esta representatividade caiu para 69,4%, sendo uma redução de quase 10 pontos percentuais. Fonte: Imea jan/15 jun/14 nov/13 set/12 abr/13 jul/11 fev/12 60,0% 12,5% -17,2% -47,1% 15,1% -22,2% -23,9% -21,4% dez/10 11.417 61.065 85.399 124.456 117.396 84.102 136.684 620.520 mai/10 7.136 54.259 103.085 235.484 101.958 108.061 179.681 789.663 out/09 6.401 34.803 80.383 153.064 123.387 91.282 147.341 636.661 15,0% 12,5% 10,0% 7,5% 5,0% 2,5% 0,0% -2,5% -5,0% -7,5% -10,0% Diferença Boi magro Boi Gordo mar/09 Noroeste Norte Nordeste Médio-norte Oeste Centro-sul Sudeste Mato Grosso 160,0 150,0 140,0 130,0 120,0 110,0 100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 jan/08 Tabela 1. Quantidade de cabeças de bovinos que devem ser confinadas em Mato Grosso no ano de 2015. Macrorregiões 2014 Abril/15 Julho/15 Var. Abr-Jul/14 Figura 1. Preços do boi magro (R$/@), do boi gordo (R$/@) e a diferença entre a arroba do boi magro e do boi gordo. ago/08 Diferente do cenário estável relatado nos parágrafos anteriores, o volume de animais a serem confinados em 2015, que foi publicado no primeiro relatório, mudou completamente. De olho no cenário altista de preço da arroba desde o segundo semestre de 2014, os bovinocultores tinham a intenção de confinar 789.663 cabeças ao longo deste ano. No entanto as intenções diminuíram drasticamente, e no levantamento de julho o total de cabeças que os produtores pretendem engordar no cocho caiu para 620.520, caracterizando uma redução de 21,4%, sendo menor, inclusive, que o total confinado em 2014 (636.661 cabeças). O caso mais delicado é o da região médio-norte. Apesar de ter tido o maior número de animais confinados em 2014, o rebanho total é de longe o menor de Mato Grosso. Ou seja, boa parte do rebanho é adquirido mediante a compra do boi magro ou através de parcerias. Tanto é que no levantamento passado, apenas 23,3% dos animais da região eram próprios, enquanto a previsão de animais de terceiros era de 76,7%. Dessa forma, com os altos preços do boi magro no primeiro semestre de 2015, ficou difícil adquirir animais e as intenções da região caíram quase pela metade (-47,1%), tendo o número de cabeças reduzido para 124.456. R$/@ A capacidade estática praticamente não se alterou do último levantamento, tendo aumentado apenas 0,4%, resultado da entrada de novos informantes na amostra. Dessa forma, a capacidade instalada do Estado alcançou um total de 899.330 cabeças. Fonte: Imea. Na Figura 1 acima estão os preços da arroba do boi magro (considera-se um boi magro de 12@) e do boi gordo. Historicamente a arroba do boi magro é, em média, 4,7% maior que a do boi gordo, no entanto esta diferença nunca foi Brasil/Mato Grosso, 7/8/2015 – 2° Levantamento das Intenções de Confinamento em 2015 tão grande como nos últimos meses, o que explica, em parte, o desânimo dos produtores para este ano, visto que a compra de animais representa grande parte do custo de produção do confinamento. A falta de animais continua sendo a principal razão da alavancagem dos preços do boi magro. Uma outra parte do descontentamento diz respeito à lucratividade da atividade. Atualizando os preços do boi magro do primeiro semestre e o preço futuro do boi gordo, a situação é preocupante. O cenário em abril, apesar de pior que o do ano passado, ainda mostrava sinais de rentabilidade. No entanto, com a pressão nos preços do boi gordo no futuro em julho, a receita também pode complicar o balanço, mesmo considerando o diferencial de base (entre os preços de São Paulo e Mato Grosso) do primeiro semestre deste ano (10,3%), que está menor que o histórico de 13,0%. Vale ressaltar que neste modelo simulado pelo Imea, o ganho de peso médio girou em torno de 1,11 kg/dia. Nesse sentido, fazendo algumas simulações de peso de abate e ganho de peso, constatou-se que ainda é possível obter lucro com a atividade, caso o manejo do confinamento como um todo possibilite explorar o melhor desempenho possível dos animais, tais como: nutrição, ambiente, disponibilidade de água, manejo de cocho e de fezes, quantidade e qualidade dos tratos, etc. Tabela 2. Lucratividade do confinamento com diferentes ganhos de peso (R$/cabeça2). GPM3 (kg/dia) -R$ 31,27 R$ 4,31 R$ 17,99 R$ 35,39 R$ 35,55 R$ 12,92 R$ 49,22 R$ 63,17 R$ 80,92 R$ 81,08 1,44 R$ 57,12 R$ 94,13 R$ 108,35 R$ 126,45 R$ 126,62 Equilíbrio 140,00 1,56 R$ 101,32 R$ 139,04 R$ 153,54 R$ 171,98 R$ 172,15 135,00 1,67 R$ 145,51 R$ 183,95 R$ 198,72 R$ 217,52 R$ 217,68 1,78 R$ 189,71 R$ 228,86 R$ 243,90 R$ 263,05 R$ 263,22 100,00 JUL AGO SET OUT NOV DEZ Fonte: Imea; BM&F. Nota-se na Figura 2 que, de acordo com os preços no futuro, a receita fica próxima ao ponto de equilíbrio, porém não o ultrapassa, ou seja, dessa forma o confinador não obterá lucratividade na atividade (Figura 3). Este acompanhamento, tanto de preços como de custos, é importante, pois possibilita o melhor gerenciamento da propriedade como um todo, principalmente nas operações de compra e venda. Figura 4. Utilização da capacidade instalada em Mato Grosso de 2014 e julho/15. 2015 1,00 0,50 R$393,75 R$143,02 0,90 0,83 0,76 0,67 0,73 0,75 0,67 0,58 0,69 0,53 0,00 R$209,94 R$65,22 0,57 0,55 Noroeste R$364,86 Utilização 2015 1,38 1,50 1,28 1,17 Figura 3. Lucratividade do confinamento (R$/cabeça1). 2014 Utilização 2014 1,82 2,00 Mato Grosso 0% Sudeste 105,00 Centro-sul 110,00 Apesar de ainda existirem possibilidades de ganho, esse contexto nebuloso para a atividade tirou o otimismo do produtor. No primeiro levantamento deste ano mais de 80% dos entrevistados disseram estar otimistas com o confinamento, ao passo que neste levantamento apenas 25,4% estão empolgados com os resultados que podem obter. A maior parte dos confinadores disseram estar pessimistas (52,1%) e 22,5% estão desconfiados com o resultado da atividade este ano. Oeste 115,00 9,98 Fonte: Imea; BM&F. Médionorte 125,00 120,00 14,8% 19,4% 19,5% 8,2% 5% 21,5% 10% 16,5% Entrega (%) 127,49 131,34 131,35 129,54 130,33 Boi Gordo (R$/@) 130,00 130,08 DEZ/15 1,33 20% 15% NOV/15 1,22 Nordeste Preço futuro OUT/15 -R$ 75,47 -R$ 40,60 -R$ 27,19 -R$ 10,14 -R$ Norte Entregas SET/15 1,11 Figura 2. Entrega de animais para abate, preço futuro do boi gordo em Mato Grosso e o equilíbrio entre custo e receita. 25% AGO/15 Fonte: Imea R$81,19 Fonte: Imea; BM&F. Como constatado no levantamento anterior, houve relativo crescimento na capacidade estática do Estado, impulsionado pelas boas perspectivas que a atividade vinha sugerindo no início do ano. Com as intenções elevadas, a previsão da utilização da capacidade estava em 88,2% em abril, porém com a diminuição das intenções de fechar os 1 2 Considerando 90 dias de confinamento e rendimento de carcaça de 52%. 3 Ganho de peso médio diário. JUL AGO SET OUT NOV DEZ R$(31,50) R$(75,47) R$(40,60) R$(27,19) R$(10,14) R$(9,98) Considerando 90 dias de confinamento, peso de abate = 490 kg e rendimento de carcaça de 52%. Brasil/Mato Grosso, 7/8/2015 – 2° Levantamento das Intenções de Confinamento em 2015 animais, a utilização veio para 69,9%, ou seja, caso a quantidade de animais a serem confinados continue nesse patamar, boa parte da estrutura disponível estará subutilizada. O cenário apresentado anteriormente, de certa forma, mudou a estrutura de funcionamento das fazendas este ano. Para se ter uma ideia, os confinamentos de Mato Grosso que rodaram ano passado fizeram em média 1,48 giro, já neste ano a média dos que entrarão em atividade é de 1,34 giro. Em números, a grande maioria dos produtores fará apenas um giro este ano (68,0%), enquanto o restante (32%) pretende fazer dois giros ou mais. Por fim é importante ressaltar que, apesar do pessimismo que paira no setor, o produtor ainda pode obter bons resultados. O olhar cada vez mais atento aos processos internos, ao manejo dos animais e dos alimentos e no controle dos custos, pode mudar o panorama pessimista da atividade e evoluir cada vez mais a bovinocultura do Estado. CONSIDERAÇÕES FINAIS A incerteza quanto à lucratividade da atividade fez com que os produtores pusessem o pé no freio e o volume de animais a ser confinado caiu bruscamente; A baixa oferta da reposição elevou o custo do boi magro, o que restringiu sua compra para preencher as baias dos confinamentos do Estado; A região que mais sofreu com a situação foi a médionorte, que reduziu as intenções de confinamento quase pela metade; Com as boas perspectivas do início do ano, houve investimentos na capacidade estática do Estado. Porém, com a mudança do cenário, é bem provável que boa parte da estrutura seja subutilizada. Caso os preços do mercado futuro se concretizem no mercado físico dos próximos meses, boa parte dos confinamentos podem fechar as contas no vermelho; Por outro lado, caso o desempenho dos animais sejam superiores ao do considerado pelo Imea, os resultados podem, ainda, ser satisfatórios; A visão holística do sistema e a gestão profissional do negócio cada vez mais ganha importância, principalmente em tempos de crise. Dessa forma, o produtor precisa melhorar continuamente para que possa aproveitar os bons momentos e suportar bem os ruins. Presidente: Rui Carlos Ottoni Prado Superintendente: Otávio L. M. Celidonio Elaboração: Paulo Ozaki, Júlio César Marques, Murilo Câmara e Wilson Chitto. Analistas: Ana Paula Baroni, Ângelo Ozelame, Daniel Ferreira, Jéssica Brandão, José Victor Zamparini, Paulo Ozaki, Rafael Chen, Rondiny Carneiro, Sâmyla Sousa, Kimberly Montagner, Tainá Heinzmann, Talita Takahashi, Tiago Assis e Yago Travagini. Estagiários: Alexandre Rego, Aline Kaziuk, Bruna Noab, Edilson Junior, Felipe Carvalho, Júlio César Marques, Murilo Câmara, Nathalia Markus, Wilson Chitto e Yasmim Dalila.