A Tecnologia Aliada à Gestão do Conhecimento Organizacional Um Estudo de Caso Real COSTA, Aline Lucas de Moura 2 RESUMO A área de tecnologia da informação passa por grandes transformações nos últimos tempos, refletindo estas mudanças tanto para as organizações quanto para os profissionais. As tecnologias e os sistemas estão se tornando cada vez mais complexos. Em contrapartida, os profissionais precisam estar mais preparados conhecendo além da tecnologia, o ramo de negócio em que atuam. O setor de tecnologia da informação é um setor meio para os diversos setores de sua organização ou de outras organizações. Paralelo a este cenário de transformação, o Brasil vive um momento de grandes oportunidades neste setor. Todavia, a carreira de TI mostra-se não nas mãos das empresas, mas sim dos profissionais, fazendo com que haja uma rotatividade grande dentro das organizações trazendo alguns problemas, principalmente no que tange à perda de capital intelectual, ou seja, a perda do conhecimento. Muitas organizações ainda não se atentaram para esta questão e quando se dão conta, para conseguir suprir o conhecimento interno que vise o desenvolvimento de suas atividades passam por grandes desafios para suprir a demanda de produção e de recursos humanos. Este trabalho visa demonstrar como a tecnologia da informação pode ser uma grande aliada da organização, trazendo inovações no ato de administrar uma empresa. A tecnologia tem que ser visada como meio para atingir os objetivos estratégicos organizacionais. Desta forma, ela servirá como um importante e grande canal de comunicação entre os diversos colaboradores, contribuindo para a manutenção do conhecimento, da cultura e do clima organizacional. Primeiramente, será contextualizado o cenário do setor da tecnologia da informação. Em seguida, serão apresentados alguns conceitos relevantes sobre o tema, demonstrando a evolução do conhecimento na área da administração. Posteriormente, será apresentado um estudo de caso real em uma organização que conseguiu aplicar a tecnologia transformando o capital intelectual em capital organizacional, realizando uma efetiva gestão do conhecimento. Como toda inovação, existem fatores positivos e negativos de cada abordagem. Ao final de cada nova abordagem, os ganhos e as questões serão apresentados no referido estudo. Palavras-chaves: capital intelectual, capital organizacional, organizacional, tecnologia da informação, gestão do conhecimento. clima 3 INTRODUÇÃO A área de Tecnologia da Informação (TI), nas últimas décadas, vem sofrendo grandes mudanças devido ao acelerado avanço tecnológico, o que se reflete nos profissionais que nesta área trabalham (Reich et al., 1999; Shore, 1983). As organizações, para enfrentar as pressões e mudanças tecnológicas, e de forma a alcançar metas estratégicas, estão investindo no setor de Tecnologia da Informação e, para tal, investindo na questão dos recursos humanos. O paradoxo apontado por Reich et al. (1999) fundamenta-se em: para reter os profissionais de Tecnologia da Informação, a organização necessita prover oportunidades tanto na área técnica, quanto na área de negócios da organização, concomitantemente. Além disto, os profissionais, atualmente, enfrentam desafios maiores, levando a uma exaustão no trabalho (Moore 2000). Esta relata em seu estudo que o fator preponderante para tal é o excesso de trabalho, tendo como consequência, a intenção dos profissionais de TI de saírem da sua área. Os profissionais de TI buscam o seu crescimento, porém, isto traz maior responsabilidade e com ela o estresse e o desejo de sair da área. Entretanto, a saída efetiva do profissional ou a troca de emprego para uma outra área dependerá da situação individual que cada profissional estiver vivenciando no momento (Agarwal et. al.,2001). O tempo de serviço de um profissional de TI em uma organização está relacionado à sua âncora profissional, ao seu estágio de vida e às suas competências e habilidades (Agarwal et al. 2001). Historicamente, profissionais de TI têm demonstrado um alto grau de “turnover1”(Ginzberg et al., 1988; Koh et al. 2007). Poucas profissões têm vivenciado transformações tão rápidas como as do setor de Tecnologia da Informação (TI). Hoje em dia, os computadores não são somente os responsáveis por suportar o processamento de dados das organizações, mas também, mudaram a forma como elas operam e são organizadas (Lee et al. , 1995). Uma vez contextualizado o cenário do setor de Tecnologia da informação, este trabalho visa demonstrar por um estudo de caso real como uma organização do ramo de desenvolvimento de software tem conseguido administrar a organização com o uso da tecnologia a seu favor. 1 Movimento de entrada e saída de pessoas de um determinado lugar (http://www.merriam-webster.com) 4 Este trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: Introd ução Probl emática Conc eitos O Uso da Tecnologia no Ato de Administrar Concl usão 5 1. A PROBLEMÁTICA 1.1. Formulação do Problema O Brasil está vivenciando uma nova época de ouro em seu desenvolvimento refletindo diretamente no setor da tecnologia da informação. Com uma demanda aquecida e uma oferta não tão próspera o setor conta com alguns fatores que comprometem a estabilidade de uma organização: Alta rotatividade dos profissionais; Dific uldade para manter a cultura organizacional; Perda do capital intelectual; A administração da carreira pelos próprios profissionais e não mais pelas organizações; Dific uldade em se manter o clima organizacional frente a tantas mudanças; O profissional de tecnologia da informação vem vivenciando uma nova realidade na sua relação de trabalho, de modo que a palavra carreira toma para ele um novo rumo no século XXI (Denning, 2002). A área de TI atualmente abrange estrategicamente toda a organização. O grande desafio refere-se ao fato de que as instituições de ensino não estão preparadas para lidar com esta nova visão, estando estas limitadas à esfera de desenvolver tecnicamente o profissional da área de TI (Denning, 2002). Especificamente este trabalho visa demonstrar em como conseguir transformar o capital intelectual em capital organizacional com o uso da tecnologia, neste cenário de tanta instabilidade da área de tecnologia da informação. 6 2. CONCEITOS De forma a constituir os alicerces deste estudo, uma revisão em alguns conceitos serão apresentados. Em qualquer tipo de atividade desempenhada por uma instituição, tenha ela finalidades comerciais, culturais, assistenciais ou outras, é necessário que seja dirigida, comandada, controlada por intermédio da administração. A administração trata do planejamento, da organização, da direção e do controle de todas as atividades diferenciadas pela divisão do trabalho que ocorre dentro de uma organização (Oliveira, 2002). 2.1. A Evolução do Conhecimento Administração Científica Frederic Taylor, pai da organização científica trouxe o modelo mecanicista de trabalho, onde foi realizado o estudo dos tempos e movimentos. Teoria Clássica Fayol trouxe a teoria clássica preocupando-se com a estrutura hierárquica da organização. Administração Burocrática Weber, sociólogo, contribuiu com a administração burocrática definindo um conjunto de regras a serem seguidas. Hierarquia das necessidades Maslow colocou que a motivação se baseia na hierarquia das necessidades humanas, pirâmide de Maslow. Vroom Coloca que a motivação para produzir em uma entidade é função de três fatores determinantes: expectativas, recompensas e relações entre expectativas e recompensas. 7 Fatores Higiênicos Herzberg coloca que alguns fatores caso não existam são desmotivadores, porém, a existência dos mesmos não motiva os colaboradores. Gestão por Objetivos Peter Drucker, o pai da gestão por objetivos, traz a administração voltada para resultados. Clima Organizacional É a percepção dos profissionais do ambiente organizacional. Cultura organizacional Conjunto de práticas, regras, atitudes vivenciadas por uma organização. Capital Intelectual Conhecimento tácito de um determinado indivíduo. Capital Organizacional Transformação do conhecimento tácito em explícito. Gestão do Conhecimento A gestão organizacional do conhecimento, garantindo à mesma a retenção de seus conhecimentos dentro de sua rede interna. 8 3. O USO DA TECNOLOGIA NO ATO DE ADMINISTRAR Durante um tempo, a organização sentia-se “culpada” pelo fato de não conseguir reter seus profissionais. Uma vez sempre preocupada com as questões motivacionais, diversos movimentos internos foram feitos de forma a tentar mitigar a questão das diversas saídas e entradas na empresa. Em um determinado momento, realizando contatos externos e vendo que isto era uma questão mercadológica e não interna da organização, a mesma resolveu tomar de volta o controle de sua respectiva situação. 3.1. Entendendo o Cenário da Organização O desenvolvimento de software não é uma questão somente técnica. Depende, também, de um entendimento forte do conhecimento do negócio de forma que o software represente de fato, o desejo do usuário final. Os profissionais têm que se desenvolver não somente na parte técnica, como também, na parte negocial. Com as constantes entradas e saídas dos profissionais dentro da organização alguns fenômenos ocorrem: Perda do capital intelectual; Dificuldade de manutenção do clima organizacional; Perda de produtividade, uma vez que os novos recursos precisam passar a ter o conhecimento do negócio; Perda de lucratividade, uma vez que a produtividade diminui e este é um problema exclusivamente da empresa e não de seus clientes; Dificuldade de manutenção do clima organizacional; Elevado custo de treinamento, uma vez que a rotatividade é constante, profissionais internos precisam parar para treinar os novos profissionais e novas perdas ocorrem, pois, uma vez em atividades internas, há a perda de faturamento das atividades externas; 9 3.2. Entendendo os Profissionais Avaliando os profissionais que saíram da empresa durante o período de um ano percebeu-se proporcionalmente que a maior parte estava nos cargos de analistas júniores e plenos. Um percentual bem baixo em analistas sêniores e na categoria dos gestores, o percentual era inexpressivo. Primeiramente, de posse deste conhecimento e alinhado com as teorias motivacionais, um trabalho interno de retenção foi realizado com o grupo dos profissionais gestores e sêniores, buscando a satisfação dos mesmos. Em um segundo momento, a organização incorporou o fato da rotatividade dos profissionais dos cargos de júniores e plenos e buscou junto da tecnologia uma forma de garantir a gestão do conhecimento, o capital intelectual e principalmente, o capital organizacional. 3.3. A Tecnologia para Treinar Tendo-se o problema da perda do capital intelectual e da produtividade até os novos profissionais adquirirem o conhecimento, além do tempo necessário para treinálos, a organização optou por elaborar a universidade organizacional. Esta universidade está na modalidade de e-learning de forma que todo o conteúdo necessário para o profissional aprender sobre como a organização desenvolve software, seus padrões e sobre o ramo de negócio onde a mesma atua estão contidos dentro desta ferramenta. Importante salientar que a ferramenta é meramente um meio de automatizar um processo e que a qualidade da formação dos profissionais depende diretamente da qualidade do conteúdo dos treinamentos. Todos os treinamentos possuem avaliação e todos os profissionais devem se certificar nos programas educacionais da organização. Os ganhos obtidos foram infinitos com a ferramenta. Os profissionais engajam na empresa, passam por todo o treinamento antes de serem encaminhados para sua respectiva área fim. Desta forma os gestores recebem os profissionais já treinados e prontos para serem produtivos. O tempo da curva de aprendizado diminuiu, bem como os gastos constantes com treinamentos. 10 Um dos maiores ganhos foi a retenção do conhecimento do negócio e da cultura organizacional na forma de treinamentos. A grande questão é a evolução do conhecimento e do software ao longo do tempo, de forma que os treinamentos requerem atualizações constantes para ficarem devidamente atualizados com o momento da organização. Isto requer investimentos e geralmente, não ocorrem na mesma frequência com que ocorrem as mudanças. 3.4. A Tecnologia para Recrutar Uma vez tendo-se o conhecimento que a rotatividade é constante, a organização precisa manter um banco de recursos profissionais de forma a ser ágil em suas contratações. A melhor forma de buscar profissionais está nas redes de relacionamentos. Ali você conhece o perfil do profissional, suas redes de conexão, os tipos de relacionamento que o mesmo possui, o LinkedIn é um exemplo de busca. Todas as empresas estão no Twitter. Por que não divulgar as vagas eviando um „tweet‟? Por que não um profissional interno buscando outro profissional por suas redes de relacionamento e ganhando incentivos por isto? Além, dos próprios sites de busca de profissionais disponíveis na internet. Este trabalho de divulgação e busca tem se mostrado eficiente nas contratações. A organização mantém, com isto, um banco de currículos com suas respectivas indicações. A questão é o constante investimento neste trabalho para manter atualizado um banco de currículos de profissionais selecionados. Isto não garante a disponibilidade do profissional no momento da necessidade da empresa, além de não garantir a permanência do profissional a posteriori. 3.5. A Tecnologia para Garantir o Conhecimento Organizacional Durante o período de avaliação da situação organizacional, identificou-se um nível elevado de documentação, porém esta não estava enraizada na cultura organizacional e muitas vezes se perdia com saída de determinado profissional. 11 Corroborando a este fato, verificou-se a existência de diversos acordos sendo feitos e ficando na caixa de e-mails dos profissionais. Quando este profissional saía da empresa, saiam também os acordos. Para minimizar esta questão um grande portal colaborativo foi estruturado, mantendo-se toda a documentação da empresa neste portal. O primeiro passo foi montar a estrutura do portal permitindo o crescimento do mesmo de forma organizada. A partir da estrutura pronta, as equipes estavam aptas a trabalhar colocando todos os acordos e documentações neste portal. Novamente, a tecnologia é apenas um grande meio de comunicação. Para a empresa que presta serviços, o fundamental é a utilização da melhor forma possível, desta pelas pessoas que nela trabalham. A relevância fica a cargo do conteúdo presente na tecnologia. 3.6. A Tecnologia para Manutenção do Clima Organizacional Para manter o clima organizacional uma intranet foi desenvolvida com informações jornalísticas, econômicas e sociais. Esta é uma inovação para o conceito de intranet, não trazendo informações somente da organização e sim, do mundo. Ao invés do profissional navegar por diversos sites em busca de informações e atualizações diárias, ele busca este conhecimento dentro do site da própria organização. Uma vez no site, sempre há chamadas importantes onde a organização coloca seus itens mais importantes em destaque, fazendo com que os profissionais acabem conhecendo novidades, mesmo sem o interesse direto em determinada informação. Importante haver um conteúdo atualizado e de relevância para os profissionais, onde os mesmos possam colaborar com as informações desejadas. Para isto há necessidade de atualizações constantes e investimentos. 12 4. CONCLUSÃO É importante as organizações de TI estarem preparadas para a rotatividade constante dos profissionais. O dilema vivido é a perda do capital intelectual, do conhecimento e da cultura organizacional. O desafio é transformar o capital intelectual em capital organizacional, transformando o conhecimento tácito em conhecimento explícito. Para tal é fundamental que a organização entenda a importância da disciplina da gestão do conhecimento. O grande aliado da organização para este novo desafio é a tecnologia. Entretanto, é preciso saber utilizá-la com uma ferramenta para o alcance dos objetivos da organização e não como a solução final. Outro fator são os investimentos necessários. Utilizar tecnologia requer recursos financeiros para hardware, software e pessoal. Porém, o futuro garantirá para estas organizações a gestão de seus respectivos conhecimentos e do CAPITAL ORGANIZACIONAL. 13 5. BIBLIOGRAFIA Blaize Horner Reich; Michelle Lynn Kaarst-Brown. "Seeding the Line": Understanding the Transition from IT to Non-IT Careers. MIS Quarterly, Vol. 23, No. 3. (Sep., 1999), pp. 337-364. Michael J. Ginzberg and Jack J. Baroudi. MIS Careers- A Theoretical Perspective Communications of the ACM. May 1988 Volume 31 Number 5 Denis M. S. Lee; Eileen M. Trauth; Douglas Farwell. Critical Skills and Knowledge Requirements of IS Professionals: A Joint Academic/Industry Investigation MIS Quarterly, Vol. 19, No. 3, Special Issue on IS Curricula and Pedagogy. (Sep., 1995), pp.313-340. Thomas W. Malone; Stephen A. Smith. Modeling the Performance of Organizational Structures Operations Research, Vol. 36, No. 3. (May - Jun., 1988), pp. 421-436. Crepeau, Raymond G, Crook, Connie W, Goslar, Martin D, McMurtrey, Mark Career anchors of information systems personnel E. 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