V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS NATURAIS: UM BREVE PANORAMA Edjane Farias Moreira1 (Faculdade Pio Décimo) INTRODUÇÃO Foi a partir de 1930 que surgiu no Brasil um ensino médio com fisionomia própria, seqüenciado e estruturado com séries anuais determinadas, obrigatório para todos que quisessem continuar os estudos e fazer curso superior. Nesta mesma época surgiram os cursos de formação de professores para o ensino médio. Também nesta época surgiram três modelos organizacionais para o processo de formação de professores: o federal, o paulista e o do Distrito Federal (ROSA, 2007). O modelo federal declara ser dever da Faculdade de Educação, Ciências e Letras. O modelo paulista tinha duas escolas para formação de professores para o ensino médio: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras onde os estudos eram de caráter livre e desinteressado juntamente com outras escolas de estudos profissionais; e duas escolas que eram encarregadas pelo ensino secundário; e o Instituto de Educação que em 1934 foi incluído à Universidade de São Paulo. Neste modelo há uma predominância da concepção elitista da universidade e da formação de professores. O modelo da Universidade do Distrito Federal privilegia os interesses democráticos populares: previsão da eleição do reitor, participação dos estudantes no conselho universitário. Porém, esses três modelos foram “abortados em seu nascedouro, vítimas que foram da padronização centralizadora tendente à imposição de um modelo único para todo o país, contra a qual ainda lutamos” (ROSA, 2007, p. 120). Em 1937, a Universidade do Rio de Janeiro foi reorganizada e passou a ser denominada de Universidade do Brasil, a Faculdade de Educação, Ciências e Letras foi desmembrada em duas: Faculdade Nacional de Educação e Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras (ROSA, 2007). 1 Pós-graduanda em Gestão Ambiental pela Faculdade Pio Décimo, Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Tiradentes (UNIT). E-mail: [email protected]. 1 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil Em 1939, a Faculdade de foi extinta sendo reduzida a duas seções da Faculdade de Filosofia: Pedagogia bacharelado e Didática com habilitação para lecionar no ensino médio. Para Rosa (2007) as normas que regem os cursos de licenciatura sofreram poucas modificações a partir da década de 60. Para o autor, muitas coisas mudaram no Brasil, porém, a formação de professores permanece imutável, avesso a qualquer inovação. Rosa (2007) critica a forma como algumas faculdades e universidades reduzem o currículo a apenas algumas disciplinas e como dividem essas disciplinas. Pois, segundo ele isso fez com que a organização curricular torna-se capenga e consequentemente, a formação dos professores. Nesse contexto, como anda a formação de professores de Ciências Naturais? Sabe-se que apesar da obrigatoriedade do ensino de ciências, no Brasil, ter se consolidado na década de 60, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Nº 4.024/61, a formação inicial de professores de ciências só passou a ser discutida e realizada na década de 70. Nesta década o Conselho Federal de Educação (CFE) sugere um modelo de curta duração para uma ciência integrada. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Nº 9.394/96 tornou-se obrigatória a formação em nível superior de cursos plenos para profissionais da educação (BRASIL, 1997). No seu bojo, a LDB 9.394/96 traz que a formação de professores uma formação que abranja conhecimentos científicos e sociais de acordo a sua competência de trabalho, associe teoria e prática através da utilização de estágios supervisionados e capacitação em serviço, deve aproveitar a formação e as experiências anteriores. Além disso, a formação inicial darse-á, preferencialmente, de forma presencial e fazer uso recursos e tecnologias de educação à distância. É também a LDB 9.394/96 que direciona a educação para a sua melhoria através de sugestões para cada seguimento do ensino brasileiro. Sendo que uma das diretrizes presentes neste documento traz a questão da valorização dos docentes, para tanto o ingresso na rede pública deve ocorrer por meio de concursos de provas e títulos; o direito ao aperfeiçoamento continuado até com licenciamento periódico remunerado para esse fim, ao piso salarial, à progressão vertical, à hora de estudos e às condições adequadas de trabalho. 2 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil Buscando-se descobrir a quanto anda a formação inicial de professores de Ciências Naturais resolvemos fazer uma breve revisão do estado da arte. Para tanto, foi feito o levantamento de pesquisas sobre essa temática nos sites indexadores de trabalhos acadêmicos scielo, scirus, ANPEd, google acadêmico. Trata-se de bases de dados de relevância para pesquisadores, pois, organizam um conjunto de artigos, dissertações e teses sobre uma diversidade de temas. A ANPEdi tem como finalidade o desenvolvimento e a consolidação da pósgraduação (stricto sensu) e da pesquisa na área de Educação no Brasil (ANPEd, 2011). Esta associação realiza reuniões anuais e atualmente possui 24 grupos de trabalhos dentre os quais há um específico sobre a formação de professores (GT 8). Sendo assim, nesta base de dados as pesquisas voltaram-se especificamente para esse GT. No site estão disponíveis a penas os trabalhos apresentados a partir da 23ª reunião anual que foi em 2000. Nas outras bases de dados foram feitas pesquisas utilizando-se as seguintes palavraschave: formação inicial de professores de ciências, formação de professores de ciências, formação de ciências. Na 23ª reunião anual em 2000 foram apresentados 18 trabalhos no GT 8. Sendo que somente dois estavam voltados para a formação de professores de Ciências Naturais. Da 23ª reunião anual (2000) até a 33ª (2010) foram apresentados cerca de duzentos e setenta e quatro trabalhos e destes, somente seis versavam sobre a formação de professores de Ciências Naturais- Biologia. Nas outras bases de dados foram selecionados um total de cinqüenta e seis trabalhos. Sendo que deste total, treze versam sobre a formação de professores de Ciências NaturaisBiologia. Assim sendo, no levantamento de pesquisas que versam sobre a formação de Professores de Ciências Naturais e/ou Biologia nos sites relacionados foram selecionados dezenove trabalhos. Alguns destes serão apresentados a seguir. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil Sessa (2006) analisou a formação de professores de ciências para o século XXI focalizando a prática docente em meio aos conflitos, embates, necessidades e especificidades do contexto atual da educação. Para a autora os professores podem introduzir no ensino de ciências a associação entre teoria-prática-resolução de problemas de maneira a privilegiar situações abertas. Oliveira et all (2009) buscou compreender a aprendizagem da linguagem científica na formação de professores de ciências. Segundo a autora precisa-se investir mais na formação de professores, começando a criar condições para que o professor se constitua com parceiro no processo de investigação e avaliação curricular, investigando a sua prática (Oliveira et all, 2009). Verrangia e Silva (2010) procuraram articular a educação das relações etnicorraciais e o ensino de Ciências em um contexto de formação para a cidadania. Para os autores, o ensino de Ciências não tem sido abordado de forma a educar relações etnicorraciais. Os professores não conseguem ver relação entre o ensino de Ciências e as atividades que buscam combater a discriminação etnicorracial. Os professores são inseguros, despreparados e estão desorientados com relação a essa temática. Porém, cabe lembrar que no bojo da cidadania estão presentes as questões etnicorraciais, pois a cidadania só se concretiza na vivência dos diversos sujeitos; sujeitos estes que são formados e que tem sua existência imbricada nos elementos naturais e socioculturais. Por exemplo, ao estudar os conhecimentos relativos à saúde faz-se necessário que as relações entre saúde e doença sejam contextualizadas a partir de elementos socioculturais, tais como condições sociais de existência, características etnicorraciais (a exemplo da anemia falciforme para a população afro brasileira e o câncer de pele na população branca), entre outros. Os autores sugerem abordagens que discutam impactos do conhecimento científico sobre a vida em sociedade (SANTOS, 2004; 2006 apud VERRANGIA e SILVA, 2010, p. 8). Sendo que a partir dessas abordagens podem ser criadas atividades que empreendam as relações entre os conhecimentos científicos e as orientações etnicorraciais desiguais. Nessas atividades, segundo Verrangia e Silva (2010), seriam “realizadas discussões, sobre pesquisas, teorias e movimentos científicos que constituíram conceitos biológicos de raças humanas ainda fortemente presente no ideário da população brasileira e que orienta tensas relações sociais” (p. 8). 4 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil A questão etnicorracial deve ser aprimorada procurando ser inserida nos conteúdos de ciências naturais, para assim, contribuir para uma sociedade mais igualitária, na qual as pessoas não sejam desqualificadas por quaisquer de suas características identitárias. Galiazzi e Moraes (2002) buscaram analisar argumentos em favor do educar pela pesquisa como modo, tempo e espaço de formação docente. A iniciativa de repensar e reestruturar a formação de professores com base no educar pela pesquisa, para poder atingir a melhoria de sua qualidade, parte da convicção da necessidade de superar a aula caracterizada pela simples cópia, a nova formação se constituirá em uso da pesquisa como atitude cotidiana na sala de aula (GALIAZZI e MORAES, 2002, p.2). Para tanto o licenciando deve passar de objeto para sujeito das relações pedagógicas tornando-se autores de sua própria formação por meio da construção de competências críticas e argumentativas, levando-o a aprender com autonomia e criatividade. Assim sendo, torna-se essencial o exercício de escrever usando interlocuções com teóricos e com a realidade para que possam expressar suas aprendizagens submetendo-se a críticas, muitas vezes construtivas. A formação de professores, tendo como espaço, tempo e modo de formação o educar pela pesquisa, pode concretizar-se a partir de um ciclo dialético. Iniciando-se pelo questionamento reconstrutivo, o processo direciona-se à construção de argumentos fortalecidos no diálogo crítico entre participantes, teóricos e realidade empírica, tendo como produto o processo de elaboração própria oral ou escrita. Estes argumentos são então comunicados e submetidos à crítica para seu aperfeiçoamento e fortalecimento. A aplicação deste ciclo de forma reiterada possibilita não apenas aprendizagens mais significativas aos participantes, mas pode constituir-se em nova forma de profissionalização (GALIAZZI e MORAES, 2002, p. 9). A formação inicial de professores tendo a educação pela pesquisa propicia uma formação mais qualificada em sentido formal e político, “propicia aos sujeitos se assumirem no discurso pedagógico e na linguagem científica, possibilitando-lhes o desenvolvimento de competências questionadoras e argumentativas, indicadoras de uma complexificação de conhecimentos e práticas dos licenciandos (GALIAZZI e MORAES, 2002, p. 9). Para Galiazzi e Moraes (2002) o bom professor precisa saber elaborar argumentos e defendê-los criticamente, ser capaz de ensinar seus alunos a produzirem argumentos e críticas 5 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil fundamentadas. Para tanto, o professor precisa ter participação, envolvimento em diálogo e iniciativa própria. Precisa ainda saber respeitar os questionamentos dos outros e ser capaz de criar um clima de questionamento e de procura de soluções em conjunto. O(a) professor(a)-pesquisador(a) é importante para melhorar a educação uma vez que a pesquisa será realizada em sua própria sala de aula refletindo sobre sua prática cotidiana e o resultado será utilizado em benefício próprio. Quando o(a) professor(a) torna-se pesquisador(a) ele(a) desenvolve um olhar aguçado para visualizar problemas e curiosidade para descobrir o alicerce desses problemas e disposição para tentar dirimi-los. Além disso, o(a) docente-pesquisador(a) tornar-se-á mais crítico(a), argumentativo(a), questionador(a), levará essas características para a prática de sala de aula, utilizar-se-á de metodologias diversificadas, obterá intimidade com uma linguagem científica e adquirirá o hábito de escrever e publicar as suas pesquisas para também melhorar as práticas de outros colegas professores. Para Hamburger (2007) a formação de professores é a peça chave para melhorar a educação. Porém, existem outros fatores que se integram à formação de professores e que juntos garantem o sucesso da educação. Na sua formação os professores de ciências aprendem pouca Ciência e por isso, sentem dificuldades em trabalhar temas científicos em suas aulas. Esses professores estão despreparados para realizarem aulas experimentais e/ou laboratoriais uma vez que não possuem essa vivência na sua formação. Para Hamburger (2007), a formação de professores de ciências deixa a desejar. As universidades públicas formam poucos licenciandos a uma vez que muitos evadem e/ou pedem transferências para cursos que remunerem melhor. Grande parte dos professores ciências naturais que trabalham nas escolas da rede pública provêm de faculdades particulares que muitas vezes não possuem um ensino de qualidade e não possuem um laboratório de experimentação e/ou investigação científica. Muitos cursos de licenciatura deixam, realmente, a desejar sobre a formação dos futuros professores. Porém, esta deficiência na formação não ocorre apenas em faculdades particulares. Essa questão é mais complexa do que do que a simples visão dicotômica do público versus privado, pois existem faculdades particulares e universidades públicas de maior ou menor qualidade. Da mesma forma a problemática da formação docente envolve 6 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil mais do que laboratórios ou outros artefatos didático-pedagógicos; fazendo-se necessário contextualizar a formação docente - seja de Ciências Naturais ou de outras áreas - no país do âmbito das políticas públicas em articulação com as práticas em movimento com o cotidiano da escola. Guimarães e Vasconcellos (2006) analisaram a formação de professores como agentes de mediação em museus e centros de ciências e a contribuição da Educação não formal para a construção da sustentabilidade sócio-ambiental. “Há uma grande carência de cursos específicos para formação profissional de agentes de mediação nestes espaços de educação não formal” (p.3). O contexto social atual exige o empenho de todas as áreas do conhecimento nas discussões para se buscar superar as nefastas conseqüências de degradação socioambiental. Neste cenário de crise, destaca-se a função social da educação e da ciência, e em particular suas interfaces, a educação em ciências em interlocução com os pressupostos da educação ambiental crítica, que podem oferecer uma grande contribuição recíproca na construção da sustentabilidade socioambiental. Pois para discutir e se engajar como cidadão no enfrentamento dos problemas socioambientais, a população precisa estar cientificamente alfabetizada, politicamente consciente e engajada (GUIMARÃES e VASCONCELLOS, 2006, p. 7). Garcia et all (2011) fez uma análise comparativa da formação de professores de ciências para o Ensino Fundamental entre três contextos diferentes: Austrália, Brasil e Canadá. O estudo descreve os contextos educacionais de cada país, a fim de promover uma visão ampla sobre as atuais políticas e práticas educacionais,; retrata, comparativamente, a formação de professores para o Ensino Fundamental, focando um contexto específico dentro de cada nação e realiza uma análise comparativa sobre a formação de professores de ciências, mostrando as similaridades e diferenças em cada realidade. Segundo Garcia et all (2011) no Brasil há uma diversidade de formação e não há uma legislação específica em relação à formação de professores de ciências para as séries finais do Ensino Fundamental, não favorecendo a criação de uma identidade para esse tipo de formação. Essa ausência de identidade própria para a formação de professores de Ciências para o Ensino Fundamental dificulta a criação de cursos com características generalistas e com currículos adaptados ao ensino das Ciências em nível Fundamental, ou seja, “a falta de 7 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil uma legislação específica para a formação desses profissionais tem também implicações sobre a qualidade da formação, afetando, consequentemente, a qualidade desse ensino” (p. 15). Segundo Santos e Infante-Malachias, (2008) a maioria dos professores de ciências da educação básica sente dificuldades em ensinar conteúdos para os quais não foram formados adequadamente. Alguns professores chegam a recusar-se a dar aulas para o 9º ano uma vez que nesta série são introduzidos conteúdos de Física e Química. Áreas pelas quais, esses professores, muitas vezes, possuem relutância em aceitar uma vez que não foram preparados adequadamente na sua formação para assumir conteúdos de tais áreas. Aqui no Brasil o professor habilitado para o ensino de ciências do 6º ao 9º ano é o mesmo habilitado para ensinar Biologia no ensino médio, ou seja, o licenciado em Ciências Biológicas. Não existe uma formação específica para o professor de ciências que, tenha no seu bojo conteúdos interdisciplinares. Gatti e Nunes, (2009) Analisaram os currículos na formação de licenciandos de pedagogia, língua portuguesa, matemática e ciências biológicas. Para as autoras, dificilmente encontra-se uma prova que inclua itens que lembrem a reflexão do professor sobre o conteúdo a ser ensinado. Sendo que, uma vez que a prova contenham essas questões, boa parte conta com as questões de didática específica, dessa forma a abordagem não atinge o objetivo esperado. Para Gatti e Nunes (2009) há grande dissonância entre os Projetos Pedagógicos obtidos e a estrutura do conjunto de disciplinas e suas ementas, são raras as instituições que especificam em que consistem os estágios e sob que forma de orientação são realizados, as problemáticas com relação às práticas, nas ementas não há articulação entre as disciplinas de formação específica e a formação pedagógica, ausência de saberes relacionados a tecnologias no ensino. Nos cursos de formação de professores, muitas vezes, os licenciandos não percebem conexão entre a teoria vista em sala de aula quanto aluno e a prática. Essa percepção acontece, inicialmente, no transcorrer do estágio quando os licenciandos se veem a volta com a realidade da sala de aula e notam que há uma discrepância entre teoria e prática. Além disso, há dissonância entre as disciplinas específicas e as pedagógicas. Estas são vistas no início do curso juntamente com algumas disciplinas específicas sendo que a partir do 3º ou 4º semestre só são estudadas as disciplinas específicas de cada curso. Ao analisar as ementas de algumas 8 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil dessas disciplinas da para se notar que algumas delas estão em discordância com o desenrolar da prática didático-pedagógica dos docentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da obrigatoriedade do ensino de ciências, no Brasil, ter se consolidado na década de 60, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Nº 4.024/61, a formação inicial de professore(a)s de ciências só passou a ser discutida e realizada na década de 70. Na década de 90, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Nº 9.394/96 tornou-se obrigatória a formação em nível superior de cursos plenos para profissionais da educação (BRASIL, 1997). O(a) profissional habilitado(a) que atua no ensino de ciências – denominação também dada para a disciplina do 6º ao 9ª ano do Ensino Fundamental - é o(a) licenciado(a) em Ciências Biológicas. No entanto, muitos deste(a)s licenciado(a)s não se sentem qualificado(a)s para ministrar aulas que supostamente não fizeram parte da sua formação. Como é o caso da Química e da Física que são as Ciências ministradas no 9º ano. Isso implica na necessidade de repensar a constituição dos cursos de licenciatura em Ciências Naturais - Física, Química e Biologia em uma perspectiva interdisciplinar. Precisa-se investir mais na formação de professore(a)s de Ciências Naturais abrangendo aspectos relevantes para as suas práticas, como a utilização de aulas experimentais e/ou laboratoriais, interdisciplinares. Além disso, é relevante transversalizar o conhecimento para melhor interagir com a sociedade e promover a cidadania. A formação de professore(a)s de Ciências necessita suscitar nos seus licenciando(a)s o espírito científico investigativo para que este(a)s busquem, através dos questionamentos e das curiosidades, o interesse por pesquisas e adquiram o ato de escrever e publicar, ou seja, as universidades e as faculdades deveriam investir em cursos de formação de docentes que incentivassem o desenvolvimento do(a) professor(a)-pesquisador(a). Acreditamos que para que haja uma melhoria do ensino de Ciências precisa-se, também, criar um curso de licenciatura específico para a formação de professore(a)s de Ciências Naturais ou então, após a formação inicial em Ciências Biológicas houvesse uma 9 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil continuidade para a título de especialização ou formação continuada o(a) licenciado(a) obtivesse a habilidade para o exercício da profissão no Ensino Fundamental. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96. Brasília: MEC, 1996. GALIAZZI, Maria do Carmo; MORAES, Roque. Educação pela pesquisa como modo, tempo e espaço de qualificação da formação de professores de ciências. 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