Contribuições da Análise da Conversa aos Estudos Organizacionais Autoria: Maria de Lourdes Borges, Claudio Reis Gonçalo Resumo Na busca por novas maneiras de compreensão da complexidade organizacional, a abordagem metodológica da Análise da Conversa (AC), própria da linguística, mostra-se um importante ferramental que pode auxiliar a aumentar este entendimento. Apesar de seu uso ser considerado limitado nos estudos organizacionais, observa-se que trabalhos que utilizam esta metodologia neste campo têm aumentado (NIELSEN, 2009). Assim, o objetivo deste trabalho é realizar um levantamento de artigos que utilizaram a abordagem metodológica da AC, no âmbito das áreas que interessam à organização, para auxiliar na compreensão das oportunidades de pesquisa nos estudos organizacionais. A preocupação central dessa abordagem é o estudo dos métodos empregados por membros na produção da realidade da vida cotidiana. O foco da análise da conversa não é o significado subjetivo para os participantes, mas a forma como essa interação é organizada, assim é importante estudar as falas nas práticas sociais, pois clareia ao pesquisador o que as pessoas fazem de fato (PASSUELO e OSTERMANN, 2007). O precursor desta abordagem foi Harvey Sacks (1935-1975) e que analisa excertos de fala através da microetnometodologia. AC é a análise sistemática da conversa produzida em situações diárias da interação humana, denominada de fala em interação (talk-in-interaction), que ocorrem naturalmente, sem a interferência do pesquisador. São aspectos essenciais da AC: turnos de fala, sequência de troca de turno entre os falantes, sequência conversacional, pares adjacentes, design institucionais das interações, preferência/despreferência, sequência lateral, reparo, abertura, pré-fechamento entre outros (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998, McCLEARY, 2009). A utilização da AC nos estudos organizacionais situa-se nos trabalhos que examinam os diferentes contextos institucionais tais como os ambientes organizacionais. Ora, se conversa é ação então "organizations are talk, and talk is organizations" (CLIFTON, 2006, p. 202). A utilização da AC nos estudos organizacionais está crescendo (NIELSEN, 2009; CLIFTON, 2006), e os estudos estão demonstrando diferentes aspectos que a AC pode contribuir nos estudos organizacionais. Para atingir ao objetivo deste artigo, selecionou-se 23 artigos que utilizaram a AC, sendo que 14 destes referem-se a assuntos da área de Comportamento Organizacional e nove deles pertencem e/ou têm implicações para a área de Marketing. Conclui-se que a AC pode ser o ferramental metodológico que proporcione uma leitura ativa das ações das pessoas, do conteúdo que não é dito, do poder subjacente, questões estas vistas como problemáticas nas organizações. A transposição da abordagem do “o que é dito” para “como é dito”, revela todo o potencial analítico da AC (PASSUELO e OSTERMANN, 2007). Por isso, abordagens que favoreçam certa clarificação deste nível subjetivo de interação e de todas as suas consequências organizacionais, como a AC, são bem vindas como ferramental analítico nos estudos organizacionais (COOREN, 2006). Além disso, a prática organizacional pode se beneficiar através do melhor entendimento e melhor gerenciamento de diversos tópicos tais como tomada de decisões, comunicação organizacional, fidelização de clientes, reparo de serviços, avaliação de pessoal, seleção, mudanças organizacionais, gestão de conflitos, qualidade em serviços, processos de negociação. 1 Introdução Os pesquisadores organizacionais sentem uma constante inquietação relacionada a novos métodos que auxiliem na compreensão da complexidade dos ambientes organizacionais, especialmente no que tange à abrangência das interações e discursos organizacionais (COOREN, 2006). A Análise da Conversa (AC) é o estudo da fala, ou seja, é análise sistemática da conversa produzida em situações diárias da interação humana no processo denominado de fala-em-interação (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998). A conversação através das formas da fala, discurso e conversa, ocorrida na empresa, interessa aos estudos organizacionais, pois sua análise revela como o contato social é mediado. As palavras induzem a conexões estáveis, podendo estabelecer entidades para as quais as pessoas se orientam, unindo-se em torno de projetos e informações significativas (WEICK, 1995). A fala que interessa à AC é aquela que ocorre naturalmente, sem ser produzida em um laboratório, pois objetiva descobrir como o participante entende e responde ao outro em seu turno de fala, com o foco central nas seqüências de ações que são geradas (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998). Portanto, na busca por novas maneiras de compreensão da complexidade organizacional, a AC mostra-se um importante ferramental que pode auxiliar a aumentar esta compreensão. Apesar de seu uso ser considerado limitado nos estudos organizacionais, observa-se que trabalhos que utilizam esta metodologia nos estudos organizacionais tem aumentado (NIELSEN, 2009). Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é realizar um levantamento de artigos que utilizaram a abordagem metodológica da AC, no âmbito das áreas que interessam à organização, para auxiliar na compreensão das oportunidades de pesquisa nos estudos organizacionais. Desta feita, o artigo fica assim subdividido: inicia-se com uma breve explanação das idéias básicas que suportam a AC, seguindo-se pela apresentação de 23 artigos que utilizaram a metodologia da AC ou que a discutem, com o resumo das principais conclusões e as implicações para cada um dos campos pesquisados, seguida pelas considerações finais. 1. Análise da Conversa (AC) – Idéias Básicas A Análise da Conversa iniciou seu desenvolvimento há 40 anos. Seu objetivo é descrever as competências e procedimentos envolvidos na produção dos diversos tipos de interações sociais (ARMINEN, 1999). Segundo Stephen Levinson (1983), a AC tem sua origem na Etnometodologia, movimento que estuda os métodos étnicos (dos próprios participantes) de produção e interpretação da interação social. A Escola da Etnometodologia foi fundada por Harold Garfinkel (1967) e lida com a questão de como as pessoas produzem a realidade social no processo interativo e através deste. Realidade social pode ser aqui entendida como produzida localmente (‘aqui e agora’ no curso da ação), endogenamente (no interior da situação), audiovisualmente e na interação pelos participantes (FLICK, 2004). Portanto, a Etnometodologia reespecifica a ordem social como fenômeno construído nas ações ordinárias e cotidianas dos membros do grupo social, reconhecendo a identificação destas ações com o seu contexto social (McCLEARY, 2009). A preocupação central dessa abordagem é o estudo dos métodos empregados por membros na produção da realidade da vida cotidiana. O programa de pesquisa 2 etnometodológica é caracterizado pelo interesse nas atividades cotidianas, na sua execução e na constituição de um contexto de interação, localmente orientado no qual se realizam as atividades. Em geral, o programa de pesquisa etnometodológica é realizado nas pesquisas empíricas da Análise da Conversa (FLICK, 2004). O precursor da AC é Harvey Sacks (1935 – 1975), cientista do departamento de sociologia da Universidade da Califórnia primeiramente e depois de Irvine, entre 1964 e 1972. Para ele, a fala-em-interação é sistematicamente organizada e profundamente ordenada; sua produção é metódica e finalmente a análise deve ser baseada em dados que ocorreram naturalmente (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998). O objeto de análise da AC é a fala na interação social e os dados são dessas interações naturalísticas gravadas em tape e/ou vídeo, que enfatizam o papel social da interação como uma realidade autônoma sui generis (ARMINEN, 1999). A fala que interessa à AC é aquela que ocorre naturalmente, sem ser produzida em um laboratório, pois objetiva descobrir como o participante entende e responde ao outro em seu turno de fala, com o foco central nas seqüências de ações que são geradas (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998). O foco da análise da conversa não é o significado subjetivo para os participantes, mas a forma como essa interação é organizada. O tópico de pesquisa é o estudo da vida cotidiana, por isso é crucial o papel do contexto em que as interações ocorrem. Cada evento de fala-em-interação apresenta esforços de produção dos membros ali mesmo, ou seja, das contribuições conversacionais dos membros. Enfim, a Etnometodologia preocupa-se com a descrição dos métodos dos membros, em vez de suas perspectivas, a fim de descrever o processo em estudo a partir de dentro (FLICK, 2004). Na AC, a fala das pessoas é estudada per se, e não seus pensamentos, emoções, atitudes, crenças ou experiências de vida, os quais são assumidos como subjacentes à fala e que podem ser expressos por meio dela. A Análise da Conversa trata da fala como uma forma de ação social, como uma forma de fazer coisas no mundo (OSTERMANN, 2006 apud PASSUELO e OSTERMANN, 2007, CLIFTON, 2006). Portanto, a fala pode ser compreendida como ação social tangibilizada na interação, por isso "o foco de atenção não é a linguagem na condição de um sistema abstrato de regras, mas a linguagem é tomada como meio para interação" (p.246). Assim, é importante estudar as falas nas práticas sociais, pois clareia ao pesquisador o que as pessoas fazem de fato (PASSUELO e OSTERMANN, 2007). AC é a análise sistemática da conversa produzida em situações diárias da interação humana, denominada de fala em interação (talk-in-interaction), que ocorrem naturalmente, sem a interferência do pesquisador. O foco da AC é na seqüência, pois através do curso da conversa em interação os falantes dispõem, na próxima seqüência de turno, um entendimento do que era o primeiro turno (ver Exemplo de Interação1). A ferramenta básica da AC é o next-turn proof procedure, ou seja, o próximo turno pode ter uma seqüência desejada ou indesejada, conforme o que o falante anterior disse. São as propriedades ordinárias da fala (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998). Para a AC, segundo Hutchby & Wooffitt (1998), os turnos de fala não são serialmente ordenados, ou seja, cada interagente fala na sua vez, mas sequencialmente ordenados. Existem maneiras descritíveis de observar que os turnos são ligados em uma seqüência ordenada, através da: 3 (i) next turn: local onde os participantes dispõe seu entendimento sobre o primeiro turno para possível compreensão. Os próprios participantes analisam o processo de produção da fala para negociar sua participação nela. (ii) content: o próximo falante de turno prioriza o conteúdo do turno, ou seja, a ação que tem sido designada para fazer. Além dessas maneiras de observar a ordem inferencial de fala, deve-se atentar para o tipo de cultura e recursos interpretativos dos participantes levam ao entendimento de maneiras diversas e próprias (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998). Convencionalmente as interações ocorrem em pares, é a seqüência conversacional que ocorre através dos pares adjacentes (no exemplo 1 n alinha 4 A representa a primeira parte do par e na linha 5 B representa a segunda parte do par adjacente). Nem sempre os pares adjacentes ocorrem de maneira uniforme e ideal, ou seja, nem sempre a primeira parte do par faz uma formulação reconhecível e a segunda parte produz um segundo par a partir do que reconheceu do primeiro par. Os pares adjacentes têm uma significância fundamental em AC: a questão de como o entendimento mútuo é acompanhado e arranjado na fala. Os participantes podem usar o mecanismo de pares adjacentes para arranjar e/ou analisar o processo de entendimento e sensemaking da fala do outro. Os pares adjacentes constituem uma estrutura normativa de poder para avaliação de ações do interlocutor e motivos da produção da primeira parte. Isso mostra que a fala em interação é um problema de realização de ações, assim o fracasso na troca de turno já é um tipo de ação representativa (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998). Exemplo de interação 1 (Figura 1): Fonte: Passuelo e Ostermann (2007, p.246) Obs.: Convenções de transcrição conforme Passuelo e Ostermann (2007) (Nota 1) Para uma breve exemplificação da análise do excerto da interação acima, observa-se primeiramente que é possível perceber facilmente que se trata de uma entrevista de emprego, pois a forma como os interagentes (A e R) vão estruturando a fala demonstra o design deste tipo de interação organizacional. Observa-se, neste pequeno exemplo, que existe uma assimetria interacional, tais como a escolha dos tópicos para conversa por parte de A (linhas 1 e 2) direcionando o evento discursivo (a entrevista). Como R não responde à direção solicitada, A diz enfaticamente o que ele deve fazer e falar na linha 4. Fica claro neste breve exemplo, o quanto a microanálise de interações podem mostrar sobre as ações dos interagentes, tais como a forte assimetria de papéis interacionais e discursivos entre A e R, bem como a clareza do tipo de evento institucional que se tratava, sem a explicitação anterior de que era uma entrevista de seleção. 4 Assim, vários conceitos foram sendo estabelecidos para o entendimento e análise dos dados transcritos tais como tomada de turno, par adjacente, preferência/despreferência, sequência lateral, reparo, abertura, pré-fechamento entre outros, os quais não são objetos do presente trabalho, mas que representam parte da riqueza analítica do pensamento de Harvey Sacks, o qual foi inspirado por Harold Garfinkel e seguido por Emmanuel Schegloff e Jail Jefferson a partir dos anos 1970 (McCLEARY, 2009). O Exemplo 1 ocorre em um contexto institucional, por isso, onde existe um script interiorizado de conversação natural, tal como na circunstância de entrevista de seleção. Porém, não basta a intuição em saber qual o comportamento mais adequado para cada contexto social, é preciso relatar o significado público que os participantes demonstram para os outros, sua orientação para o contexto e seu entendimento da relevância do contexto institucional de cada ação do outro (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998), conforme demonstrado acima. Nos contextos institucionais, os participantes cumprem a natureza disciplinada da conversação em si. A abordagem da Análise da Conversa trata do importante papel da fala na produção da vida social. Esses autores argumentam ainda que, segundo essa abordagem, a fala nos ambientes institucionais está envolvida no cumprimento da sua natureza institucional (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998). 2. A Análise da Conversa nos estudos organizacionais A utilização da AC nos estudos organizacionais situa-se nos trabalhos que examinam os diferentes contextos institucionais. Nestes contextos, é exaltado o papel da fala na produção da vida social, pois a fala é sempre situada, seja em entrevistas de seleção, reuniões de negócios, reuniões entre supervisores e trabalhadores, orientador(a) e orientando(a), avaliações, venda de produtos através de call-centers, consultas médicas, comportamento de clientes em visita a museus, audiências do PROCON entre outras. Nos contextos institucionais, os participantes parecem se orientar por sistemas de falas, variando conforme a ocasião, grau de formalidade, entre outras. Nestes contextos institucionais, há uma redução ou sistematização das práticas disponíveis na conversação, de acordo com o papel institucional e com a maior ou menor formalidade do contexto (HUTCHBY & WOOFFITT, 1998), por exemplo, espera-se um tipo de comportamento de uma testemunha em um julgamento e outro tipo de comportamento em uma entrevista de seleção para emprego. Ambientes organizacionais são considerados contextos institucionais para a AC. Ora, se conversa é ação então "organizations are talk, and talk is organizations" (CLIFTON, 2006, p. 202). A utilização da AC nos estudos organizacionais está crescendo (NIELSEN, 2009; CLIFTON, 2006), e os estudos estão demonstrando diferentes aspectos que a AC pode contribuir nos estudos organizacionais. Para a exemplificação desses estudos, selecionou-se 23 artigos que utilizaram a AC, sendo que 14 destes referem-se a assuntos da área de Comportamento Organizacional e nove deles pertencem e/ou têm implicações para a área de Marketing. A seleção dos artigos foi aleatória nas Bases de Dados através das palavras de busca por Conversation Analysis. Foram encontrados também vários artigos que trabalham o tema de Sistemas de Informação, os quais se interessam preferencialmente pelos diferentes tipos de interação que são mediados pelo computador (MARKMANN, 2009; AVISON, BANKS, 2008; RHODES et al., 2008; MARCON, GOPAL, 2008; EPPERSON et al, 2008), mas que não foram selecionados para este trabalho devido ao espaço. 5 2.1 Contribuições da Análise da Conversa na área de Comportamento Organizacional Os trabalhos selecionados que utilizaram a AC como abordagem metodológica na área de Comportamento Organizacional constituem-se de 14 artigos classificados nos nas Figuras 2, 3 e 4. Autor(es), ano, título e fonte Nielsen, M. 2009Interpretative Management in Business Meetings Understanding Managers' Interactional Strategies through Conversation Analysis. Journal of Business Communication Objetivo / Delimitação Analisa comunicações verbais autênticas entre médios gerentes e trabalhadores. Conclui que o trabalho de interpretação suporta objetivos e valores organizacionais. Fairhurst, G. 2008 Discursive Leadership: A Communication Alternative to Leadership Psychology. Management Communication Quarterly Oferece uma overview de diferentes usos discursivos e psicológicos da liderança. Advoga pela liderança discursiva que leva em consideração o seu aspecto intensamente social. Svennevig, J. 2008Exploring Leadership Conversations. Management Communication Quarterly Analisa a contribuição da Análise da Conversa (AC) para o campo da liderança discursiva e analisa a contribuição do livro "Discursive Leadership: In Conversation With Leadership Psychology" de Fairhust (2007) Demonstrar como a Análise da Conversa pode prover uma análise refinada da interação nas reuniões de negócio, através de uma perspectiva êmica do que está acontecendo, utilizando o vínculo desse tipo de análise à teoria social mais ampla, tal qual a abordagem construtivista social para a liderança e para a construção da realidade. Clifton, J. 2006 A conversation analytical approach to business communication: The Case of Leadership. Journal of Business Communication Principais Conclusões Resultados: Cinco aspectos são levantados quanto ao cuidado na interpretação: colaboração entre médios gerentes e trabalhadores na interpretação relacionados ao contexto; - apreensão do vocabulário da organização; - gerenciamento do processo de utilização da língua; expectativa dos trabalhadores em ser interpretados; - Desafio aos gestores com interpretações concorrentes. Afirma que a liderança se torna uma atividade analítica onde agentes tornam-se suscetíveis de dizer e fazer coisas conforme as características psicológicas que apresentam em cada situação. Também o curso do discurso da liderança sofre influência das características e formais organizacionais. Conclui-se que a crítica pósestruturalista da teoria da liderança é valorizada e convida a uma reorientação dos estudos da liderança Os resultados mostram que a Análise da conversa é capaz de tornar explícito o princípio "visto mas despercebido" presentes na fala cotidiana, revelando construções abstratas que podem tornar-se visíveis na fala, tornando palpáveis alguns aspectos da liderança não percebido pelos pesquisadores. Implicações para CO Liderança É conhecido que a produção da socialização, do aprendizado e do significado é parte da função do líder. A AC contribui para discutir "como" estes fenômenos abstratos são constituídos como práticas interacionais. O artigo mostra aspectos importantes da liderança enquanto fazer, através de ações e contextualização das percepções do empregado e da prática organizacional. Dentro do conceito de Liderança Discursiva, discutido no artigo, apresenta profunda compreensão de estruturas de poder nas abordagens relacionais, levando em consideração dinâmicas de situações assimétricas e de influência que são essenciais para a compreensão da liderança. Evidencia que a AC pode auxiliar aos estudiosos na estruturação de diferentes modelos de identificação de estilos de liderança influenciados por aspectos individuais e culturais. A AC revela fenômenos de interesse em pesquisas sobre liderança como o processo de sensemaking sobre o qual a realidade é construída, bem como ajudar a melhorar as práticas de liderança e suas habilidades de comunicação. 6 Cooren, F. 2006 Arguments for the in-depth study of organizational interactions: A Rejoinder to mcphee, Myers, and Trethewey. Management Communication Quarterly,. Resposta à crítica de McPhee e outros (2006) [abaixo], que propõe ataque à AC. O autor discorda de diversas críticas daquele artigo mostrando que é possível, através do estudo do detalhe organizacional, a compreensão de características do processo. Cita autores que usam a AC nos estudos organizacionais. É preciso demonstrar mais frequentemente como as interações organizacionais funcionam. Uma reunião estudada detalhadamente representa a "terra firme", pois mergulha nas características do processo interacional, tornando-se difícil avaliar o fenômeno à distância (quando se escala a montanha). Para Cooren (2006) o artigo crítico de McPhee et al (2006) apenas reafirma argumentos teóricos e metodológicos feitos em Cooren (2004) e ilustra o valor e a preocupação com os estudos das interações e discursos organizacionais. Além da AC, outros métodos ainda precisam ser inventados para a compreensão de toda a abrangência das interações e discursos organizacionais. Figura 2: Resumo de artigos que utilizaram AC sobre liderança na área de comportamento organizacional Fonte: Dados desta pesquisa Observa-se, através destes exemplos (Figura 2), que os estudos organizacionais sobre liderança podem se beneficiar da utilização da abordagem da AC, pois é possível o entendimento das práticas da liderança enquanto fazer, discutindo como fenômenos abstratos são colocados em ação (NIELSEN, 2009). Outros benefícios que a utilização desta abordagem pode trazer aos estudos sobre liderança são compreensão de estruturas de poder na prática da liderança (FAIRHURST, 2008), na estruturação da identificação de diferentes tipos de liderança (SVENNEVIG, 2008), bem como auxiliar nas práticas de liderança e habilidades de comunicação através da explicitação do "visto, mas despercebido" (CLIFTON, 2006) tão comum na prática organizacional. Percebe-se, portanto, a capacidade de uma leitura ativa das ações das pessoas no ambiente organizacional, tal como das ações dos seus líderes. Além da utilidade para estudos sobre liderança, estudos sobre sensemaking e cognição podem se beneficiar da abordagem da AC, conforme exemplos no Figura 3. 7 Autor(es), ano, título e fonte Rawls , A.W. 2008 Harold Garfinkel, Ethnomethodology and Workplace Studies Anne Warfield. Organization Studies Objetivo / Delimitação Principais Conclusões Garfinkel oferece uma teoria importante sobre os estudos no local de trabalho, a Etnometodologia Pesquisas com AC podem preservar o relacionamento em tempo real no local de trabalho, revelando aspectos inéditos entre outras metodologias. Conclui-se que, na visão de Garfinkel, as pessoas podem orientar as formas de produção da ordem e sensemaking, bem como motivações, atitudes, restrições e poder muitas vezes vistas como problemáticas nas organizações. Seus achados indicam que o conceito de mente coletiva de Weick e outros não pode ser estudado somente como processos cognitivos, mas que através do estudo das interações (AC) pode-se identificar mecanismos pelos quais as organizações tornem-se mais compreensíveis e confiáveis. Após longa discussão, conclui-se que, apesar das conversações serem muito importantes como fonte do entendimento da mente coletiva, um simples episódio conversacional não pode confirmar ou não o conceito. Cooren, F. 2004 The Communicative Achievement of Collective Minding: Analysis of Board Meeting ExcerptsManagemen t Communication Quarterly 2004; 17; 517 Este artigo mostra como um grupo de gestores exibe uma forma de inteligência que não pode ser reduzida à simples soma das respectivas contribuições, com base em uma análise em profundidade dos trechos de uma reunião em um centro de tratamento de reabilitação da toxicodependência McPhee, R,Myers, K.,Trethewey, A. 2006 On collective mind and conversational analysis. Management Communication Quarterly Crítica ao artigo de Cooren (2004) [abaixo] que diz que a AC mostra fácil evidência dos processos de representação, subordinação e contribuição. Implicações para CO Sensemaking/Cognição Compreender com profundidade aspectos do sensemaking organizacional, ajuda na promoção dos processos de inovação e aplicações práticas através do cuidado com os pressupostos interacionais de confiança e inteligibilidade. A análise do princípio de exteriorização mental pela conversação, mostra como a cognição coletiva passa pela adaptação mútua da conversação e fornece contribuições que conduzirá à melhoria de aspectos práticos como auxílio na tomada de decisão, na resolução de problemas entre outras. A importância dessa crítica reside na discussão da AC como importante fonte de tratamento dos dados para estudos organizacionais. É também através deste tipo de iniciativa que o campo avança. Figura 3: Resumo de artigos que utilizaram AC sobre sensemaking na área de comportamento organizacional Fonte: Dados desta pesquisa A compreensão do sensemaking e cognição nos estudos organizacionais podem se beneficiar da utilização da abordagem metodológica da AC, pois por preservar os principais aspectos do relacionamento em tempo real, é possível o entendimento de motivações, atitudes, restrições e poder vistos como problemáticos nas organizações, além disso podem ajudar na promoção de processos de inovação (RAWLS, 2008). Cooren (2004) fala que a cognição coletiva pode conduzir a melhoria na tomada de decisões, resolução de problemas, através da conversação vistas com o auxílio da AC. Então, McPhee et al. (2006) realizam uma crítica à Cooren (2004) dizendo que somente uma conversação não pode servir de base para o artigo. Cooren (2006) responde a McPhee et al. (2006) discordando de várias críticas realizadas, mostrando que é possível, através do estudo do detalhe organizacional, a compreensão de características do processo, que a AC pode prover na compreensão do sensemaking organizacional, pois para ele, é na dimensão sequencial da fala que estão caracterizados os processos organizacionais. 8 Além desses trabalhos no campo do comportamento organizacional, foram encontrados diversos estudos que continham implicações para a área, tais como resumidos no Figura 4 Autor(es), ano, título e fonte Clifton, J. 2009Beyond Taxonomies Of Influence. Journal of Business Communication. Objetivo / Delimitação Principais Conclusões Implicações para CO Utiliza AC e vídeos de dados que ocorreram naturalmente, visa proporcionar uma refinada camada de análise de como subordinados, bem como superiores, podem influenciar a tomada de decisões através da fala. Conclui-se que a AC pode tornar visível o conceito escorregadio de influência, de uma maneira que leve em conta a natureza social da influência, a maneira de construção das identidades na fala e como elas restringem e permitem o acesso a recursos através da influência discursiva. Resulta em análise detalhada como uso do ok serve como ferramenta de facilitação nas reuniões. A análise do olhar dos participantes e dos gestos é tida como ação incorporada para explicitar ações não faladas.. Contribuição para a área de Tomada de Decisões Os resultados dessa investigação contribuem para a prática através de ferramentas para melhorar o processo de tomada de decisões na organização. Quanto mais o supervisor mostra uma orientação para a crítica negativa nas avaliações como sendo socialmente problemático, mais difícil se torna para os trabalhadores lidar com avaliações negativas. A análise revela a assimetria de papéis discursivos entre entrevistado e entrevistador e fenômenos interacionais que evidenciam o gerenciamento de impressão por parte do entrevistado. Contribuição para a área de Gestão de Pessoas Avaliação Contribui para reavalair objetivos estratégicos de tais entrevistas de feedbak, redefinir melhores práticas e discutir a estrutura da entrevista. Barske, Tobias. 2009 Same token, different actions. Journal of Business Communication Apresenta uma análise sistemática do uso da partícula ok em interações no contexto institucional de reuniões de negócios na Alemanha. Asmuß, B. 2008, Performance appraisal interviews. Journal of Business Communication Avaliar como as entrevistas de feedback crítico são conduzidas. O caminho crítico do feedback é dado predominantemente através de avaliações negativas. Passuelo, CB. Ostermann, AC. 2007. Aplicação da análise da conversa etnometodológica em entrevista de seleção: considerações sobre o gerenciamento de impressões. Estudos de Psicologia Analisa aspectos interacionais que podem estar relacionados ao gerenciamento de impressões por parte do entrevistado em uma entrevista de seleção. Para tanto, uma entrevista de seleção foi gravada e transcrita, e utilizou-se a análise da conversa etnometodológica como instrumental analítico. Contribuição para a área de Comunicação Organizacional Através da utilização da AC, pode-se melhorar a eficiência e eficácia das constantes reuniões nas organizações, através da compreensão de elementos verbais que se repetem e do seu significado. Contribuição para a área de Gestão de Pessoas Processos Seletivos: Evidenciou-se a importância e produtividade das ferramentas da análise da conversa de base etnometodológica, visto que fornecem subsídios para aprimoramentos de processos seletivos em organizações. Figura 4: Resumo de artigos que utilizaram AC na área de comportamento organizacional Fonte: Dados desta pesquisa 9 Estudos sobre a Tomada de Decisões se beneficiam ao estudar influências nas interações, seus processos e consequências (CLIFTON, 2009). A área de comunicação organizacional é privilegiada em termos de estudos que utilizam a AC, uma vez que faz sentido que o estudo das interações pertença a esta área. A contribuição de Barske e Tobias (2009) através do estudo da partícula ok e gestuais, representa ações não faladas em reuniões de negócios, auxiliando na melhoria da sua eficiência e eficácia. A área de gestão de pessoas também pode se beneficiar através da melhoria dos processos de avaliação, ajudando a redefinir melhores práticas (Asmuß, 2008). A professora Ana Cristina Ostermann e a aluna C. Passuelo também oferecem sua contribuição à área de gestão de pessoas, uma vez que demonstraram que a AC fornece subsídios a melhoria da entrevista de seleção de emprego. Outro tema que pode ser beneficiado pelo uso da abordagem da AC é o estuda das mudanças organizacionais, ajudando a clarear habilidades e atitudes facilitadoras ao lidar com situações de mudança (Kykyri et al., 2007). Gestão de conflitos também pode se beneficiar, por exemplo, através do estudo das estratégias utilizadas pelos falantes durante a interação para sua resolução. 2.2 Contribuições da Análise da Conversa na área de Marketing A área de Marketing mostra-se outra área privilegiada pelo interesse dos pesquisadores em utilizar a abordagem da AC, sendo que alguns exemplos estão na Figura 5. Autor(es), ano, título e fonte Takeuchi, H., Subramaniam, L. ,Nasukawa, T Roy, S. 2009, Getting insights from the voices of customers: Conversation mining at a contact center. Information Sciences Vom Lehn, D. 2006. Embodying experience: A video-based examination of visitors' conduct and interaction in museums. European Journal of Marketing Gago, P.C. 2006 O espaço de transição de falantes em audiências de conciliação no PROCON: lugar relevante para o desacordo? Revista Recorte Objetivo / Delimitação Principais Conclusões Propõe método da Análise da Conversa para identificar importantes segmentos de conversações na busca por um categorizador destinado a distinguir diferentes resultados nos negócios. Apresenta a eficácia do método para fazer a descoberta pela vida real (chamados dados mundanos), utilizando dados de um centro de serviço de locação de automóveis. Revelar como as pessoas colaborativamente ver e fazer sentido de arte e outros tipos de exposição, e em especial a forma como as formas de olhar e responder às exposições surgem na interação social. O estudo constata que pessoas ao explorar museus e exposições examinam os outros. Descobre que a experiência dos visitantes é influenciada e surge na interação social com outras pessoas, sejam elas, companheiros ou estranhos, através de exposições verbais e corporais na ação e interação. Os achados mostram que existe antecipação do ato de desacordo nesse contexto interacional, que é claramente de conflito entre as partes, invertendo, pois, a noção de preferência observada na conversa cotidiana. Analisa a sequência conversacional de clientes e representantes de empresas em audiências de conciliação do PROCON, –, a partir dos quais discutimos a noção de espaço relevante para a transição , em sua relação com as especificidades do contexto em questão Implicações Marketing Auxiliar no entendimento dos processos de negociação de venda na interação para promover o aumento das vendas. Compreender a influência de outros (conhecidos ou estranhos) influencia na experiência dos serviços. Compreender melhor o processo e gerenciamento de recuperação de clientes quando ocorrem falhas no produto/serviço. 10 Jung Lao, Ostermann AC, 2005, Interações no telemarketing ativo de cartões de crédito: da oferta velada à rejeição. Alfa Analisamos a organização das interações entre teleoperadores e clientes, em situação de oferta e rejeição de cartão de crédito em um call-center. A rejeição de produtos oferecidos por telefone pode não ser, culturalmente, uma resposta despreferida. Assim como a rejeição pode evoluir em dois sentidos: agravamento ou desagravamento. Compreender melhor as especifidades da venda por callcenter e melhorar as estratégias de conversação nas vendas para aumentar as vendas.. Figura 5: Resumo de artigos que utilizaram AC na área de Marketing Fonte: Dados desta pesquisa Melhorar o conhecimento do consumidor é interesse do Marketing, assim como compreendê-lo genuinamente. O interesse é tal que o entendimento do consumidor e do seu comportamento é de alta prioridade, tanto que consta no Guia do Marketing Science Institute (MSI) para o período 2008-2010 como uma das pesquisas apontada como prioritárias, através dos obejtivos de aumentar a compreensão na do processo de tomada de decisão, tanto para indivíduos quanto para grupos, entendimento da comunicação face-aface. O próprio MSI coloca que os métodos etnográficos, estão entre as ferramentas em pauta para pesquisa em busca de geração de insights para compreensão destes consumidores. O MSI tradicionalmente está na vanguarda na introdução de novos métodos de investigação e estratégias de marketing e tem se interessado por metodologias como etnometodologia e fenomenologia (MSI 2008-2010). Diante desse contexto, a abordagem da AC, também denominada microetnografia está entre as preocupações metodológicas mais atuais da área do marketing, demonstrando sua jovialidade e potencial. As contribuições para esta área são muitas, tais como conhecer, compreender e melhorar o processo de negociação (TAKEUCHI et al, 2009) ou conhecer a influência que outras pessoas promovem na experiência do serviço (Vom Lehn, 2006). Especialmente estudos que se preocupam com o aspecto da recuperação de serviços, por exemplo, quando o cliente foi mal atendido, podem se beneficiar desta abordagem, através da anãlise da interação é possível a percepção de maneiras que levem o consumidor a não denegrir a imagem da empresa ou até mesmo a se fidelizar (GAGO, 2006). Vendas por call-centers local estudado por Jung Lao e Ostermann (2005) demonstram que o modo como a conversação é realizada, pode estar levando à rejeição dos produtos oferecidos. Tal estudo pode ser utilizado para melhor treinamento das atendentes de call-centers no modo de abordagem do cliente. 2.3 Contribuições da Análise da Conversa na área da Gestão em Saúde A Análise da Conversa tem tradição de ser utilizada para estudos na área da saúde quando se trata de interações em ambientes institucionais. Observa-se nestes estudos a aplicabilidade da AC na prática da área da saúde em si, tal como melhor gerenciamento da consulta médica, melhor coleta de material para exames, etc, Também é possível aprender com os resultados desses estudos principalmente na área de marketing de serviços, uma vez que, nestas instituições, a experiência do cliente/paciente com o serviço é intensa. Por isso, 11 estudos que utilizam a Análise da Conversa no setor da saúde, que podem servir de inspiração para estudos no marketing. Autor(es), ano, título e fonte Cavalcanti, A. Coelho, M. 2007 A linguagem como ferramenta do cuidado do enfermeiro em cirurgia cardíaca. Esc Anna Nery Rev. Enfermagem Kleinman, A.,Eisenberg, L. 2006 Good, B. Culture, Illness, and Care Clinical Lessons from Anthropologic and Cross-Cultural Research. Winter 2006, FOCUS (Psychiatry) Maynard, D, Frankel, R 2006 . On diagnostic rationality: bad news, good news and the symptom residue In: Communication in medical care. Cambridge University. Caprara, A. Rodrigues, J., 2004 A relação assimétrica médico-paciente: repensando o vínculo terapêutico. Ciência & Saúde Coletiva Objetivo / Delimitação Principais Conclusões Descrever a linguagem utilizada no cotidiano por enfermeiros em unidade de terapia intensiva cardíaca. Foi utilizado o corpus teórico da etnometodologia como metodologia para o estudo. Os resultados apontam a utilização de palavras científicas, siglas e abreviações, silêncio, gestos e palavras com significado distinto, entendidas entre os profissionais, mas não pelos clientes. Apresenta implicações na gestão da enfermagem e conseqüências na satisfação do cliente. É descrita um exemplo de estratégia em uma clínica capaz de traduzir conceitos da antropologia cultural clínicos em linguagem de aplicação prática. A aplicação desta abordagem no ensino e prática médica exige mais apoio, tanto curricular e financeiro. Analisar perspectivas antropológicas e inter cultural em relação à insatisfação do paciente com o atendimento médico e inadequação do acesso e aumento do custo dos cuidados. Propõe-se que a estratégia de enfrentamento desses problemas possa ser aplicado diretamente pelo médico no cuidado do paciente através da alteração da maneira de relacionamento com ele. Explorar a natureza condicional das boas e más notícias e expõe a relação assimétrica entre médico e paciente durante o diagnóstico, como o médico e como o paciente agem diante de boas e de más notícias. Refletir sobre quais os fatores que estão na raiz da problemática da relação médico-paciente. Uma melhor relação médicopaciente não tem somente efeitos positivos na satisfação dos usuários e na qualidade dos serviços de saúde, mas exerce também uma influência direta sobre o estado de saúde dos pacientes.. Ensaio Teórico. Foi observado diferenças comportamentais e interacionais favorecendo as boas e desfavorecendo as más através de estruturas que vão da ordem para a desordem, da racionalidade para um tipo de irracionalidade de ambos os interagentes. Observa-se uma necessidade crescente em desenvolver uma comunicação mais aberta entre médicos e pacientes que possibilite uma maior qualidade na relação, o que exige a implementação de mudanças relativas aos modelos comunicacionais dos médicos, visando à aquisição de competências na sua Implicações para o a área de Gestão em Saúde Importância da preocupação em utilizar linguagem acessível ao consumidor com efeitos na fidelização e satisfação do cliente. Um ambiente comum de acontecer esse tipo de situação é na venda de produtos de informática, metodologia que pode auxiliar para o fechamento de mais vendas. Oportunidade para estudar a satisfação do cliente na prestação de serviços, através do melhoramento do relacionamento entre prestador e consumidor do serviço, bem como analisar profundamente o processo de entrega do serviço, seus detalhes e consequências observados nas interações. Oportunidade para compreender a dinâmica da comunicação de falha no serviço ou produto ao consumidor (má notícia), melhorar técnicas para a conversação de reparos, como pode ser amenizada e gerenciada. Compreender mais profundamente as implicações do relacionamento entre prestador de serviço e consumidor, com efeitos na satisfação do consumidor, qualidade dos serviços, fidelização dos clientes, seu bem-estar (URBAN, 2005) e o significado da experiência (VARGO e LUSCH, 2008). Figura 6: Resumo de artigos que utilizaram AC em contextos de saúde com implicações para Marketing 12 Fonte: Dados desta pesquisa As implicações dos trabalhos realizados em instituições de saúde que utilizaram a AC selecionados apontam para a utilização da metodologia em outras situações de interação entre fornecedor do serviço ou produto e cliente. Assim, pode existir impacto na fidelização e satisfação do cliente, quando o fornecedor se preocupa com o tipo de linguagem que ele utiliza (CAVALCANTI, COELHO, 2007), com o melhoramento do relacionamento entre ambos no processo de entrega do serviço (KLEIMANN, EISENBERG, 2006). O capítulo do livro de Maynard e Frankel (2006) é especialmente utilizado nos estudos de AC na área da saúde, pois demonstra estratégias que as pessoas utilizam na entrega de boas e más notícias. Quando isso é trazido para o contexto do marketing, tal estratégia pode ser amenizada ou gerenciada quando se precisa dar uma má notícia ao cliente. Este trabalho pode ser utilizado também em Gestão de Pessoas, no estudo dos momentos demissionais, reuniões de trabalho, etc. Caprara e Rodrigues (2004) trabalham dentro dessa linha do desenvolvimento da comunicação entre paciente e médico, o que pode ser transportado para o marketing, em trabalhos a serem replicados, na busca por maior satisfação do consumidor, qualidade dos serviços, fidelização dos clientes, etc. Como lidar com clientes mais bem informados sobre o produto ou serviço é o que Hak e Boer (1996) estudaram no contexto da saúde. Tais trabalhos oferecem inspiração de estudos que podem ser realizados dentro do contexto apropriado ao marketing, até mesmo para verificar sua validação. 3. Considerações Finais Para atingir ao objetivo de realizar um levantamento de artigos que utilizaram a abordagem da AC nos estudos organizacionais, foram escolhidos 23 trabalhos. O objetivo deste trabalho foi de trazer alguns exemplos de trabalhos aplicados na área e sua contribuição aos estudos organizacionais, a título ilustrativo. Não foi objetivo a realização de uma pesquisa bibliométrica com os artigos que utilizaram a AC nos estudos organizacionais, nem dar conta de toda a produção realizada no campo. Sendo assim, observa-se que os periódicos que mais apareceram nesta busca foram Management Communication Quarterly e Journal of Business Communication, ambos contam com cinco artigos cada um. Este resultado pode estar indicando que periódicos voltados aos temas interdisciplinares, como comunicação e gestão se interessam por pesquisas que utilizem esta abordagem. Observa-se ainda, que a maioria dos artigos foi publicada nos últimos quatro anos, podendo ser um indicativo da jovialidade do assunto e da abertura para pesquisas que o utilizem. Assim, uma das principais contribuições que os estudos organizacionais podem se beneficiar, a partir da utilização da abordagem da AC, é certa aproximação da compreensão das ações das pessoas dentro das organizações, uma vez que ações são entendidas como fala (WEICK, 1995), entende-se que a organização é uma coletânea de ações, ou então "organizations are talk, and talk is organizations" (CLIFTON, 2006). A AC pode ser o ferramental metodológico que proporcione uma leitura ativa das ações das pessoas, do conteúdo que não é dito, do poder subjacente, questões estas vistas como problemáticas nas organizações. A transposição da abordagem do “o que é dito” para “como é dito”, revela todo o potencial analítico da AC (PASSUELO e OSTERMANN, 2007). Por isso, abordagens que favoreçam certa clarificação deste nível subjetivo de interação e de todas as 13 suas consequências organizacionais, como a AC, são bem vindas como ferramental analítico nos estudos organizacionais (COOREN, 2006). Além disso, a prática organizacional pode se beneficiar através do melhor entendimento e melhor gerenciamento de diversos tópicos tais como tomada de decisões, comunicação organizacional, fidelização de clientes, reparo de serviços, avaliação de pessoal, seleção, mudanças organizacionais, gestão de conflitos, qualidade em serviços, processos de negociação. Muitas pesquisas precisam ser realizadas para que a AC seja reconhecida nos estudos organizacionais como uma abordagem importante entre as técnicas de investigação qualitativas, mas observa-se que há um movimento neste sentido. Observa-se que a potencialidade do entendimento da AC começa a mostrar sua capacidade de leitura e análise, principalmente quando buscamos em periódicos internacionais, denotando toda a sua jovialidade e seu potencial. Diante deste contexto, torna-se lícito perguntar: A abordagem da AC terá a capacidade de prover novas categorias de investigação aos estudos organizacionais? Referências ARMINEN, I. 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