COLUNA Felipe mojave @Felipemojave CALLS BRILHANTES EM UM POKER DE E ALTO NÍVEL nfrentar adversários de alto nível é sempre complicado. Blefar contra eles, então, nem se fala. Nesta coluna, apresento duas mãos em que encarei adversários duros e blefei em ambas. Felipe mojave é um dos principais jogadores brasileiros da atualidade. Faz parte do time de profissionais do Full Tilt. 74 cardplayer.com.br Exemplo 1 – WPT Londres 2010 Eu tinha 80 mil fichas com blinds de 800-1600 e ante de 200. Meu adversário era Praz Bansi, excelente jogador, muito conhecido no circuito internacional de torneios. Ele abriu raise de 3.600 em middle position. Eu voltei 10.800 do big blind com QQ e ele deu call. O flop veio AK7 de naipes diferentes. Em um pote acima de 20 mil fichas, e com nós dois com cerca de 70 mil restantes, resolvi disparar 14.500. Sei que com essa aposta eu ganho a maioria dos potes logo no flop. Estou representando em meu range AA, KK, AK, AQ e AJ, mas também pares médios, como 99 e TT. Com eles, eu possivelmente tribetaria da mesma maneira, já que Praz é um adversário que joga muitas Pr�� B� n�� cont ra alg uém com eu daria slowplay te en ilm fic Di . os mã de mãos boas, ex trair mais valor do an sc bu l, rfi pe esse ão. mesmo fora de posiç turn foi um dez. minha aposta e o na ll ca Ele deu tomou seu tempo i check. Ele também Pensei bastante e de letou o bordo. No river, um 5 comp . ind eh k-b ec ch u e de m AA ou KK o daria slowplay co nã az Pr , ra tu lei a Pela minh que grande parte ouco daria float , já nessa sit uação. Tamp do o bordo. Só me esentava ter acer ta do meu range repr es, ele ter ia algo na pior das sit uaçõ e, qu ar dit re ac va resta ito difícil e que assim seria mu s, KJ ou s KQ s, AJ , como AQ rdo com AK7T5, o como essas num bo tomar call de uma mã se range que daria Seria justamente es com apenas um par. lidade de melho, pois ter ia potencia rn tu no ind eh k-b chec er. rar a mão para o riv por muito tempo... 34 mil. Ele pensou ei ar sp di Assim, ele possivelmenm KQs. Eu sabia que Acabou dando call co tivesse uma leitura mão e, a menos que a ss ne d fol ria da te ria call. muito específ ica, da a muito bom sabia que o spot er A questão é que ele u mais forças para eck no turn lhe de para blefar e o ch @cardplayerbr 75 COLUNA acreditar nessa leitura (sabendo, óbvio, que eu apostaria tanto pelo valor quanto blefando). Esse é o tipo de jogada pelo valor que eu faria com grande frequência, por isso mesmo blefaria neste caso, representando valor. Belo call. Exemplo 2 – BSOP Balneário Camboriú 2011 Eu tinha 18 mil fichas e os blinds estavam em 100-200. Meu adversário era ninguém menos do que Gabriel Goffi, temível jogador paulista de cash games high-stakes. Dispensa apresentações. Abri raise para 525 com T♦ 7♦ em middle position. O button deu call e Goffi, com base no meu stack efetivo, aumentou para 1.650 do small blind. Dei call em posição e o flop veio 9♦ 5♥ 2♠. Ele pediu mesa, eu também. No turn apareceu o 8♦, me deixando agora com duas pontas e um flush draw. Gabriel pediu mesa mais uma vez e eu disparei 2.500. Ele deu call e o river foi o 4♠. Ele rapidamente pediu mesa. Eu disparei mais 3.500. Depois de pensar bastante, ele deu call e ganhou a mão com 62 de naipes diferentes. Par de dois em um bordo com 9♦ 5♥ 2♠ 8♦ 4♠. Analisando essa mão, fica claro para mim que Goffi não queria envolver mais fichas no pote. Ele queria que o bordo não complicasse muito, encaminhando a mão para o showdown. O fato de ele ter tribetado pré-flop fora de posição e ter dado check nas três streets mostra isso. Obviamente, ele pode ter optado por algum tipo de slowplay. Seria improvável, mas não impossível. Seu range para 3-bet fora de posição, mesmo nas fases iniciais do torneio, é de 100% das cartas. Eu sei disso. Naquela altura eu vinha abrindo muitos raises pré-flop, o que me levava a crer que esse raciocínio era correto. Meu check-behind no flop representa muitas mãos, inclusive algumas com extremo valor e outras que não gostariam de ver um check-raise no flop. No turn, obrigatoriamente eu tinha de apostar, pois poderia fazê-lo largar AK e AQ. Ele poderia ainda demonstrar resistência no turn e dar fold no river se eu apostasse forte. Outro ponto é que minha mão, que não era nada no flop, ganhou equidade com a queda para straight-flush. No caso de eu completá-la, estaria totalmente invisível. 76 cardplayer.com.br COLUNA Já no river, com a certeza de que ele gostaria de levar a mão para o showdown, fiquei bastante confortável para aplicar uma value-bet com 55+. O bordo 95284 era muito bom para isso. Com esse pensamento, ao invés de aplicar uma aposta forte, como fiz contra Praz Bansi, resolvi disparar uma falsa value-bet de 3.500. Goffi não representava pocket pair no range. Certamente ele apostaria no flop ou no turn com uma mão desse tipo. Assim, faria crer que os ases seriam um call heroico razoavelmente loose. Junto com esse raciocínio de range amplo para uma value bet “apertada”, transformando-a em value bet “falsa”, tem também tem a questão de meu range pré-flop ser grande demais para dar call em posição jogando com tantas fichas. 78 CardPlayer.com.br Gosto das minhas jogadas. [...] Isso demonstra confiança em meu jogo e me ajuda na hora de extrair valor em mãos posteriores. É um risco calculado, tanto para mim quanto para eles. O que talvez tenha desagregado valor da minha mão foi o check no flop. Isso, junto com a ideia do meu range amplo pré-flop, talvez tenha levado Goffi a dar call. Colocando tudo na balança, eu não tinha como dar check no river. Claro que as duas situações são um tanto indefinidas para meus oponentes e que ambos deram calls extremamente desconfortáveis. Um jogador menos preparado não raciocinaria tanto e tenderia a dar fold mais facilmente. Outros com bom aproveitamento também desistiriam por falta de confiança na leitura. Somente jogadores de alto nível dariam esse call no river. Ainda assim, menos da metade das vezes. Gosto das minhas jogadas. Sei que meus oponentes querem levar a mão para o showdown, mas mostro resistência, mesmo tendo consciência de que eles podem dar call. Isso demonstra confiança em meu jogo e me ajuda na hora de extrair valor em mãos posteriores. É um risco calculado, tanto para mim quanto para eles. Mas do que eu realmente gosto é o call dos meus oponentes. Mesmo diante de uma situação complicada, eles ainda tiveram capacidade de raciocinar corretamente e acertar na decisão de dar call. Isso sim é poker de alto nível. ♠