Racionalismo René Descartes Índice O que é o racionalismo? René Descartes Racionalismo de Descartes Nada satisfaz Descartes? Descartes e o saber tradicional objetivo de Descartes A importância da dúvida Como avaliar a solidez destas bases? Dúvida hiperbólica Níveis de aplicação da dúvida metódica Descoberta de uma verdade absolutamente indubitável: “penso, logo existo” Prova da existência de Deus como ser perfeito Fundamentação metafísica do saber Em suma O que é o Racionalismo? Teoria que defende que o nosso conhecimento deriva da razão e que a razão é capaz de conhecer verdadeiramente as coisas A razão é a faculdade de raciocinar, compreender, ponderar. Nota: Os filósofos dividem-se quanto à confiança que depositam na razão. Os mais céticos duvidam dos seus produtos; alguns confiam mais nas emoções e sentimentos (empiristas). Outros, como Descartes (racionalistas), confiam mais no poder da razão para descobrir verdades importantes. O que é o Racionalismo? Considera que o único instrumento adequado ao conhecimento verdadeiro é a razão: é ela que fornece as ideias normativas (que seguem aquilo que é regra) e os princípios por meio dos quais conhecemos; Defende a existência de ideias inatas; É baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento a priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão. René Descartes Nasceu em França em 1596. Foi filósofo e matemático; fundador da Filosofia moderna. Dá importância à Gnosiologia (Teoria do Conhecimento) Procurou construir um sistema cientifico de bases/princípios firmes e indubitáveis, que contrariasse o ceticismmo reinante na sua época Para isso, inspirou-se no modelo do saber matemático, entendendo que a ciência deveria ter um fundamento metafísico, a partir do qual os restantes conhecimentos seriam deduzidos com rigor e ordem. Faleceu na Suécia, em 1650. Racionalismo de Descartes Descartes diz que adquiriu muitas falsas conceções, as crenças que constituíam o conhecimento dominante na sua época que lhe foram transmitidas e as opiniões que formou com base nos sentidos. A sua intenção é começar tudo de novo desde os fundamentos , ou seja, Descartes pretende submeter o saber da sua época a um exame radical, não aceitando como verdadeiro nada que não reconheça como sendo verdadeiro Nada satisfaz Descartes? Apesar de parecer um filósofo completamente desiludido, Descartes manifesta um grande entusiasmo pelo conhecimento matemático. Esse conhecimento é puramente racional, claro e distinto, de tipo dedutivo, em que raciocínios se encadeiam de forma rigorosa; por isso, Descartes pretende aplicar esse modelo de raciocínio à atividade filosófica. Descartes e o Saber Tradicional Atitude de Descartes perante o saber do seu tempo (saber tradicional) caracteriza-se segundo dois parâmetros: O conjunto dos conhecimentos que constituem o sistema do saber tradicional esta assente em bases frágeis. Esse conjunto é constituído por conhecimentos que não estão devidamente ordenados. objetivo de Descartes O objetivo fundamental do pensamento de Descartes é uma profunda reforma do conhecimento humano. Apesar de haver conhecimentos verdadeiros, estes assentam em alicerces frágeis porque as bases do edifício do saber são conhecimentos duvidosos ou falsos. Assim, a fundamentação do saber e a sua ordenação são as duas exigências essenciais da crítica cartesiana a respeito do saber tradicional. A importância da dúvida Tal como já referimos, a intenção de Descartes é começar tudo de novo, a partir de um princípio. Esse princípio tem de ser um conhecimento que resista a todas as nossas tentativas de o pôr em causa. Se formos capazes de o encontrar, teremos a base que será o fundamento do sistema do saber que pretendemos firme, seguro e bem organizado, ou seja, será o conhecimento a partir do qual iremos encontrar outros conhecimentos que dele dependerão. A importância da dúvida Esse princípio deve possuir as seguintes características: Ser de tal modo evidente que o pensamento não possa dele duvidar; o conhecimento do resto depende dele, de modo a que nada possa ser conhecido sem ele, mas não reciprocamente. A importância da dúvida Descartes sabe que, no conjunto dos conhecimentos, há conhecimentos falsos e verdadeiros. Para separar o verdadeiro do falso, é melhor derrubar o edifício do saber e, aproveitando os conhecimentos verdadeiros (dos quais não podemos duvidar), construir desde a raiz um novo sistema de conhecimentos. 1 A importância da dúvida Examinar os conhecimentos um a um seria uma tarefa quase interminável e esgotante. Desse modo, é mais eficaz avaliar a solidez das bases em que assentam esses conhecimentos, que são: A crença de que a experiência é a fonte dos nossos conhecimentos; A crença de que existe um mundo físico, objeto do conhecimento; A crença de que a nossa razão não se engana ou que não se pode estar enganado quando se descobre conhecimentos verdadeiros 2 Como avaliar a solidez destas bases? Vamos tentar encontrar razões para duvidar da sua verdade, utilizando este critério duplo: Considerar como absolutamente falso o que for minimamente duvidoso; Considerar como sempre nos enganando aquilo que alguma vez nos enganar. 3 Duvida hiperbólica Um conhecimento não pode ser considerado verdadeiro sem que antes seja submetido à prova rigorosa da dúvida. Esse exame é tão rigoroso que a dúvida assume um aspeto excessivo, hiperbólico. Por mais frágil que seja a razão que encontramos para duvidar de um conhecimento, isso basta para o rejeitar. 4 Níveis de aplicação da dúvida metódica Para dirigir bem o seu espírito na procura da verdade, Descartes inventou um método constituído por quatro regras simples, das quais se destaca a primeira. A primeira regra diz-nos para não aceitarmos como verdadeiro o que não for absolutamente indubitável: só é verdadeiro o que resiste a toda e qualquer dúvida. Níveis de aplicação da dúvida Os sentidos não são fontes seguras de conhecimento; Há razão para acreditar que o mundo físico é uma ilusão Há razão para acreditar que o nosso entendimento confunde o verdadeiro com o falso. 5 Surgimento de uma verdade indubitável A dúvida, pondo em causa todos os objetos, permitiu o alcance de uma verdade absolutamente indubitável. Assim, para duvidar, é necessário que haja um sujeito que duvide, ou seja, a dúvida é um ato do pensamento que só é possível se houver um sujeito que a realize. Deste modo, a célebre afirmação “Penso, logo existo” é a verdade indubitável da qual partirá todo o conhecimento. Características desta verdade: É tão evidente que o pensamento não pode dela duvidar. Dela dependerá o conhecimento do resto, nada poderá ser conhecido sem ela; Trata-se de uma verdade puramente racional, uma vez que foi descoberta sem qualquer uso da experiência; É uma verdade descoberta a partir da intuição: o sujeito que duvida não resulta de um silogismo, porque para isso teria de ser deduzido de um silogismo mais anterior “Tudo o que pensa existe”. Isso não se verifica, pois a única certeza de que o sujeito dispõe é da sua existência. Características desta verdade: O “cogito” vai funcionar como modelo da verdade: serão verdadeiros todos os conhecimentos que forem tão claros e distintos como este primeiro conhecimento; A essência do sujeito que duvida é uma substância meramente pensante, à qual Descartes dá o nome de alma; A alma é distinta do corpo, não precisando deste para existir; O “Cogito” corresponde ao “grau zero” do conhecimento no que respeita aos objetos físicos e inteligíveis É a afirmação da existência de um ser que é imperfeito. A descoberta da existência de Deus Sei que sou imperfeito porque duvido. Mas como posso eu afirmar que duvidar é uma imperfeição? Posso afirmar pois sei em que consiste a perfeição e por comparação desta com as qualidades que possuo , posso concluir que duvido e não conheço tudo, sou imperfeito. Temos portanto a ideia de um ser perfeito, Deus (ideia inata). Como só o que é perfeito pode ser a causa da ideia de perfeito, podemos concluir, á semelhança de Descartes, que Deus existe . Um Deus não enganador No Terceiro nível da duvida, Descartes apresentou a suspeita sobre a possibilidade de um Deus enganador. Mas neste momento, provada a existência de Deus como sendo perfeito, concluímos que esta suspeita não faz sentido. Deus é omnipotente e perfeito, enganar e sinónimo de fraqueza porque só a fraqueza e a imperfeição nos pode levar usar da arma da mentira. Concluímos que Deus não é enganador Deus como fonte do saber e garantia da validade das evidencias O papel da veracidade Divina é duplo: É a garantia das evidencias atuais, isto é, das que estão atualmente na minha consciência. È a garantia das minhas evidencias passadas, isto é não atualmente presentes na minha consciência. Recuperação da existência das realidades físicas A convicção da existência do mundo não e um conhecimento, mas uma espécie de crença, um sentimento. Mas bastante presente e intenso, no qual podemos confiar. Há uma ligação entre corpo e alma muito próxima, e portanto temos noção da existência do nosso corpo e isto serve de evidencia á existência da realidade. Sei que existo fisicamente e experimento interações com outros corpos, mesmo não sendo o autor ou a causa destes outros corpos, mas eles causam sensações em mim, e se Deus não engana tenho de concluir que as coisas corpóreas existem. Na veracidade divina o mundo não é um sonho. Em suma: A dúvida propõe-se separar o verdadeiro do falso, o que pressupõe a crença na existência de verdades. Descartes acredita que não há conhecimento se as nossas crenças não forem justificadas, mas não que elas não possam ser justificadas; Descartes rejeita a ideia de que o conhecimento comece com a experiência, porque os sentido nos enganam; Em suma: A razão, apoiada na veracidade divina, pode conhecer a essência das coisas, constituindo conhecimentos cuja objetividade escapa à dúvida; Podemos conhecer a realidade em si mesma mediantes a razão, sem qualquer apoio na experiência. É possível um conhecimento puramente racional – com a crença na veracidade divina – dos princípios gerais que nos permitem compreender toda a realidade