A Informação e Educação Popular
em Saúde e a propaganda de
medicamentos – alguns pontos
para o debate
Helena Maria Scherlowski Leal David
Coordenação da Rede de Educação Popular e Saúde
GT Educação e Saúde ABRASCO
O QUE É EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE?
“ Educação popular...acho que isso é coisa só para PSF....”
(Profissional de saúde da rede básica )
“ Eu acho esse negócio de educação popular muito perigoso...outro dia
uma mulher passou pomada de ervas numa queimadura, e chegou toda
ruim no hospital....”
(Profissional de saúde da rede hospitalar, numa discussão do PEP da
Região Metropolitana I do Rio)
“ Isso que você está falando...é muito distante da minha prática”
(Profissional da rede hospitalar de alta complexidade – cardiologia)
O CAMPO DA EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL:
BREVE HISTÓRICO
Movimentos sociais populares e sua relação com o saber “oficial” –
movimentos populares (Contestado, Canudos, CEBs)
Ganha espaço e visibilidade a partir da experiência de educação de adultos
(Paulo Freire, Juan Bordenave) e teóricos (Carlos Brandão, Miguel Arroyo,
Victor Valla)
Cresce como “campo de idéias e fazeres” na consolidação do SUS
Aponta caminhos e concepções “libertárias” para a Educação em Saúde
O “popular” representa o mundo das práticas que pretende dialogar com a
diversidade cultural e seus significados para a saúde
A EPS é recontextualizada na perspectiva da Reforma Sanitária Brasileira e
da Promoção da Saúde, pela necessidade de garantia de direitos
constitucionais, e pela necessidade de tornar a população sujeito do
processo de enfrentamento das condições de saúde e vida.
QUAL CONCEPÇÃO DE
EDUCAÇÃO ABRAÇAMOS?
Educação como processo dialógico
Ninguém ensina ninguém – os homens se educam entre si, mediados
pelo mundo (Freire);
Supõe um saber anterior do educando – um saber da VIDA
Respeito aos modos de viver e construir o conhecimento
Há uma vocação dos seres humanos por serem mais, e não por serem
menos. Uma necessidade fundamental de humanizar-se – de quebrar o
ciclo de desumanização imposto historicamente pela desigualdade e a
opressão;
Ninguém liberta ninguém (espiritual, humana e socialmente) - os sujeitos
se libertam juntos, em diálogo e parceria.
CAMINHOS PELOS QUAIS NOS
MOVEMOS......
Fundamentais para a EP são a escuta, o diálogo, a
contextualização histórica , a participação individual e coletiva,
a busca pela justiça e a equidade, e a idéia da necessidade de
uma evolução individual e coletiva...
Ao longo de 50 anos a EPS converteu-se em "refúgio" das mais
variadas iniciativas de experiências comunitárias que - em ato,
na vida - perceberam que as posições duras da ciência e dos
partidos políticos de esquerda eram "irreais.
Foram "trazidas" "recuperadas": emoções, culturas populares,
artes, criações e criatividades, formas de relação interpessoal e
em rede, etc.
METODOLOGIAS
Pedagogia da problematização
Originalmente pensada para o campo da agronomia (Paraguai –
Juan Bordenave)
Parte-se da realidade, observando-a, conhecendo-a e
problematizando-a. A teorização é o passo seguinte, e não se
desvincula das condições concretas.
Formulam-se propostas de intervenção. problemas.
Volta-se à realidade para implementar as intervenções
propostas. O processo é reavaliado, à luz dos resultados e de
novas teorizações, modificando-o, aperfeiçoando-o.
OPÇÕES PEDAGÓGICAS.....
OPÇÕES PEDAGÓGICAS.....
Método do Arco (Charles Maguerez)
CAMINHOS QUE PRECISAM MUDAR
As práticas de saúde - permeadas pelas práticas
educativas - não incorporam os pressupostos teóricos e
metodológicos da EP&S;
Não apresentam mudanças significativas no que se
refere ao papel de cada profissional das equipes, à
integração dos processos de trabalho;
Mantém-se uma visão ingênua da educação, como
potencialmente redentora, e reafirmando a dificuldade de
relação entre profissionais e população, representada
pela metáfora do “fosso cultural”.
De quem é a “crise de compreensão”?
INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO, AÇÃO
A concepção de informação em saúde pressupõe um
processo comunicacional;
A história da estruturação dos sistemas de informação
em saúde contempla pouco este aspecto; projetos que
levam em conta os modos de viver e os processos de
produção de saúde e doença são recentes (ex:
almanaque – Projeto do IBICT/CNPq);
INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO, AÇÃO
A PRODUÇÃO DA SAÚDE E A DIALÉTICA DA
SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES
• Concepção de saúde como um bem público, que se
produz socialmente;
• Necessidades em saúde entendidas não somente
enquanto processos patológicos ou agravos à saúde;
• A demanda que chega aos serviços expressa apenas
parte das necessidades;
• Reconhecimento de que a oferta de ações de saúde
apresenta uma interseção limitada com a demanda, e
menor ainda com a oferta;
• Reconhecimento de que espaços dialógicos estimulam a
construção de uma consciência sanitária ampliada e
cidadã.
PROMOÇÃO DA SAÚDE – DESLOCANDO O
EIXO DAS AÇÕES
• Custos crescentes de um modelo baseado na doença e na
hospitalização (saco-sem-fundo);
• Políticas de investimento em ações capazes de interferir
nos determinantes e condicionantes dos problemas de
saúde (Promoção da Saúde);
• Investimento em tecnologias organizacionais e de
planejamento racional das ações, com ênfase no baixo
custo e alta resolutividade – papel da educação em saúde
como “transversalidade”, em todos os níveis do sistema
de saúde;
• Transformar o sistema de saúde “curativo” em sistema
“cuidador”.
ALGUMAS QUESTÕES RELACIONADAS À
PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS
onde está o problema?
• Alto consumo x não adesão ao tratamento medicamentoso;
• Entendimento da “vontade” do usuário em relação ao
medicamento: desde a idéia de que ele é livre para escolher,
até a visão da não-adesão como algo irracional e calcado no
“não conhecimento”, “falta de informação”;
• A questão da prescrição inadequada ou desnecessária;
• A questão da automedicação (incluindo o uso de práticas
populares) e dos riscos a ela relacionados.
• Diferenças culturais entre grupos e lugares
ALGUMAS QUESTÕES RELACIONADAS À
PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS
perguntas que não querem calar
• Qual o papel da propaganda neste contexto?
• Propaganda de quais medicamentos?
• Propaganda para quem? ( grupos populacionais)
• Propaganda para que?
ALGUMAS QUESTÕES RELACIONADAS À
PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS
mais perguntas
• Que tipo de propaganda queremos?
• Qual o papel da população? É possível pensar em
uma “regulação popular”?
• O que é a propaganda de medicamentos num
contexto mundial de crescente desospitalização e
investimento em promoção da saúde?
QUAL O PAPEL DA EDUCAÇÃO E DA
INFORMAÇÃO
• Educação para quem?
• Com que objetivo?
• Qual concepção de educação será adotada?
• Que metodologias serão escolhidas?
TUDO O QUE A EP&S NÃO É
• Não há fórmulas ou receitas prontas;
• Não há como “homogeneizar” informações e
saberes, sem deixarmos alguém de fora....
• Não há como considerar o usuário apenas como
“objeto” do processo educativo, e sim como
sujeito.
Algumas experiências interessantes....
• Ouvidoria coletiva – (Prof Valla) – ENSP/FIOCRUZ
– Depto de Endemias
• Projeto de Extensão – Aprendendo e Ensinando
com o Alto Simão – FENF/UERJ
• Casa da Farinha – ANEPS-CE - Fortaleza, Ceará
• ANEPS nos Estados, junto com o MS;
E o caminho?
"CAMINHANTE, NÃO HÁ CAMINHO,
O CAMINHO É FEITO AO ANDAR.
AO ANDAR SE FAZ O CAMINHO
E AO OLHAR PARA TRÁS,
SE VÊ A SENDA QUE NUNCA
SE VAI VOLTAR A TRILHAR.
CAMINHANTE NÃO HÁ CAMINHO,
SOMENTE ESTRELAS NO MAR"
Antonio Machado
www.redepopsaude.com.br
Helena David
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Helena Maria Scherlowski Leal David – Brasil/Associação