DISPLASIA CEMENTO-ÓSSEA FLORIDA: RELATO DE CASO
FLORID CEMENTO-OSSEOUS DYSPLASIA: A CASE REPORT
Ellen Cristina GAETTI-JARDIM1
Joel Ferreira SANTIAGO JÚNIOR2
Fernando Pozzi Semeghini GUASTALDI 3
Osvaldo MAGRO FILHO4
Idelmo Rangel GARCIA JÚNIOR4
Elerson GAETTI JARDIM JÚNIOR5
RESUMO: A displasia cemento-ósseo florida é uma lesão assintomática fibro-óssea
presente na maxila e mandíbula de etiologia incerta. Possui maior expressão no
gênero feminino, pacientes melanoderma e, de meia idade ao idoso. Esta displasia é
uma condição assintomática que pode ser descoberta quando uma radiografia é
realizada. A biópsia é contra-indicada para evitar infecção de difícil tratamento. Será
descrito o caso clínico de uma mulher branca de 52 anos de idade, que procurou a
Clínica de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxillofacial da Faculdade de Odontologia
de Araçatuba com dor na porção posterior esquerda da mandíbula. Após exame
radiográfico foi diagnosticada a displasia cemento-óssea florida. Como tratamento,
foi instituído o acompanhamento clínico e radiográfico.
UNITERMOS: Cavidade Bucal, mandíbula, neoplasias maxilares.
INTRODUÇÃO
As lesões fibro-ósseas atraem crescente
interesse científico, com os objetivos de distinguir
definitivamente estas e de pôr fim às discussões
diagnósticas decorrentes da superposição de suas
características10.
Melrose et al.7 descrevem a “displasia óssea
florida”, como sendo uma condição não rara 4
predominante em pacientes do sexo feminino, da
raça negra e, um processo fibro-cemental,
localizado em mais de um quadrante dos ossos
dos maxilares apresentando as mesmas
características do cementoma gigantiforme, que
já havia sido descrito anteriormente, como sendo
uma patologia que se caracteriza por uma massa
radiopaca difusa na mandíbula, que promove uma
expansão das corticais ósseas e apresenta uma
relação familiar 3.
A displasia óssea florida ou displasia
cemento-óssea florida (DCOF) caracteriza-se por
uma lesão benigna, não neoplásica, assintomática,
restringindo-se ao processo alveolar ou a áreas
contíguas aos elementos dentários. Na maioria das
vezes é um achado radiográfico, porém há relatos
de casos em que houve a expansão das corticais
ósseas, principalmente em áreas edêntulas3,8.
O paciente pode queixar-se de dor moderada
e haver presença de fístula na mucosa. Pode ainda
ocorrer exposição, através da mucosa, de um
material semelhante a osso, com coloração
amarelada4,8, osso envolvido pela lesão é suscetível
à infecção, como osteomelite, proveniente de uma
lesão periapical ou periodontal6.
Radiograficamente descreve-se como uma
área radiolúcida bem definida, contendo áreas
radiopacas irregulares em seu interior, que podem
ser únicas ou múltiplas4,8.
Histologicamente encontram-se lacunas
contendo tecido conjuntivo, massas de tecido
calcificado lembrando um cemento secundário, já
que existe deposição de cemento, tecido ósseo
ou ambos com poucos vasos sanguíneos4,10.
O tratamento de escolha deve sintomático,
eliminando os processos displásicos que causam
irritação e/ou inflamação, sobretudo em pacientes
portadores de próteses totais, quando o simples
desgaste destas não mostrar resultados
satisfatórios.
1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Odontologia, na área de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da
Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP.
2
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Odontologia, na área de Implantodontia da Faculdade de Odontologia de
Araçatuba-UNESP.
3
Doutorando do Programa de Pós Graduação em Odontologia, na área de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da
Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP.
4
Professor Adj. do Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada da Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP.
5
Professor Adj. do Departamento de Patologia e Propedêutica Clínica da Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP.
Revista Odontológica de Araçatuba, v.31, n.2, p. 31-34, Julho/Dezembro, 2010
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Sendo assim, o objetivo do presente trabalho
é relatar um caso clínico de uma paciente que
apresentou displasia cemento óssea florida.
RELATO DE CASO
Paciente do gênero feminino, 52 anos de idade,
cor branca, relatando dor na região do rebordo
mandibular do esquerdo, principalmente durante a
mastigação. Clinicamente, não se constatou
assimetria facial. A paciente apresentava-se edêntula,
com expansão das bordas alveolares, mais acentuada
no lado esquerdo, na área de molares superiores.
(Figura 1).
FIGURA 3- Aspecto radiográfico: lado esquerdo da mandíbula
observam-se áreas com características de seqüestros.
Realizou-se biópsia no lado esquerdo da
mandíbula (região de 36) para remoção foco
esclerótico. O exame histopatológico demonstrou
tecido altamente calcificado, avascular e semelhante
ao cemento dentário (Figuras 4 a 6), além de quadro
compatível com processo inflamatório.
FIGURA 1 - Aspecto clínico intra-bucal: expansão
das bordas alveolares edêntulas, mais acentuada na região
de molares superiores à esquerda
Na radiografia panorâmica foram observadas
múltiplas massas escleróticas envoltas por halo
radiolúcido, dispersas pela mandíbula. Todo o
processo alveolar da mandíbula apresentava
radiopacidade irregular com características de
seqüestros (Figuras 2 e 3).
FIGURA 2 - Aspecto radiográfico: áreas radiopacas em todo o
processo alveolar.
FIGURA 4- Aspecto histológico: lado esquerdo da mandíbula
observam-se áreas com características de seqüestros.
(Hematoxilina e Eosina – aumento de 10X)
FIGURA 5- Aspecto histológico: lado esquerdo da mandíbula
observam-se áreas com características de seqüestros.
(Hematoxilina e Eosina – aumento de 20X)
Revista Odontológica de Araçatuba, v.31, n.2, p. 31-34, Julho/Dezembro, 2010
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FIGURA 6- Aspecto histológico: lado esquerdo da mandíbula
observam-se áreas com características de seqüestros.
(Hematoxilina e Eosina – aumento de 40X)
DISCUSSÃO
A DCOF é uma condição benigna, não
neoplásica, caracterizada por formação de múltiplas
áreas lobulares de osso ou cemento relativamente
acelular, entremeados por tecido fibroso, acometendo
os maxilares bilateralmente7. De acordo com Melrose
et al.7 existe uma maior incidência de DCOF em
mulheres negras e acima de 40 anos.
Segundo Melrose et al.7; Neville et al.9 e Souza
Junior et al.11 relataram que nos casos de lesões
assintomáticas os achados radiográficos são casuais,
concordando assim com este estudo, já que a
paciente tinha como motivo da realização da tomada
radiográfica e, estava com dor na porção posterior da
mandíbula esquerda.
O termo displasia cemento-óssea florida foi
proposto na segunda edição do “World Health
Organization´s”1,5. Por ser uma lesão assintomática e
benigna, nenhum tratamento é indicado ou necessário.
Porém, devem ser realizadas radiografias de controle
por muitos anos, para se assegurar que não haja
mudança na benignidade da lesão1,9.
No caso clínico apresentado a paciente relatou
dor moderada, intermitente, somente no lado esquerdo
da mandíbula, esses aspectos são compatíveis com
osteomielite crônica e estão de acordo com relatos
anteriores11,12, o que mostra ainda mais a importância
do diagnóstico associado aos exames
complementares
sempre
associados
as
características sintomatológicas.
De acordo com Ariji et al.2 e Neville et al.8,
somente com a radiografia panorâmica pode-se fazer
o diagnóstico sugestivo de DCOF, porém em casos
onde ocorre infecção secundária ou degeneração
cística, a tomografia computadorizada é de grande
utilidade para se dimensionar a lesão no sentido
vestíbulo lingual11.
É importante observar que o diagnóstico da
DCOF é baseado principalmente nos achados clínicos
e radiográficos, não havendo necessidade em grande
parte dos casos, de biópsias para a sua confirmação.
Na medida do possível deve-se evitá-la, pois
procedimentos invasivos nas áreas envolvidas tais
como exodontias e biópsia óssea têm sido
associadas com a ocorrência de osteomielites.
Algumas lesões fazem diagnóstico diferencial com a
DCOF, como doença de Paget, osteomielite
esclerosante difusa e cementoma gigantiforme familial
(CGF), as quais foram excluídas.
A osteomielite é a principal complicação da
DOF. As massas mineralizadas são altamente
densas, avasculares e apresentam pouca capacidade
de remodelação sob próteses, predispondo a
ulceração da mucosa, exposição óssea e formação
de seqüestros4.
O acompanhamento clínico-radiográfico é
indispensável, sendo o prognóstico bom. O exame
clínico-anamnésico realizado com destreza,
associado aos imagenológicos são prescindíveis de
biópsia para o diagnóstico correto dessa entidade,
melhorando assim seu prognóstico, já que exodontias
podem ser causa de infecção secundária e
complicações. O tratamento consiste em
acompanhamento clínico e radiográfico para os
pacientes assintomáticos e antibioticoterapia aliada
à curetagem para os pacientes sintomáticos
acometidos por osteomielite crônica11.
CONCLUSÃO
Enfatiza-se com este caso clínico apresentado
a importância dos exames por imagem no auxílio
diagnóstico das lesões fibro-ósseas que acometem
principalmente o complexo bucomaxilofacial e, que
neste caso foi de fundamental importância para o
diagnóstico.
ABSTRACT
The florid cemento-osseous dysplasia is an
asymptomatic lesion present in the fibro-osseous
maxilla and mandible of uncertain etiology. It has higher
expression in females, and patients melanoderm,
middle-aged to elderly. This dysplasia is an
asymptomatic condition that can be discovered when
a radiograph is performed. A biopsy is contraindicated
to avoid infection difficult to treat. We report the case
of a white woman 52 years old, who searched the Clinic
of Surgery and Traumatology Bucco-maxillofacial
surgery, Faculty of Dentistry of Araçatuba with pain in
the posterior portion of left mandible. After radiographic
examination was diagnosed with florid cementoosseous dysplasia. Treatment was instituted clinical
and radiographic.
UNITERMS: Oral Cavit, mandible, maxillary
neoplasms.
Revista Odontológica de Araçatuba, v.31, n.2, p. 31-34, Julho/Dezembro, 2010
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Endereço para correspondência
Idelmo Rangel Garcia Júnior
Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada
Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP
[email protected]
Revista Odontológica de Araçatuba, v.31, n.2, p. 31-34, Julho/Dezembro, 2010
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