Interação entre Universidade e Empresa
no desenvolvimento de inovações
tecnológicas em países emergentes
Roberto Nicolsky
Assessor de Relações Institucionais da UEZO
(Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste, Rio de Janeiro-RJ)
Apresentação
Fórum Nacional de Reitores da ABRUEM
28 de maio de 2015, Othon Palace Hotel, Rio de Janeiro, RJ
Modos de interação entre
Universidade e empresa
1. Novos Produtos ou Processos: desenvolvimento por
iniciativa do pesquisador de produtos ou processos
inexistentes no mercado e não encomendados
2. Serviços Tecnológicos: elaboração de testes,
medições, análises, experimentos, busca patentária e
bibliográfica, e outros, sempre em parceria ou por
encomenda de empresas
3. Profissionais Graduados: formação de profissionais
atualizados e críticos, estágios criativos
4. Pesquisadores Pós-graduados: especialistas em
uma área de investigação de fronteira, sob demanda
E afinal, o que é inovar?
• Mini Aurélio:
• Inovar v.t.d. 1. Renovar. 2. Introduzir novidade
em. (Então trata-se de produto melhorado)
• Descobrir v.t.d. 4. Inventar, ou atestar, pela
primeira vez, a existência ou a ocorrência de:
descobrir uma vacina. 5. Achar, encontrar. (Tratase de novos produtos)
• Inédito adj. 1. Não publicado ou não impresso. 2.
Fig. Nunca visto; incomum. (Idem)
• Do latim: in novatio
• Portanto, inovação é produto melhorado
Descoberta x Inovação
• Descoberta científica ou
tecnológica (DCT):
ato acadêmico realizado no
ambiente universitário para
formar recursos humanos
qualificados e gerar novos
conhecimentos publicáveis
• Pesquisa científica ou
tecnológica: a procura de
novos conhecimentos ou o
estudo de suas aplicações,
motivado pela curiosidade
do próprio pesquisador
• Maturação: de 20 a 50 anos
• <1% das patentes dos EUA,
raramente de país emergente
• Inovação tecnológica para
competitividade e sustentabilidade: ação econômica
executada na produção para
elevar a competitividade e o
lucro, agregar valor, e é
protegida por patentes
• Pesquisa inovativa: a
busca continuada e diária de
inovações, utilizando-se
conhecimentos existentes,
para atender à demanda de
usuários/consumidores
• Maturação: em geral, rápida
• 99% das patentes dos EUA,
perto de 100% de Br, Kr, Tw
Linsu Kim, principal ideólogo do
desenvolvimento tecnológico da Coréia
(autor de “Da Imitação à Inovação”, Editora Unicamp, 2005)
• “Em países desenvolvidos, “aprender pesquisando”
(learning by research) por empresas, universidades e
institutos tem um papel dominante na expansão da
fronteira tecnológica.”
• “Em países em desenvolvimento, ao contrário,
“aprender fazendo” (learning by doing) e engenharia
reversa por empresas, com limitada assistência de
universidades e institutos, é o padrão dominante de
acumulação de competência tecnológica.”
(In “Industry and Innovation”, volume 4, No 2, página 168, 1997)
INVENÇÃO INCREMENTAL: + rápido, - custo, - risco
Melhor ser “fast follower” do que “first-to-market”
Coreia: Programas de P&D na indústria
Em 1970 havia 53 (chaebol ) e no Brasil algo semelhante; hoje temos
cerca de 1.100 empresas com Centros de P&D (Pintec, Lei do Bem)
Ano
Centros de
P&D
corporativos
Número de
Centros de
P&D em PME
Número total
de
pesquisadores
Número total de
pesquisadores
em PME
2005
11,810
10,894
163,646
90,601
2006
13,324
12,398
179,709
100,595
2007
14,975
14,014
193,340
111,348
2008
16,719
15,696
209,137
122,944
2009
18,772
17,703
219,975
131,031
2010
21,785
20,659
235,596
141,080
2011
24,291
22,876
257,510
147,406
2012
25,860
24,243
271,063
146,833
2013
28,771
27,154
287,989
155,580
2014
32,167
30,746
302,486
172,364
2015.04
33,688
32,314
309,406
179,050
Fonte: KOITA
CORÉIA e TAIWAN comparados ao BRASIL:
Patentes nos EUA (USPTO), 1980-2014
Coréia do Sul, Taiwan e Brasil
18,000
16,000
14,000
Taiwan
Patentes Aprovadas
12,000
Coréia do Sul
10,000
8,000
6,000
4,000
2,000
0
China e Índia: patentes com dados
do USPTO 1990-2014
9,000
8,000
7,000
China e Hong Kong
6,000
Índia
5,000
4,000
3,000
2,000
1,000
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Gráfico de Patentes de Altshuller
(elaborado sobre 40.000 patentes e divulgado em 1969 , modelo TRIZ)
9%
1%
Descobertas raras (usa o
conhecimento científico)
NATUREZA DA
INOVAÇÃO
15%
25%
50%
Novas invenções (usa o conhecimento
sobre uma dada tecnologia)
Melhorias fundamentais no sistema existente
(usa o conhecimento de dentro e de fora da
empresa)
Pequenas melhorias em sistemas existentes
(usa o conhecimento de dentro da empresa)
Problemas rotineiros de projeto (resolvidos
com o conhecimento da especialidade)
CONHECIMENTO
Desempenho do Brasil no ranking
de patentes outorgadas pelo USPTO
1977: Brasil, 21, foi ultrapassado por Taiwan
1983: 19, pela Coréia do Sul
1986: 27, pela China
1998: 74, pela Índia
2007: 90, pela Malásia e éramos a 28a
2014: Coréia é a 4a com 16 mil; Taiwan a 5a
com 11 mil; China a 6a com 8 mil; Índia a 10a
com 3 mil; Brasil é 25a com 334, ultrapassando
a Malásia.
Brasil - Patentes Outorgadas pelo USPTO:
1980 – 2014
400
350
Patentes Outorgadas
300
250
200
150
100
50
0
Reposta impactante das empresas
brasileiras a incentivos ao P&D
• O avanço das patentes brasileiras no USPTO, a partir de
2009, mostra uma rápida e efetiva resposta do setor
produtivo à única fonte expressiva e persistente de
fomento - a Lei do Bem - iniciado em 2007, relativamente
aos investimentos em P&D do ano de 2006
• Foi o maior salto no USPTO em um intervalo de 5 anos
entre todos os países: +224%, mais que 3x mais
• A resposta é muito intensa mas pequena porque o
incentivo jamais passou de R$ 1,35 bi, ou seja, menos do
que 0,03% do PIB, cerca de 1/20 do mínimo de recursos
públicos investidos em P&D nos países em emergentes
ou em desenvolvimento bem sucedidos
• Com menos de 0,03% do PIB obtivemos um crescimento
de 224% nas patentes no USPTO, difíceis e onerosas,
essencialmente por empresas grandes (lucro real)
• Acabou-se o mito da “inapetência à inovação”
Panorama efetivo do fomento ao
desenvolvimento tecnológico
• Subvenção: Lei da Inovação (10.973/2004)
- 5 editais 2006-2010 limitados a cerca de 15% do FNDCT
- os editais são pontuais com escolha da Finep
- EDITAIS PARALISADOS DESDE 2010
• Encomenda Tecnológica: na Saúde, PPPs
- praticada em 2009-2013 através de PDPs da Sctie/MS
Compras Governamentais: lei 12.349/2010 com margem
de preferência até 25%, ainda sem uso
• Incentivos Fiscais: Lei do Bem (11.196/2005)
- apenas regime fiscal de lucro real (6%), 800 empresas/ano
com benefício médio de apenas 17% sobre o investimento
em P&D: R$ 1,35 bi/ano, menos de 0,03% do PIB, 1/20
do necessário (5%, escala de amostra)
LEI DO BEM É O ÚNICO COMPARTILHAMENTO DE RISCO
Quem é o maior beneficiário
das descobertas e inovações?
• Quando surge um novo produto a partir de uma descoberta, quem é o
maior beneficiário?
– A empresa pioneira que lançou o produto?
– As empresas que desenvolveram inovações depois de lançado?
– A sociedade e o seu representante, o Estado?
• Como é a alocação dos recursos provenientes da agregação de valor ao
faturamento em uma empresa que lança um produto novo ou inovado?
–
–
–
–
–
–
Fornecedores de insumos para fabricação?
Remuneração de ativos?
Salários pagos aos empregados?
Previdência social?
Tributação federal, estadual e municipal?
Lucro (a parcela do empresário + investidores)?
• A partir da identificação do maior beneficiário, quem deve assumir a
maior parte do risco tecnológico para o desenvolvimento da descoberta
e/ou das inovações agregadas ao produto original?
– Artigo 8º do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt, rodada do Uruguai, 1994) que
criou a OMC: non-actionable subsidies, até 75% de todo o investimento em P&D
PART IV: NON-ACTIONABLE SUBSIDIES
Article 8
Identification of Non-Actionable Subsidies
•
•
•
•
•
•
•
(a) assistance for research activities conducted by firms or by higher
education or research establishments on a contract basis with firms if:
the assistance covers not more than 75 per cent of the costs of industrial
research or 50 per cent of the costs of pre-competitive development activity,
and provided that such assistance is limited exclusively to:
(i) costs of personnel (researchers, technicians and other supporting staff
employed exclusively in the research activity);
(ii) costs of instruments, equipment, land and buildings used exclusively and
permanently (except when disposed of on a commercial basis) for the
research activity;
(iii) costs of consultancy and equivalent services used exclusively for the
research activity, including bought-in research, technical knowledge, patents,
etc.;
(iv) additional overhead costs incurred directly as a result of the research
activity;
(v) other running costs (such as those of materials, supplies and the like),
incurred directly as a result of the research activity.
Balanço
• O modo 1. não se sustenta porque inovação não é uma
descoberta, mas a melhoria de produto ou processo; não há
registros sistemáticos de novos produtos em países em
desenvolvimento, porque a indústria está longe da fronteira
• O modo 2. é promissor, mas depende de atividade de P&D
nas empresas, exigindo que o incentivo não seja apenas
amostral, mas em padrão internacional de PIB, >0,6%
• O modo 3. é o modo autônomo da universidade contribuir
para o desenvolvimento de inovações tecnológicas pois pode
atuar sem incentivos fiscais, embora com baixa eficácia;
estágios criativos melhoram; CCT da UEZO
• O modo 4. é de rara utilização pois depende de que haja
empresa em estágio avançado de competência tecnológica
para que a demanda seja real; incentivos são essenciais
• CONCLUSÃO: só é sistêmico com compartilhamento de risco
É melhor trocar de ideias
do que não ter ideias para trocar
(Barão de Itararé)
Muito obrigado pela atenção!
Roberto Nicolsky
[email protected]
[email protected]
www.protec.org.br
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