Agenda de Crescimento para o Brasil: considerações sobre rota negligenciada Roberto Nicolsky Diretor-Presidente da Protec (Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica) Superintendente do IPD-Farma (Instituto de P&D de Fármacos e Produtos Farmacêuticos) Apresentação Sessão de Abertura 9º ENIFarMed – Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos 18 de agosto de 2015, São Paulo, SP Crescimento do Brasil 1995-2015 (advento do Real) Considerações sobre crescimentos do Brasil e Índia • Brasil “cresceu” 0,1% em 2014; para 2015 espera-se -2,0%; negativo em 2016; início da recuperação em 2017 • Entretanto a Índia, um país com maiores desigualdades, deficiências estruturais, miséria, analfabetismo do que nós, e 1,2 bilhão de habitantes, cresceu 7,2% em 2014, mais até do que a China. E já se espera 7,5% para 2015 e anos posteriores. • Com a recessão e a depreciação cambial, Brasil em 2015 é a 10ª economia (US$ 1,7 trilhão) enquanto a Índia passa a ocupar o 7º posto (US$ 2,2 trilhões), invertendo as posições. Vinte anos de Real – 1 • Em 05.01.1995, em artigo na Folha de S. Paulo (pag. B2) alertávamos para a necessidade de uma política de fomento à inovação tecnológica na indústria. • Nenhum órgão público ou agência criou qualquer estímulo às empresas, compartilhando os investimentos na inovação de seus produtos e processos de fabricação. • Assim, nesses vinte anos, o nosso PIB cresceu apenas 80%, média (geométrica) de 3,0% ao ano, muito abaixo do crescimento de países como China, Coreia e Índia. • As patentes brasileiras no USPTO (escritório americano de patentes) cresceram 5 vezes no período, sendo que 3 vezes apenas nos últimos 5 anos. Logo em 15 anos foram só 1,7 vezes. Vinte anos de Real – 2 • Em 16.12.1995, a Índia promulgou a lei 44/1995, sua lei básica de fomento à inovação tecnológica, criou e implementou o Conselho de Desenvolvimento Tecnológico para aplicar todos os tipos de estímulos aos que investissem em tecnologia. • Como resultado, as patentes indianas no USPTO cresceram 80 vezes nesses 20 anos. O PIB da Índia cresceu 283%, no período, à média anual de 6,9%. Lei indiana de Desenvolvimento Tecnológico • THE TECHNOLOGY DEVELOPMENT BOARD ACT ACT NO. 44 OF 1995 [16th December, 1995.] • Art 6: (a) provide equity capital, subject to such conditions as may be determined by regulations, or any other financial assistance to industrial concerns and other agencies attempting commercial application of indigenous technology or, adapting imported technology of wider domestic applications; ÍNDIA: Exportando Software e Serviços após Incentivos da Lei 40/91: 1991-2006 30 ÍNDIA: Exportação de Software Taxa exponencial: 35% ao ano Bilhões de dólares 25 20 15 10 5 0 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 Fonte: Nasscom, Índia; 2010, US$ 71 bilhões, serviços US$ 140 bilhões Panorama da Índia hoje, 20 anos depois da lei 44/1995 • Exportação de software: US$ 100 bi/2014 contra US$ 1 bi/1995,sem marcas próprias dominantes nem invenções radicais (pura inteligência indiana) • Grande exportador de serviços médicos: cirurgias progrmadas, ensaios pré-clínicos, clínicos e R&D farmacêutico (cerca de US$ 40 bi) • Maior exportador de genéricos (nenhuma nova molécula) • Transnacionais farmacêuticas: Rambaxy, Cipla, Dr.Reddy’s • Maior siderúrgica: Mittal-Arcelor (3x maior do que a segunda) • Maior fabricante de forjados (software específico) • Tata Steel comprou siderúrgica Chorus (Inglaterra-Holanda) • Tata Motor comprou as marcas Jaguar e Land Rover Apenas 20 após, a Índia hoje é uma nova economia liderada pela inovação tecnológica Marco Legal Coreano de Fomento à Inovação Tecnológica • The Industrial Technology Development Promotion Law (Law No. 2399, 1972): This law provides financial and tax incentives to encourage and facilitate technological development activities of private enterprises. • The Promotion of Engineering Services Law (Law No. 2474, 1973): This law deals with the improvement of the engineering industry which, in turn, contributes to manufacturing enterprises and expedites commercialization of R&D results. Fonte: Science and Techonology in Korea, 1994 CORÉIA: dispêndio em inovação priorizando o apoio ao setor produtivo Coréia: Execução do DPD Setor Produtivo Institutos Universidades 100 90 80 % do DPD 70 60 50 40 30 20 10 0 1970 1975 1980 1985 1990 1995 Coreia: Programas de P&D na indústria Dada a ineficácia das políticas públicas de fomento ao P&D no País, só cerca de 1.200 empresas brasileiras têm programas de P&D (Pintec) Ano Centros de P&D corporativos Número de Centros de P&D em PME 2005 11,810 10,894 163,646 90,601 2006 13,324 12,398 179,709 100,595 2007 14,975 14,014 193,340 111,348 2008 16,719 15,696 209,137 122,944 2009 18,772 17,703 219,975 131,031 2010 21,785 20,659 235,596 141,080 2011 24,291 22,876 257,510 147,406 2012 25,860 24,243 271,063 146,833 2013 28,771 27,154 287,989 155,580 2014 32,167 30,746 302,486 172,364 2015.04 33,688 32,314 309,406 179,050 Fonte: KOITA Número total Número total de de pesquisadores em PME pesquisadores Qual a melhor maneira de avaliar os resultados das políticas públicas de fomento à inovação tecnológica e como compará-los entre os diversos países? Patentes (no USPTO) Desempenho do Brasil no ranking de patentes concedidas pelo USPTO 1977: Brasil foi ultrapassado por Taiwan 1983: pela Coréia do Sul 1986: pela China 1998: pela Índia 2007: pela Malásia, situando-se na 28a posição 2014: Coréia é a 4a com 16.000; Taiwan a 5a com 11 mil; China a 6a com 8 mil; Índia a 11a com 3 mil; Brasil é 26a com 334. CORÉIA e TAIWAN comparados ao BRASIL: Patentes nos EUA, 1980-2014 Coréia do Sul, Taiwan e Brasil 18,000 16,000 14,000 Taiwan Patentes Aprovadas 12,000 Coréia do Sul 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0 China e Índia: patentes outorgadas pelo USPTO no período 1980-2014 9,000 8,000 7,000 China e Hong Kong 6,000 Índia 5,000 4,000 3,000 2,000 1,000 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Arábia Saudita: Política Pública de fomento ao desenvolvimento tecnológico 350 300 250 200 150 100 50 0 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 O que há em comum no sucesso de países como Coreia, China e Índia? Em todos, o êxito foi obtido através da aplicação de políticas públicas de Estado, por muitos anos (Mariana Mazzucato, de Essex, mostrou que foi o mesmo em países centrais) • Quando ocorre um aumento do faturamento em uma empresa em razão do lançamento de um produto novo ou produto inovado, como é a apropriação desses recursos? – Fornecedores de insumos para fabricação – Remuneração de ativos – Salários pagos aos empregados – Previdência social – Tributação federal, estadual e municipal – Lucro (a parcela do empresário + investidores); a SRF avalia em 8% QUEM LEVA A MAIOR PARTE? TRIBUTAÇÃO • A partir da identificação do maior beneficiário, quem deve assumir a maior parte do risco tecnológico para o desenvolvimento da descoberta e/ou das inovações agregadas ao produto original? ESTADO – Artigo 8º do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt, rodada do Uruguai, 1994) que criou a OMC: non-actionable subsidies, até 75% de todo o investimento em P&D PART IV: NON-ACTIONABLE SUBSIDIES Article 8 Identification of Non-Actionable Subsidies • • • • • • • (a) assistance for research activities conducted by firms or by higher education or research establishments on a contract basis with firms if: the assistance covers not more than 75 per cent of the costs of industrial research or 50 per cent of the costs of pre-competitive development activity, and provided that such assistance is limited exclusively to: (i) costs of personnel (researchers, technicians and other supporting staff employed exclusively in the research activity); (ii) costs of instruments, equipment, land and buildings used exclusively and permanently (except when disposed of on a commercial basis) for the research activity; (iii) costs of consultancy and equivalent services used exclusively for the research activity, including bought-in research, technical knowledge, patents, etc.; (iv) additional overhead costs incurred directly as a result of the research activity; (v) other running costs (such as those of materials, supplies and the like), incurred directly as a result of the research activity. Efeito da Lei do Bem de renúncia fiscal de IR+CSLL: Brasil, Patentes no USPTO foram 3,2 vezes mais entre 2009 e 2014 400 350 Patentes Outorgadas 300 250 200 150 100 50 0 Reposta das empresas brasileiras a fomento ao P&D • O avanço das patentes brasileiras no USPTO, a partir de 2010, mostra uma rápida e efetiva resposta do setor produtivo à única fonte expressiva e persistente de fomento - a Lei do Bem - iniciada em 2007, relativamente ao ano de 2006 • A resposta é muito intensa mas pequena porque o incentivo nunca passou de cerca de R$ 1,5 bi, ou seja, apenas 0,03% do PIB, cerca de 1/20 do mínimo de recursos públicos investidos em P&D nos países em desenvolvimento bem sucedidos • Com 0,03% do PIB obtivemos um crescimento >200% nas patentes no USPTO, que são difíceis e onerosas, apenas por empresas grandes (lucro real) • Acabou-se o mito da “inapetência à inovação” Linsu Kim, principal ideólogo do desenvolvimento tecnológico da Coréia (autor de “Da Imitação à Inovação”, Editora Unicamp, 2005) • “Em países desenvolvidos, “aprender pesquisando” (learning by research) por empresas, universidades e institutos tem um papel dominante na expansão da fronteira tecnológica.” • “Em países em desenvolvimento, ao contrário, “aprender fazendo” (learning by doing) e engenharia reversa por empresas, com limitada assistência de universidades e institutos, é o padrão dominante de acumulação de competência tecnológica.” (In “Industry and Innovation”, volume 4, No 2, página 168, 1997) INVENÇÃO INCREMENTAL: + rápido, - custo, - risco Melhor ser “fast follower” que “first-to-market” Como é então a Dinâmica do Desenvolvimento Tecnológico? • A empresa parte do seu nível tecnológico e incorpora inovações (invenções incrementais) através de engenharia reversa e “cópias criativas” (Linsu Kim). Ex.: extração sob lâmina dágua (1o poço: 1968, cerca de cem metros). • A empresa desenvolve um aprendizado contínuo agregando inovações com engenharia (ou química) própria, e acelerando a taxa de incorporação. Ex.: motores elétricos industriais trifásicos de baixa tensão, tornos e máquinas operatrizes CNC, princípios ativos sintetizados • A empresa começa a acumular competência tecnológica e de projeto em padrões internacionais. Ex.: aviões regionais. • A empresa alcança o nível da fronteira tecnológica conhecida. Ex.: celulose de eucalipto, extração de petróleo do pré-sal, compressores herméticos de geladeira, etc. Tempo médio: 30 a 40 anos; Brasil: 20 a 25 anos Bases para a Agenda de Crescimento • • • • • • (sem prejuízo da exportação de commodities tradicionais) Foco: DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO PARA A COMPETITIVIDADE EM MANUFATURAS E SERVIÇOS 1º Passo: incorporar as inovações da concorrência externa pela via da engenharia (ou química) reversa e da cópia criativa (Lei da Inovação e SCPs) Modo: COMPARTILHAMENTO DO RISCO ENTRE ESTADO E EMPRESA NO DESENVOLVIMENTO E AGREGAÇÃO DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS Escopo: qualquer setor industrial com tecnologia desenvolvida ou copiada Prioridade: o que apresentar a mais alta taxa de retorno, independentemente de essencialidade Todos os demais fatores serão mobilizados confluentemente Que consequências esperamos se não seguirmos a agenda? • Desindustrialização silenciosa, transformando as indústrias de manufaturas em montadoras ou distribuidoras • Limitação das indústrias à transformação primária • Economia dependente apenas da exportação de commodities cujos preços são determinados fora • Forte dependência do comportamento do mercado externo • Baixas taxas médias de crescimento • Baixos níveis e baixa qualidade de emprego • Baixos níveis de qualidade dos servi;ços É melhor trocar de ideias do que não ter ideias para trocar (Barão de Itararé) Muito obrigado pela atenção! Roberto Nicolsky Telefone/fax: (21) 3077-0800 [email protected] www.protec.org.br