SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA PROFESSOR PDE Nome do Professor PDE: Joana Maria de Brito Oliveira Disciplina: Educação Especial IES: Universidade Estadual de Maringá NRE: Núcleo Regional de Educação de Maringá Orientadora: Profa. Dra. Nerli Nonato Ribeiro Mori MARINGÁ 2008 2 JOANA MARIA DE BRITO OLIVEIRA A LEITURA E A FORMAÇÃO DE FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA, como atividade do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) – SEED – PARANÁ Orientadora: Profa. Dra. Nerli Nonato Ribeiro Mori MARINGÁ 2008 3 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ 1- Nome do Professor PDE: Joana Maria de Brito Oliveira 2- Disciplina: Educação Especial 3- IES: Universidade Estadual de Maringá 4- NRE: Núcleo Regional de Educação de Maringá 5- Orientadora: Profa. Dra. Nerli Nonato Ribeiro Mori PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA PROFESSOR PDE Título da Produção Didático – Pedagógica: A LEITURA E A FORMAÇÃO DE FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES. INTRODUÇÃO: O trabalho que ora apresentamos tem como tema a Leitura e a Formação de Funções Psicológicas Superiores, para que com isso possamos organizar uma prática de ensino com mais qualidade, compreendendo o homem e seu desenvolvimento, considerando o processo de conceitualização como uma prática social dialógica (mediada pela palavra) e pedagógica (mediada pelo outro), juntamente aos representantes da Teoria Histórico Cultural. Nossa prática em sala de aula, traz preocupações quanto o papel do professor e sua função diante das dificuldades de leituras e até da própria leitura auxiliando no desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Nesse ambiente escolar se desdobram as relações de ensino em contradição e multiplicidade de experiências vivenciadas, visões de mundo, crenças, valores que estão alicerçados nos sentidos e significados, nos saberes e aprendizados ali compartilhados e ali elaborados. A leitura tem sido uma prática fragmentada, fragilizada, distante dos seus objetivos primeiros de formação de homens leitores, portanto homens participantes, criativos e capazes de ler e interpretar o mundo que os rodeia. Temos verificado o distanciamento dos princípios explicativos de serem seres culturais e históricos. Se nascemos e somos humanizados a medida 4 que apropriamos dos conhecimentos e que estes são mediados por outros e pela linguagem, temos que vivenciar em nossas salas de aula um processo de mediação coerente, sem limites, com buscas a superação dessas dificuldades, articulando uma prática pedagógica num processo metodológico de ensino, através da democratização, com vistas a transformação social. No presente texto, buscamos compreender como se constituem as funções psicológicas superiores, como a leitura contribui para esse processo e de que forma o professor pode fazer uso dessa leitura como instrumento de formação na Sala de Recursos. Iniciamos com alguns pontos a serem considerados: 1- Elaboração Conceitual e Leitura; 2- Leitura e Sala de Recursos. 1- ELABORAÇÃO CONCEITUAL E LEITURA Para nós, professores, que estamos envolvidos nas tarefas práticas de criação e educação dos nossos alunos torna-se essencial compreendermos como se realiza o processo de aquisição da leitura. Temos como princípio que a criança quando ingressa na escola traz as marcas que usou ao aprender a lidar com os problemas do seu dia a dia. Mesmo que seus conceitos sejam primitivos, eles não foram realizados pela influência escolar e sim foram efetivados pelas tentativas primitivas feitas pelas crianças para lidar com suas necessidades de vivências. Luria (2006, p.101), afirma: Quando uma criança entra na escola, ela não é uma tábula rasa que possa ser moldada pelo professor segundo a forma que ele preferir. Essa placa já contém as marcas daquelas técnicas que a criança usou ao aprender a lidar com os complexos problemas de seu ambiente. Quando uma criança entra na escola, já está equipada, já possui suas próprias habilidades culturais. Mas esse equipamento é primitivo e arcaico; ele não foi forjado pela influência sistemática do ambiente pedagógico, mas pelas próprias tentativas primitivas feitas pela criança para lidar, por si mesma, com tarefas culturais. Psicologicamente, a criança não é um adulto em miniatura. Ela modela sua própria cultura primitiva; embora não possua a arte da escrita, ainda assim escreve; e ainda que não possa contar, ela conta, todavia. Ao estudarmos que a criança traz consigo um repertório de conhecimentos que vão sendo sistematizados nas diferentes etapas do desenvolvimento sócio histórico, compreendemos que a criança é um ser histórico, formado nas relações que desenvolve com o mundo natural e social. A sua atividade cognitiva não permanece estática ao longo do desenvolvimento histórico e que as formas mais importantes dos processos cognitivos como a percepção, generalização, dedução, raciocínio, imaginação e auto análise variam quando as condições se mudam e quando 5 os conhecimentos são adquiridos, temos aqui as alterações das funções psicológicas superiores com as atividades cognitivas em diferentes etapas do desenvolvimento humano. Luria (1994, p.215) aponta: Nossas investigações, conduzidas sob as condições únicas e não replicáveis de uma transição para formas coletivas de trabalho e de uma revolução cultural, demonstram alterações fundamentais na atividade mental humana acompanhando as mudanças das formas básicas de atividade, a aquisição da leitura e o advento de uma nova etapa de prática sócio-histórica. Essas mudanças na atividade mental humana não se limitam a uma simples expansão de horizontes, envolvem também a criação de novas motivações para a ação e afetam radicalmente a estrutura dos processos cognitivos. A partir do nascimento, as crianças vivem no mundo com produtos históricos do trabalho social. Para isso comunicam-se com os outros e desenvolvem suas relações através da ajuda dos outros. Usam a linguagem- produto do desenvolvimento sócio-histórico- para analisar, generalizar e codificar suas experiências. As palavras carregam além do significado, as unidades fundamentais da consciência que refletem o mundo externo. Ainda, para Luria (1994, p.25): Sob a influência da linguagem dos adultos, a criança distingue e estabelece objetivos para seu comportamento; ela repensa as relações entre os objetos, ela imagina novas formas de relação criança-adulto; reavalia o comportamento dos outros e depois o seu; desenvolve novas respostas emocionais e categorias afetivas, as quais se tornam, através da linguagem emoções generalizadas e traços de caráter. Todo esse processo complexo, intimamente relacionado com a incorporação da linguagem na vida mental da criança, resulta em uma reorganização radical do pensamento, que possibilita a reflexão da realidade e o próprio processo da atividade humana. A linguagem, como signo socializado, é mediadora do processo de internalização das funções que são desenvolvidas socialmente. A leitura realizada a partir da incorporação da leitura do outro (pela fala), de caráter entre as pessoas, entre os alunos, impulsiona processos de aprendizagem e desenvolvimento (questão da zona potencial de desenvolvimento) que se transforma em processos intrapessoais. Como esclarece Nogueira (1993, p.25): Assim os recursos de incorporação e complementaridade, descritos com relação à aquisição da fala, tornam o processo de internalização mais palpável. 6 Como mediador da atividade de leitura, o papel do outro pode ser analisado através da alternância e da gradativa diferenciação na ocupação do espaço por um em detrimento do outro. É possível considerar a negociação dos interlocutores, na atividade de leitura, como a zona potencial de desenvolvimento em pleno movimento de funcionamento. Do conceito de internalização temos claro que se trata da reconstrução interna de uma operação externa, tendo como base a linguagem, envolvendo as ações da pessoa, as estratégias e conhecimentos por ela conhecidas, as ações e conhecimentos do outro, juntamente as condições sociais de produção das interações. Portanto as funções mentais superiores são relações sociais interiorizadas. Os seres humanos conservam as funções da interação social. Importante considerarmos aqui, as afirmações de Mori e Galuch (2008, p.22) “[...] destaca-se a linguagem como elemento fundamental para que as trocas se efetuem e, por conseguinte, para que ocorra o desenvolvimento das funções complexas do pensamento nas suas especificidades”. Uma das principais funções psicológicas superiores relacionadas à leitura é a percepção. Trata-se de um processo ativo, ligado as funções de abstração e generalização da linguagem, dependendo das práticas humanas historicamente estabelecidas, podendo influenciar a decisão de situar os objetos percebidos em categorias apropriadas. Contudo a linguagem é o elemento mais decisivo no sistema de percepção. Luria (1994) falando sobre os estudos de Vygotsky, afirma que as palavras são por elas próprias produto do desenvolvimento sócio histórico, facilitando todo o processo de transição como o de formulação de abstrações e generalizações, da reflexão não mediada para o pensamento mediado. A percepção é portanto um processo complexo que envolve atividades de orientação, análise, síntese e um processo de tomada de decisão.Luria (1994, p.38) assim define: A percepção depende de práticas humanas historicamente estabelecidas que podem não só alterar os sistemas de codificação usados no processo da informação, mas também influenciar a decisão de situar os objetos percebidos em categorias apropriadas. Podemos, portanto, tratar o processo perceptual como similar ao pensamento gráfico: ele possui aspectos que mudam com o desenvolvimento histórico. É muito significativo, importante para nós, reforçar que no desenvolvimento psíquico as linhas de desenvolvimento dos processos como percepção, memória, pensamento, não se constituem linhas independentes de processo separados. Embora essas linhas possam ser separadas, é impossível para a análise, encontrar diretamente as relações que promovem o seu desenvolvimento. 7 Para Vygotsky (2002), mesmo nos estágios mais primitivos do desenvolvimento social, existem dois tipos de memória: uma se caracteriza pela impressão não mediada de materiais – chamada memória natural, estando muito próxima da percepção. Já a outra com uso de estímulos artificiais, os chamados signos, auxiliares mnemônicos, modificando assim a estrutura psicológica do processo de memória. O uso de signos conduz a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do desenvolvimento biológico e cria novas formas de processo psicológicos enraizados na cultura. Vygotsky (2002, p.60) fala com relação a isso da seguinte forma: As funções psicológicas superiores não constituem exceção à regra geral aplicada aos processos elementares; elas também estão sujeitas à lei fundamental do desenvolvimento, que não conhece exceções, e surgem ao longo do curso geral do desenvolvimento psicológico da criança como resultado do mesmo processo dialético, e não como algo que é introduzido de fora ou de dentro. Da apresentação com respeito aos signos Vygotsky fala de dois tipos de mediadores externos: os instrumentos, orientados para regular as ações sobre os objetos, e os signos orientados para regular as ações sobre o psiquismo das pessoas. Os instrumentos tanto provocam mudanças como ampliam as possibilidades do homem intervir na natureza. O homem produz os instrumentos para o uso no presente e têm condições para conservá-los e usá-los no futuro podendo até mesmo modificá-los. Os signos são os estímulos artificiais, autogerados. São os recursos que os homens utilizam como mediadores de suas atividades psíquicas. O uso de signos conduz os seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do desenvolvimento biológico e cria novas formas de processos psicológicos enraizados na cultura. Os signos ajudam os homens a ativar a essência da memória. Muitas das vezes e é comum uma pessoa dar um nó para ajudar a lembrar de algo. Aqui, se está construindo um processo de memorização, com uso de signos. Portanto na forma elementar algo é lembrado; na forma superior os seres humanos lembram alguma coisa. Quanto a essência da memória. Vygotsky (2002, p.68) fala: A verdadeira essência da memória humana está no fato de os seres humanos serem capazes de lembrar ativamente com ajuda de signos. Poder-se-ia dizer que a característica básica do comportamento humano em geral é que os próprios homens influenciam sua relação com o ambiente e, através desse ambiente, pessoalmente modificam seu comportamento, colocando-o sob seu controle. Tem sido dito que a verdadeira essência da civilização consiste na construção propositada de monumentos de forma a não esquecer fatos históricos. 8 E ao falarmos da ajuda dos signos numa comparação básica quanto a função mediadora que os caracteriza, precisamos tratar o conceito de mediação cientes que em seus aspectos o significado do seu termo avança na sua relação de interdependência com outros conceitos, no processo de formação e desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Para Vygotsky (2002, p.115) “[...] o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual a crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam”. Entender o conceito de mediação implica em ter uma concepção de homem na condição de ser histórico e social atentando para as transformações que ocorrem e ocorreram num processo de longos anos, constituindo a história que o homem fez pelo trabalho, atendendo às suas necessidades concretas de vida e subsistência. Vygotsky (2005) expõe que a natureza do desenvolvimento se transforma do biológico para o sócio histórico e que o pensamento verbal é determinado por um processo histórico e cultural, com isso esclarece que o desenvolvimento do comportamento é direcionado pelas leis da evolução histórica dos homens em sociedade. Ainda falando sobre seus escritos Vygotsky mostra que é pelo trabalho que o homem transforma a natureza que está a sua volta, para satisfazer suas necessidades de vida e com isso também é transformado, desenvolvendo suas funções e habilidades especificamente humanas. Reafirmando que a mediação é um instrumento conceitual adequado para fazer avançar um pensamento psicológico cujo postulado fundamental é que as funções psíquicas humanas têm sua origem nos processos sociais. Sirgado (2000) fala quanto aos estudos de Vygotsky pontuando a idéia de mediação fundada na teoria marxista de produção. Segundo Marx, o desenvolvimento humano é resultado da atividade do trabalho. A atividade do trabalho implica um projeto que se traduz numa produção – entendida no sentido de “obra “ e não de produtoque é a objetivação desse projeto. Na perspectiva marxiana, a atividade do trabalho implica, portanto, uma dupla produção: a dos objetos culturais e a do ser humano do homem. Desse entendimento estabelecemos que pela ação que o homem faz, ele modifica o meio físico e natural, as condições de vida social e também é modificado, pois incorpora em sua consciência essa nova realidade. Portanto junto com essa teoria de produção está o conceito que o homem necessita de instrumento de trabalho para realizar sua atividade produtiva. Esse instrumento de trabalho revela ao homem sua capacidade de criar, de ser criador e ao mesmo tempo revela o nível de desenvolvimento cultural do homem. Segundo Leontiev (2004) o trabalho caracteriza-se por dois elementos interdependentes: o primeiro é o uso e fabrico dos instrumentos. O segundo é que o homem entra em contato com outros homens e com a sociedade. Entendendo que o trabalho é mediatizado pelo instrumento e pela sociedade. 9 Ao falarmos sobre o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, nos deparamos com a linguagem, entendida como sistema simbólico fundamental, elaborado no curso da história social, que organiza os signos em estruturas mais complexas e desempenha papel fundamental na formação das características psicológicas humanas. O processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores não ocorre de uma forma passiva e individual, pelo contrário, seu processo se dá de forma ativa e interativa. Nogueira (1993, p.14) considera: Pode-se considerar que o desenvolvimento das funções intelectuais está inter relacionado com as formas de mediação social (a mediação pelos signos e pelo outro). Considera-se também, que a emergência e a internalização das funções psicológicas superiores e o desenvolvimento da linguagem estão relacionados, pois a linguagem, como signo socializado, é mediadora do processo de internalização das funções desenvolvidas socialmente. 2- A LEITURA NA SALA DE RECURSOS Antes de apresentarmos a leitura como uma prática pedagógica na Sala de Recursos, se faz necessário contextualizarmos, ainda que de forma sintética, o que seja o espaço Sala de Recursos, mediante os estudos que realizamos nos documentos norteadores da Educação Especial no Estado do Paraná. Quanto aos alunos atendidos em Sala de Recursos, temos a especificidade da sala quanto ao serviço de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela da educação especial, conforme a LDBEN nº 9394/96. Esse atendimento complementa e ou/ suplementa a formação dos alunos com vista à autonomia e independência na escola e fora dela. No Estado do Paraná temos a Deliberação nº02/2003 do Conselho Estadual de Educação que traz que a Sala de Recursos é um serviço especializado de natureza pedagógica que apóia e complementa o atendimento educacional ora realizado em classes comuns do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries. Esse atendimento é oferecido concomitantemente ao Ensino Regular, em turno contrário, organizado em cronogramas individualmente ou em pequenos grupos, de acordo com as necessidades apresentadas, por professor especializado. Já dispomos também da Instrução nº 015/2008 – SUED/SEED que vem estabelecer os critérios para o funcionamento da Sala de Recursos, conservando a definição dada pela 10 Deliberação nº 02/2003- CEE-PR e descrevendo que os alunos atendidos serão os matriculados no ensino fundamental das séries iniciais que apresentam dificuldades de aprendizagem com atraso acadêmico significativo, decorrentes de Deficiência Mental/Intelectual e /ou Transtornos Funcionais Específicos. A instrução também esclarece quanto ao ingresso na Sala de Recursos, pautando em três condições: 1- egresso de Escola Especial ou de Classe Especial, com Avaliação no Contexto Escolar, realizada por equipe multiprofissional; 2- da classe comum, com atraso acadêmico significativo decorrente da Deficiência Mental/Intelectual, com Avaliação no Contexto Escolar, realizada por equipe multiprofissional; 3- da classe comum, com Transtornos Funcionais Específicos, com Avaliação no Contexto Escolar, realizada por equipe multiprofissional. Consideramos também relevante registrar os aspectos pedagógicos, integrantes da referida Resolução, que devem ser considerados para o trabalho nas Salas de Recursos, constituindo um conjunto de procedimentos específicos, para que possam desenvolver os processos cognitivos, motor, sócio-afetivo emocional, necessários para a apropriação e produção de conhecimentos. Fazendo necessário ainda, pontuar que o trabalho na Sala de Recursos não deve ser confundido com reforço escolar ou repetição de conteúdos programáticos da classe comum. Com base nos pressupostos anteriormente delineados, passamos a apresentar como a leitura pode contribuir para a formação das funções psicológicas superiores. Diante da nossa prática pedagógica percebemos a importância da leitura para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, onde temos como mediador o papel do outro. Nogueira (1993, p.25) fala da importância do outro da seguinte forma: A leitura realizada a partir da incorporação da fala/leitura do outro, de caráter interpessoal, origina processos de aprendizagem e desenvolvimento (a questão da zona potencial de desenvolvimento) que se transforma em processos intrapessoais. Assim, os recursos de incorporação e complementaridade, descritos em relação à aquisição da fala, tornam o processo de internalização mais palpável. A leitura como forma de mediação pela palavra, pode desencadear novos processos de elaboração pelo pensamento, uma vez que os alunos podem questionar e transformar a leitura do outro. Assim, a mediação é vista como constitutiva na elaboração da atividade. A leitura não é apenas decodificação nem apreensão de um único sentido pré estabelecido. A leitura envolve a atividade de quem lê e que também atribui sentidos ao texto, segundo suas experiências a partir das relações que estabelece. A leitura portanto é produzida e procura determinar tanto o processo como as condições de sua produção. Silva (1998) esclarece que erramos ao 11 pensarmos que a leitura é um dom, uma herança genética, algo iluminado. Se assim fosse seria muito fácil para nós sabermos quem seria bem sucedido com as leituras .A leitura é uma prática social, onde todos os seres humanos podem se transformar em leitores da palavra e de outros códigos que expressam a cultura. Assim apresentando, a leitura como prática social, cuja a visão de homem é a de um ser histórico e, portanto, social, Oliveira (1997) traz algumas idéias marxistas que influenciaram os representantes da Teoria Histórico Cultural, especialmente Vygotsky e expõe que o modo de produção da vida material condiciona a vida social, política e espiritual do homem.O homem é um ser histórico, que se constrói através de suas relações com o mundo natural e social. O processo de trabalho (transformação da natureza) é o processo privilegiado nessas relações homem/mundo. Diferentemente da aprendizagem de uma ação motora, de uma atividade física, onde o aluno pode produzir tal qual viu na prática acontecendo, a aprendizagem da leitura requer convenções que não são dadas de conhecer somente pela observação da prática realizada pelas pessoas. A leitura precisa que tanto a comunicação verbal com a prática necessitem ser intencionais e dirigidas para a reprodução de ações adequadas. Viver num ambiente favorável a leitura não é o suficiente para dizermos que o nosso aluno se apropriará de tudo que está a sua volta. É preciso permitir que haja ação mental como o mundo que o rodeia. E isto só se dá com o processo de internalização, onde as marcas externas- os signos- são transformados em processos internos. É muito importante tratarmos a intervenção direta e intencional do professor no trabalho específico de leitura, na Sala de Recursos. A leitura, como atividade mental, deve ter o foco da ação do mediador nas funções mentais, que estão envolvidas no processo de apropriação dos conhecimentos. É preciso encaminharmos essas funções como a percepção, a atenção, a memória, a imaginação, o raciocínio dos nossos alunos na interação e trabalho pedagógico com a leitura. O ensino deve ser organizado, sistematizado para tornarmos o conhecimento mais acessível, mais próximo. Não temos mos que criar, inventar, abrir muitos caminhos, porque as gerações passadas, que já se organizaram e produziram, foram deixando as marcas para que possamos caminhar. A leitura deve ser tratada como apropriação de um conhecimento já elaborado socialmente. Ao falarmos de leitura temos como objetivo transferir aos alunos os mediadores culturais que o professor já tem e que regula sua atividade em sala de aula. Se o professor auxilia os alunos nas atividades que realiza em sala de aula sem ser explicada a direção e o objetivo dessa ajuda, não se efetiva o conceito de mediação, da forma que a perspectiva histórico cultural apresenta, pois não temos o conhecimento como elemento fundamental e 12 mediador dessa atividade. É preciso atentar para o aprendizado que se for bem organizado resulta em desenvolvimento mental colocando também em movimentos vários processos de desenvolvimento. Como Vygotsky (2002, p.118) afirma “[...] o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas“. Quanto à leitura na escola, especificamente o trabalho pedagógico com a leitura na Sala de Recursos, deve-se estar direcionado por uma dinâmica interativa, indo além de uma reprodução mecânica de idéias que foram lidas e devem ser acatadas. A leitura só tem valor se pode proporcionar uma compreensão mais profunda do contexto onde o aluno, o sujeito e leitor se situa. Se não existir a compreensão das idéias, o objetivo da leitura se torna uma mera reprodução das palavras, onde os signos são tomados como autônomos, sem que o aluno elabore e faça a mediação com o social, com a realidade que vive. Mori e Galuch (2008, p.22) afirmam que “[...] os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento, portanto, os conteúdos, trabalhados nas diferentes disciplinas, dão suporte ao desenvolvimento das funções complexas do pensamento dos estudantes”, reafirmando que é na e pela interação que o pensamento se desenvolve. Sem dúvida que toda a busca por conhecimentos pode e deve ser mediada pela leitura. Silva (1998) reafirma o papel da leitura como um dos processos que possibilita a participação do homem na vida em sociedade. E, por ser um instrumento de aquisição e produção do conhecimento, a leitura, se acionada de forma crítica e reflexiva dentro e fora da escola, levanta-se como um trabalho de combate à alienação, capaz de facilitar às pessoas e aos grupos sociais a realização da liberdade nas diferentes dimensões da vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho vem para subsidiar teoricamente a proposta pedagógica a ser realizada na Escola de Rede Pública do Estado do Paraná, na Sala de Recursos de 5ª a 8ª séries. Atendendo a uma especificidade de alunos, não poderíamos deixar de registrar a definição dada à Sala de Recursos como um serviço especializado de natureza pedagógica que apóia e complementa o atendimento educacional realizado em classes comuns do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries. Mediante essa definição contemplamos a Sala de Recursos como um espaço escolar necessário para o atendimentos das dificuldades de aprendizagem que os alunos apresentam, dentre elas a leitura. 13 Desta forma, não podemos tratar a leitura como um processo puramente biológico, inato, que não necessite dos aspectos sociais e educacionais para o seu desenvolvimento. No entendimento das autoras Mori e Galuch (2008), Vygostky não nega a existência de uma base orgânica no processo de desenvolvimento das funções psíquicas superiores, porém trata desse orgânico junto as interações sociais. A leitura, a escrita e os cálculos necessitam da intervenção de fatores e mediadores externos para serem desenvolvidas. Os alunos precisam da escola para receberem o saber sistematizado e construído de forma a dar continuidade no processo de transformação das formas humanas de vida, partindo do que já temos. O trabalho educativo com a leitura deve ser organizado e com intenção para que possa dar conta da realidade que lhe é posta, porque na produção da vida os homens se relacionam com a natureza e com outros homens, efetuam transformações nessa natureza e também são transformados. Portanto, consideramos que se o processo escolar precisa ser organizado, essa organização depende do conhecimento que se têm dos homens e de suas interações sociais, pois só daí sairão as respostas e encaminhamentos para o trabalho educativo. Precisamos entender que as funções complexas superiores como a memória, a atenção, o raciocínio, a percepção, são desenvolvidas tendo a linguagem como função mediadora. E na escola a linguagem se configura nos conteúdos que precisam ser trabalhados, dando suporte para o desenvolvimento das funções complexas do pensamento. Com respeito ao trabalho que devemos realizar com a leitura não podemos se distanciar do que é proposto pela perspectiva histórico cultural, uma vez que o trabalho que o aluno realiza hoje com ajuda, amanhã ele realizará sozinho, passando a constituir o seu nível efetivo de desenvolvimento. 14 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9394/96. Brasília: DF, 1996. LEONTIEV, Aléxis. 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In: SMOLKA, Ana Luisa; GOES, Maria Cecília Rafael de (Orgs). A linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico. Campinas: Papirus, 1993. p.13-31. 15 OLIVEIRA, Marta Kohl de. VIGOTSKI: Aprendizado e desenvolvimento -Um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1997. PARANÁ. Currículo Básico para Escola Pública do Estado do Paraná. Curitiba: SEED, 1990. PARANÁ. Departamento de Educação Especial. Diretrizes Curriculares da Educação Especial para Construção de Currículos Inclusivos. Documento Preliminar. Curitiba: SEED, 2006. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná. Curitiba: SEED, 2006. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Instrução nº 015/2008. Curitiba: SEED/SUED, 2008. Disponível em :http://www.diaadia.pr.gov.br./sued/arquivos/File/Instrucao2008/instrucao015saladerecursosinic iaisdm.pdf. acesso em 14 nov. 2008. SILVA, Ezequiel Theodoro da. Elementos de Pedagogia da Leitura. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. SIRGADO, Angel Pino. O conceito de mediação semiótica em Vygotsky e seu papel na explicação do psiquismo humano. In: Cadernos Cedes, 24. Pensamento e linguagem: estudos na perspectiva da psicologia soviética. Campinas: Papirus, 2000. p. 38 -51. VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução: José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. –––––––––––. Pensamento e linguagem. Tradução: Jefferson Luiz Camargo; revisão técnica José Cipolla Neto. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.