ETAPAS DO EXAME LABORATORIAL ETAPA PRÉ-ANALÍTICA OU PRÉ-INSTRUMENTAL Solicitação ou Pedido médico: - Colocar nome e idade do paciente - Deve ser claro, sub-dividindo pelo tipo de material biológico a ser examinado - Colocar sempre a indicação clínica - Carimbar, datar e assinar MODELO DE PEDIDO MÉDICO P/Sr. Ricardo Alves (52 anos) Solicito: Sangue - Hemograma completo e VHS - Glicose, uréia, creatinina e ácido úrico - Lipidograma completo (Triglicerídios, Colesterol total e frações) Urina - EAS Fezes (frescas e colhidas em MIF durante 3 dias alternados) - Parasitológico Indicação clínica: exame de rotina; controle de dislipidemia após uso de hipocolesterolemiante Niterói, 30 de julho de 2005 ETAPA PRÉ-ANALÍTICA Cuidados prévios. Exemplos: - Jejum de 12h para o Lipidograma - Para Malária, colher o sangue durante o pico febril - Restrição líquida e retenção para cultura de urina - Dieta isenta de carne antes da pesquisa de sangue oculto nas fezes - Hemocultura: quantidade de amostras - Evitar antibioticoterapia antes da colheita de material para exames microbiológicos ETAPA PRÉ-ANALÍTICA Preservação do material colhido Exemplos: - Uso do Fluoreto para prevenir o consumo de glicose pelas células sanguíneas - Refrigeração da urina para cultura - Não refrigerar o Líquor, já que algumas bactérias podem perder a sua viabilidade - Uso de ácidos para preservar Urinas de 24 horas - Meios de Transporte para Bacteriologia (“Swabs”, frascos para anaeróbios, etc.) ETAPA ANALÍTICA OU INSTRUMENTAL - Transcorre na “Bancada” ou no “Aparelho” - Tendência dos laboratórios a focar apenas esta etapa (automação, aparelhagem sofisticada, etc.) em detrimento das etapas pré e pósanalíticas. Observação: A qualidade das Etapas Pré-analítica e Analítica determinam a sensibilidade, a especificidade e o valor preditivo dos exames ETAPA PÓS ANALÍTICA Resultados: - Testes qualitativos (positivo ou negativo): ex.: pesquisa de BAAR, teste de gravidez, pesquisa de Rotavírus - Testes quantitativos ou semi-quantitativos: entra em jogo o conceito de “faixa referencial” ETAPA PÓS ANALÍTICA Liberação dos resultados: - Sempre colocar o método adotado e, quando necessário, a faixa referencial - Comentários no laudo ou contato direto com o clínico - Liberação rápida de resultados Obs.: Existem casos em que a liberação do resultado pode implicar questões éticas (ex.: AIDS, neoplasias, DST) requerendo um contato prévio com o clínico A QUALIDADE DOS TESTES LABORATORIAIS E O SEU VALOR PREDITIVO - MÉTODO PADRÃO OU “GOLD STANDAR” - SENSIBILIDADE: capacidade de um teste para detectar o indivíduo doente ou com determinada patologia; > sensibilidade: < falso-negativos SENSIBILIDADE DO TESTE LABORATORIAL Indivíduos caracterizados como doentes Indivíduos pelo teste que está sendo aplicado caracterizados como não doentes pelo teste que está sendo aplicado Resultados verdadeiro-positivos (VP) 65% Resultados falsonegativos (FN) 35% 100 0 Indivíduos caracterizados como doentes por teste(s) padrão ou “Gold standard” Sensibilidade: (VP/VP + FN) X 100 NESTE CASSO: (65/100) X 100= 65% ESPECIFICIDADE: capacidade do teste para detectar os não doentes ou a ausência de determinada patologia; > especificidade: < falso-positivos ESPECIFICIDADE DO TESTE LABORATORIAL Indivíduos caracterizados como não doentes pelo teste que está sendo aplicado Indivíduos caracterizados como doentes pelo teste que está sendo aplicado Resultados verdadeironegativos (VN) Resultados falsopositivos (FP) 65% 35% 0 Indivíduos caracterizados como não doentes por teste(s) padrão ou “Gold standard” Especificidade: (VN/VN + FP) X 100 NESTE CASSO: (65/100) X 100= 65% 100 A mudança de ponto de corte muda a sensibilidade e a especificidade (Ex: quanto > seja o valor estabelecido como limite para o colesterol, haverá menos resultados falso-positivos, ou seja, a especificidade do teste será maior) ACURÁCIA: capacidade do teste, sozinho, efetuar ou afastar diagnóstico (soma da sua sensibilidade e sua especificidade) A QUALIDADE DOS TESTES LABORATORIAIS E O SEU VALOR PREDITIVO A QUALIDADE DA ETAPA PRÉ-ANALÍTICA TAMBÉM INFLUENCIA A SENSIBILIDADE E A ESPECIFICIDADE DE UM EXAME VALOR PREDITIVO DO EXAME LABORATORIAL É a capacidade ou potência do resultado de um teste (positivo ou negativo) para definir ou afastar um diagnóstico ou patologia. Está determinado: a) Pela qualidade do exame: cuidados pré analíticos, Sensibilidade e Especificidade do Teste b) Pela correspondência do resultado com os dados extraídos da anamnese, do exame físico, de exames anteriores ou da prevalência da patologia investigada (probabilidade pré-teste). É um parâmetro mais real, já que não considera apenas a qualidade do teste VALOR PREDITIVO DO EXAME LABORATORIAL - Valor Preditivo Positivo (VPP): É a probabilidade (%) de um Resultado Alterado (Positivo) estar certo (não ser falso-positivo). Será maior quanto maiores sejam a Especificidade do teste e a correspondência dos dados clínicos com a patologia investigada - Valor Preditivo Negativo (VPN): É a probabilidade (%) de um Resultado Normal (Negativo) estar certo (não ser falso-negativo). Será maior quanto maiores sejam a Sensibilidade do teste e menor a correspondência dos dados clínicos com a doença investigada. VALOR PREDITIVO DOS TESTES POSITIVOS Indivíduos doentes Indivíduos não doentes Resultados verdadeiropositivos (VP) Resultados falsopositivos (FP) 70% 30% 0 100 Total de Resultados positivos de um determinado Teste para uma determinada Doença Valor preditivo positivo VPP: (VP/VP + FP) X 100 NESTE CASSO: (70/100) X 100= 70% VALOR PREDITIVO DOS TESTES NEGATIVOS 0 Indivíduos não doentes Indivíduos doentes Resultados verdadeironegativos (VN) Resultados falsonegativos (FN) 60% 40% 100 Total de resultados negativos de um determinado teste para uma determinada doença” Valor preditivo negativo VPN: (VN/VN + FN) X 100 NESTE CASSO: (60/100) X 100= 60% > (menos chance de falso ) < (mais chance de falso ) > (menos chance de falso +) < (mais chance de falso +) - Sensibilidade - Especificidade > (menos chance de falso +) > Especificidade do exame > Suspeita clínica VPP < (mais chance de falso +) > VPN (menos chance de falso -) < (mais chance de falso -) < Especificidade do exame < Suspeita clínica > Sensibilidade do exame < Suspeita clínica < Sensibilidade do exame > Suspeita clínica VALOR PREDITIVO DOS EXAMES LABORATORIAIS-Exemplos 1) Uma criança de 12 anos chegou ao consultório referindo cansaço precoce ao jogar futebol e o pediatra suspeita de Febre Reumática (doença pós-estreptocócica que atinge as articulações e pode afetar as válvulas cardíacas, principalmente em crianças entre 5 e 16 anos). O pediatra solicitou a dosagem de Anti-estreptolisina “O” (ASO), que são anticorpos contra um componente do estreptococo que se elevam significativamente nessa doença e o resultado foi: 333 U Todd/mL Obs.: os valores de referência para ASO variam, segundo diferentes autores, regiões e idades, alguns considerando 250 U Todd/mL e outros 333 U Todd/mL como ponto de corte; são recomendadas sorologias pareadas •Se for estabelecido como ponto de corte 500 U Todd/mL, estaria aumentando a sensibilidade ou a especificidade do teste? •Se fosse um jovem de 22 anos, o resultado obtido teria maior ou menor valor preditivo positivo? •Se houvesse antecedentes de faringites de repetição, aumentaria o VPP ou o VPN? •E se o título inicial foi de 250 U Todd/mL e, 15 dias depois, 3 vezes maior? A dosagem de Mioglobina sanguínea é um excelente marcador de infarto de miocárdio (IAM), já que a sua concentração se eleva precocemente no sangue (após 2 ou 3 h da dor pré-cordial). Possui grande sensibilidade, mas pouca especificidade, já que necroses ou distrofias do músculo esquelético podem também aumentá-la. a) Se um paciente cuja história clínica desconhecemos, é transportado a um serviço de cardiologia porque, segundo familiares “teve uma dor no peito há 5 horas”, apresenta um valor elevado de Mioglobina, o valor preditivo deste resultado, para diagnóstico de IAM, é suficientemente alto como para indicar uma cirurgia cardiovascular? b) E se o resultado fosse normal, o valor preditivo do mesmo seria alto? c) Se além da elevação da Mioglobina, o ECG tivesse sinais compatíveis com Infarto, o VP do resultado da Mioglobina se modificaria? d) Se a dor tivesse sido apenas 1 hora antes e o valor da Mioglobina normal, qual seria o VP deste resultado? O teste do Nitrito é altamente específico, mas pouco sensível para diagnóstico de Infecção urinária. Comente sobre os seus VPP e VPN, em pacientes sintomáticos e assintomáticos De 34 casos de difteria, em apenas 23 a bacterioscopia foi positiva (11 falso-negativas, Sensibilidade de 67,6%) De 930 indivíduos sem difteria, em 894 a bacterioscopia foi negativa (36 falso-positivas, Especificidade de 96,1%) Das 59 bacterioscopias positivas, apenas 23 eram casos de difteria (36 falso-positivas, VPP de 38,9%) Das 905 bacterioscopias negativas, 894 não tinham difteria (11 falsonegativas, VPN de 98,7%) Método padrão ou ¨gold standard: Crescimento de Bacilo Diftérico em meio de cultura COMENTÁRIOS SOBRE O ESTUDO ANTERIOR Apesar da elevada especificidade (96,1%) da bacterioscopia, o Valor Preditivo Positivo do teste foi baixo (38,9%); isto, pela baixa prevalência de difteria entre a população estudada. Se a especificidade fosse baixa também, o VPP seria menor ainda Se a prevalência fosse alta, o VPP seria bem elevado, já que a uma probabilidade pré-teste (prevalência) alta se somaria a alta especificidade do teste, tornando pouco provável que um resultado positivo seja falso Neste mesmo estudo, apesar da baixa sensibilidade do teste (67,6%) , o Valor Preditivo Negativo é alto (98,7%). Isto também se deve à baixa prevalência da difteria. Se a sensibilidade do teste fosse mais alta, o VPN seria maior ainda, já que a uma probabilidade pré-teste baixa se somaria a alta sensibilidade, tornando pouco provável que um resultado negativo seja falso. A perda auditiva foi diagnosticada por audiometria (método padrão ou “gold standard”) COMENTÁRIOS SOBRE O ESTUDO ANTERIOR A queixa de perda auditiva mostrou 86,5% (VPP) de probabilidade de ser verdadeira; já 30,6% de pessoas que não referiram a queixa podem ter perda auditiva (VPN de 60,4%) Apesar de a especificidade não ser muito alta (69,7%), o VPP foi elevado porque a prevalência de perda auditiva entre os indivíduos examinados (probabilidade pré-teste) era alta. Pela mesma razão (prevalência alta), apesar da sensibilidade ser alta (80,9%), o VPN foi relativamente baixo.