Formação inicial e continuada na perspectiva da qualidade em educação Doris Pires Vargas Bolzan Ana Carla Hollweg Powaczuk (Organizadoras) Doris Pires Vargas Bolzan Ana Carla Hollweg Powaczuk (Organizadoras) FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA NA PERSPECTIVA DA QUALIDADE EM EDUCAÇÃO Santa Maria, RS, Brasil. LABORATÓRIO DE PESQ. E DOC. - CE 2014 1 F723 Formação inicial e continuada na perspectiva da qualidade em educação [recurso eletrônico] / Doris Pires Vargas Bolzan, Ana Carla Hollweg Powaczuk (organizadoras). – Santa Maria, RS : UFSM, Centro de Educação, 2014. 1 e-book ISBN: 978-856112841-8 1. Educação 2. Formação de professores 3. Formação continuada I. Bolzan, Doris Pires Vargas II. Powaczuk, Ana Carla Hollweg CDU 37 37.013 371.13 Ficha catalográfica elaborada por Luzia de Lima Sant’Anna – CRB-10/728 Biblioteca Central da UFSM TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema computacional. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). 2 COMITÊ ORGANIZADOR Marilene Gabriel Dalla Corte – UFSM Rosane Carneiro Sarturi – UFSM Doris Pires Vargas Bolzan – UFSM Ana Carla Hollweg Powaczuk – UFSM COMISSÃO CIENTÍFICA Dóris Pires Vargas Bolzan - UFSM Ana Carla Powaczuk - UFSM Eliane Aparecida Galvão dos Santos - UNIFRA Rejane Cavalheiro - UFSM Silvana Martins de Freitas Millani - UFSM Gislaine Aparecida Rodrigues da Silva Rossetto - UFSM Adriana Martins Figuera - UFSM Greice Scremim - UNIFRA Leila Adriana Bataglin - UFRR Giovana Fracari Hautrive - UFSM EDITORAÇÃO E CAPA Evandro Bolzan (Pró Conselho – UFSM) Gabriel Marchesan (Pró Conselho – UFSM) Marilene Gabriel Dalla Corte (UFSM) Marina Lara Silva dos Santos Teixeira (Bolsista OBEDUC/CAPES – UFSM) COMITÊ DE APOIO TÉCNICO Edenise Favarin (Mestranda em Educação PPGE – UFSM) Francine Mendonça da Silva (Pró-Conselho – UFSM) SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 7 A COMPREENSÃO DE CURRÍCULO QUE EMERGE DA FORMAÇÃO CONTINUADA EM UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL ...................................... 14 Alexandre Giacomini Simara Saquet Schio Everton Lüdke O IMPACTO DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID) E SUAS INTER-RELAÇÕES NO PROCESSO DE GESTÃO ESCOLAR ..................................................................... 23 Camila Moresco Possebon Nicole Zanon Veleda Rosane Carneiro Sarturi INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM REDE NA FORMAÇÃO INICIAL E/OU CONTINUADA DE PROFESSORES .......................... 35 Iris Cristina Datsch Toebe Juliana Sales Jacques Sabrina Bagetti Anna Helena Silveira Sonego Elena Maria Mallmann MUDANÇAS NO CURSO NORMAL E CONCEPÇÕES DE TRABALHO PEDAGÓGICO NO INSTITUTO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO OLAVO BILAC - SANTA MARIA/RS ..................................................................................... 48 Luiza da Silva Braido Marina Engler Josiane Lara Fagundes Liliana Soares Ferreira CONTEXTO HISTÓRICO E REFLEXÕES A RESPEITO DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ........................................................................ 57 Marcia Melchior Ana Lia Benini FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CURSOS A DISTÂNCIA NA PERSPECTIVA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO ................................................. 65 Naila Cohen Pomnitz Laura Wunsch Fernanda Cristofari Machado Rosane Carneiro Sarturi AS INTERLOCUÇÕES ENTRE O APOSTILAMENTO DE DIPLOMAS E A FORMAÇÃO INICIAL DOS EGRESSOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA ............................................... 77 Nathana Fernandes Ticiane Arruda da Silva Rosane Carneiro Sarturi FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE QUALIDADE ......................... 89 Patrícia Miolo Eliana Miolo Pamela da Silva Rosane Carneiro Sarturi A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO CONTINUADA NO ESPAÇO ESCOLAR: A IMPORTÂNCIA DE REFLETIR A PRÁTICA ................................... 100 Patrícia Signor Celso Ilgo Henz PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: O PROFESSOR E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO COMO NÚCLEO DA INOVAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS ............................................................................... 112 Samuel Robaert Celso Ilgo Henz Larissa Martins Freitas DESAFIOS E METAS DA GESTÃO EDUCACIONAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA DO MAGISTÉRIO NA ESCOLA ........................................................................................................... 124 Simara Saquet Schio Alexandre Giacomini João Luis Pereira Ouriques A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO [TDIC] NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ..................................................................................................... 133 Edenise do Amaral Favarin Denise Santos da Cruz Adriana Moreira da Rocha DESAFIOS E AS POSSIBILIDADES DOS PROFESSORES INICIANTES NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA ........................................... 144 Eloisa Maria Wiebusch Maria Isabel Cunha OBRIGAÇÃO!!!: MAS, AFINAL, DO QUE É CAPAZ O ENCONTRO CINEMA E EDUCAÇÃO? ....................................................................................... 157 Fabiane Raquel Canton Indiara Rech Valeska Maria Fortes de Oliveira 7 APRESENTAÇÃO Este livro é composto por um conjunto de textos produzidos para o II Seminário Internacional de Políticas Públicas da Educação Básica e Superior, o IV Seminário Internacional de Gestão Educacional, a VIII Semana Acadêmica do Curso de Especialização em Gestão Educacional e a II Semana Acadêmica do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria, que ocorreram em 2014, configurando-se como um trabalho em rede, com a intenção de integrar os diferentes níveis de formação que ocorrem na universidade. O tema geral desse evento foi "QUALIDADE DA EDUCAÇÃO? INTERFACES E INTERLOCUÇÕES ENTRE POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO". Nesta oportunidade exploramos as redes de pesquisa das instituições envolvidas, favorecendo a interlocução de grupos de pesquisadores que trouxeram subsídios para a ampliação das temáticas tratadas no eixo de formação de professores, destacando nosso principal objetivo que é refletir sobre as bases epistemológicas e metodológicas subjacentes às interfaces das políticas públicas e dos processos de gestão educacional, na perspectiva de suscitar discussões acerca da qualidade da educação básica e superior. Portanto, o foco deste livro é apresentar um conjunto de pesquisas e estudos que podem colaborar para compreensão da complexidade dos processos formativos presentes na universidade e/ou fora dela, no âmbito das formações continuadas proporcionadas nos sistemas e redes de ensino, bem como aprofundar estudos e discussões acerca das bases epistemológicas e metodológicas das políticas públicas e dos processos de gestão educacional; intenciona nesta direção problematizar as decorrências das políticas públicas nos processos de gestão democrática, considerando a implementação dos programas educacionais e a interlocução entre educação básica e educação superior, a fim de estreitar laços de parceria e cooperação, intensificando estudos e ações relacionados à produção do conhecimento neste campo. Na busca de possíveis respostas aos objetivos explicitados destacamos um conjunto de estudos e pesquisas que expressam as redes de relações estabelecidas capazes de sinalizar o conhecimento que vem sendo produzido neste campo e suas interfaces. 8 No primeiro texto, Alexandre Giacomini, Simara Saquet Schio e Everton Lüdke, intitulado A compreensão de currículo que emerge da formação continuada em uma escola pública estadual, problematizam as compreensões e perspectivas acerca de currículo dos professores de uma escola em formação continuada. A pesquisa foi implementada em uma escola pública de ensino médio do município de Restinga Seca em 2014, com a participação de 24 professores que atuam nessa instituição, mais uma orientadora de estudos. Os autores contribuem com o debate ao evidenciar as concepções docentes pautadas na ideia do “currículo tradicional instituído” – segundo uma visão paradigmática tradicional, ou seja, propedêutica, reprodutivista – e o “currículo almejado” – a qual acena para uma proposta curricular do ensino médio que vise práticas, tempos e espaços escolares que ultrapasse o isolamento disciplinar em uma perspectiva dialógica, situada no contexto concreto e coletivo, buscando como referencial permanente os jovens alunos que o frequentam, bem como suas realidades, expectativas e necessidades. No segundo texto, Camila Moresco Possebon, Nicole Zanon Veleda e Rosane Carneiro Sarturi, apresentam O impacto do programa institucional de bolsa de iniciação à docência (PIBID) e suas inter-relações no processo de gestão escolar, a partir de um recorte de dois estudos realizados em nível de conclusão do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que trata das interlocuções da formação inicial e continuada na perspectiva da qualidade em educação a partir das ações do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de Pedagogia da UFSM e suas inter-relações no processo de gestão escolar. Os estudos indicam que tanto na formação inicial das futuras pedagogas, quanto no exercício da formação continuada da docência de professoras em atuação, a participação do PIBID favorece o processo de construção da identidade docente das egressas e a (re)significação de docência das professoras supervisoras que, ao desenvolverem ações de (co)formação das bolsistas de iniciação à docência, reconhecem as atribuições da docência para além da regência de classe na perspectiva de gestar práticas pedagógicas de qualidade. No terceiro texto, Integração das tecnologias educacionais em rede na formação inicial e/ou continuada de professores, das autoras Iris Cristina Datsch Toebe, Juliana Sales Jacques, Sabrina Bagetti, Anna Helena Silveira Soneg e Elena Maria Mallmann, está pontual a discussão acerca da integração das tecnologias educacionais em rede como potencializadora da inovação curricular. O foco da 9 pesquisa apresentada foi a integração das tecnologias educacionais em rede prevista nos Projetos Pedagógicos dos cursos (PPC) de Licenciaturas em Pedagogia (diurno, noturno e a distância). As autoras defendem a integração como forma de incrementar o desenvolvimento da fluência tecnológico-pedagógica, tanto de professores quanto de estudantes, melhorando a qualidade dos processos de ensino e de aprendizagem nos cursos de formação inicial e/ou continuada de professores. A integração da tecnologia em rede na formação inicial e/ou continuada de professores, de acordo com as autoras, pode promover a convergência entre as modalidades presencial e a distância, possibilitando que as mesmas práticas escolares (planejadas curricularmente) possam ser implementadas em ambas as modalidades de ensino, favorecendo a construção de novos conhecimentos curriculares. No quarto texto, Mudanças no curso normal e concepções de trabalho pedagógico no instituto estadual de educação Olavo Bilac - Santa Maria/RS, Luiza da Silva Braido, Marina Engler, Josiane Lara Fagundes, Liliana Soares de Oliveira, do grupo de pesquisa Kairós, relatam a história do Curso Normal, especificamente no Rio Grande do Sul e em Santa Maria, no Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac, através das políticas públicas implantadas neste curso, buscando concepções de trabalho pedagógico a partir de 1900. As autoras discutem o trabalho pedagógico abrangendo “todas as ações da escola, dos sujeitos dela, objetivando a produção do conhecimento”. O principal material usado no estudo foram recortes de notícias sobre o Instituto, de 1952, do jornal A Razão, de Santa Maria, a partir dos quais os autores destacam a grande procura do curso normal naquela época, expressando a valorização do professor e o status elevado da profissão. No quinto texto, Marcia Melchior e Ana Lia Benini tratam do Contexto histórico e reflexões a respeito da formação continuada de professores problematizando a importância da formação continuada para o profissional da educação. A intenção das pesquisadoras é contribuir à compreensão de formação continuada de professores como um processo para além da escola, uma vez que unem aspectos pessoais e profissionais. O estudo indica que a formação continuada pode abrir novos horizontes para a prática reflexiva do professor, favorecendo a qualificação profissional. 10 No sexto texto, Naila Cohen Pomnitz, Laura Wunsch, Fernanda Cristófari Machado e Rosane Carneiro Sarturi discutem a Formação de professores em cursos a distância na perspectiva da qualidade da educação, refletindo e problematizando a relevância da educação a distância (EAD) para práticas inovadoras no âmbito da educação na perspectiva da qualidade do ensino superior. As autoras analisam o contexto da formação de professores na modalidade a distância à luz das políticas públicas atuais, considerando os níveis de qualidade que permeiam esta formação, como na base de dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) no que concerne ao Censo da Educação Superior do ano de 2012. A partir do resgate de aspectos importantes acerca da EAD, seus conceitos e especificidades, bem como das atuais políticas públicas que envolvem a formação de professores a distância. Enfatizam para a importância das ações desta modalidade ser cuidadosamente planejadas considerando os materiais utilizados, o comprometimento e a valorização de todos os atores deste processo em prol da efetiva alta qualidade dos cursos. O sétimo texto, As interlocuções entre o apostilamento de diplomas e a formação inicial dos egressos do curso de pedagogia da universidade federal de santa Maria, de Nathana Fernandes, Ticiane Arruda da Silva e Rosane Carneiro Sarturi, analisa as articulações entre o apostilamento de diplomas e a formação inicial dos egressos do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria. As pesquisadoras partem da organização curricular do curso de Pedagogia, buscando descrever as relações entre as resoluções que instituíram as normas para o apostilamento de diplomas e a atuação profissional dos egressos do curso de Pedagogia (diurno) de uma IES pública. Analisaram também um conjunto de documentos do CNE/CP de 2006 e 2007 e o Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia (diurno) da Universidade Federal de Santa. A partir desse trabalho, as autoras, problematizam a repercussão das políticas na qualificação educacional neste nível de ensino, destacando os reflexos das resoluções estudadas, as quais estabelecem normas para o apostilamento dos diplomas nos cursos de graduação em Pedagogia, possibilitando o direito ao exercício do magistério na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O oitavo texto, Formação inicial dos professores para a educação infantil: algumas considerações sobre qualidade, de Patricia Miolo, Eliana Miolo, Pamela da Silva e Rosane Carneiro Sarturi, analisam os pressupostos legais que orientam a 11 formação inicial de professores para a educação infantil. O estudo teve como base os dados estatístico-educacionais do Censo da Educação Superior do ano de 2011 até 2013, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Foi realizada uma análise documental das políticas públicas educacionais atuais para a educação infantil e formação inicial de professores para esta modalidade e da correlação desta segunda com os dados estatísticos educacionais do censo escolar, fornecidos pelo INEP. As autoras destacam no estudo a necessidade do professor da educação infantil ter uma formação inicial de qualidade, preferencialmente, em nível superior, que esteja focada nas especificidades e nas necessidades das crianças de zero a cinco anos de idade, compreendendo que o educar e o cuidar na educação infantil são indissociáveis. O nono texto, Patrícia Signor e Celso Ilgo Henz, A necessidade da formação continuada no espaço escolar: a importância de refletir a prática, destacam que uma educação de qualidade nas escolas públicas implica um olhar atento para o processo de formação continuada dos professores, como oportunidade de reflexão acerca da prática e o aprofundado conhecimento sobre a realidade cultural, histórica e social de seus educandos. Por meio da pesquisa, os autores, buscam diagnosticar quais as percepções de educadores sobre a formação continuada realizada no espaço escolar como uma ferramenta de reflexão do fazer pedagógico. Problematizam, nesta direção, que a formação continuada no espaço escolar abre possibilidades de um espaço de diálogo, interação e fortalecimento do coletivo e da proposta da instituição, o que é fundamental à formação de educadores mais envolvidos com a realidade cultural, histórica e social de seus alunos, tornando a educação mais significativa e transformadora. O décimo texto, Projeto político pedagógico: o professor e as condições de trabalho como núcleo da inovação nas instituições educativas, de Samuel Robaert, Celso Ilgo Henz e Larissa Martins Freitas, aborda as mudanças na estrutura escolar e nos sistemas de ensino, explicitando a necessária transformação da escola como uma organização que privilegie o caráter mais relacional, dialógico, coletivo e comunitário. Os autores propõem que seja mais efetiva a participação dos professores e estudantes nas tomadas de decisões, compreendendo o Projeto Político Pedagógico como elemento crucial da escola, ao articular a cotidianidade da 12 instituição educativa, aos processos auto(trans)formativos docentes e discentes em uma perspectiva humanizadora. No décimo primeiro texto, Desafios e metas da gestão educacional: uma abordagem sobre a formação continuada do magistério na escola, Simara Saquet Schio, Alexandre Giacomini e João Luis Pereira Ouriques destacam a importância da gestão educacional reflexiva crítica e ciente das necessidades dos grupos escolares. A partir do estudo que objetivou averiguar como os gestores possibilitam, aos docentes, uma reflexão sobre a formação continuada, os autores enfatizam a atuação de gestores capazes de mediar a resolução de problemas em grupo, a partir da identificação coletiva das necessidades formativas. No décimo segundo texto, A integração das tecnologias digitais da informação e da comunicação [TDIC] na formação continuada de professores, Edenise do Amaral Favarin, Denise Santos da Cruz e Adriana Moreira da Rocha apresentam as ações desenvolvidas pelo Projeto Inovar, considerando a integração das TDIC na formação continuada de professores de uma escola estadual da rede pública do município de Santa Maria/RS, promovendo a integração escolauniversidade. Nesse estudo, as autoras buscam compreender o interesse e motivação dos professores/gestores para incluir os recursos digitais no contexto escolar e em suas práticas pedagógicas, analisando a contribuição do uso das tecnologias na continuidade das ações formativas. No décimo terceiro texto, de Eloisa Maria Wiebusch e Maria Isabel Cunha, intitulado Desafios e as possibilidades dos professores iniciantes na educação profissional e tecnológica, as autoras apresentam uma pesquisa desenvolvida com professores iniciantes na docência na educação profissional e tecnológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Riograndense, IFSul. O estudo enfoca os desafios e as possibilidades enfrentadas pelos professores iniciantes na educação profissional e tecnológica. Nesta direção, destacam para a necessidade de acompanhamento, apoio e atenção especial nessa fase tão importante da trajetória profissional dos docentes iniciantes a partir do incremento do trabalho coletivo e em equipe, envolvendo os professores iniciantes e experientes em um espaço de formação e de partilha de saberes. O décimo quarto texto, de Fabiane Raquel Canton, Indiara Rech e Valeska Maria Fortes de Oliveira, Obrigação!!! Mas, afinal, do que é capaz o encontro cinema e educação, as autoras buscam compreender as visões e as concepções 13 dos professores em relação ao cinema nacional, tendo em vista a homologação da Lei n. 13.006, de 26 de junho 2014, que torna obrigatória sua exibição mensal. A proposta em andamento constitui a ação inicial do programa de extensão Cinegrafando a Educação – Experiências formativas em cinema: até onde a sétima arte pode chegar, desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Imaginário Social (GEPEIS) da Universidade Federal de Santa Maria. O programa busca problematizar as experiências com o cinema de professores das escolas estaduais, municipais e particulares de ensino de Santa Maria/RS. As pesquisadoras acreditam que com as ações propostas e as parcerias firmadas seja possível a instituição de um outro olhar em relação ao cinema nacional, fazendo da obrigatoriedade apenas a porta de entrada para uma presença que ajude a qualificar a escola, potencializando trabalho dos professores e vinculando os estudantes a um universo inventivo capaz de proporcionar a criação de outros mundos. Ao apresentarmos os trabalhos do eixo formação de professores, reiteramos o reconhecimento da importância de compartilhar os conhecimentos produzidos nas pesquisas que compõe este livro. Acreditamos que este conjunto de estudos é capaz de proporcionar a reflexão sobre as interfaces das políticas públicas e dos processos de gestão educacional, especialmente, ao viabilizar a interlocução de grupos de pesquisadores e a integração entre a universidade e os contextos escolares. A relevância desta proposta coloca-se, pois, no possível impacto que tais elementos podem causar nos processos formativos de estudantes e professores, tanto da educação básica como na educação superior. Doris Pires Vargas Bolzan Ana Carla Hollweg Powaczuk Organizadoras 14 A COMPREENSÃO DE CURRÍCULO QUE EMERGE DA FORMAÇÃO CONTINUADA EM UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL Alexandre Giacomini1 Simara Saquet Schio2 Everton Lüdke3 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse na área da educação por temas como o currículo e a formação continuada de professores; bem como eles têm sido evidenciados em diversos estudos (GIROUX, 1983; FREIRE, 1978, 1987, 1998; GIMENO SACRISTÁN, 1998; SILVA, 1999; MUENCHEN, 2006; HALMENSCHLAGER, 2011; SIMÕES; SILVA, 2013). O presente trabalho justifica-se pela importância da construção, a partir da formação continuada dos professores em sala de aula e na escola, de um novo currículo para o ensino médio, balizado numa perspectiva crítica e social, que valoriza os processos coletivos, os diálogos, as decisões tomadas em conjunto e democraticamente. Destaca-se neste novo currículo, o desafio de superar a visão curricular fragmentada, propedêutica, linear e hierárquica que a maioria das escolas ainda adota. Nesse contexto, emerge o problema de investigação do presente estudo: Quais são as compreensões e perspectivas dos professores de uma escola pública de ensino médio do município de Restinga Sêca/RS a respeito do currículo? 1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde da Universidade Federal de Santa Maria. Mestre pelo mesmo Programa. Professor de Física da SEDUC-RS. E-mail: <[email protected]>. 2 Especialista em Gestão Educacional e Educação Ambiental pela Universidade Federal de Santa Maria. Especialista em Gestão Escolar: Orientação Supervisão, pela Universidade Barão de Mauá – São Paulo. Professora de Geografia da SEDUC-RS. E-mail: <[email protected]>. 3 Graduação em Física Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Santa Maria. Mestrado em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. PhD em Astrofísica e Radioastronomia University of Manchester. Professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Maria e orientador do Curso de Pós-Graduação Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde (PPGECQVS) sediado no Centro de Educação da UFSM. Docente orientador do curso de PósGraduação em Educação Matemática e Ensino de Física (PGEMEF). E-mail: <[email protected]>. 15 A partir dessa questão, propõe-se o seguinte objetivo: analisar as compreensões e perspectivas acerca de currículo dos professores da referida escola que frequentam um processo de formação continuada. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O currículo constitui um dos componentes que possui maior relevância na qualidade do ensino e é o ponto de vista principal da educação, pois é através dele que ocorrem os processos de mudança no ambiente educacional (GIMENO SACRISTÁN, 1998). Para esse mesmo autor (Ibid., p. 147-148), é muito difícil que exista “[...] uma definição válida de currículo que seja aceita universalmente”, uma vez que “[...] todo conceito define-se dentro de um esquema de conhecimento, e a compreensão de currículo depende de marcos muito variáveis para concretizar seu significado”; todavia, ele apresenta algumas perspectivas difundidas acerca da concepção de currículo, entre elas: programa-resumo de conteúdos do ensino, experiência do aluno/a como ponto de referência, transferência efetiva para a prática, orientação social, representação de uma cultura. Atualmente, na maioria das escolas encontram-se currículos fora do contexto/realidade das mesmas e com vários obstáculos a serem superados, como destaca Halmenschlager (2011, p. 11): “[...] ainda são encontradas, em algumas escolas, organizações curriculares descontextualizadas, lineares e fragmentadas, distante das necessidades do aluno de discutir e entender o mundo real no qual está inserido”. Ainda, para mesma autora, esse tipo de cenário é resultante de um ensino meramente disciplinar/propedêutico. Esse tipo de currículo é muitas vezes denominado de “currículo tradicional”, uma vez que está em consonância com as características expostas e retrata o paradigma curricular linear vigente. De acordo com essa realidade, novos currículos fazem-se necessários já que o currículo tradicional se encontra desconectado da realidade. Dessa forma, buscouse traçar algumas diferenças básicas do que caracterizaria um currículo crítico emancipatório balizado nas obras de Paulo Freire (1978, 1987, 1998) de um currículo tradicional, conforme o quadro 1 abaixo: 16 Currículo Tradicional É estático e unilateral. Currículo Crítico Emancipatório É dinâmico e democrático. A concepção crítica é dialógica e emancipatória. Desenvolve a consciência crítica e a transformação. Leva à humanização da sociedade. Projeto coletivo. A concepção é “antidialógica” e opressiva. Demanda a alienação e a manutenção do “status quo”. Conduz à desumanização da sociedade. Projeto individual. Quadro 1 – Currículo Tradicional x Currículo Crítico Emancipatório Fonte: Elaborado pelos autores Ressalta-se, no entanto, que Paulo Freire não desenvolveu uma teorização específica sobre currículo, mas ele “[...] discute questões que estão relacionadas com aquelas associadas com teorias mais propriamente curriculares” (SILVA, 1999, p. 57). Conforme as Orientações Curriculares Para o Ensino Médio (BRASIL, 2008, p. 15), nos últimos anos, o ensino vem sendo marcado por uma dicotomia que constitui um desafio para os educadores, ou seja, para eles ainda permanece a ideia de que o currículo do ensino médio precisa estar voltado, quase que exclusivamente, para a preparação do aluno para os exames vestibulares, em detrimento das finalidades atribuídas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96), como por exemplo, a que consta no inciso I do artigo 35 da mesma que diz: “[...] a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento dos estudos” (BRASIL, 1996). Temse uma preocupação com a quantidade de conteúdos a serem ensinados e nem sempre com o porquê ensiná-los e com a qualidade do processo ensino/aprendizagem. O ensino propedêutico pode limitar a formação integral do aluno. Formação esta que deveria incluir, além do domínio dos conteúdos universais sistematizados, o desenvolvimento do senso crítico, a capacidade de compreender e discutir situações concretas e fenômenos do seu cotidiano, a autonomia na construção do conhecimento. O novo perfil de formação básica desejada atualmente desafia a comunidade educacional a pôr em prática propostas que superem as limitações do antigo ensino médio, organizado em duas principais tradições formativas, a préuniversitária e a profissionalizante (BRASIL, 1999). Muenchen (2006), ao discorrer sobre a superação do ensino propedêutico, cita os Parâmetros Curriculares Nacionais para corroborar com sua visão: 17 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNEM) destacam que as modalidades exclusivamente pré-universitárias e profissionalizantes, características do ensino propedêutico, precisam ser superadas, pois o ensino meramente propedêutico vem omitindo os desenvolvimentos realizados durante o século atual e tratando de maneira enciclopédica e excessivamente dedutiva os conteúdos tradicionais. (MUENCHEN, 2006, p. 21). Isso sinaliza para a necessidade de se repensar a atual organização dos conteúdos curriculares, em uma perspectiva em que questões relacionadas à realidade do aluno passem a integrar o processo de ensino/aprendizagem, bem como um ensino mais contextualizado e que possibilite fazer relações entre diferentes áreas do conhecimento (BRASIL, 1999). METODOLOGIA Este trabalho, quanto ao método e à forma apresentado, tem viés, de acordo com Demo (2003), de uma pesquisa qualitativa. Quanto aos objetivos, de acordo com Gil (2007), pode ser caracterizado como uma pesquisa explicativa, pois está preocupado em identificar e analisar os fatores determinantes ou contributivos ao desencadeamento dos fenômenos, isto é, as compreensões e perspectivas de currículo dos professores em uma formação continuada. Quanto aos procedimentos adotados na coleta de dados, o estudo tem viés de uma pesquisa do tipo estudo de caso (CHIZZOTTI, 1995), pois ele visa à descoberta, à interpretação no contexto e retrata em profundidade a realidade do processo de formação continuada dos professores de uma escola. Os instrumentos utilizados para a obtenção de dados foram as análises documentais de registros escritos e redações produzidas pelos professores por meio de uma técnica fundamentada nos grupos focais, orientados por uma questão norteadora. O grupo focal pode ser definido como “[...] um grupo que se organiza em torno de uma tarefa específica: fornecer informações acerca de um tema anteriormente determinado” (PICHÓN-RIVIÈRE, 2000 apud KIND, 2004, p. 126). Dessa maneira, o grupo focal é uma estratégia de coleta de dados cuja ênfase está na relação entre os integrantes desse grupo e não apenas na resposta diretiva de um ou outro integrante. 18 A metodologia de análise utilizada, nesta pesquisa, foi a Análise Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2007), pois se trabalhou com materiais textuais escritos produzidos pelos grupos focais de professores. O processo de formação continuada ocorreu na Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo, do município de Restinga Seca, localizado na região central do Estado do Rio Grande do Sul (RS), durante o mês de maio de 2014, com a participação de 24 professores que atuam nessa instituição, mais uma orientadora de estudos. Esse processo de formação continuada faz parte de uma formação maior intitulada de “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio”, que é uma proposta do Ministério da Educação e tem por objetivo oferecer formação continuada aos professores do ensino médio nas 27 unidades da Federação. Para a construção estudo, ocorreram três encontros de 4 horas de duração cada um, durante três semanas do mês de maio do corrente ano. Durante este período, foi estudado o caderno III do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, intitulado de “O currículo do Ensino Médio, seus sujeitos e o desafio da formação humana integral” (SIMÕES; SILVA, 2013). A amostra constituída pelos 24 professores foi dividida em 8 grupos focais, contendo cada um, 3 professores. Assim, o grupo focal 1 ficou constituído pelos professores n. 1, n. 2 e n. 3, o grupo focal 2, com os professores n. 4, n. 5 e n. 6 e desta forma até o grupo focal 8, constituído pelos professores n. 22, n. 23 e n. 24. A questão norteadora destes encontros se configurou em torno das reflexões acerca do campo curricular, ou seja, foi guiada por meio da prática de “reflexão e ação” proposta pelos autores (Ibid., p. 44): Organize uma roda de diálogo com os jovens alunos da escola e com seus colegas professores; – sobre o currículo da escola; sobre o currículo vivido por estes alunos; sobre o sentido do conhecimento escolar, das experiências vividas mediadas por esse conhecimento e sobre a necessidade de outros conhecimentos e abordagens; conduza de modo a fazer emergir propostas, sugestões de outros encaminhamentos para o currículo, para as disciplinas e para outros arranjos curriculares, considerando as dimensões do trabalho, da ciência, da cultura e da tecnologia. Salienta-se que a perspectiva da integração entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura são dimensões interdependentes “[...] que podem informar e construir uma identidade para organizar o currículo do ensino médio” (Ibid., p. 22). 19 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados estão apresentados em duas categorias conforme a metodologia de análise dos dados coletados, ou seja, a Análise Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2007): a primeira, intitulada “currículo tradicional instituído”; e a segunda, “currículo almejado”. Essas categorias emergiram dos elementos teóricos que balizam a pesquisa em interação com os elementos práticos vindos dos registros escritos e redações produzidas pelos professores por meio de uma técnica fundamentada nos grupos focais, orientados por uma questão norteadora. Currículo tradicional instituído Esta primeira categoria emergiu de algumas colocações dos grupos focais de professores que relataram o currículo segundo uma visão paradigmática tradicional, ou seja, propedêutica, reprodutivista e resistente às formas de dominação, conforme os apontamentos abaixo: A escola não possui uma proposta curricular de formação para o ensino integral, pois ainda continua pautando-se pelos conteúdos dos vestibulares das tradicionais universidades da região. (Grupo focal 1). O debate constante em busca da qualidade no cenário educacional aponta para a emergente necessidade de romper com o paradigma curricular tradicional existente, que transformou a escola em uma máquina de reprodução, engrenagem que encontra muita dificuldade para valorizar as singularidades e subjetividades de cada educando. (Grupo focal 5). O currículo instituído pela escola, muitas vezes, reproduz as características dominantes do governo e/ou gestão atual, sejam elas ideológicas, políticas ou econômicas. (Grupo focal 6). Destaca-se, a partir desses apontamentos, que alguns grupos focais de professores compreendem que o currículo privilegia objetivos, ora vinculados aos processos seletivos e excludentes dos vestibulares, ora determinados por questões políticas, econômicas e ideológicas dominantes. Para corroborar, nesse sentido, citam-se as palavras de Giroux (1983) ao asseverar que as perspectivas do currículo tradicional são orientadas por uma racionalidade técnica, instrumental e utilitária fundamentadas nos critérios de eficiência e reprodução das desigualdades e injustiças sociais. 20 Currículo almejado Esta segunda categoria, emergiu em oposição à primeira, uma vez que a maioria dos grupos focais de professores relatou uma visão curricular que é almejada no atual cenário educacional. Entre as compreensões e perspectivas de currículo, apontadas pelos grupos focais, encontram-se as visões menos fragmentadas e mais integradas do mesmo, ou seja, a ideia implícita da interdisciplinaridade e o trabalho coletivo, conforme os relatos abaixo: A questão curricular do momento exige uma visão integral no ensinar e o rompimento com as chamadas disciplinas isoladas mesmo porque a realidade não é isolada. (Grupo focal 3). A maioria dos educadores de nossa escola percebe que a educação necessita romper com os métodos de ensino pautados pelo currículo tradicional e, dessa forma, buscar a integração com as demais disciplinas para possibilitar dar sentido ao que é realmente necessário para a construção do conhecimento dos alunos e para valorizar os processos coletivos. (Grupo focal 8). Também apareceram as perspectivas de currículo, cujas ênfases vão além dos conteúdos programáticos e levam em consideração os valores e a autonomia dos alunos, bem como a compreensão do currículo que abarque as questões relativas à realidade e ao contexto do aluno, conforme os apontamentos abaixo: O que realmente é relevante no âmbito curricular vai além dos conteúdos programáticos; é preciso levar em consideração os valores, a formação de liderança e de autonomia dos nossos alunos, para que possamos formar cidadãos críticos, participativos e conscientes, compreendendo seu papel como sujeito atuante na sociedade. (Grupo focal 2). Levando em conta o debate atual, não há um padrão curricular que possa servir como um modelo perfeito e, dessa forma, ele deve buscar uma postura relacionada com os aspectos históricos e sociais da realidade do aluno. O currículo jamais deve limitar esse aluno, pelo contrário, o respeito à diversidade enriquece a aprendizagem desde que o objetivo seja dar autonomia para um aluno ainda jovem e sua conscientização dos direitos e deveres. (Grupo focal 4). É um desafio muito grande no campo curricular fazer a aproximação adequada entre programas de ensino e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura quando sofremos da exiguidade de recursos, tempo, monitoria e outras mazelas. No entanto, é possível estabelecer uma ligação nesse campo, mesmo que tênue, entre os conteúdos e conceitos fundamentais inerentes a cada uma das áreas de conhecimento e a realidade a qual nossos alunos vivem. (Grupo focal 7). 21 Destaca-se, a partir dos apontamentos dos docentes, que participam dos grupos focais, acenam para uma proposta curricular do ensino médio que vise práticas, tempos e espaços escolares que vão além da “grade” de conteúdos trabalhados isoladamente pelas disciplinas, mas sim, que os procure fazer de forma dialógica, coletiva e interdisciplinar, buscando como referencial permanente os jovens alunos que o frequentam, bem como suas realidades, suas expectativas e suas necessidades. Sob esse prisma, citam-se as palavras de Simões e Silva (2013), nas quais eles propõem implementar um currículo que: • Seja inclusivo e intercultural; • Supere o ideário do dualismo entre formação geral e formação profissional; • Proporcione um caminho formativo motivador, tanto pela integração entre trabalho, cultura, ciência e tecnologia como pela prospecção de um futuro melhor; • Articule a formação cultural e o trabalho produtivo; • Aproxime as ciências naturais das ciências humanas. (SIMÕES; SILVA, 2013, p. 43). Neste trabalho fez-se uma incursão acerca dos temas de currículo e formação continuada de professores, porém à guisa de apontamentos finais é relevante ressaltar que o currículo do ensino médio passa por intensas reformulações; e, nada melhor do que aproveitar este momento para superar o paradigma curricular linear e propedêutico vigente e buscar uma nova proposta cuja ênfase vai além da programação isolada de conteúdos e do processo ensino-aprendizagem, mas também, que envolva outras dimensões como: a integração entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura; integração entre a escola e a comunidade; democratização das relações de poder e visão coletiva e interdisciplinar de trabalho entre os educadores. Desse ponto de vista, é também importante salientar que este currículo almejado poderá ser alcançado com uma efetiva formação permanente e continuada dos professores, pois de acordo com Gimeno Sacristán (1998), a formação de educadores tem se constituído em uma das pedras angulares imprescindíveis a qualquer intento de renovação do sistema educativo. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 dez. 1996. 22 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 22 ago. 2014. ______. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Básica (SEB), Departamento de Políticas de Ensino Médio. Orientações Curriculares Para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2008. ______. Ministério da Educação e dos Desportos. Parâmetros Curriculares Nacionais. Parte I, II e III, 1999. CHIZZOTTI, A. 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Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013, 49 p. 23 O IMPACTO DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID) E SUAS INTER-RELAÇÕES NO PROCESSO DE GESTÃO ESCOLAR Camila Moresco Possebon1 Nicole Zanon Veleda2 Rosane Carneiro Sarturi3 INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta os resultados de duas pesquisas realizadas por acadêmicas egressas do curso de graduação em Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), desenvolvidas nos anos de 2013 e 2014. Em ambas as pesquisas, a temática investigativa consiste nos impactos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) na formação inicial de acadêmicas dos cursos de Pedagogia, noturno e diurno, da UFSM e na formação continuada de professoras da educação básica em atuação docente nas escolas parceiras do subprojeto da área da Pedagogia/UFSM/PIBID, bem como suas interrelações no processo de gestão escolar. O objetivo da pesquisa é identificar as possíveis contribuições da participação do PIBID na realização das atividades de estágio curricular supervisionado das bolsistas de iniciação à docência e nas ações pedagógicas das professoras bolsistas supervisoras. Em função do objetivo proposto, destaca-se como problema de pesquisa: “Quais as possíveis contribuições do PIBID na formação inicial das acadêmicas bolsistas de iniciação à docência e na formação continuada das professoras bolsistas supervisoras?”. Nesta perspectiva, para auxiliar na resolução do problema, foram elaborados os seguintes objetivos específicos: analisar o edital de implementação do PIBID e seus objetivos; verificar como as professoras supervisoras percebem os possíveis impactos do PIBID/Pedagogia no processo de ensino-aprendizagem; reconhecer as 1 Pedagoga. Estudante do Curso de Especialização em Gestão Educacional (UFSM). Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 2 Pedagoga. Aluna especial do Curso de Especialização em Gestão Educacional (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 3 Professora doutora da UFSM. E-mail: <[email protected]>. 24 contribuições da participação no PIBID para a qualificação da formação inicial de professores. SUBPROJETO PEDAGOGIA/PIBID/UFSM NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A QUALIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO INICIAL O PIBID tem como objetivo a qualificação da educação pública brasileira, a partir do incentivo à iniciação à docência, possibilitando a aproximação do acadêmico com as diferentes realidades que podem ser encontradas no contexto escolar. O objetivo diretamente ligado ao contexto escolar está descrito no Artigo 3º, inciso V, do edital do referido programa, no qual o mesmo tem como uma de suas diretrizes “[...] incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus professores como co-formadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério” (BRASIL, 2010a, p. 4). Na intenção de unir as secretarias dos estados e municípios e as Instituições Públicas de Educação Superior, o programa oferece bolsas de iniciação à docência, destinadas aos acadêmicos dos cursos de licenciatura, visando o comprometimento dos mesmos com o exercício do magistério na rede pública, depois de graduados. Em setembro de 2009 a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) lançou o edital que orientou as instituições interessadas a apresentar propostas de subprojetos. Conforme os objetivos deste edital, os projetos propostos deveriam: a) incentivar a formação de professores para a educação básica, contribuindo para a elevação da qualidade da escola pública; b) valorizar o magistério, incentivando os estudantes que optam pela carreira docente; c) elevar a qualidade das ações acadêmicas voltadas à formação inicial de professores nos cursos de licenciatura das instituições públicas de educação superior; d) inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, promovendo a integração entre educação superior e educação básica; e) proporcionar aos futuros professores participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar e que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem, levando em consideração o IDEB e o desempenho da escola em avaliações nacionais, como Provinha Brasil, Prova Brasil, SAEB, ENEM, entre outras; e f) incentivar escolas públicas de educação básica, tornando-as protagonistas nos processos formativos dos estudantes das licenciaturas, mobilizando seus professores como co-formadores dos futuros professores. (BRASIL, 2009, p. 3). 25 É recomendável que as Instituições de Ensino Superior comprometidas com a educação de sua localidade/região, desenvolvam as atividades do Programa, tanto em escolas que tenham obtido Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) abaixo da média nacional, quanto naquelas que tenham experiências bem sucedidas de ensino e aprendizagem, a fim de apreender as diferentes realidades e necessidades da educação básica e de contribuir para a elevação do IDEB, aproximando-o do patamar considerado no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (BRASIL, 2009). Nesse sentido, o subprojeto Pedagogia/UFSM/PIBID busca inserir-se em escolas que, além de apresentarem o IDEB abaixo da média nacional, estejam localizadas nas regiões de periferia da cidade, em comunidades carentes que desafiam constantemente a ação docente. A realidade destas escolas possibilita aos futuros professores o contato com as adversidades das regiões de periferia, com as especificidades do trabalho docente com crianças e jovens em situações de risco e de pobreza. Tais prerrogativas estão de acordo com o perfil do egresso do curso de Pedagogia da UFSM/noturno, descrito no Projeto Político-Pedagógico (PPP) do mesmo. Sobre o perfil desejado do formando, o documento destaca que o profissional que tem como base de formação a docência, precisa desenvolver seus saberes docentes com base em conhecimentos teóricos e práticos que irão mediar a sua atividade em instituições escolares e não escolares em diversas realidades, atuando conforme as demandas do contexto. As acadêmicas do curso de Pedagogia, noturno e diurno, da UFSM que participam do Subprojeto Pedagogia/UFSM/PIBID dedicam-se 20 horas semanais às atividades de inserção no espaço escolar, tomando conhecimento das peculiaridades da ação docente no que se refere às dificuldades enfrentadas por professores e professoras em relação às adversidades do contexto nos quais estão inseridos, contemplando o quarto objetivo previsto no edital de implementação dos Subprojetos PIBID de “[...] inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, promovendo a integração entre educação superior e educação básica” (BRASIL, 2009, p. 3). Essa integração pôde ser identificada na fala da entrevistada: Aluna 1: O PIBID contribuiu para que eu pudesse me sentir mais familiarizada no contexto escolar e pudesse pensar em metodologias mais 26 atrativas. No meu estágio trabalhei muito com circuito de jogos, como eu trabalhava no PIBID, além disso, tive a contribuição da professora regente que também trabalha nessa perspectiva. O contato recorrente com a escola proporciona as acadêmicas a consolidação e construção de novos conhecimentos, assim como o avanço destes, através da busca de aporte teórico que fundamente a intencionalidade das práticas pedagógicas. Estas, caracterizadas pela reflexão em torno da ação que se realizou e que resulta em uma nova ação. Na medida em que se inserem no campo de atuação a identidade docente das futuras professoras vai se construindo, por meio de espaços de autonomia nos planejamentos, reflexões acerca da prática desenvolvida, das relações construídas com os alunos e alunas e suas famílias. Esta vivência promove, também, a construção dos saberes das relações com os demais professores e professoras, funcionários e equipe de gestão, promovendo avanços na complexidade que envolve a ação docente: Aluna 2: Muitos acadêmicos tem acesso à prática nos últimos semestre ou somente no estágio, o que dificulta a relação teórico-prática que tanto se fala e a significação dos saberes docentes. É através da prática que o educador vai se constituir, saber lidar com os desafios da docência e pensar atividades reflexivas e mobilizadoras. O futuro docente assume uma postura investigativa diante do contexto profissional, social e político que circunda os espaços escolares e não escolares. Tal postura, mencionada no PPP dos cursos de Licenciatura em Pedagogia (noturno e diurno) da UFSM, permite que o aluno amplie sua atuação para além das ações pedagógicas em sala de aula, desenvolvendo projetos que lhe possibilite compreender e problematizar o dia-a-dia da escola, realizando um movimento caracterizado por um processo que vai do todo às partes e das partes ao todo, através de práticas que iniciam no âmbito da sala de aula, transcendendo para outros espaços pedagógicos. O PIBID/UFSM/PEDAGOGIA E SUA RELAÇÃO COM OS DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA Na Portaria n. 260, de dezembro de 2010, expedida pela CAPES, em que estão descritas as normas do PIBID, também estão descritos a definição e os requisitos para a participação como bolsista supervisor do programa. Estes são “[...] 27 professores das escolas públicas estaduais, municipais ou do Distrito Federal, participantes do projeto institucional apoiado, e designados para supervisionar as atividades dos bolsistas de iniciação à docência” (BRASIL, 2010b, p. 9). Como requisitos para participação no programa, o professor deve ser um profissional do magistério da Educação Básica, em efetivo exercício há pelo menos dois anos na escola participante do Programa, preferencialmente em regência de classe. As atribuições do cargo são, conforme edital: I. informar ao Coordenador de Área alterações cadastrais e eventuais mudanças nas condições que lhe garantiram inscrição e permanência no PIBID; II. controlar a frequência dos bolsistas de iniciação à docência na escola, repassando essas informações ao Coordenador de Área do Programa; III. acompanhar as atividades presenciais dos bolsistas de iniciação à docência sob sua orientação, em conformidade com o PIBID; IV. participar de seminários regionais do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, realizando as atividades previstas, tanto presenciais quanto a distância; V. manter a direção e os demais integrantes da escola informados sobre a atuação e boas práticas pedagógicas geradas pelos bolsistas e VI. elaborar e enviar ao Coordenador de Área documentos de acompanhamento das atividades dos bolsistas de iniciação à docência sob sua orientação, sempre que solicitado. (BRASIL, 2010b, p. 9-10). Da maneira como o subprojeto da área da Pedagogia/UFSM está configurado, o papel das professoras supervisoras, como elo entre as ações das bolsistas de iniciação à docência e demais sujeitos da escola, se faz essencial ao que diz respeito ao inciso III do edital supracitado, no sentido de tornar significativas as ações do subprojeto para os sujeitos que estão envolvidos. A realidade atual das escolas é de que os professores são, na maioria das vezes, oriundos de outras regiões da cidade, trabalham em mais escolas, de modo que não conseguem participar efetivamente das atividades da comunidade escolar. Suas ações se restringem à prática em sala de aula, que também não acompanha o projeto da própria escola, pela impossibilidade de participação também em reuniões e outros espaços de trocas, restando-lhe apenas o tempo do recreio para que possa se colocar a par de tudo o que acontece na escola. Tendo a universidade outra dinâmica, ou seja, outro tempo e outro espaço em que as relações acontecem, a professora supervisora exerce um papel fundamental para mediar a comunicação de forma que possa se estabelecer a harmonia, visando superar desafios e atingir objetivos em comum. Este aspecto ilustra um dos pressupostos fundamentais no movimento de transição da concepção de administração escolar para gestão educacional, pois: 28 Pressupõe um entendimento diferente da realidade, dos elementos envolvidos em uma ação e das próprias pessoas em seu contexto; abrange uma série de concepções, tendo como foco a interatividade social, não consideradas pelo conceito de administração, e portanto, superando-a. (LUCK, 2006, p. 55). Como a gestão educacional requer participação de todos os sujeitos que compõem a escola, as ações da professora supervisora também visam a comunicação das práticas do PIBID para as demais professoras, de acordo com o previsto no inciso V do edital do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência para que ocorra um real entrelaçamento entre a proposta da escola com a proposta do subprojeto. A relevante contribuição das professoras supervisoras, para que as ações do subprojeto se tornem realmente significativas para toda a comunidade escolar, estão diretamente ligadas às concepções da gestão da escola e ao nível de entendimento que a escola possui do subprojeto. Na fala da Professora 1, referente à percepção do seu papel enquanto articuladora do PIBID/Pedagogia e a realidade escolar, podemos perceber esta interdependência entre gestão e PIBID: Professora 1: Considero um papel extremamente significativo, porém, às vezes, impotente diante da Gestão Escolar, pois muitas decisões precisam da participação efetiva da Direção da escola, o que nem sempre ocorreu naquela época. Podemos observar, diante dessa fala, que as ações do subprojeto muitas vezes não eram valorizadas pela direção da escola, assim como por parte do corpo docente, já que desconheciam o trabalho desenvolvido pelas bolsistas. A professora supervisora, por acompanhar o desenvolvimento das atividades, conhecia a relevância do trabalho realizado, mas fazer com que o trabalho interessasse ao restante do grupo era uma tarefa mais árdua. O que se pode observar nas escolas, porém, é que grande parte do corpo docente não se identifica como “gestor” daquele espaço. Os professores que atuam em sala de aula responsabilizam a equipe diretiva por tudo aquilo que dá errado na escola, como se estivessem alheios ao que acontece fora de seus domínios, da sua sala de aula. Porém, uma nova concepção de gestão começa a ser delineada pelas professoras a partir da participação como supervisoras do subprojeto. A valorização do magistério, descrita tanto na LDB quanto no edital do PIBID, se torna uma realidade a partir do momento em que as professoras supervisoras fazem uso das suas vivências para subsidiar novas práticas e diferentes maneiras 29 de encarar a realidade da escola, principalmente da escola pública, com recursos escassos, que atende crianças e jovens com realidades difíceis e que interferem pontualmente em seu processo de ensino-aprendizagem. Cientes desse movimento que precisam despertar no ambiente escolar e apoiadas pelo PIBID, as professoras supervisoras superam suas concepções a favor de qualificar o seu ambiente de trabalho, a sua relação com os alunos e com seus colegas. Nesse sentido, a articulação entre a universidade e a escola apresenta um espaço para que possibilidades de um novo trabalho se constituam. Essa articulação promovida pela professora supervisora traz benefícios para todos os sujeitos envolvidos, que podem ser observados em aspectos que vão do global para o local e vice-versa: as mudanças se fazem significativas, pois atingem um grande número de pessoas; atingem a prática dos professores, influenciam o processo de ensino-aprendizagem dos alunos que participam efetivamente do subprojeto e transformam a formação inicial das bolsistas de iniciação à docência em momento de construção da profissionalidade docente. Libâneo, Oliveira e Toschi (2007) afirmam que: O despreparo profissional pode estar associado, também, a uma frágil formação inicial, de modo que se faz necessário investir nas situações de trabalho, em maior conhecimento teórico, envolvendo tanto os saberes pedagógicos como os específicos. (p. 377). Além de qualificar a formação inicial dos pibidianos, através da antecipação do vínculo com o universo escolar, o PIBID promove um resgate dos saberes acadêmicos das professoras que participam direta ou indiretamente do subprojeto, conforme o relato sobre a experiência como professora supervisora do PIBID/UFSM/Pedagogia: Professora 3: Foi bastante satisfatória, reestabeleci o vínculo com a Universidade trazendo novidades para minha prática pedagógica. Mudei muito minha maneira de dar aula, adotei o trabalho em grupo como rotina; não sei mais trabalhar com meus alunos isolados. Aplico bastante a metodologia dos jogos e o PIBID veio para somar em minha prática pedagógica. Baseado no que a professora traz como pontos marcantes de sua participação no PIBID, é relevante salientar a mudança declarada nas suas práticas pedagógicas, fundamentadas na compreensão absoluta dos princípios epistemológicos que regem o trabalho desenvolvido pelas pibidianas. Assim como a afirmação de que esse pressuposto é válido e que efetivamente traz resultados à aprendizagem dos alunos 30 que, por sua vez, incentivam a professora à renovação de metodologias e de aceitação de diferentes possibilidades no que diz respeito à construção do conhecimento. Para que essa renovação metodológica e epistemológica pudesse ocorrer de forma significativa na atuação das professoras, é essencial ressaltar que os movimentos de formação continuada ocasionados pelas inserções do PIBID foram fundamentais neste processo, considerando as trocas de saberes e experiências entre acadêmicas e professoras, universidade e escola. METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido com base nos pressupostos da pesquisa qualitativa, pois, esse tipo de pesquisa assegura relevância ao que é subjetivo dos sujeitos da pesquisa, dando margem às percepções dos mesmos acerca das relações que são únicas e individuais, em diferentes contextos. Para Minayo (1994), a pesquisa qualitativa [...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (p. 21-22). Para lidar com questões muito particulares e complexas de determinados contextos e sujeitos, escolheu-se como tipo de pesquisa o estudo de caso, que “[...] se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo” (SEVERINO, 2007, p. 121). Primeiramente realizou-se um estudo acerca do edital do Programa PIBID, buscando informações sobre os objetivos do programa para qualificar a formação inicial de acadêmicos dos cursos de licenciatura e as funções dos bolsistas supervisores, atribuídas às professoras das escolas que desempenham este papel. Também foi utilizado como fonte de dados o Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia da UFSM (noturno e diurno) focando nos objetivos atribuídos aos alunos e ao curso como um todo. Essa etapa da pesquisa caracteriza-se como pesquisa documental que, conforme Gil (2008) é muito parecida com a bibliográfica, no entanto demarcam diferenças quanto a utilização analítica das fontes utilizadas. 31 A pesquisa foi realizada no contexto da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e em seis escolas públicas da rede estadual e municipal de Santa Maria/RS que participaram do PIBID/Pedagogia, no período de 2009 a 2013. Os sujeitos da pesquisa foram egressas dos cursos de Pedagogia noturno e diurno da UFSM, que participaram como bolsistas no Subprojeto PIBID da área da Pedagogia, e professoras das seis escolas onde se desenvolveram as atividades de inserção do projeto, que desempenharam a função de bolsistas supervisoras. Os dados foram coletados através de questionários abertos, enviados por email para os sujeitos da pesquisa. As questões que constituem o questionário destinado às alunas egressas foram desenvolvidas conforme as três categorias de análise: formação inicial, gestão do pedagógico e estágio supervisionado. As questões que constituem o questionário destinado às professoras supervisoras foram elaboradas a partir das seguintes categorias de análise formuladas: o PIBID como política pública, o professor gestor e as articulações universidade-escola. Os questionários foram enviados para quatorze alunas egressas e seis professoras supervisoras, via correio eletrônico. Das quatorze alunas apenas seis responderam e das seis professoras, apenas três. A identidade das mesmas foi mantida em sigilo, dessa forma, as falas utilizadas ao longo do texto serão identificadas pelos codinomes: Aluna 1, Aluna 2, Aluna 3, Aluna 4, Aluna 5, Aluna 6, Professora 1, Professora 2 e Professora 3. Também se coletou dados a partir de observações participantes no cotidiano escolar, nos espaços de inserção do PIBID, pois se acredita que: As principais características do método dizem respeito ao fato de o pesquisador mergulhar de cabeça no campo, que observará a partir de uma perspectiva de membro, mas deverá, também, influenciar o que é observado graças a sua participação. (FLICK, 2009, p. 207). Para interpretar o conteúdo das entrevistas, utilizou-se como pressuposto a análise de conteúdo de Bardin (1997), que consiste em [...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas destas mensagens). (p. 42). 32 A opção por esta metodologia de tratamento da informação dá-se no sentido de interpretar a fala das entrevistadas profundamente, identificando significantes na linguagem escrita como também na linguagem oral. Desta forma, a etapa subsequente caracterizou-se como a terceira etapa da pesquisa, que consiste em análise do material coletado e estudo de referencial teórico da temática abordada para subsidiar os resultados encontrados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluiu-se, que a antecipação da inserção das acadêmicas no contexto escolar, através da sua participação como bolsistas de iniciação à docência, promoveu a construção de sua identidade docente antes mesmo do estágio curricular obrigatório, pois, a familiarização com as atribuições do professor no contexto de atuação permitiu que se sentissem mais preparadas para lidar com as adversidades da escola real. O conhecimento da realidade em que a instituição de ensino está localizada, a compreensão da comunidade e dos significados e significantes à vida dos sujeitos que constituem esses espaços-tempos são primordiais para que professores e professoras possam aprofundar suas ações docentes, atribuindo-lhe caráter transformador. Este caráter de transformação também esteve presente no impacto do PIBID na formação continuada das professoras bolsistas supervisoras, que atribuíram ao programa a capacidade de promover espaços de (re) significação de suas práticas docentes, principalmente no que se refere às suas concepções de gestão escolar. Desse modo, a docência em seu exercício é “[...] expressão do saber pedagógico, constitui-se numa fonte de desenvolvimento da teoria pedagógica. As necessidades práticas que emergem do cotidiano da sala de aula demandam uma teoria” (PIMENTA, 2000, p. 47). Ou seja, a vivência na sala de aula movimenta o professor ou professora em direção às teorias que irão fundamentar o seu trabalho e as intervenções necessárias em busca do avanço de seus alunos e alunas em relação aos conhecimentos outrora assimilados e os novos conhecimentos. O PIBID surgiu na vida profissional das professoras supervisoras como uma oportunidade de renovação e de busca pela qualificação de suas práticas, bem 33 como um momento em que revisitaram as teorias que fomentam seus fazeres de forma reflexiva e carregadas de novos sentidos. Portanto, a professora supervisora, além de formar-se e identificar-se como gestora do espaço que ocupa na escola e ciente do quão relevante são suas ideias para transformar esse espaço, configura-se como peça fundamental ao desenvolvimento do PIBID no espaço escolar, quando também se reconhece como coformadora das bolsistas, proporcionando às mesmas vivências que não lhes são possíveis dentro do contexto acadêmico. Do mesmo modo, para a formação das acadêmicas de Pedagogia, a iniciação à docência, permitiu que pudessem conhecer, compreender e refletir suas práticas, no sentido de identificar conceitos e procedimentos, conferir significados e interpretar problemas com mais segurança e autonomia. Através das modalidades de inserção do Subprojeto Pedagogia/UFSM/PIBID, vivenciadas por todas as egressas entrevistadas, a prática dos estágios supervisionados transformaram-se em espaços de aprofundamentos de conhecimentos já construídos. Esta prática possibilitou o enfoque para questões mais profundas acerca da prática docente. Os impactos verificados na ação docente das egressas dos cursos de Pedagogia, no período do estágio curricular obrigatório, e na ação docente das professoras da educação básica, se deram tanto no âmbito da prática da sala de aula quanto na (re) significação da identidade docente, que passa a assumir-se como parte integrante das ações de gestão no campo escolar e educacional para além da regência de classe. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BRASIL. Decreto n. 7.219, de 24 de junho de 2010. Diário Oficial da União, n. 120, seção 1, p. 4-5, 2010a. Disponível em: <https://www.capes.gov.br/images/stories/download/diversos/DecretoPIBID_240610. pdf>. Acesso em: 10 jun. 2014. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394, 20 de dezembro de 1996. CAPES. Edital do Docência/PIBID. Programa Institucional 2009. de Bolsa de Disponível Iniciação à em: 34 <http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/Edital02_PIBID2009.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2013. ______. Portaria n. 260, de 30 de dezembro de 2010b. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid/editais-e-selecoes >. Acesso em: 10 jun. 2014. FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. LIBANEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: Políticas, estrutura e organização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007. LÜCK, H. Gestão Educacional: uma questão paradigmática. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2006. MINAYO. C. de S. 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Acesso em: 21 abr. 2014. 35 INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM REDE NA FORMAÇÃO INICIAL E/OU CONTINUADA DE PROFESSORES Iris Cristina Datsch Toebe1 Juliana Sales Jacques2 Sabrina Bagetti3 Anna Helena Silveira Sonego4 Elena Maria Mallmann5 INTRODUÇÃO No âmbito educacional, as tecnologias apresentam possíveis mudanças e melhorias no que diz respeito ao processo de formação inicial e continuada de professores. Isso porque, através do processo ensino-aprendizagem mediado por tecnologias em rede, existe a expansão e a democratização de acesso à escolaridade (no caso deste estudo, à formação inicial de professores). As tecnologias em rede flexibilizam as práticas escolares, tendo em vista que possibilitam o desenvolvimento de atividades em tempos e espaços distintos. Ademais, através da interatividade, potencializam interação em rede e isso tende a gerar construção colaborativa de saberes. Para mediar situações de ensino-aprendizagem em rede na formação inicial, é fundamental que os professores formadores estejam preparados e qualificados para tal situação, implicando reflexos positivos ou negativos na prática profissional dos estudantes e egressos dos cursos de licenciaturas. Por isso, a importância de se trabalhar com capacitações sustentadas no aproveitamento das potencialidades hipermidiáticas das tecnologias em rede para gerar a construção do processo ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva de integração, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) disponibiliza o Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem (AVEA) Moodle como ferramenta de apoio aos cursos presenciais e espaço virtual para a criação 1Mestranda em Educação, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. em Educação, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. 3Mestranda em Educação, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. 4Mestra em Educação, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. 5Doutora em Educação, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. 2Doutoranda 36 das disciplinas dos cursos a distância. No entanto, centrando no foco deste estudo que são os cursos de licenciaturas em Pedagogia (modalidades presencial e a distância) do Centro de Educação (CE) da UFSM, entende-se que há necessidade de ampliar gradativamente a integração das tecnologias educacionais em rede na formação. Diante disso, surgiu a inquietação em torno dos desafios da integração do Moodle, uma vez que as políticas nacionais e institucionais induzem sua integração. Nesse sentido, preocupação temática desta pesquisa começou a ser delineada e a pesquisa passou a ser organizada com base nas matrizes cartográficas apresentadas por Mallmann (2008). Para isso, considerou-se os princípios investigativos da primeira etapa descrita pela autora: a matriz dialógicoproblematizadora (MDP), cuja ênfase é dar sentido aos resultados que serão obtidos, sem perder o foco da preocupação temática. A MDP é um quadro que orienta o componente investigativo da pesquisa-ação educacional. Tem como objetivo auxiliar na definição dos problemas de pesquisa sobre as orientações educativas. Essa matriz permite criar uma estrutura sistemática envolvendo professor, estudantes, tema de estudo e contexto, favorecendo a discussão da preocupação temática. Nesta pesquisa, a MDP foi orientada pelos seguintes componentes educativos: PROFESSORES: dos cursos de licenciatura em pedagogia do CE da UFSM. ESTUDANTES: dos cursos de licenciatura em pedagogia do CE da UFSM. TEMA: políticas públicas e práticas escolares de integração das tecnologias educacionais em rede previstas nos projetos pedagógicos dos cursos. CONTEXTO: integração das tecnologias educacionais em rede na formação inicial de professores. 37 [4]Contexto [A] Professores [3] Tema [A3] Como os professores desenvolvem [A1] Como os professores tem [A2] Como os professores práticas curriculares nos cursos de acesso as diretrizes e parâmetros encontram orientações para interagir formação inicial de professores de fomento e indução das políticas com os estudantes em atividades amparados nas políticas públicas e educacionais para integração das mediadas por um ambiente virtual práticas escolares para integração das tecnologias em rede nos cursos de de ensino-aprendizagem tecnologias educacionais em rede formação inicial de professores? institucional? previstas nos PPP dos cursos? [B] Estudantes [2] Estudantes [B3] Os estudantes conhecem as [B2] Os estudantes [B1] Os estudantes interagem com políticas públicas que potencializam as interagem entre si para [B4] Os estudantes compreendem os professores sobre os conteúdos práticas escolares integrando as desenvolverem atividades utilizando como ocorre a integração das curriculares das disciplinas tecnologias educacionais em rede as tecnologias educacionais em tecnologias educacionais em rede mediados por tecnologias previstas nos projetos políticos rede institucionalizada? na formação inicial de professores? educacionais em rede? pedagógicos dos cursos de licenciatura em pedagogia do CE da UFSM? [C] Tema [1] Professores [C1] As políticas públicas e práticas escolares para integração das tecnologias educacionais em rede [C2] As políticas públicas permitem previstas nos projetos político que os estudantes compreendam a pedagógicos dos cursos de sua importância para integração das licenciatura geram inovação nas tecnologias em rede na formação práticas escolares, curriculares dos inicial dos professores e inovação professores dos cursos de curricular? licenciatura em pedagogia do CE da UFSM? [D] Contexto MDP [A4] Os professores encontram orientações nos PPP para desenvolverem atividades curriculares para gerar integração das tecnologias educacionais em rede na formação inicial de professores? [D1] As tecnologias educacionais [D2] As tecnologias educacionais em [D3] A integração das tecnologias em rede disponibilizam ferramentas rede disponibilizam ferramentas de [D4] Como ocorre a integração das educacionais em rede na formação inicial de recursos e atividades que recursos e atividades que tecnologias educacionais em rede de professores oportuniza inovações nas permitem desenvolver inovações potencializam o processo ensinona formação inicial de professores práticas escolares amparado nas nas práticas curriculares e aprendizagem dos estudantes dos nos cursos de licenciatura em políticas públicas e nos projetos políticos pedagógicas por professores dos cursos de licenciatura em pedagogia pedagogia do CE da UFSM? pedagógicos dos cursos de licenciatura cursos de licenciatura em do CE da UFSM? em pedagogia do CE da UFSM? pedagogia do CE da UFSM? [C3] De que modo às políticas públicas educacionais vigentes para [C4] Como as políticas públicas e formação de professores e os projetos práticas escolares potencializam políticos pedagógicos dos Cursos de para o desenvolvimento das Licenciatura em Pedagogia da UFSM, práticas pedagógicas e curriculares orientam práticas escolares de para integração das tecnologias integração das tecnologias educacionais em rede? educacionais em rede? Quadro 1 - Matriz Dialógico-Problematizadora Fonte: Elaborada pelas autoras Os quatro componentes citados foram confrontados entre eles de forma a estabelecer questões investigativas. A formulação das questões partiram do primeiro elemento, neste caso, os professores, em relação a ele mesmo, ou seja, o que é esperado dos professores com relação aos professores no que se refere à integração das tecnologias educacionais? Da mesma forma, os demais elementos do quadro foram preenchidos sucessivamente. Depois de problematizar todos os componentes envolvidos, chegou-se à questão central envolvendo o tema a ser investigado, no qual se delimitou o seguinte problema de pesquisa: Os PPC de licenciaturas em Pedagogia do CE da UFSM orientam práticas escolares de integração das tecnologias educacionais em rede de acordo com as políticas públicas educacionais vigentes para formação de professores? Assim sendo, este trabalho teve como foco diagnosticar as possibilidades de integração das tecnologias educacionais em rede previstas nos PPC para implementação, nos cursos de Licenciatura em Pedagogia do CE da UFSM, analisando as políticas públicas educacionais vigentes para formação de professores. Tendo como objetivos identificar a possibilidade de integração das tecnologias educacionais em rede nas atividades curriculares dos referidos cursos e analisar a coerência dos PPC com base nas políticas públicas de fomento à formação de professores. INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM REDE A integração das tecnologias educacionais em rede tem proporcionado novas práticas escolares dando aos professores condições de inovações pedagógicotecnológicas na formação inicial e/ou continuada na perspectiva da qualidade em educação com intuito de potencializar o processo ensino-aprendizagem. Desse modo, para Girardi (2011), a educação sendo a base de formação de cidadãos, precisa preparar seus profissionais para dominar o potencial educativo que a tecnologia oferece e colocá-las a disposição do desenvolvimento pedagógico que vise a construção da autonomia dos educandos e a formação plena do exercício da cidadania. Para isso, faz-se necessário que o docente desenvolva o processo de fluência tecnológico-pedagógica. Para tanto, é fundamental que o professor e estudante desenvolvam a fluência tecnológico-pedagógica nos níveis técnico, prático e emancipatório (SCHNEIDER, 2012). Na concepção dessa autora, a fluência técnica é o conhecimento que o professor e o estudante devem possuir, por exemplo, ao ligar/desligar o computador, acessar o ambiente Moodle (plataforma institucional na UFSM). Já a fluência prática está relacionada com ação mediadora e a capacidade de explorar a mídia a seu favor, potencializando a capacidade de resolver dificuldades inesperadas e indesejadas. E a fluência emancipatória é obtida a partir do desenvolvimento em conjunto da fluência técnica e prática. Assim sendo, a construção da fluência, por parte dos estudantes e professores, permite a interação e a interatividade, através do planejamento e implementação de recursos e atividades de estudo mediadas pelo AVEA. A mediação de atividades em um AVEA, contribui para além da construção da fluência, a inovação nas práticas escolares, investindo na integração das tecnologias educacionais em rede para reorganização e flexibilização didático-metodológica para que resulte em inovação curricular no processo de formação inicial e/ou continuada dos professores. Isso, porque o AVEA, permite disponibilizar atividades e recursos tanto na sala de aula como em momentos extraclasse, potencializando o diálogoproblematizador, a interação entre os participantes fomentando a construção do conhecimento colaborativo. Para integração das tecnologias educacionais em rede, nos amparamos no Edital n. 15_Capes_Fomento ao uso das TIC que menciona que: implantar e implementar plataforma virtual de comunicação e aprendizagem, de código aberto, que integre todos os cursos da instituição, visando ampliar a organização e a desburocratização dos processos administrativos e pedagógicos, otimizando o sistema acadêmico sem fragmentá-lo. O referido edital, desenvolvido pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) em 23 de março de 2010, teve como intenção instigar a integração das tecnologias em rede e a convergência entre as modalidades educacionais. Além do mais, esse edital está de acordo com a portaria 4.059 de 10 de dezembro de 2004, que prevê que o AVEA seja uma ferramenta de apoio e complementação às atividades presenciais, desse modo, permite que 20% da carga horária de um curso presencial seja realizada com tarefas extraclasses disponibilizadas em um ambiente virtual. O Moodle possibilita ao docente desenvolver inovações na prática pedagógica, em todas as áreas, adequando essas tecnologias com o currículo e a organização escolar, considerando que a "[...] integração é a junção de partes que trabalham isoladamente, formando um conjunto que trabalha como um todo" (SONEGO, 2014, p. 35). Também fomenta a convergência entre as modalidades permitindo a produção de materiais didáticos e curriculares interativos, estabelecendo a articulação dos conteúdos de maneira menos linear, o que possibilita, aos estudantes, maior motivação e participação efetiva na construção do conhecimento e resolução de situações-limite problematizadas pelo professor. Sonego (2012, p. 2), destaca que, “[...] neste contexto, o AVEA representa uma revolução na educação tradicional, nas políticas públicas e nos formatos e metodologias propostas para a interação discente e docente”. A integração das tecnologias educacionais em rede na formação inicial dos professores torna-se fundamental, para que estes desenvolvam a capacidade de reformular os conteúdos curriculares, explorar possibilidades de recursos e ferramentas tecnológicas de forma criativa para promover a interação entre os estudantes, bem como entre docente e discente. À vista disso, a integração das tecnologias educacionais em rede, seja através de várias mídias (sons, textos, imagens) impulsionam o planejamento, implementação e realização de atividades mediadas pelo Moodle, que permitam a navegação e exploração destas, fortalecendo o processo ensino-aprendizagem dos estudantes em ambas as modalidades educacionais. Para aprofundamento da integração das tecnologias, precisamos perpassar pela construção dos projetos políticos pedagógicos dos cursos de licenciaturas amparados nas políticas públicas. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA CONSTRUÇÃO DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DOS CURSOS Para integração das tecnologias educacionais em rede, nos resguardamos nas políticas públicas desempenham um papel fundamental nos cursos de formação inicial de professores. Pois as políticas públicas orientam o acesso e aperfeiçoamento tecnológico-pedagógico dos professores para desenvolvimento da prática escolares. Para isso, a fluência tecnológico-pedagógica torna-se primordial para apresentar propostas de inovações aperfeiçoamento e capacitação docente. metodológicas, projetos de Desse modo, o objetivo de formulação e/ou elaboração dos PPC dos cursos de licenciaturas é orientado e previsto no Edital n. 015/2010/CAPES/DED (BRASIL, 2010, p. 03), é importante que eles contemplem: [...] amplitude de atendimento e primazia do uso das tecnologias de comunicação e informação. A concepção da proposta deve favorecer a institucionalização de práticas de ensino-aprendizagem abertas, utilizando tecnologias de informação e comunicação, que favoreçam o desenvolvimento acadêmico em dois eixos: a autonomia de aprendizado nos estudantes e a melhoria da qualidade no ensino de graduação. Políticas públicas para construção dos PPC devem apresentar propostas com caráter inovador e/ou apoiar produções de notório saber, no sentido de forjar novas gerações comprometidas com o aperfeiçoamento e a sistematização do uso de novas tecnologias da comunicação e da informação no ensino superior do país. (Edital n. 015/2010/CAPES/DED, p. 03). Assim, percebemos a importância da integração das tecnologias em rede e a convergência entre as modalidades educacionais amparado nas políticas públicas vislumbrando a formação inicial e continuada dos professores. A integração potencializa a formação de profissionais capacitados para a prática pedagógica inovadora, que, de fato, sistematizam a utilização das tecnologias educacionais em rede com intuito de desenvolver diálogo problematizador e fortalecer o processo ensino-aprendizagem entre os evolvidos (professores e estudantes). METODOLOGIA Metodologicamente o trabalho centrou- se dentro dos planos qualitativos por meio de um estudo de caso. Essa modalidade de pesquisa objetiva descrever situações ou fatos, proporcionando conhecimento acerca do fenômeno estudado. De acordo com estudos de Araújo et al. (2008), trata-se de uma abordagem metodológica de investigação, especialmente, adequada, quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores. Desse modo, estudo de caso tornou- se adequado para descrição, investigação e análise das políticas públicas e dos PPC dos cursos envolvidos. No trabalho descritivo foi utilizado uma variedade de fontes de informação, facilitando o cruzamento de dados e buscando retratar a realidade de forma integral. Ao investigar o que foi relevante a pesquisa, descreveu- se aspectos que envolvem o caso e buscou- se apreender a situação em sua totalidade. Pois, para descrever cada aspecto é necessário por parte dos pesquisadores, uma ampla e profunda observação do ambiente em que a pesquisa se inseriu (LUDKE e ANDRÉ, 1986). Como ferramenta analítica utilizou-se a análise textual discursiva que orientada por Moraes e Galiazzi (2006), que perpassou três etapas: unitarização, categorização e comunicação. Após realizar esses movimentos em meio a um processo minucioso e categórico de análise das políticas públicas foi possível chegar às três categorias finais: 1- integração das tecnologias educacionais em rede (Figura 1); 2- convergência entre as modalidades (Figura 2); 3- performance docente (Figura 3). Quanto ao processo de categorização, realizou-se a comparação dos textos contidos nas políticas públicas com os textos dos PPC de Licenciatura em Pedagogia do CE da UFSM. Essas categorias foram estabelecidas após a leitura detalhada dos documentos para a reorganização dos textos e, assim, realizar leituras, interpretações e compreensões relacionadas ao tema em análise. Desse modo, verificou- se que a convergência entre as modalidades está ligada com a elaboração e utilização de materiais e recursos pedagógicos, tanto na modalidade presencial como na modalidade a distância. Com isso pode- se desenvolver o potencial didático-metodológico, bem como sua flexibilidade, gerando, assim, inovação curricular (Figura 1). Figura 1 – Potencialidades da Integração das Tecnologias Educacionais em Rede Fonte: Elaborado pelas Autoras Nesse mesmo sentido, a integração das tecnologias educacionais em rede ocorre por meio do desenvolvimento da disciplina de TIC na Educação, a qual é ofertada pelos cursos presenciais, com a carga horária de 60 horas, o que permite uma visão geral quanto à integração das tecnologias no âmbito educacional. A integração das tecnologias educacionais em rede permite a produção de materiais hipermidiáticos, bem como a utilização de AVEA no desenvolvimento das aulas. Com isso, é possível que ocorra a interação e a interatividade ente os sujeitos envolvidos, permitindo ainda o desenvolvimento de trabalhos colaborativos, o que pode gerar inovação curricular (Figura 2). Figura 2 – Potencialidades da Convergência Entre as Modalidades Fonte: Elaborado pelas Autoras Os PPC dos cursos de licenciatura em Pedagogia do CE/UFSM enfatizam a capacitação em relação às tecnologias educacionais para o aperfeiçoamento da prática pedagógica. Isto, está relacionado como processo desenvolvimento da performance docente e à construção da fluência tecnológico-pedagógica. Esse desenvolvimento gera inovação didático-metodológica por meio do diálogoproblematizador e, consequentemente, aprendizagem (Figura 3). potencializar o processo ensino- Figura 3 – Potencialidades da Performance Docente Fonte: Elaborado pelas Autoras A integração das tecnologias educacionais em rede potencializa a prática docente de modo a permitir maior inovação didático-metodológica, nas práticas pedagógicas. Desse modo, é imprescindível que o corpo docente leve em consideração as políticas públicas educacionais que orientam a capacitação continuada bem como, o desenvolvimento da fluência tecnológico-pedagógica, sendo capaz de mediar atividades por meio das tecnologias educacionais em rede . CONSIDERAÇÕES FINAIS Para que a integração das tecnologias educacionais se efetive, é fundamental que se tenha à disposição uma infraestrutura. Nesse contexto, os PPC são documentos elaborados com base nas políticas públicas e servem para orientação do docente em relação a sua prática. A Universidade Federal de Santa Maria dispõe de infraestrutura que permite, aos professores, possibilidades de inovação de suas práticas através da mediação no AVEA Moodle, visando à melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem. Nesta pesquisa, as análises realizadas permitiram perceber que há harmonia entre o que está disposto nos PPC dos cursos de Pedagogia do CE/UFSM e as políticas públicas. No entanto, constata-se uma carência de orientações quanto à integração das tecnologias educacionais em rede e convergência entre as modalidades, nos documentos específicos como PPC dos cursos presenciais. Acredita-se que isso se deve ao fato de que o processo de integração das tecnologias educacionais em rede está em implementação. Nesse horizonte, foi possível responder a algumas das questões propostas inicialmente pela MDP, na qual se questionou o modo como as Políticas Públicas orientam as práticas escolares de integração das tecnologias educacionais em rede [C3]. As políticas públicas apontam possibilidades viáveis para institucionalizar as tecnologias educacionais em rede, como o Moodle, já adotado pela UFSM. O Moodle permite interação e interatividade e, dessa forma, construção de conhecimento de modo colaborativo. Além disso, orientam, aos professores, formação continuada, como capacitações, para o aperfeiçoamento da sua prática através do desenvolvimento da fluência tecnológico-pedagógica. Contudo, há questões que ainda necessitam de estudos e pesquisas mais aprofundados. Pelo fato de a integração das tecnologias educacionais em rede estar em processo de implementação, não foi possível diagnosticar como os professores de fato, utilizam as TIC no desenvolvimento das suas aulas. Nesse contexto, também há a preocupação de como os estudantes percebem essa integração e como isso influencia na sua prática profissional. Com relação aos PPC de graduação em licenciatura em Pedagogia, percebese, embora com particularidades, estão relativamente de acordo com as políticas públicas vigentes para a formação inicial de professores, pois orientam a integração das tecnologias educacionais em rede. No que se refere aos cursos de licenciaturas em Pedagogia a distância e Pedagogia diurno, os PPC contemplam com maior ênfase a integração das tecnologias educacionais em rede. Já o PPC de licenciatura em Pedagogia noturno aborda o assunto de forma mais genérica. Porém, nenhum dos PPC da modalidade presencial apresenta a Portaria n. 4.059, de 10 de Dezembro de 2004, a qual estabelece que: “poderão ser ofertadas disciplinas referidas no caput, integral ou parcialmente, desde que esta oferta não ultrapasse 20% (vinte por cento) da carga horária total do curso”. Desse modo, torna-se clara a importância de haver uma reformulação no currículo do curso de licenciatura em Pedagogia. Para tanto, é fundamental tomar como ponto de partida a capacitação dos docentes em relação à utilização das tecnologias, para que desenvolvam a fluência tecnológico-pedagógica nos três níveis. Isso favorece a institucionalização de métodos e práticas de ensino- aprendizagem que, baseados no uso das TIC, possam promover a integração e a convergência entre as modalidades presencial e a distância. Com base neste estudo, foi possível compreender a importância da implementação das políticas públicas nos PPC de graduação em licenciaturas em Pedagogia, para orientar a prática docente e, a partir disso, potencializar o processo ensino-aprendizagem. Dessa forma, ressalta-se a importância da integração das tecnologias educacionais em rede, justamente pelo potencial apresentado ao longo deste trabalho. Também por ser uma política pública que proporciona que professores implementem a integração das tecnologias educacionais em rede na formação inicial de professores, trazendo consigo multiplicadores para a construção de novos conhecimentos curriculares. REFERÊNCIAS ARAÚJO et al. Estudo de Caso. Universidade do Minho, Portugal, 2008. 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MUDANÇAS NO CURSO NORMAL E CONCEPÇÕES DE TRABALHO PEDAGÓGICO NO INSTITUTO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO OLAVO BILAC SANTA MARIA/RS Luiza da Silva Braido1 Marina Engler2 Josiane Lara Fagundes3 Liliana Soares Ferreira4 INTRODUÇÃO Este texto é um recorte do trabalho que realizamos como pesquisadoras de Iniciação Científica em um projeto maior denominado Sentidos, Descrições e Possibilidades do Trabalho do Pedagógico: O trabalho dos Professores em Questão, o qual tem um subprojeto que se chama Trabalho pedagógico na escola santamariense: Histórico e perspectivas. Ambos os projetos desenvolvidos pelo Kairós Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Políticas Públicas e Educação, na Universidade Federal de Santa Maria. Esses projetos objetivam o mapeamento das Escolas Normais no Rio Grande do Sul desde 1900, após, objetiva mapear como o trabalho pedagógico desenvolvido nessas escolas está relacionado às políticas públicas para educação daquele século, no Rio Grande do Sul. Iniciamos pesquisando o histórico das escolas normais do Estado, mas percebemos que poucas tinham o cuidado com a preservação da sua história. Um dos poucos era o Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac (IEEOB), localizado em Santa Maria, o qual mantém um acervo histórico. Tal acervo contém notícias, atas, objetos, diários e registros de professores, uma maquete da escola, uniformes, fotografias etc. Então centramos a pesquisa no IEEOB, pesquisando, no acervo e com os sujeitos daquela instituição, mudanças no rumo do trabalho pedagógico no Curso Normal e conceitos de trabalho pedagógico ao longo do tempo em notícias e documentos. Graduanda em Pedagogia Licenciatura Plena – diurno pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: <[email protected]>. 2 Graduanda em Pedagogia Licenciatura Plena – diurno pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: <[email protected]>. 3 Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. 4 Doutora em Educação. Professora do PPGE/UFSM. E-mail: <[email protected]>. 1 Para entender o trabalho que estamos realizando é preciso entender primeiramente o conceito de trabalho pedagógico. Ou seja, não há “[...] como dissociar uma concepção de pedagógico do espaço, do tempo e do trabalho realizado pela escola. Pedagógico é a articulação desses fatores, objetivando a produção do conhecimento” (FERREIRA, 2008, p. 178). Quando se fala na palavra pedagógico o que normalmente se pensa é no trabalho do professor/a, no professor/a “dando” aula para seus alunos. Em certa medida, está certo, o pedagógico, e no caso, o trabalho pedagógico é o trabalho do professor/a, mas está, além disso, é também o trabalho do diretor/a, do supervisor/a, do coordenador/a, de todos/as que, de algum modo, contribuem para a produção da aula e do conhecimento. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA O trabalho pedagógico, como foi descrito anteriormente, é todo o trabalho da escola, dos sujeitos dela, objetivando a produção de conhecimento. O trabalho dos professores é a centralidade do pedagógico na escola, já que é na sala de aula, onde ele atua, que ocorre a produção de conhecimento dos professores e dos estudantes (FERREIRA, 2010). Se é lá que ocorre a produção de conhecimento, é lá que devem se focar (principalmente, mas não exclusivamente) nossos esforços para melhorar a educação. Nas escolas nota-se “[...] um atrelamento excessivo à prática [...] em detrimento de um contínuo estudo, um revistar os teóricos da educação como fontes para comparar a proposta de aula, redimensioná-la, e, até mesmo, entendê-la” (FERREIRA, 2008, p. 183). Começando por ai, numa reflexão sobre sua prática, pode-se pensar em melhorar a educação. O pedagógico é da ordem do instituído e do instituinte (CASTORIADIS, 1988) e é ai que esse se relaciona fortemente com as políticas públicas que agem sobre a escola. Quando é decretada uma política educacional, os professores e toda a escola têm que se ajustar a ela, de modo a ficar em consonância com que ela diz. Dessa maneira, isso interfere na produção de aula e do conhecimento, assim como no trabalho pedagógico, pois modifica ações e até mesmo pensamentos que agem diretamente na sala de aula. Como nossa pesquisa pretende entender como se constituiu o trabalho pedagógico no curso normal, precisamos compreender melhor a história desse curso no Brasil. Para isso devemos levar em conta o contexto histórico, os fatos do momento em que ocorria. Em 1822 ocorreu a independência do Brasil, logo em seguida, em 1824, veio a primeira Constituição, que pregava que a instrução primária deveria ser gratuita. O primeiro ato de implementação da Escola Normal foi em 1834. No ano de 1835 abriu as portas à primeira Escola Normal, localizada na cidade de Niterói, mas que com a reforma Couto Ferraz (1854), teve que ter suas portas fechadas. Com toda essa reforma, a Escola Normal foi substituída por professores adjuntos (SAVIANI, 2010), mas como em todos os lugares, essa ordem não foi muito bem cumprida. Apenas no ano de 1860 se começou a pensar em criar escolas normais no Rio Grande do Sul, e somente em 1869 veio a funcionar a primeira Escola Normal no Estado, localizada em Porto Alegre, chamada Escola Normal General Flores da Cunha. Na data de 1889 o Brasil vira república, e em 1901 a Escola Normal passa a se chamar Colégio Distrital (DECRETO n. 373), e logo em seguida, 1906, muda o nome novamente para Escola Complementar. Focalizando o estudo do Curso Normal para o Rio Grande do Sul, a procura era em grande escala por mulheres, o curso era internato, moradoras de orfanatos dentro da própria instituição, e era pago, metade do salário de professor era deixado no orfanato para reformas ali feitas, e aprimoramento do ensino de futuras professorandas (termo usado por alunas do curso). Havia aulas de corte e costura, e tarefas que eram feitas por donas de casa, fazendo com que o curso se feminizasse, ou seja, maior procura das mulheres no curso normal. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei n. 4.024 do ano de 1961, aprovada durante o governo de João Goulart, a formação de docentes para o ensino primário se daria pela escola normal de grau ginasial, com o mínimo de quatro séries anuais e diploma de regente de ensino primário; e escola normal de grau colegial, com três séries anuais e diploma de professor primário. O ensino normal se destinaria para a formação de professores (ensino primário), orientadores (ensino primário), supervisores e administradores escolares (ensino primário) e para conhecimentos técnicos relativos à educação da infância. A Lei n. 5.692/71 faz com o curso normal passe a ser denominado de magistério, além de ampliar para oito anos a obrigatoriedade da educação e com mínimo de sete anos para ingressar, estabeleceu o ensino de 2º grau com três ou quatro anos de duração. Em 1988 a 7ª (sétima) Constituição Federal passa a definir a educação é um direito social. Em 1996, aprovada a Lei n. 9.394, tem-se um novo dimensionamento para a atuação dos profissionais da educação com formação no Curso Normal, uma vez que a formação de docentes para atuar na educação básica passou a ser em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, ficando a oferecida em nível médio na modalidade normal, como exigência de formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, assim passou a ser necessário também se graduar em curso superior para o exercício do magistério, sendo necessário uma série de adequações as novas regras no prazo de até 5 (cinco) anos, ou seja, os professores que apenas tivessem curso normal e atuassem em outros anos que não os cinco primeiros do fundamental, deveriam fazer também o superior dentro de cinco anos. Com todas essas mudanças ocorridas na história do Brasil, aqui no interior do Rio Grande de Sul, uma escola chamada atualmente de Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac sofreu todas essas mudanças, tendo que se enquadrar dentro dos padrões exigidos pela lei. E é isso que estamos pesquisando, como as políticas públicas agiram, afetaram o trabalho pedagógico a partir de 1900 no Curso Normal no Rio Grande do Sul. Com esse intuito, fomos a tal Instituto, pois ele, além de ser de 1901, ou seja, compreende quase todo o tempo de nossa pesquisa, ele também tem sua história, em sua maioria, preservada em um rico acervo histórico. Apresentaremos a seguir um pouco da história do Instituto. Ele foi criado em 1901 com nome de Colégio Distrital, depois disso ocorreram diversas mudanças de nome, em 1906 passou a se chamar Escola Complementar, em 1910 Colégio Elementar, em 1938 Escola Complementar Olavo Bilac, em 1941 passa a chamar-se Escola Normal Olavo Bilac, em 1962 Instituto de Educação Olavo Bilac, em 1979 Instituto de Educação Olavo Bilac - Escola Estadual de 1º e 2º Graus e em 2000 tem sua última mudanças de nome, passando a se chamar Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac - IEEOB. A primeira turma de normalistas da Escola Normal Olavo Bilac foi em 1947. O Instituto foi tombado pelo patrimônio Histórico e Cultural do Município de Santa Maria, em 22 de novembro de 2006. Atualmente, a escola oferece Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Curso Normal, Classe Especial e EJA (Educação de Jovens e Adultos) Ensino Médio. Em nossa primeira visita ao IEEOB registramos uma entrevista com a Jane Becker, a responsável pelo acervo, relatando sobre sua história. Jane é formada em Estudos Sociais (licenciatura curta), e História, com especialização em História do Brasil; foi professora por mais de trinta anos de Geografia. Ela estava com vinte anos de magistério (em 1998), quando percebeu que estavam sendo jogados fora muitos objetos e registros do Instituto e que por isso, resolveu criar um projeto para reunir as documentações, fotos e materiais que se perdiam na escola. Contou que seu projeto, logo quando aceito, começou com um armário de três portas no canto da sala da supervisão, onde tinha a missão de apenas recolher e armazenar os documentos, fotos e vídeos ali presentes na escola, que se perdiam no tempo. Depois de muitos pedidos de um espaço maior, conseguiu uma sala no terceiro piso da escola, mas o acesso era difícil, fazendo com que muitas pessoas não chegassem até o acervo. Durante um dia de chuva, Jane chegou ao salão do Bilac, onde encontrou o piano, e sua capa, molhados pela chuva, e já em fase de apodrecimento. Questionou-se de o que ela poderia fazer para salvar a história que naquele piano estava presente. Ao decorrer dos meses, percebeu que o sentimento Bilaquiano era imenso, e que deveria abranger em seu projeto a arrecadação de mais documentos, fotos, objetos, filmes, atas, quadros entre outros itens que contam a história do Bilac. Com o aumento dos arquivos, conseguiu uma sala maior, onde até hoje se encontra o museu, no térreo do Olavo Bilac. Becker fez vários cursos, seminários com especialistas em museus, em 2004 registrou o acervo no cartório, e em 2010 foi registrado no IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus. Ao conversarmos com Jane, é impossível não ver amor ao que faz. O ato de cuidar, preservar e contar as histórias para os alunos, e visitantes do museu é o que enche ela de orgulho ao falar que ainda é uma Bilaquiana. O amor ao Bilac hoje ainda é sentido pelas normalistas que aqui passaram. Hoje ainda há encontros de normalistas, e estudantes que fizeram parte desta história. Começamos nossas visitas catalogando o livro de registros e atas, o qual continha listado, organizado tudo o que tinha no acervo. Catalogamos por ano, documento, tipo, localização, autoria e observação. Após esse processo, passamos a analisar os recortes de jornais sobre o Instituto, guardados no museu da escola. São muitos os recortes, separados por ano, em pastas. Os recortes que mais nos chamaram a atenção e que muito se repetiram são os que falam sobre exames de admissão e sobre limitação de vagas para o curso normal. Dois pontos são relevantes a respeito deles, o primeiro é quanto ao número de vezes que apareciam, e o segundo é quanto a própria existência da notícia e consequentemente ao número de vagas. Sabe-se que antigamente os cursos normais eram o único modo de formar professores, somente mais tarde vieram às faculdades, além disso, essa profissão tinha muito prestígio, era muito valorizada. Por isso, é justificada a grande procura por esse curso, averiguado pelas notícias sobre o Olavo Bilac. Pegaremos primeiramente a notícia sobre o exame de admissão, apenas uma delas. Ela é de 1952, publicada no jornal A Razão, a “manchete” diz o seguinte: “Escola Normal Olavo Bilac – Exames de Admissão ao Curso Ginasial”. Ela relata que por meio do Decreto-lei n. 775 A, artigo 155, V, de 15 de maio de 1943, fica estabelecido 80 vagas para o curso. O referido decreto diz: “Compete a congregação: fixar, anualmente, dentro das limitações estabelecidas em lei, a lotação das classes e o número de turmas, nos cursos normais e extraordinários”. Por esse decreto e pela notícia podemos perceber a grande procura pelo magistério na época. É relevante destacar que mesmo o decreto sendo de quase dez anos antes da notícia, naquele ano ele ainda estava em vigência, por ter sido mencionado na própria notícia. Além disso, um importante documento entre este período é o Decreto n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946 (Lei Orgânica do Ensino Normal), que nada diz sobre o número excessivo de matrículas. Outra notícia interessante de ser analisada é também publicada no jornal A Razão e de 1952, e diz: “Limitadas em 80 as vagas para a primeira série ginasial da Escola Normal Olavo Bilac”. Transcreveremos, inicialmente, dois trechos da notícia: Sendo como é, a Escola Normal “Olavo Bilac” o único estabelecimento gratuito, na cidade, que mantém todos os cursos do nosso sistema de ensino, justifica-se a preferência da toda a população por matrículas em seus cursos. [...]. Ao que estamos informados, o encerramento das inscrições acusou um total de 280 candidatos, dos quais, segundo deliberação agora tomada, apenas 80 serão aproveitados, observadas, rigorosamente, as notas obtidas em exames. Aqui, nota-se, explicitamente, a grande procura pelo Curso Normal no Instituto de Educação Olavo Bilac, em Santa Maria, e comprova também a valorização que esse curso tinha. Havia 280 candidatos e somente 80 poderiam entrar, mediante rigoroso exame. Diferentemente dessa situação, hoje, nos baseando em conversas com normalistas recém formadas e com pessoas do próprio instituto, isso não ocorre, o curso é pouquíssimo procurado, não sendo necessário, nem mesmo, um exame de admissão. Claro, outro fator que deve ser levado em conta, é que naquela época não havia em Santa Maria uma faculdade para a formação de professores, por isso também o magistério era mais procurado, porém, como mostrado logo acima, não é o único fator, a questão do status é extremamente significativa. Ainda na mesma notícia, referindo-se aos muitos candidatos e poucas vagas, há dois trechos que fazem menção ao pedagógico, os quais transcreveremos abaixo para e seguida analisarmos - os: Certamente a direção, o professorado e a congregação da Escola Normal “Olavo Bilac”, estabelecimento modelar de ensino em Santa Maria, não arriscaria a reputação dessa oficina de saber proporcionando ensino antipedagógico e contraproducente. O interesse predominante é de que os ensinamentos distribuídos pela ENOB estejam sempre atuais e correspondam ao que todos esperam de tão útil estabelecimento. [...] Exigir mais, seria impor medida-sacrifício para o próprio ensino e, como, pedagogicamente, cada professor deve ministrar ensinamentos a número capaz de fazer com que o mestre esteja à vontade, em todos os sentidos, no desempenho de sua mais árdua missão. O pedagógico citado anteriormente se contrapõe ao amontoar alunos em salas de aula. Como o instituto não dispunha de espaço suficiente para os 280 candidatos mencionados anteriormente, fizeram um exame de admissão de forma a selecionálos. O autor da notícia defende a ação do Olavo Bilac, dizendo que não seria pedagógico um numero excessivo de alunos em sala de aula. Essa concepção de pedagógico demonstrada no trecho é condizente com a apresentada no começo de nosso texto, pois “[...] pedagógico é todo pensar-agir da escola com o intuito de produzir conhecimento” (FERREIRA, 2008, p. 178). Dessa maneira, muitos estudantes dentro de uma sala de aula seria um fator prejudicial à aula e consequentemente à produção de conhecimento, que é, afinal, o objetivo de todo o trabalho pedagógico na escola. E, ainda no mesmo trecho, a parte final fala sobre a profissão professor ser uma “árdua missão”, demonstrando o grande prestigio que tinha, o quanto era estimado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através de nossa viagem pela história do Curso Normal e relacionando ao Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac e com as políticas públicas, começa-se a vislumbrar concepções de trabalho pedagógico. Os professores, pudemos constatar, eram muito valorizados; preocupava-se com seu bem estar na sala de aula, e, assim, com a aprendizagem, a produção de conhecimento; a procura pelo magistério era muito grande, mostrando o status que tinha essa profissão. Além disso, percebemos as várias mudanças pelo qual o curso passou desde sua criação até se tornar praticamente sem função, já que apenas com ela não se pode exercer o magistério. Podemos formular algumas perguntas – que talvez possam servir de base para a elaboração de outro texto – e que colocaremos aqui para reflexão. Por que as pessoas continuam a fazer o curso normal, se depois serão obrigadas (de acordo com a LDB n. 9.394/96) a fazer um curso superior para exercer a profissão? Será que a LDB n. 9.394/96 decretou a morte do Curso Normal? Através do tempo, qual foi seu estímulo para que existisse? Como as normalistas de antigamente e de hoje se veem e veem o curso normal? Este texto é apenas o início de uma longa jornada de estudos, pesquisa, reflexões. Esse é um trabalho com poucos antecedentes e de extrema relevância para compreendermos como foi se constituindo o trabalho pedagógico nos cursos normais/magistério ao longo do tempo, a partir de 1900, e para, assim, mudar o hoje, mudar o pedagógico na escola, isto é, a aula, a produção de conhecimento, mudar a educação. Pois para mudar o futuro é preciso, primeiramente, entender o passado e agir no presente. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. em: ______. Decreto n. 373, de 1901. 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Nos últimos anos percebeu-se que a formação inicial (preparação profissional constituída em nível médio pelas Escolas Normais, e em nível superior pelas Instituições de Ensino Superior que forneçam cursos de graduação plena) já não é mais suficiente para a preparação do indivíduo a toda vida profissional. Os avanços na área do conhecimento e o seu inter-relacionamento com o desempenho profissional nos mostram a necessidade de atualização e de aprimoramento constante daqueles que atuam na área educacional. Segundo Libâneo (2004), O termo formação continuada vem acompanhado de outro, a formação inicial. A formação inicial refere-se ao ensino de conhecimentos teóricos e práticos destinados à formação profissional, completados por estágios. A formação continuada é o prolongamento da formação inicial, visando o aperfeiçoamento profissional teórico e prático no próprio contexto de trabalho e o desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla, para além do exercício profissional. (p. 227). De acordo com o autor, não basta concluir o curso de licenciatura e partir para a prática pedagógica, sem mais se preocupar com a formação acadêmica. Ao contrário, é preciso ter a consciência de que esta formação não acaba com a formatura e sim, fará parte de toda a sua trajetória profissional. Devemos ter em mente que a formação de professores, se inicia antes mesmo de seu ingresso no curso de formação inicial e se prolonga com o exercício de sua prática profissional, pressupondo a reconstrução dos saberes adquiridos no tempo das experiências anteriores e posteriores ao curso de formação profissional. Assim, 1 Acadêmica do curso de Especialização em Gestão Educacional da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. 2Acadêmica do curso de Especialização em Gestão Educacional da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. para refletirmos sobre a formação continuada, é preciso uma reflexão em torno da formação de professores, que se inicia antes de seu ingresso no curso de formação inicial, ou seja, o que ele aprendeu como educando, e se prolonga com o exercício de sua prática profissional, pressupondo a reconstrução dos saberes. Assim fica evidente de que a formação de professores deve ir além de sua formação inicial. Porém é necessário que haja condições para que os professores possam reconstruir a sua prática pedagógica. Segundo Pimenta (1999, p. 39), “[...] o trabalho docente constrói-se e transforma-se no cotidiano da vida social”, ou seja, a prática pedagógica tem haver com a prática social dos sujeitos, caracterizando-a como fonte de conhecimentos que produzem “mudanças qualitativas” munidas de conhecimentos críticos aprofundados da realidade. Essa perspectiva revela a crença que temos na importância da formação do professor como um dos pilares básicos para um trabalho docente de qualidade. Tem-se discutido muito a respeito da formação continuada de professores, isto pode implicar em direções divergentes, mas que se complementam, diz respeito ao professor como educando, e o professor como docente. Se levarmos para o campo da pesquisa, podemos dizer que o foco das investigações sobre a temática pode levar aos processos formativos iniciais ou para aquelas da formação continuada. Assim percebe-se que estes dois eixos delimitam campos, convergindo, em alguns casos, em perspectivas metodológicas diferentes na exploração de técnicas diversas. Através de buscas na literatura sobre a formação de professores, seja em artigos publicados em revistas especializadas, seja em obras recomendadas, o que mais se tem enfatizado com maior intensidade é a questão da formação continuada. Mostra-se nesse contexto, com temáticas privilegiadas, as discussões e investigações sobre a formação de professores reflexivos, de professores autônomos e de pesquisadores. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nos seus primórdios, o processo histórico de profissionalização docente tinha um perfil religioso, casto com toda sua vida voltada ao ensino das pessoas, não havia o direito de uma vida voltada ao ensino das pessoas, era inteiramente a disposição da igreja, e estava sob responsabilidade da mesma. Em seguida houve algumas mudanças à substituição de um professor religioso e de controle da igreja, por professores laicos de responsabilidade do Estado. Entretanto essas mudanças não foram significativas nas motivações, normas e valores originais da profissão que consequentemente tornou-se mera ocupação paralela. A partir da década de 80, houve uma mudança no panorama da formação educacional do educador, pois esta é uma década de abertura política no país, o que acarretou em profundas transformações sociais. Assim, a escola começou a mudar seu pensamento, pois rompeu o pensamento tecnicista o qual comandou a prática pedagógica durante os anos vigentes da ditadura. Através dessa mudança, evidencia-se a discussão sobre a formação do professor, observando-se o caráter sócio-histórico, pois houve a necessidade de deixar o educador a par da realidade de sua época, para começar então, o processo de transformação da escola, no qual essa se faria presente, logo em seguida, em toda a sociedade. Assim, começa o processo de democratização escola, que inicia seu processo de transformação em espaço de construção coletiva. Por meio dessas mudanças inicia-se a luta pela formação do educador, pois até então era negligenciada pela escola tecnicista, obra de uma sociedade capitalista que favorecia as desigualdades e exclusão social, onde a educação de qualidade era para poucos favorecidos sociais. A grande maioria da população que enfrentava o desemprego e a exploração, marginalizados a sua época, não tinham o direito a uma educação digna, o que os deixavam sem chances de melhorar suas condições de vida, pois não os formavam para a cidadania. Na década de 90, conhecida como a “Década da Educação”, a formação de professores, em função das reformas educativas, ganha destaque. Entre as reformas educacionais está a divulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/96 que alicerçavam as reformas políticas do país. Com a intenção de facilitar ao professor o acesso a formação continuada, o Governo Federal com incentivos as escolas públicas, bem como à criação do sistema Nacional de Educação a Distancia, inicia a reforma curricular, distribuição de aparelhos de televisão e livros didáticos, visando à melhoria da qualidade da educação. Mesmo que tenha sido investido na formação continuada de professores, estes ainda enfrentam desafios para se manter atualizados. Um dos desafios se encontra na predisposição sócio histórica que levaram os professores a não investirem em sua formação devido: O professor era o detentor absoluto do saber; Desvalorização do professor perante a sociedade, ou seja, um trabalho sem incentivo, acarretando desesperanças no crescimento profissional, o que gera desestímulos a novos profissionais a escolherem essa área; Baixa remuneração, o que ao longo dos anos aumentou a desistência de profissionais a investirem na carreira do magistério. Pouca valorização por parte de algumas instituições particulares e principalmente das escolas públicas; Porém, o professor deve tentar suprir esses desafios e investir em sua formação. Uma maneira que se tem visto nos dias atuais para tentar suprir esse desafio da formação continuada são os recursos tecnológicos, que de certa forma beneficiam a vida na sociedade atual. Contudo é preciso se ter um olhar crítico acerca dessa tecnologia, pois a grande exclusão social também é fruto da grande exclusão digital que ainda existe no país. Embora vivemos em um mundo globalizado, e isto traga avanços no país do ponto de vista econômico e políticos, pelo ponto de vista social esta tem reforçado as diferenças e consequentemente a exclusão. Os professores precisam preparar seus educandos para a cidadania e consequentemente para utilizarem os recursos tecnológicos a favor do seu bem estar social pessoal e profissional. Contudo é necessário investir em um processo de atualização constante, pois cabe ao professor a orientação para o uso consciente de recurso tecnológico, bem como educar para a sustentabilidade, o que envolve a orientação para o uso consciente de recurso tecnológicos, bem como, educar para sustentabilidade. Devido aos fatores já mencionados aqui neste texto, sabe-se que é difícil para alguns profissionais investirem em sua formação. Contudo se faz necessária a tomada de consciência desse profissional, acerca de sua importância na orientação das gerações mais novas no que se refere à formação para a cidadania. Demo (1996), afirma que: Para encarar as competências modernas, inovadoras e humanizadoras, [o educador] deve impreterivelmente saber reconstruir conhecimentos e colocá-lo a serviço da cidadania. Assim, professor será quem, sabendo reconstruir conhecimento com qualidade formal e política, orienta o aluno no mesmo caminho. A diferença entre professor e aluno, em termos didáticos, é apenas fase de desenvolvimento, já que ambos fazem estritamente a mesma coisa. (...) Neste sentido, o professor não será mais profissional de ensino, mas da educação, pois o primeiro tende a ser instrução, treinamento, domesticação, enquanto a segunda busca a ambiência emancipatória. (p.273). Assim, percebe-se que é preciso ver oportunidades ao invés de dificuldades. Em termos políticos e de legislação, alguns avanços foram conquistados pelos educadores, que além dos já citados anteriormente, hoje se conta também com o Plano Decenal, Parâmetros Curriculares Nacionais, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, para a Educação Superior, para Educação Infantil, Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Tecnológica, avaliação do SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, Exame Nacional de Cursos (Provão), ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio, descentralização, FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, Lei da Autonomia Universitária, novos parâmetros para as Instituições de Ensino Superior. Todos esses avanços são medidas que favorecem uma reforma educativa e servem de incentivo para que o professor invista em sua formação, oportunizando novas políticas de formação, financiamento e gestão mais justa de recursos, para que possa atender as reais necessidades da educação nacional. Nessa direção, Libâneo (s/d) coloca: [...] a formação continuada pode possibilitar a reflexividade e a mudança nas práticas docentes, ajudando os professores a tomarem consciência das suas dificuldades, compreendendo-as e elaborando formas de enfrentá-las. De fato, não basta saber sobre as dificuldades da profissão, é preciso refletir sobre elas e buscar soluções, de preferência, mediante ações coletivas. (LIBÂNEO, s/d, p.227). Essas medidas auxiliam na melhoria da qualidade de educação, contudo é preciso que ela se efetive, ou seja é preciso que os professores invistam em sua formação, pois só assim os tornará além de profissionais mais qualificados, pessoas aptas para o exercício de sua cidadania. METODOLOGIA A pesquisa realizada, e aqui apresentada sob a forma de artigo, é fruto de pesquisa bibliográfica acerca do assunto formação continuada, bem como, representa tópicos de algumas discussões ocorridos em sala de aula, ao longo de um semestre do curso presencial de Gestão Educacional da Universidade Federal de Santa Maria. O problema de pesquisa proposto era qual a importância da formação continuada dos professores para o exercício da prática pedagógica e para a transformação da mesma. O objetivo deste problema foi despertar o profissional da educação para a importância da formação continuada. Assim, durante um semestre, analisamos e discutimos com colegas e professores alguns textos, artigos, livros que falavam sobre a formação continuada de professores. CONSIDERAÇÕES FINAIS A formação continuada é um processo de aprendizagem e de socialização, de natureza voluntária, informal e pouco previsível, que está centrado na interação entre colegas e nos problemas que trazem de suas práticas docentes. Por isso, um processo de formação continuada não é linear, mas sim sofre redefinições de rumos dependendo das necessidades de seus participantes (VAILLANT e MARCELO GARCIA, 1998). Podemos perceber que a formação continuada deve ser transformadora da compreensão dos fenômenos educativos, das atitudes do professor, considerandose também os procedimentos pelo os quais os educadores se apropriam e constroem seus conhecimentos. No atual contexto, o professor deve ir além de sua formação inicial, o qual é insuficiente diante da demanda que a sociedade impõe. É impossível ministrar aulas somente como foi aprendido na graduação. É preciso pensar que trabalhar sozinho, sem a troca de experiências com os colegas, ou achar que os recursos tecnológicos devem ser usados somente por especialistas, ignorar as didáticas das ensino/aprendizagem. outras áreas, são situações que só dificultam o É preciso que haja uma tomada da consciência da importância da formação continuada como um pré-requisito da atualidade educacional que vivencia mudanças nas formas do conhecimento. Compreende-se que assim que os planos de aulas e suas execuções necessitam ser diversificadas para que haja motivação dos educandos ao aprendizado, podendo ser utilizadas estratégias educacionais que venham a colaborar para a dinâmica do ensino. Assim, para facilitar a aprendizagem, o professor deve utilizar estratégias, ou seja, aplicações dos meios disponíveis para conseguir alcançar seus objetivos. A busca permanente de atualização não significa que a formação continuada se construa tão somente por meio da acumulação de cursos. Ela deve ter uma relação direta com a dimensão da prática no cotidiano da escola. Para que aja essa relação é preciso entender que a ação pedagógica se dá num movimento contínuo de ação-reflexão-ação. Contudo percebemos que há muitos desafios acerca da formação continuada. Aponta-se aqui as dificuldades socioeconômicas da classe de professores, a falta de tempo em função da exaustiva carga horária de trabalho desses profissionais, além da dificuldade em mudar-se de paradigma e admitir que a sociedade atual exige um outro perfil dos professores. Embora haja todas essas dificuldades, é preciso ver possibilidades no lugar das dificuldades. É preciso redescobrir o magistério, redescobrir o aluno, e a escola. É preciso buscar meios para essa formação, pois nos dias atuais existem vários recursos para isso, dentre eles a Educação a Distância, que dá a possibilidade de se estudar em qualquer lugar que se tenha um computador ou televisão, favorecendo a formação. Também é preciso lutar para a valorização da profissão, para que se garantam condições adequadas de trabalho; melhor remuneração para a categoria, o que irá contribuir para que novos profissionais se sintam atraídos pela profissão; promover a integração entre formação inicial e formação continuada do professor; se criar programas de formação continuada que atendam as reais necessidades do profissional, além de oferecer qualidade à mesma. Não devemos esquecer também que além das tecnologias atuais, temos outros recursos mais acessíveis como jornais, revistas, livros, entre outros, que também auxiliam na atualização da formação continuada de professores. As ações demonstradas aqui podem auxiliar uma mudança da escola, como Demo (1994) diz: As escolas são lugares de “decoreba” onde o aluno tangido para a domesticação, por vezes, internaliza coisas, junta na cabeça um monte de informações, aprende pedaços do conhecimento, mas não os junta, sistematiza, questiona, reconstrói, porque o próprio professor não “sabe fazer isso. (DEMO, 1994, p.100). O perfil mostrado acima ocorre nos dias atuais, porém não faz relação dos perfis das exigências sociais vigentes, que necessitam de uma escola viva e de um educador produtor e organizador do conhecimento. Um professor bem preparado e atualizado consegue preparar aulas mais agradáveis para seus educandos o que com certeza contribui para uma educação de qualidade. REFERÊNCIAS BRASIL. Referenciais para formação de professores. Brasília, MEC/SEF, 1999. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, MEC/SEF, 1998. ______. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. 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FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CURSOS A DISTÂNCIA NA PERSPECTIVA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO Naila Cohen Pomnitz 1 Laura Wunsch 2 Fernanda Cristofari Machado3 Rosane Carneiro Sarturi4 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, em que a educação passou a ser vista no mundo globalizado como um dos fatores mais importantes do desenvolvimento de um país, as mudanças que acarretaram o processo de internacionalização da economia e da informação influenciaram o modo de pensar e agir da sociedade como um todo. Estas mudanças, advindas da inserção de novas tecnologias de comunicação no cotidiano da população, alavancaram, também, o sistema de ensino de modo geral, ampliando o acesso e garantindo, através de políticas públicas voltadas para a educação, a permanência de estudantes nos diferentes níveis de ensino, buscando uma boa qualidade ao ensino superior ofertado. Até o final da década de 1990, no meio acadêmico, considerava-se a educação a distância (EAD) como uma educação de baixa qualidade. Com a crescente demanda para o ensino superior e a grande procura por esta modalidade de ensino houve uma valoração da mesma, fazendo com que muitos educadores acreditassem na possibilidade de se fazer EAD com a mesma qualidade e mesmos requisitos da educação presencial (SARAIVA, 2010). A partir do incentivo à EAD previsto na LDB (BRASIL, 1996) e do Plano Nacional de Educação (PNE), Lei n. 10.172 (BRASIL, 2001), que aponta para o estabelecimento de um amplo sistema interativo de EAD no ensino superior, 1Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 2Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 3Especialista em Informática Instrumental para professores da Educação Básica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: <[email protected]>. 4Doutora em Educação. Professora Associada I do Departamento de Administração Escolar do Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. observou-se um maior interesse da União em desenvolver efetivamente os programas de EAD com o objetivo de melhorar os níveis educacionais do País. Algumas ações do Governo Federal demonstram esses objetivos: o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO), o Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício no Ensino Fundamental e no Ensino Médio (PróLicenciatura) e o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). O debate atual na área de formação de professores busca refletir e problematizar acerca da relevância da EAD para práticas inovadoras no âmbito da educação na perspectiva da qualidade do ensino superior. Neste ínterim, este artigo1 tem como objetivo analisar o contexto da formação de professores na modalidade a distância à luz das políticas públicas atuais, considerando os níveis de qualidade que permeiam esta formação. A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA ENQUANTO POLÍTICA PÚBLICA PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES A EAD no Brasil teve suas primeiras experiências com cursos profissionalizantes transmitidos pelo rádio e por correspondência, que se popularizaram a partir do início da década de 40. Os telecursos (utilizando-se da televisão, em meados da década 70) foram os sucessores do ensino via rádio, e apenas no final da década de 90 a internet, juntamente com o computador, começam a ganhar espaço. O rápido crescimento da EAD em âmbito nacional nos últimos anos acarretou a necessidade de uma legislação específica que balizasse sua consolidação enquanto política de estado. De acordo com o artigo 80º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, 1996): "[...] o poder público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada" (BRASIL, 1996, art. 80). Inicialmente, em 1998, este artigo foi regulamentado pelos Decretos n. 2.494 (BRASIL, 2013a) e n. 2.561 (BRASIL, 2013c), sendo substituídos em 2005 pelo Decreto n. 5.622 (BRASIL, 2005), que contém a definição e as características da EAD, bem como as condições para credenciamento e oferta de cursos a distância nas instituições brasileiras. 1 O presente trabalho foi realizado com apoio do Programa Observatório da Educação, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES/Brasil. Nesse ínterim, na atual legislação brasileira a EAD é caracterizada como modalidade educacional com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos, na qual a mediação didático-pedagógica dos processos de ensino-aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação (BRASIL, 2005). A EAD não apresenta uma definição singular, mas tem em comum o fato de flexibilizar tempos e/ou espaços para ensinar e aprender. De acordo com Moore e Kearley (2007), a EAD é uma modalidade de ensino na qual o aprendizado planejado ocorre em lugar diferente do lugar de ensino, necessitando de técnicas especiais de comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais. Na concepção de Moran (2013), EAD é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, em que professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente, ou seja, não estão normalmente juntos fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias, principalmente as telemáticas, como a Internet. Mas também podem ser utilizados o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes. As mediações que se dão na EAD por meio das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) demonstram um dos grandes diferenciais dessa modalidade de ensino, que segundo Garcia Aretio e Martín Ibánez (1998) é a capacidade de inovação, de aperfeiçoamento e de superação dos problemas contemporâneos para estabelecimento de estratégias de aprendizagem capazes de responder às novas e urgentes demandas sociais, pois, não é necessário que docentes e discentes estejam presentes no mesmo espaço ao mesmo tempo para que haja interação. Como afirma Mota (2009) a educação a distância proporciona a articulação e integração de instituições de ensino superior, municípios e estados, facilitando a democratização, expansão e interiorização da oferta de ensino, bem como o desenvolvimento de projetos de pesquisa e de metodologias inovadoras de ensino para a área de formação inicial e continuada de professores da educação básica, por exemplo. Considerando que a EAD proporciona interação em tempos e espaço diferentes, ela apresenta-se como uma importante política pública no sistema educacional brasileiro, pois oferece a estudantes que residem distante das grandes cidades e regiões metropolitanas o acesso à educação superior. A possibilidade de formação inicial de professores em cursos a distância desperta para uma nova concepção de professor, pois este precisará se apropriar de conhecimentos relacionados às TDIC como aluno e, certamente levará este aprendizado aos seus alunos como professor. A EAD, conforme Almeida (2013) permite vislumbrar uma redemocratização da informação e do conhecimento, prioridade absoluta das nações, garantindo o acesso à educação permanente para todos, além de ser um recurso de incalculável importância como modo apropriado para atender a grandes contingentes de estudantes. Nas diretrizes do novo Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2014), a meta 12 descreve a intenção de elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para cinquenta por cento (50%), e a taxa líquida para trinta e três por cento (33%) da população de dezoito (18) a vinte e quatro (24) anos, assegurando a qualidade da educação através da ampliação da oferta de vagas por meio da expansão e interiorização da Rede Federal de Educação Superior, da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e do Sistema Universidade Aberta do Brasil, considerando a densidade populacional, a oferta de vagas públicas em relação à população na idade de referência e observadas as características regionais das micro e mesorregiões definidas pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uniformizando a expansão no território nacional e pela fomentação da oferta de educação superior pública e gratuita prioritariamente para a formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, bem como para atender ao déficit de profissionais em áreas específicas. Desta forma, os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) no Censo da Educação Superior de 2012 dão conta que, no período 2011-2012, houve um crescimento de 4,4% nas matrículas para o ensino superior. Este fato sugere que as iniciativas de expansão da educação superior propostas pelo PNE estão proporcionando um crescimento quantitativo nesse nível de ensino. Partindo-se do pressuposto de que a formação de professores é consequência das políticas públicas que abrangem o sistema educacional, e de que é necessário que ocorra uma articulação das práticas com as políticas públicas para a efetivação do processo de ensino e de aprendizagem, pensa-se numa formação inicial no âmbito da EAD que priorize as inter-relações entre a teoria e a prática, formando um profissional qualificado e apto a atuar em todas as esferas que compõe o vasto campo de atuação de um pedagogo. A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES A DISTÂNCIA À LUZ DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ATUAIS As rápidas mudanças que estão ocorrendo na sociedade atual, no que concerne ao advento das TDIC, reflexionam-se, igualmente, no contexto educacional. Esta mudança exige dos professores ações emergentes diante dos desafios enfrentados, principalmente em relação a sua formação. Neste sentido, a modalidade de educação a distância apresenta-se como uma política pública aliada a formação profissional. As políticas públicas para educação vão ao encontro destas emergentes modificações no panorama educacional, sendo um exemplo, a obrigatoriedade de formação em nível superior para todos os professores, determinada pela Lei n. 9.394, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, 1996), que impulsionou ações no sentido de inserir políticas públicas nas Instituições de Ensino Superior (IES) que atendessem a demanda da formação de professores da educação básica e as instituições formadoras de professores que, precisam adaptarse e acompanhar essa evolução estabelecendo estratégias que fortaleçam a democratização do processo pedagógico e sua efetividade. A formação inicial hoje não pode mais seguir a concepção predominante no século XIX, pois conforme afirma Freire (1996), ensinar não pode ser transmitir conhecimentos. Hoje, busca-se a necessidade de adequar-se as exigências da nova sociedade, que busca um profissional plural, participativo, solidário e integrador, pois: A formação do professor deve estar ligada a tarefas de desenvolvimento curricular, planejamento de programas e, em geral, melhoria da instituição educativa, e nelas implicar-se, tratando de resolver situações problemáticas gerais ou específicas relacionadas ao ensino em seu contexto. (IMBERNÓN, 2011, p. 18). Assim, o perfil de profissional que se espera formar contempla um professor que tenha domínio do "repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão" (BRASIL, 2006, art. 3º). A formação docente assume um papel que ultrapassa o ensino, formando profissionais participativos, críticos e reflexivos diante das mudanças da sociedade, que seja, conforme Imbernón (2011) agente de mudança, individual e coletivamente. Considerando as constantes modificações sociais, principalmente aquelas trazidas com a expansão do ensino superior por meio da EAD, os futuros professores e professoras necessitam estar preparados também para adequar suas atuações às necessidades dos alunos e alunas em cada época e contexto. Na EAD considerar os diferentes tempos e diferentes espaços dos processos de ensino e de aprendizagem requer um profissional preparado para o trabalho com novo, que não siga modelos de ensino, mas que crie e recrie constantemente sua práxis. Nesse contexto, a formação inicial do pedagogo em cursos a distância necessita estar balizada por uma educação de alta qualidade, considerando a preparação para a práxis educativa e pedagógica que permeia o ofício de professor. Sabe-se que não existe, no entanto, um único conceito de qualidade; este não é estático, pois depende da concepção de ensino e de formação que se tem. E A QUESTÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR? As discussões acerca dos níveis de qualidade da educação, tanto presencial quanto a distância, têm motivado diversas pesquisas e estudos, principalmente nos últimos anos em que a educação passou a ser vista no mundo globalizado como um dos fatores mais importantes do desenvolvimento de um país. Neste sentido: O advento da economia globalizada e a forte influência dos avanços dos meios de comunicação e dos recursos de informática aliados à mudança de paradigma da ciência não comportam um ensino nas universidades que se caracterize por uma prática pedagógica conservadora, repetitiva e acrítica. (MORAN, 2000, p. 69). Numa visão mais ampla, a inovação que os meios de comunicação trouxeram para a educação modifica também os níveis de qualidade da educação ofertada. A alta qualidade na educação pressupõe uma formação sólida, crítica, criativa, ética e solidária, em sintonia com as políticas públicas de inclusão, de resgate social e do mundo do trabalho (BRASIL, 2013a). A qualidade na educação superior brasileira pode ser orientada pelos seguintes objetivos: • reconhecer e pôr em prática quatro processos institucionais: gestão, ensino, pesquisa e extensão; • fornecer os meios para uma sólida formação científica e humana, integrada ao conhecimento e à pratica da cidadania responsável inseparável da solidariedade social; • esclarecer o iniludível compromisso de toda pessoa com o meio ambiente e com o desenvolvimento humano e social; • garantir o respeito às identidades culturais; • preparar para a inserção profissional; • desenvolver competências como: interagir com as diversas tecnologias, saber trabalhar em equipe, transitar em diferentes línguas e linguagens, resolver conflitos e ser hábil na comunicação; • propiciar a aquisição e o desenvolvimento das habilidades intelectuais e emocionais fundamentais para continuar aprendendo por toda a vida. (CLOTET, 2008, p. 11-12). No escopo de pensar a educação como um meio de preparar para vida, Moran (2000) trabalha com os divergentes conceitos de educação de qualidade e ensino de qualidade. Conforme o autor, o ensino organiza diversas atividades com o intuito de auxiliar os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento. A educação tem como foco, além do ensinar, a integralização entre o “[...] ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão de totalidade” (MORAN, 2000, p. 12). Com efeito, parece haver uma grande preocupação com o ensino de boa qualidade em detrimento de uma educação de boa qualidade. Muitas instituições consideradas como modelos de alta qualidade na educação têm apenas alguns cursos que alcançam este patamar, mas sob a ótica de Moran (2000), o alcance da boa qualidade da educação necessita mais do que somente alguns cursos preocupados com o seu ensino de boa qualidade. Neste contexto, Juliatto (2010) defende que os fatores que permeiam o conceito de qualidade (como número de matrículas, profissionais e estrutura) “[...] estejam relacionados aos objetivos, finalidades essenciais que o sistema deve alcançar, como também importa que atendam às cambiantes reinvindicações da sociedade em geral e da comunidade especial a que precisam servir” (JULIATTO, 2010, p. 70). Assim, partindo dos apontamentos sobre o conceito de qualidade, pensar nos níveis de qualidade da educação ofertada requer que se pense em todo o processo que envolve a educação, considerando número de matrículas, espaço físico, bem como o processo de ensino e de aprendizagem que permeia a formação inicial. A educação a distância, deste modo, necessita de práticas inovadoras que viabilizem seu objetivo principal, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), a qual normatiza em seu artigo 2º que “[...] a educação tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996). Dias Sobrinho alerta que “[...] en el caso de la educación superior, el concepto de calidad debe tomar en consideración los compromisos públicos y los papeles sociales que corresponden a esas instituciones” (DIAS SOBRINHO, 2008, p.89). O autor complementa, ainda, afirmando que a qualidade do ensino superior está relacionada com a capacidade que a mesma tem em contribuir para o desenvolvimento pleno dos indivíduos. Desta forma, falar de formação inicial de professores na modalidade a distância remete a reflexão acerca do aumento quantitativo de matrículas no ensino superior observado nos últimos anos, tendo em vista os objetivos das políticas públicas atuais e os impactos disso nos níveis de qualidade dos cursos ofertados. Nesse sentido, o documento dos Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância (BRASIL, 2013b) fornece orientações para que os cursos nessa modalidade de ensino tenham diretrizes mais ou menos uniformes na busca pela boa qualidade. O documento dos Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância (BRASIL, 2013b) estabelece que estes referenciais pautarão as regras para a regulação, supervisão e avaliação na modalidade de educação a distância, garantindo a qualidade no tocante dos vários aspectos que permeiam o sistema educacional. Embora a modalidade de EAD possua características específicas e formato próprio, é necessário que se pense em um projeto de curso que contemple todas as dimensões do ensino (BRASIL, 2013b), e neste sentido, os Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância abrangem três grandes dimensões que almejam direcionar as ações dos cursos, quais sejam: aspectos pedagógicos, recursos humanos e infraestrutura. O primeiro bloco aborda tópicos relacionados aos aspectos pedagógicos, que balizam o delineamento dos princípios e diretrizes que alicerçarão o processo de ensino e aprendizagem. O segundo bloco, referente à infraestrutura, direciona os recursos tecnológicos e materiais necessários para a investidura em um curso a distância. Por fim, quanto aos aspectos relacionados aos recursos humanos, elencam-se neste referencial os personagens necessários que comporão a equipe multidisciplinar dos cursos na modalidade de EAD. Considerando a grande demanda de matrículas no ensino superior, e a ampliação da oferta de cursos de formação inicial de professores a distância vivenciada a partir das políticas públicas atuais, pensar em alta qualidade da educação significa englobar aspectos concernentes a diversidade e a equidade, dimensões previstas nos Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância. METODOLOGIA Seguindo os conceitos de pesquisa bibliográfica, que segundo Gil (2008) é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, e de pesquisa documental que, ainda segundo o autor citado, é muito parecida com a bibliográfica mudando apenas a natureza das fontes, pois vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa, optou-se por realizar um estudo documental e bibliográfico, a partir de autores e pesquisas nas áreas de EAD, formação de professores e políticas públicas. Ainda, com o intuito de demonstrar mais precisamente os dados analisados, buscou-se informações na base de dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), no que concerne ao Censo da Educação Superior do ano de 2012. Procurou-se, deste modo, resgatar aspectos importantes acerca da EAD, tais como suas especificidades e a consolidação como modalidade de ensino na legislação brasileira; das atuais políticas públicas que envolvem a formação de professores a distância; bem como ponderar sobre os conceitos de qualidade e suas interlocuções com a educação superior. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizar este artigo, destaca-se que no âmbito da formação inicial de professores as políticas públicas atuais que almejam expandir o percentual de vagas no ensino superior por meio da EAD produzem impactos nos níveis de qualidade da educação ofertada pelas IES. Impactos também são produzidos pelas TDIC que passaram a ser incorporadas aos processos educacionais nos últimos anos. O resgate de aspectos importantes acerca da EAD, seus conceitos e especificidades, bem como das atuais políticas públicas que envolvem a formação de professores a distância possibilitou provocar reflexões sobre algumas das questões que permeiam a área. A EAD estabelece um novo panorama nas relações entre aluno e professor, modificando também o papel de cada um no processo de ensino e de aprendizagem. Por meio destas especificidades as ações no âmbito desta modalidade na formação de professores precisam ser planejadas considerando os materiais utilizados, o comprometimento e a valorização de todos os atores deste processo, a organização e execução de cada aula, em prol da efetiva alta qualidade dos cursos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. B. de. Tecnologia e educação a distância: abordagens e contribuições dos ambientes digitais e interativos de aprendizagem. 2009. Disponível em: <www.anped.org.br/reunioes/26/trabalhos/mariaelizabethalmeida.rtf>. Acesso em: 15 mai. 2013. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, v. 134, n. 248, 23 dez. 1996. Seção I, p. 27834-27841. ______. Decreto n. 5.622, 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, n. 243, 20 dez. 2005. Seção I, p. 1. ______. Decreto n. 2.494, de 10 de fevereiro de 1998. Regulamenta o Art. 80 da LDB (Lei n. 9.394/96). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/D2494.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2013a. ______. Ministério da Educação. Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância. Brasília, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2013b. ______. Decreto n. 2.561, de 27 de abril de 1998. Altera a redação dos arts. 11 e 12 do Decreto n. 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta o disposto no art. 80 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/D2561.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2013c. ______. Plano Nacional da Educação: decênio 2011-2020. Brasília, 2010. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid= 7244&Itemid=>. Acesso em: 04 mai. 2014. ______. Resolução CNE/CP n. 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11. CLOTET, J. Apresentação. In: AUDY, J. L. N.; MOROSINI, M. C. (Org.) Inovação e qualidade na Universidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. DIAS SOBRINHO, J. et al. Calidad, pertinencia y responsabilidad social de la universidad latinoamericana y Caribe. In: GAZZOLA, A. L.; DIDRIKSSON, A. (Ed.) Tendencias de la Educación Superior en América Latina y el Caribe. Caracas: UNESCO-IESALC, 2008. FREIRE, P. 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As ações pedagógicas que edificam os processos formativos destes egressos abarcam o apostilamento de diplomas dos pedagogos, previsto pelas Resoluções n. 84, de 29 de março de 2006 e n. 95, de 4 de outubro de 2007. O apostilamento consiste em um registro complementar no diploma de graduação, emitido pelo Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DERCA) que habilita os egressos a atuarem como docentes em outra área para além daquela obtida no certificado de conclusão. O exercício desta prática que habilita os egressos a exercerem o magistério na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, deu origem ao enfoque desta pesquisa, tendo em vista as 1 Acadêmica do Curso de Especialização em Mídias na Educação pela Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista/professora da Educação Básica do projeto Interlocuções entre políticas públicas e ações pedagógicas: limites e possibilidades do Observatório da Educação/Capes. Professora da rede Estadual de ensino da cidade de Santa Maria/RS. E-mail: <[email protected]>. 2 Acadêmica do Curso de Educação Especial e do Curso de Especialização em Gestão Educacional pela Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista de graduação do projeto Interlocuções entre políticas públicas e ações pedagógicas: limites e possibilidades do Observatório da Educação/Capes. E-mail: <[email protected]>. 3 Professora Associada I da Universidade Federal de Santa Maria no Departamento de Administração Escolar. Coordenadora do Subprojeto PIBID na área de Pedagogia na UFSM. Coordenadora do Projeto de Pesquisa do Observatório da Educação. Coordenadora do Curso de Especialização em Gestão Educacional do Centro de Educação/UFSM. E-mail: <[email protected]>. 4 A Resolução n. 8, de 29 de março de 2006 foi alterada pela Resolução n. 2 de 29/01/2009. 5 A Resolução n. 9, de 4 de outubro de 2007 foi alterada pela Resolução CNE/CES n. 2, de 26 de junho de 2008. articulações entre o apostilamento de diplomas e a formação inicial dos egressos do curso de Pedagogia (diurno) da UFSM. Estas relações são pautadas pelas interlocuções entre os saberes científicos, pedagógicos e metodológicos que embasam a prática docente. A formação inicial do pedagogo é prevista pela organização curricular do curso de graduação, no que tange as disciplinas ofertadas e obrigatoriamente cursadas, bem como os estágios supervisionados que dão o respaldo prático a este processo formativo. Apesar das resoluções que instituem as normas de apostilamento de diplomas estipularem pré-requisitos para a mesma, é necessário que haja um aporte científico-metodológico que supra as necessidades pedagógicas para a prática docente em ambas habilitações, ou seja, na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Os saberes científicos precisam estar pautados nos saberes pedagógicos referentes à habilitação na qual o acadêmico do curso de Pedagogia constitui sua formação para a docência. A fim de estruturar a pesquisa, tem-se como objetivo geral analisar as articulações entre o apostilamento de diplomas e a formação inicial dos egressos do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria. Como objetivos específicos destacam-se: discutir a organização curricular do curso de Pedagogia da Universidade de Santa Maria e descrever as relações entre as resoluções que instituem as normas para o apostilamento de diplomas e atuação profissional dos egressos do curso de Pedagogia (diurno) da Universidade Federal de Santa Maria. A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA (DIURNO) DA UFSM: ARTICULAÇÕES COM OS PROCESSOS FORMATIVOS INICIAIS No trabalho em questão busca-se discutir sobre a formação docente dos egressos do Curso de Pedagogia da UFSM e seus percalços no decorrer desta trajetória. Neste sentido, Bolzan (2002) corrobora que: Refletir sobre processos formativos capazes de favorecer a construção de conhecimento pedagógico compartilhado como aporte a uma pedagogia universitária é compreendê-los como processos de natureza social, pois os professores se constituem como tal em atividades interpessoais, seja em seu período de preparação, seja ao longo da carreira. (p. 110). Compreende-se que o processo de formação é algo complexo, no qual cada indivíduo de forma específica vai se constituindo docente no decorrer de formação em determinado grupo, “[...] e os esforços de aquisição, desenvolvimento e aperfeiçoamento de competências profissionais subentendem um grupo interagindo, centrado em interesses e necessidades comuns” (BOLZAN, 2002, p. 110). Como foco do nosso estudo nos pautamos no processo formativo de egressos do Curso de Pedagogia (diurno) da UFSM. Para a compreensão destes processos será realizada uma breve explanação do Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena (diurno) após a reformulação baseada nas Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia, Resolução CNE/CP n. 1 de 15 de maio de 2006, reconhecido pela Portaria n. 190/2012/MEC, publicada no DOU, de 03/10/2012. O currículo do curso está de acordo com as Resoluções CNE/CP n. 01/2002, CNE/CP n. 2/2002 e CNE/CP n. 1/2006. O tempo médio para a finalização do curso é de quatro anos, dependendo das especificidades e dedicação de cada acadêmico. O curso está organizado em oito semestres, possui uma proposta de integração vertical e horizontal. A primeira busca integrar o conjunto das disciplinas ofertadas ao longo dos quatro anos; a segunda visa articular as disciplinas ofertadas a cada semestre, de acordo com as práticas educativas propostas ao longo do curso, denominadas PEDs, sendo que cada uma apresenta um objetivo específico que propõe o diálogo entre as disciplinas, a articulação com os espaços de atuação dos futuros pedagogos e a ambicionada relação entre teoria e prática. No primeiro semestre do curso intitulado articulado pelo eixo: “Educação, Tempos e Espaços”, contempla as seguintes disciplinas: Educação Especial: Fundamentos, Filosofia da Educação I, História da Educação, Introdução à Pedagogia, Ped I - Educação, Tempos e Espaços, Pesquisa em Educação I: Metodologia Científica, Psicologia da Educação I, Sociologia da Educação I. No segundo semestre do curso, articulado pelo eixo: “Conhecimento e Educação”, contempla-se as seguintes disciplinas: Educação Especial: Fundamentos, Filosofia da Educação I, História da Educação, Introdução à Pedagogia, Ped II - Conhecimento e Educação, Públicas na Educação Básica, Psicologia da Educação II, Sociologia da Educação II. No terceiro semestre o eixo denomina-se: Contextos e Organização Escolar, neste semestre estão disponíveis as seguintes disciplinas: Currículo: Teoria e História, Didática, Educação Especial: Processos de Inclusão, Gestão da Educação Básica, Libras, Literatura Infantil, Ped III - Contextos e Organização Escolar, Pesquisa em Educação III: Bases Metodológicas, Tecnologias da Informação e comunicação aplicadas à Educação. No quarto semestre a temática é: Saberes e Fazeres na Educação Infantil, consta as seguintes disciplinas: Artes Visuais e Educação, Educação Física, Ciências e Educação I, Contextos Educativos na Infância I, Educação Matemática I, Geografia e Educação I, Oralidade, Leitura e Escrita e Ped IV - Saberes e Fazeres na Educação Infantil. O quinto semestre volta-se para: Saberes e Fazeres nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, contam as seguintes disciplinas: Artes Visuais, Ciências e Educação II, Contextos Educativos na Infância II, Educação Matemática II, Geografia e Educação II, História e Educação I, Língua Portuguesa e Educação, Ped V Saberes e fazeres nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Processos da Leitura e da Escrita I. No sexto semestre intitulado de Saberes e Fazeres da Educação nas suas diferentes Modalidades, consta as seguintes disciplinas: Educação Musical, História e Educação II, Jogo Teatral e Educação, Língua Portuguesa, Ped VI - Saberes e Fazeres da Educação nas suas diferentes Modalidades, Pesquisa em Educação IV: Projeto, Políticas e Gestão das Modalidades Educativas, Processos da Leitura e da Escrita II. O sétimo semestre passa pela articulação dos: Saberes e Fazeres na Educação Básica, dispondo das seguintes disciplinas: Educação Física e Movimento, Educação Musical para a Infância, Jogo Teatral, Organização da Ação Pedagógica, Ped VII- Saberes e Fazeres na Educação Básica, Prática de Ensino na Educação Básica: Inserção e Monitoria e Trabalho de Conclusão de Curso I. No oitavo e último semestre o curso volta-se para a Docência Reflexiva na Educação Básica, semestre no qual são realizados os Estágios Supervisionados e Trabalho de Conclusão de Curso II. A intenção de nomear as disciplinas que constituem o atual curso de Pedagogia (diurno) da UFSM possui a intenção de demonstrar como o curso percorre os fundamentos da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Esta matriz foi organizada a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, Resolução CNE/CP n. 1/2006 (BRASIL, 2006), que extinguiu em todo o território nacional as habilitações no referido curso, que somavam mais de 125. O curso de Pedagogia (diurno) da UFSM teve sua primeira turma formada em 1969, quando o Pedagogo era considerado um especialista em Educação, tendo transitado ao longo dos anos pelos enfoques na administração, supervisão e orientação educacional. Na década de 80, o curso sofre uma reformulação e pela primeira vez, na reforma implementada em 1984, os acadêmicos passam a ter a possibilidade de atuar nas séries iniciais do 1º Grau e na educação Pré-escolar, o que transformava o curso em duas habilitações. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9394/96 (BRASIL, 2014), a Educação Infantil passa a ser vista na sua totalidade, atendendo as crianças de 0 a 3 anos, excluídas da pré-escola. Enquanto as séries iniciais passam a ser denominadas em anos iniciais, considerando a prerrogativa legal de que a educação básica pode estar organizada: Art. 23. [...] em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. (BRASIL, 2014). A partir desta reformulação legal o curso sofre uma outra alteração, que mantém as duas habilitações, agora em Anos Iniciais e Educação Infantil, que acaba por não formar nenhum acadêmico, considerando que a Resolução CNE/CP n. 1/2006 (BRASIL, 2006), extingue as habilitações no curso de Pedagogia. Desta forma, em 2007, de acordo com a resolução, foi implementada a matriz descrita. Estas considerações, servem para destacar que até o ano de 2007 não tínhamos um formação que atendesse a demanda provocada pelas alterações previstas na LDB, bem como para as políticas de ampliação da oferta do Ensino Fundamental6, que ampliou para nove anos o ensino fundamental, levando as crianças a ingressarem aos seis anos na escola. Além disso, nesse momento 6 Esta ampliação está prevista no Art. 32. da Lei n. 9.394/96, redação dada pela Lei n. 11.274, de 2006. A Resolução CNE/CEB n. 7, de 14 de dezembro de 2010, fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. histórico vivemos a grande explosão da oferta da Educação Infantil, de obrigação dos municípios, que regida por várias resoluções e documentos legais, passam a estabelecer critérios mais rígidos para o profissional que atua na Educação Infantil. Este movimento provocou a busca da instituição, por parte dos seus egressos, que ao chegarem ao mundo do trabalho, passam a sentir a necessidade de ampliar o seu espaço de atuação. A Resolução n. 8, de 29 de março de 2006, e a Resolução n. 9, de 4 de outubro de 2007, buscaram atender um momento específico da demanda gerada pelas políticas públicas para as etapas iniciais da Educação Básica no país. APOSTILAMENTO DE DIPLOMAS: HABILITAÇÕES DA FORMAÇÃO INICIAL Esta organização curricular do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria é decorrente das alterações previstas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais7 para o Curso de Graduação em Pedagogia - Licenciatura, tendo em vista a extinção das habilitações e a formação de um pedagogo mais generalista. Pois a graduação cada vez mais passa a ser vista como “formação inicial”. Desta forma, a formação do pedagogo passa a ter um enfoque prático mais amplo, habilitando-o concomitantemente para atuar tanto na Educação Infantil como nos Anos Iniciais, bem como na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e nas demais áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos específicos abarcados pela formação inicial ofertada pelo curso de Pedagogia, conforme o Art. 4º da Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006: O curso De Licenciatura Em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (BRASIL, 2006, p. 2). Anterior a esta Resolução, os acadêmicos do curso de Pedagogia realizavam o estágio supervisionado final no nível de ensino que pretendia ser habilitado a exercer a carreira docente, concluindo-o com apenas uma destas habilitações: Préescola ou Séries Inicias Anos Iniciais do Ensino Fundamental, dependendo da habilitação optada para o exercício do magistério. 7 Instituídas pela Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006. O apostilamento caracteriza-se por inserir no verso do diploma dos egressos do curso de Pedagogia, o registro da nova habilitação, através de um carimbo que comprovava a capacidade de atuação na nova formação pleiteada, sendo esta autorizada pela coordenação do curso, após análise da documentação e dos documentos legais orientadores. As normas para este apostilamento estão previstas nas Resoluções n. 8 e n. 9. A resolução n. 8, de 29 de março de 20068, na qual dá ao egresso do curso de Pedagogia o direito de exercer o magistério nas séries iniciais do ensino fundamental, mesmo tendo inicialmente em seu diploma a habilitação para o exercício da prática docente na Pré-escola. Atrelada à isto, a Resolução n. 9, de 4 de outubro de 2007, também estabelece estas normas para o apostilamento nos diplomas do curso de Pedagogia, dando direito ao exercício do magistério na Préescola àqueles egressos que possuíam somente a habilitação para os as séries iniciais do ensino Fundamental. Através destas resoluções, os acadêmicos concluintes do curso de Pedagogia do Brasil, até o final de 2007 ganharam o direito ao apostilamento de habilitação para o exercício de suas práticas pedagógicas tanto na Educação Infantil como nos Anos iniciais do ensino fundamental, desde que tenham cursado com aproveitamento: I - Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental; II Metodologia do Ensino Fundamental; e III - Prática de Ensino - Estágio Supervisionado na Educação Básica, com carga horária mínima de trezentas horas, de acordo com o disposto no art. 65, da Lei n. 9.394/96. A análise do cumprimento destas exigências era realizada pela Instituição de Ensino Superior (IES), tendo em vista os processos formativos que dão base para a atuação pedagógica dos egressos do curso de Pedagogia. Desta forma, o apostilamento foi realizado pela própria IES que expediu o diploma do primeiro curso. Algumas IES podem solicitar complementação da grade curricular após a análise do histórico escolar do requerente do apostilamento através de estudos complementares. Eles abrangem, no mínimo, 400 horas a fim de dar base ao exercício do magistério em sua amplitude educativa, perfazendo uma ação pedagógica na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 8 Altera a Resolução CES/CNE n. 1, de 1º de fevereiro de 2005, que estabelece normas para o apostilamento, no diploma do curso de Pedagogia, do direito ao exercício do magistério nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O apostilamento de diploma do curso de Pedagogia deve encontrar apoio nas bases legais estabelecidas nos Pareceres9 e Resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE), que regulamentam o assunto. Neste sentido, este se constitui como um processo formativo que abarca a complexidade da prática educativa na ampla gama de atuação do Pedagogo, tendo em vista que segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia: § 1º Compreende-se a docência como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnicoraciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo. (BRASIL, 2006, p. 1). O apostilamento de diplomas do curso de Pedagogia, na Universidade Federal de Santa Maria possibilitou atender a demanda gerada pelas novas políticas públicas de ampliação da oferta e, do reconhecimento da Educação Infantil na sua plenitude. A docência mencionada na lei, acabou por ser complementada na prática do profissional que, mesmo com uma formação inicial frágil na área do apostilamento, passou a constituir-se como um profissional habilitado para o exercício do magistério em um campo no qual permaneceu carente de aprofundamentos teóricos-metodológicos. METODOLOGIA Para atender aos objetivos traçados neste estudo, foi utilizada a abordagem qualitativa, tendo “[...] como objetivo interpretar e dar significados aos fenômenos analisados. Nessa abordagem, os resultados não são traduzidos em números, 9 A Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura é fundamentada no Parecer CNE/CP n. 5/2005, incluindo a emenda retificativa constante do Parecer CNE/CP n. 3/2006, homologados pelo Senhor Ministro de Estado da Educação, respectivamente, conforme despachos publicados no DOU de 15 de maio de 2006 e no DOU de 11 de abril de 2006. A Resolução n. 8, de 29 de março de 2006, que estabelece normas para o apostilamento no diploma do curso de Pedagogia, dando direito ao exercício do magistério nos anos iniciais do Ensino Fundamental, é fundamentada no Parecer CES/CNE n. 23/2006, de 1º de fevereiro de 2006, homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação em 16 de março de 2006. A Resolução n. 9, de 4 de outubro de 2007, que estabelece normas para o apostilamento em diplomas de cursos de graduação em Pedagogia, dando direito ao exercício do magistério da Educação Infantil, é fundamentada no Parecer CNE/CES n. 171/2007, homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de 24/9/2007. unidades de medidas ou categorias homogêneas de um problema” (REIS, 2008, p. 57). Complementando as ideias anteriores Ludke; André (1986, p. 18) coloca que “[...] o conhecimento não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz constantemente. Assim sendo, o pesquisador estará sempre buscando novas respostas e novas indagações no desenvolvimento do seu trabalho”. No decorrer do estudo os dados coletados, estarão em processo de análise e reflexão, problematizando novas descobertas, mudanças de ponto de vista ou até mesmo a ratificação de uma suposição no início da pesquisa. Primeiramente para o processo de construção do objeto do estudo proposto, enfoca-se os pressupostos teórico/metodológico, no intuito de corroborar a importância dos referenciais teóricos selecionados à temática em questão, para a reflexão da temática abordada. Para o desenvolvimento e efetivação deste estudo foram realizadas pesquisas bibliográficas em distintos materiais, para a fundamentação teórica. Desta forma, este tipo de pesquisa: “[...] é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc.” (SEVERINO, 2007, p. 122). Neste contexto para a realização deste estudo foi realizado um planejamento, desta forma foram selecionados os matérias, foram realizados fichamentos, etc. E para finalizar a pesquisa bibliográfica foi redigida a redação final da pesquisa, (LAMEIRA, 1989) nela contendo o detalhamento de como se deu a pesquisa, seus objetivos, a metodologia, os instrumentos de coletas de dados, o referencial teórico, ou seja, resultado final da pesquisa. A pesquisa com base em documentos, de acordo com Lima (2004, p. 112), é “[...] uma das mais importantes fontes e dados e informações [...] figura um recurso metodológico indispensável quando desejamos explorar temas que recuperam dimensões históricas da realidade”. Desta forma busca-se por meio destes registros compreender a realidade e contexto local de determinado tempo histórico. Assim como aborda Severino (2007, p. 123) “[...] os conteúdos dos textos ainda não tiveram nenhum tratamento analítico, são ainda matéria-prima, a partir da qual o pesquisador vai desenvolver sua investigação e análise”. Para atender aos objetivos traçados nesse estudo, com base na pesquisa do tipo qualitativa, a qual “visa a abordar o mundo “lá fora” (e não em contextos especializados de pesquisa, como laboratórios) e entender, descrever e, às vezes, explicar os fenômenos sociais “de dentro” de diversas maneiras diferentes” (GIBBS, 2009, p. 8). Para a discussão deste estudo, desta forma, busca-se o tratamento rigoroso e metódico dos dados na tentativa de compreender a problemática norteadora do estudo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista os objetivos iniciais deste trabalho e as discussões propostas no mesmo, pensamos que a organização curricular do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria e o processo de apostilamento de diplomas do mesmo curso estão relacionados com os processos formativos que compõe o profissional docente. Neste sentido, as práticas escolares edificadas pelo egresso deste curso serão delineadas conforme a sua formação inicial e para isso é preciso que haja uma adequação entre os saberes científicos e os saberes pedagógicos que irão repercutir na ação pedagógica tanto na Educação Infantil como nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O apostilamento de diplomas conforme as Resoluções n. 8, de 29 de março de 2006 e n. 9, de 4 de outubro de 2007, habilita os egressos do curso de Pedagogia a exercerem práticas em ambos níveis de ensino mesmo que não tenham um embasamento teórico e prático com um deles durante a formação inicial, dando precedência para uma lacuna na ação pedagógica destes egressos. Desta forma: Uma das soluções em que se pode pensar para superar tal problema é a da estruturação dos cursos de licenciatura de forma a que teorias e práticas pedagógicas não fossem consideradas de forma dicotomizada, mas sim que, a partir da prática se pudesse refletir, discutir, analisar, questionar, criticar diferentes opções teóricas em confronto com esta mesma prática. (MIZUKAMI, 1986, p. 108). Conforme as normas para o apostilamento de diplomas, não há uma abrangência dos processos formativos específicos para a atuação pedagógica na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, equivalendo uma prática à outra independentemente das especificidades teóricas, metodológicas e pedagógicas de cada habilitação. As resoluções que instituem as normativas para o apostilamento de diplomas ampliam a atuação pedagógica dos egressos do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria, mas não prevê a qualidade da formação inicial destes pedagogos, sendo que “[...] esta dissociação entre formação inicial e as exigências para o desempenho é uma das características mais típicas da atividade docente” (TEDESCO, 2012, p. 99). Os egressos deste curso, portanto, não possuem a qualificação necessária para o exercício de uma ação pedagógica reflexiva, consciente e com embasamento teórico, metodológico e prático necessário para uma prática docente de qualidade e que possibilite uma formação continuada emergente de ações significativas, tanto para o docente quanto para o discente. O trinômio ação-reflexão-ação é um componente formativo essencial para a prática docente que necessita de um aparato teórico no qual o apostilamento de diplomas não especifica em sua normativa, possibilitando a emergência de um distanciamento entre os processos formativos iniciais e a prática docente. Sendo assim, a organização curricular do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria e as resoluções que preveem o apostilamento de diplomas habilitando os egressos do curso para atuarem tanto na Educação Infantil como nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental evidenciam as lacunas teóricas e metodológicas da formação inicial dos pedagogos. Esta reformulação dos currículos vigentes veio a atender a esta demanda teórico-metodológica dos processos formativos iniciais do Pedagogo, ampliando a área de atuação docente ao constitui um curso de Licenciatura em Pedagogia (diurno) sem habilitações específicas. REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em set/2014. ______. Resolução n. 8, de 29 de março de 2006. Estabelece normas para o apostilamento, no diploma do curso de Pedagogia, do direito ao exercício do magistério nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces08_06.pdf>. Acesso em: 8 set. 2014. ______. Resolução n. 9, de 4 de outubro de 2007. Estabelece normas para o apostilamento em diplomas de cursos de graduação em Pedagogia, dando direito ao exercício do magistério da Educação Infantil. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2007/rces009_07.pdf>. Acesso em: 8 set. 2014. ______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1996. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 08 set. 2014. BOLZAN, D. P. V. Formação de Professores: compartilhando e reconstruindo conhecimentos. Porto Alegre: Mediação, 2002. GIBBS, G. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009. LAMEIRA, L. J. C. R. Cadernos de pesquisa: Programa de Pós–Graduação em Educação. Mestrado. Santa Maria, n. 12,1989. LIMA, M. C. Monografia: a engenharia da produção acadêmica. São Paulo: Saraiva, 2004. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MIZUKAMI, M. da G. N. Ensino: As Abordagens do Processo. São Paulo: EPU, 1986. REIS, L. G. Produção de monografia da teoria à prática: o método educar pela pesquisa. 2. ed. Brasília: SENAC-DF, 2008. SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007. TEDESCO, J. C. Qualidade da educação e Políticas Educacionais. Brasília: Liber Livro, 2012. FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE QUALIDADE Patricia Miolo1 Eliana Miolo2 Pamela da Silva3 Rosane Carneiro Sarturi4 INTRODUÇÃO A educação infantil, primeira etapa da educação básica brasileira, tem passado nas últimas décadas por diversas reformulações, perpassando modificações na faixa etária que atende e na obrigatoriedade do ensino. Porém, Zabalza (1998) aponta que o grande desafio da educação infantil hoje se refere à qualidade, pois, inicialmente, esta ficou em segundo plano: preocupavase mais com a ampliação do atendimento em creches, que se deu através de repasses de recursos públicos a entidades filantrópicas e/ou comunitárias, que geralmente funcionavam em condições precárias, sem formação de profissionais adequados, sem espaço físico adequado; as pré-escolas municipais aumentavam a oferta de vagas, colocando, na maioria das vezes um maior número de crianças por turma, não considerando o trabalho pedagógico que estava sendo desenvolvido e nem por quem. Entretanto, para se chegar a uma educação infantil de qualidade, a priori, é necessário investir em uma formação inicial comprometida com a qualidade. Neste sentido, este artigo tem como objetivo analisar os pressupostos legais que orientam a formação inicial do professor de educação infantil. A metodologia proposta contempla a análise bibliográfica, com o intuito de conceituar qualidade no âmbito da formação inicial do professor de educação infantil e análise documental, 1 Acadêmica do curso de Especialização em Gestão Educacional pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 2 Acadêmica do curso de licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 3 Acadêmica do curso de licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 4 Doutora em Educação. Professora Associada I do Departamento de Administração Escolar do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. com o fim de verificar a legislação que ampara a educação infantil e formação de professores para esta modalidade, ambas na perspectiva da pesquisa qualitativa. Espera-se com este artigo, oportunizar momentos de reflexão sobre o processo de formação inicial de professores da educação infantil, para se alcançar uma educação infantil com qualidade. INTERFACES DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL O atendimento a criança pequena no Brasil, no início, apoiava-se numa visão assistencialista, compensatória e eram esses pressupostos que fundamentavam as práticas educativas vivenciadas “dentro” das instituições de educação infantil. Porém, somente a partir da década de 80, é que os discursos sobre a infância e o atendimento às crianças pequenas ganharam um novo enfoque, devido a uma maior participação da sociedade, através das associações, pastorais e instituições internacionais. (ARAÚJO, 2005). Em 1988, foi criada a Constituição Federal (CF) que assegura a educação infantil enquanto um direito da criança e da família e um dever do Estado. Assim, na CF no Artigo 208, inciso IV (BRASIL, 1988), prevê o direito à educação infantil, para as crianças de zero a seis anos em creches e pré-escola, representando assim, um grande avanço educacional. Foi somente a partir da CF, que a criança pequena passou a ser sujeito de direitos com a garantia da educação como dever do Estado e opção da família. Em 1990, ocorreu a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, que teve como objetivo principal a revitalização do compromisso mundial de educar todos os cidadãos do planeta. A conferência contou com a presença de cento e cinquenta e cinco representantes de países diferentes. Tendo como patrocinadores e financiadores quatro organismos internacionais: a Organização das Ações Unidas para a Educação (UNESCO); o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); e o Banco Mundial (BM). As reuniões preparatórias e os debates realizados na própria Conferência deram origem à “Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem” e ao “Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem” (TORRES, 2001). Desta forma, a Educação para Todos serviu de marco para o delineamento e a execução de políticas educativas durante a década de 90, no mundo inteiro, principalmente no que se refere à educação básica. Logo após, elaborou-se o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal n. 8.069, de 13 de julho de 1990 em seu Artigo 54, inciso IV, fica previsto como dever do estado atender em creches e pré-escolas, as crianças de zero a seis anos de idade (BRASIL, 1990). Seis anos mais tarde, é promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996). É apenas, neste momento, no artigo vinte e um, que a educação infantil é reconhecida legalmente como primeira etapa da educação básica. Nesta lei, fica estabelecido que a educação infantil seja oferecida em creches (0 a 3 anos de idade) e pré-escola (4 a 6 anos de idade) (BRASIL, 1996). Sendo assim, a educação infantil passa a ocupar um espaço significativo dentro das políticas públicas educacionais do nosso País, pois antes, a educação infantil era oferecida as crianças com objetivo assistencialista, apenas de cuidar. Mas, a partir desse momento o caráter pedagógico também começa a se fazer presente. A partir da LDB, começa-se a estabelecer metas, finalidades e objetivos que precisam ser almejados para o atendimento das crianças pequenas. Além disso, a LDB mostra que a educação infantil deve ser atendida em instituições de ensino, de acordo com o artigo 30, em seu inciso “I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;” e no seu inciso “II pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idades” (BRASIL, 1996, p. 12). Neste mesmo ano, cria-se o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF). Entretanto, este teve como prerrogativa inicial abranger apenas a pré-escola, “[...] necessitando de esforços coletivos para que as creches fizessem parte e pudessem receber investimentos” (SATHRES; ANTUNES, 2012, p. 5). Percebe-se com isso, uma disparidade entre o direito à educação infantil e garantia do mesmo. Agregando as políticas voltadas para a educação infantil, em 1998, o Ministério da Educação (MEC) divulgou o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Esse referencial apresenta subsídios para o trabalho do professor, com o intuito de se chegar a uma educação infantil de qualidade. O documento pode ser uma forma de auxiliar os professores na construção do trabalho pedagógico. (BRASIL, 1998). Porém, embora esse documento tenha sido um grande avanço no que se refere à educação infantil, não houve uma participação efetiva, ou seja, discussões dos profissionais da educação infantil no País, sendo considerado “mandatório”. (ANTUNES, 2010). Após dez anos da realização da Conferência Mundial de Educação para Todos a UNESCO promoveu no ano de 2000, Fórum Mundial de Educação: o compromisso de Dakar com o objetivo de avaliar os progressos alcançados e também de estipularem mais seis objetivos. Para atender os objetivos das Conferências de 1990 e de 2000 criou-se o Plano Nacional da Educação (PNE), Lei n 10.172, de janeiro de 2001. O PNE traz como principal meta apresentada para a Educação Infantil a de “Ampliar a oferta de educação infantil de forma a atender, em cinco anos, a 30% da população de até 3 anos de idade e 60% da população de 4 e 6 anos (ou 4 e 5 anos) e, até o final da década, alcançar a meta de 50% das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos” (BRASIL,2001, p. 42). Hoje se sabe que essas metas não foram alcançadas e há muito a ser feito ainda. Cinco anos mais tarde, elabora-se o Plano Nacional para a Educação Infantil (PNEI), que tem o objetivo de definir as Diretrizes da Política Nacional de Educação Infantil, seus objetivos, metas, estratégias e recomendações (BRASIL, 2006). Ainda, nesta finalidade, foi elaborado Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) que trás um conjunto de programas e ações definidas a partir das necessidades da Educação Básica. Possui como eixo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Sendo assim, com Resolução n. 6 de 24 de abril de 2007 (BRASIL, 2007) foi criado o Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância), o qual faz parte das ações previstas no PDE. O Plano de Ações Articuladas (PAR) traz os planos elaborados pelos municípios a partir do diagnóstico de suas realidades, os quais originam o conjunto de ações deste documento, possibilitando ainda mais o regime de colaboração entre estados e municípios. A Emenda Constitucional n. 59 de 11 de novembro de 2009 (BRASIL, 2009) traz como alteração principal, a obrigatoriedade e gratuidade da Educação Básica dos quatro aos dezessete anos de idade. Contemplando assim, esta nova proposta foram criadas anos mais tarde as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), através da Resolução n. 5, de 17 de dezembro de 2009. As DCNEI (BRASIL, 2009), de caráter mandatório, orientam a formulação de políticas, incluindo a de formação de professores e demais profissionais da Educação, e também o planejamento, desenvolvimento e avaliação pelas unidades de seu Projeto Político-Pedagógico e servem para informar as famílias das crianças matriculadas na Educação Infantil sobre as perspectivas de trabalho pedagógico que podem ocorrer (BRASIL, 2009, p. 3). Em 2013 é aprovada a Lei n. 12.796 (BRASIL, 2013), que torna obrigatória o ingresso a partir dos quatro de idade. A lei determina que a mesma deve permanecer na escola até os dezessete anos, o que deverá ser implementado progressivamente até 2016, nos termos do Plano Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da União. Esse movimento na história da educação de crianças pequenas encerra, dentro de si, a preocupação com a adoção de uma concepção mais ampla de educação e com a necessidade de superar, definitivamente, uma concepção de infância que não olha a criança como ser ativo, produtor e transformador de cultura (ARAÚJO, 2005). Essa inquietação “acende” a busca por uma educação de qualidade na etapa educação infantil que tem o seu destaque maior na formação dos professores. FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: CONSIDERAÇÕES SOBRE QUALIDADE A história da formação de docentes para a educação infantil é bastante recente, pois não havia uma preocupação com esse nível de ensino, muito menos, com a formação de seus professores e, tampouco com a qualidade de ensino. Porém, a Constituição Federal de 1988 já garantia como direito às crianças de zero a seis anos de idade uma educação de qualidade. Ou seja, no seu art. 206º, no qual se afirmam os princípios sob os quais o ensino deve ser ministrado (contido no inciso VII, que aponta a “garantia de padrão de qualidade”), como um dos norteadores também para as instituições de educação infantil (BRASIL, 1988). Mas, para se alcançar uma educação infantil de qualidade, é fundamental que o professor tenha uma formação inicial de qualidade, que possua um conhecimento amplo sobre a infância e suas singularidades. Antes da aprovação da Lei n. 9394/96 (BRASIL, 1996), podem ser notados alguns movimentos isolados, que contribuíram minimamente para a formação, sólida e com uma base comum, para os educadores de crianças. Sobretudo, ao fato da educação infantil, ainda não fazer parte da educação básica, essas iniciativas eram isoladas, atingindo uma pequena parcela dos docentes. Entretanto, somente após a promulgação da LDB a educação infantil passa a ser reconhecida como primeira etapa da educação básica brasileira, que começa a preocupar-se com a formação inicial do professor que trabalha nesta modalidade de ensino. Hoje, a formação dos professores da educação infantil é um direito dos próprios professores e das crianças, contribuindo assim, para uma educação de qualidade. Porém, para flexibilizar essa exigência de formação tendo em vista a grande disparidade regional existente no país, a legislação garantiu que esta pudesse se dar em nível médio, na modalidade normal, o que, apesar de soar como “exigência”, precisa ser interpretada como valorização do profissional da creche e, juntamente com isso, a garantia de uma profissão para aqueles que por muito tempo, assim como as crianças com as quais trabalham, ficaram à margem de políticas públicas. A atual LDB traz no artigo 62 que A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996). Porém, esse mesmo documento legal destaca no seu artigo 87, parágrafo 4, nas disposições transitórias, quando leia-se a vontade do legislador, mas não necessariamente “leia-se e cumpra-se”. Art. 87 É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da publicação desta Lei. [...] § 4º. Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço. (BRASIL,1996). No entanto, um desafio enorme surge para as instâncias de formação, principalmente no que se refere à formação de professores para crianças de zero a três anos de idade, pois, além das especificidades dessa faixa etária, são essas crianças geralmente, que passam o dia inteiro nestas instituições. De acordo com Machado (2000), [...] Até a promulgação da LDB 9394/96, os cursos que preparavam os profissionais para atuarem nos sistemas educacionais não tinham como tarefa implícita incorporar temas relativos aos cuidados e à educação de bebês ou sobre a proposta pedagógica adequada ao atendimento em período integral, mesmo que eventualmente o fizessem. Hoje, exigem-se das instituições de ensino superior, formadoras de professores para atuarem na educação infantil, um currículo amplo, que contemple todas as especificidades da infância. Que compreenda que o cuidar e educar andam juntos, que são indissociáveis, pois “[...] o cuidado é, portanto, considerado tão importante quanto à educação, pois a professora que cuida, educa, e a que educa cuida, ambas são inerentes à profissão docente na Educação Infantil” (ASSIS, 2008, p. 98). Espera-se formar um professor com saberes e competência, capaz de educar e cuidar, com uma formação ética e competente na especificidade de sua tarefa. Capaz de compreender que para se alcançar um ensino de qualidade, é de fundamental importância que este entenda como a criança se desenvolve (fases de desenvolvimento), a importância das atividades lúdicas como o brincar e do jogo para esta faixa etária, a importância de disponibilizar um ambiente acolhedor e desafiador, entre outros. Assim para Libâneo (2001), é fundamental que esse profissional da educação infantil seja dotado de saberes e competências. Segundo ele, saberes são conhecimentos teóricos e práticos necessários para o exercício profissional e competências são as qualidades, capacidades, habilidades e atitudes relacionadas aos conhecimentos teóricos e práticos que permitem o exercício adequado da profissão. Diante do exposto, percebe-se que para chegar a uma educação infantil de qualidade, antes de tudo, é necessário investir na formação inicial deste professor, desenvolvendo neste, competências e saberes necessários para trabalhar com crianças pequenas. Assim, torna-se um desafio e uma necessidade refletir sobre a problemática da formação desses profissionais. METODOLOGIA A metodologia utilizada contempla uma abordagem qualitativa, através da análise documental das políticas públicas educacionais atuais para a educação infantil e formação de professores, da relação desta com os dados estatísticos educacionais do Censo Escolar. Para a coleta de dados utilizamos a pesquisa documental, com o objetivo de obtermos o levantamento de referenciais expostos nos documentos legais sobre o direito a educação infantil e a formação inicial e consulta a base de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). A pesquisa documental, segundo Martins, É necessária para um melhor entendimento do caso e também para corroborar evidencias coletadas por outros instrumentos e outras lentes, possibilitando a confiabilidades de achados através de triangulações de dados e resultados. Buscas sistemáticas por documentos relevantes são importantes em qualquer planejamento para a coleta de dados e evidências. (2006, p. 46). Sendo assim, buscamos a partir da análise de conteúdo dos documentos legais que orientam as normativas para Educação Infantil e da formação inicial de professores para essa modalidade, buscar elementos para compreender o fenômeno deste estudo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A discussão referente à formação docente, para os anos iniciais do ensino fundamental e para a educação infantil, se intensifica, na contemporaneidade, sobretudo, após a vigência da Lei n. 9.394/96, isto é, da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). É através desta, que os profissionais que atuavam e continuam atuando na educação infantil passaram a ser reconhecidos como profissionais com direito à formação. E, sendo assim, só se chega a uma educação de qualidade, se a formação inicial do professor também for de qualidade. Em 2013, a educação infantil no Brasil, segundo dados do INEP (2013), contava com 474.591 profissionais, sendo que, 39% atuavam na creche e o restante, 61% na pré-escola. Esse resultado se deve, principalmente, a Emenda Constitucional n. 59/2009 (BRASIL, 2009) e da aprovação da Lei n. 12.796 (BRASIL, 2013), homologada em 04 de abril de 2013, que tornou obrigatória a entrada de crianças na educação infantil aos quatro anos de idade (pré-escola). Um dado relevante disponibilizado pelo Censo Escolar (2011 para 2012) mostra o percentual de professores com formação inicial de ensino superior atuantes na educação infantil, no ano de 2011 o número com formação superior era de 56,9 %, no ano de 2012 o número chega 63,6 %, o que equivale a um aumento de 6,7% de professores com formação de nível superior atuando nessa etapa de ensino. (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2012). Isso se deve, dentre outras políticas de formação continuada, as desenvolvidas pelos municípios, e também a grande expansão do ensino superior no Brasil nesse período. Outro dado que se observa, é que o profissional que atua na primeira etapa da educação básica, ainda é predominantemente de mulheres, ou seja, em 2013, 97% dos professores são mulheres e apenas 3% são homens. Isso está ligado a uma questão histórica do atendimento à criança no Brasil, percebemos o quanto esse “serviço” sempre teve uma forte ligação com as questões de gênero, ou seja, delegava-se à mulher, por causa de seu “instinto” materno, nada tinha a ver com a formação profissional (ROSA, 2011). Desta forma, os dados analisados nos mostram que os profissionais que atuam na educação infantil, em sua maioria, já possuem formação superior. Isso se deve sobre tudo a políticas públicas educacionais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que no seu artigo 87, parágrafo 4, prevê que “até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço” (BRASIL, 1996). Sendo assim, se os profissionais atuantes na educação infantil forem formados em nível superior, mais próximos estaremos de uma educação com mais qualidade. A partir das análises documentais e dos dados estatísticos educacionais, podese concluir, que o desafio ainda é grande no que se refere à qualidade na formação inicial de professores da educação infantil. Sendo assim, as universidades também cumprem uma função primordial dentro deste processo, pois esta precisa viabilizar uma formação inicial mais focada nas peculiaridades e necessidades das crianças na faixa etária de até 5 anos, incorporando temas próprios ao campo de conhecimentos que vêm sendo construído pela área e na consolidação de uma pedagogia de educação infantil específica. Desta forma, o profissional de educação infantil precisa de uma formação inicial de qualidade que lhe permita o desenvolvimento de uma prática que integre o cuidar e educar de maneira indissociável, já que não se pode cuidar sem deixar de educar. Logo não se pode mais aceitar pessoas desqualificadas para assumir essa função. Enfim, a formação inicial do docente para a educação infantil, hoje, necessita estar pautada, em saberes e competências que contemplem os conhecimentos básicos para a formação do professor e os conhecimentos específicos para o trabalho com as crianças de zero a cinco anos de idade. Se for de outra forma, dificilmente se alcançará uma educação infantil de qualidade. REFERÊNCIAS ASSIS, M. S. S. de. Práticas de cuidado e de educação na instituição de educação infantil: o olhar das professoras. In: ANGOTTI, M. (Org.). Educação Infantil: Para que, para quem e por quê? 2. ed. Campinas: Editora Alínea, 2008. p. 87-104. ARAÚJO, R. M. B. de. Formação de professores para a educação infantil: novos olhares. Revista de Educação do Cogeime, ano 14, n. 27, dez. 2005. ANTUNES, J. Ensino Fundamental de nove anos: em busca da legitimação no cotidiano escolar. Dissertação. (Mestrado em Educação)-Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2010. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. ______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, fixadas pela Resolução n. 5/2009. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2009. ______. Emenda Constitucional n. 53, de 2006. Brasília, 19 de dezembro de 2006. ______. Emenda constitucional n. 59 de 11 de novembro de 2009. Obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos. Brasília: MEC/SEB, 2009. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394/96. Brasília: MEC, 1996. _____. Lei n. 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. Brasília, 2013. ______. Plano Nacional de Educação. PNE / Ministério da Educação. Brasília: INEP, 2001. ______. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Censo Escolar: Brasília: INEP, 2011. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/basica-censo>. Acesso em ago/2014. ______. Censo Escolar: Brasília: INEP, 2012. <http://portal.inep.gov.br/basica-censo>. Acesso em ago/2014. Disponível em: ______. Censo Escolar: Brasília: INEP, 2013. <http://portal.inep.gov.br/basica-censo>. Acesso em ago/2014. Disponível em: KRAMER, S. O papel social da educação infantil. Revista Textos do Brasil, Brasília, Ministério das relações Exteriores, 1999. Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-dobrasil/portugues/revista7-mat8.pdf>. Acesso em jun/2014. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora Alternativa, 2001. MARTINS, G. de A. Estudo de caso: Uma Estratégia de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2006. ROSA, R. V. M. da. Feminização do magistério: representações e espaço docente. Revista Pandora Brasil. n. 4, 2011. TORRES, R. M. Educação para Todos: a tarefa por fazer. Porto Alegre: Artmed, 2001. ZABALZA, M. A. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: ArtMed, 1998. A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO CONTINUADA NO ESPAÇO ESCOLAR: A IMPORTÂNCIA DE REFLETIR A PRÁTICA Patrícia Signor1 Celso Ilgo Henz2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O fazer educativo de um professor perpassa o nível de formação e especialização em sua área de atuação. Este trabalho necessita levar em conta o contexto escolar, os saberes que os educandos trazem consigo, a história da instituição e, principalmente, que tipo de educação se está disposto a realizar, que metodologia a escola se propõe e como busca a concretização desta proposta. Todos estes fatores devem ser levados em conta para o trabalho em sala de aula e pelos gestores no processo de organização e planejamento. Poucos processos traduzem tão bem esta necessidade quanto a formação continuada realizada na própria instituição. A formação continuada, neste contexto, não deve, sob nenhuma hipótese, ser de inércia ou omissão por parte dos docentes, e sim, um espaço crítico e democrático de relações entre os todos, para discussão de princípios e ações que visem à melhoria da qualidade da educação. Que percebam juntos os impasses que atravancam a aprendizagem e que definam em conjunto o objetivo que a instituição, e a comunidade deseja alcançar, com consciência ideológica sobre a qual classe está a serviço e de forma conduzirá seu aluno para um conhecimento iluminador e emancipatório. A FORMAÇÃO CONTINUADA REALIZADA NO ESPAÇO ESCOLAR: VIVÊNCIAS QUE PROVOCAM MUDANÇAS A profissão de ser professor implica uma consciência de estar sempre aprendendo, com o outro e com as situações, por isso reconhecer a formação 1 Mestranda em Educação da UFSM. Professora da rede pública estadual na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Especialista em Gestão Educacional pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>. 2 Professor associado 02 da UFSM. Professor e pesquisador do PPGE/UFSM. Líder do "Grupo de Estudos Dialogus: educação, formação e humanização com Paulo Freire". Email: <[email protected]>. continuada como parte intrínseca deste fazer educativo é um dos caminhos para torná-la mais significativa. Saber que o espaço de “dar aula” é o mesmo onde se aprende a fazê-la e no qual o profissional se constitui como agente de seu próprio fazer pedagógico. Para Veloso, Creveiro e Rufino (2012), Ainda que os processos de participação não estejam consolidados da mesma forma nas diferentes organizações escolares e nos respectivos territórios, assiste-se à crescente importância da presença dos vários agentes nas tarefas de gestão escolar. Esse envolvimento implica um conhecimento que se requer cada vez mais aprofundado sobre os processos de construção das aprendizagens culturais que atravessam as escolas. (p. 830). Por esta razão é fundamental o envolvimento da comunidade escolar neste processo de gerir a escola pública. Se o que se quer são bons resultados, não há melhor maneira de lutar pela qualidade da educação senão juntos, pela mesma causa. E pensar educação desta maneira requer que se construa um processo de formação capaz de fornecer ao educador a base teórica necessária para a realização de sua prática educativa. Freire (2011) constrói seu conceito para a formação do educador, sob o olhar democrático e suas implicações. O educador democrático tem a dupla função de caminhar para sua completude como ser humano e como profissional, abrindo espaço para que o aluno também o faça, de modo que, se transformando individualmente, possa, também, fazê-lo coletivamente. A formação permanente do educador é, portanto, uma necessidade pedagógica e uma opção política. O professor tem direito à formação continuada, não apenas quanto a inovações tecnológicas, mas também quanto a sua atualização ampla e constante, que lhe proporcione uma visão cada vez mais ampla e profunda da realidade. (FREIRE, 2011, p. 113). Para Benincá (2004), a formação continuada é exigência para o exercício profissional. Sendo necessária a consciência da inconclusão do saber e de que o ser humano é um ser em construção, desta forma, o processo de formação é uma possibilidade de transformação do fazer educativo. Admite-se, portanto, que o espaço escolar não é o único ambiente de aprendizagem e os cotidianos culturais auxiliam a formação do próprio fazer educativo. A escola é aberta, tanto aos saberes do dia a dia dos alunos, professores e comunidade, tanto a presença e participação dos envolvidos na gestão. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (LDB n. 9.394/96) reconhece a necessidade da formação a todos os docentes (BRASIL, 2011). Esta formação precisa ser condizente com a atuação do profissional, assim como fornecer subsídios técnicos, teóricos e práticos para seu trabalho. Para Teixeira (2010, p. 2), “[...] formação continuada é um processo que capacita professores no local de trabalho, oferecendo educação permanente, com apropriações de muitas competências, enriquecendo sua prática”. A LDB, Lei de Diretrizes e Bases, (Lei n. 9.394/96), admite não só prevê a formação continuada como parte da profissão do professor, como confere às escolas a autonomia da forma como a conduzem. Com esta ação, é possível perceber a consonância da lei com a possibilidade de tornar a própria escola e o cotidiano, instrumentos para estudo e capacitação dos docentes. Deste modo, [...] o professor como agente principal da mudança de sua prática pedagógica apresenta como objetivo geral abordar a relação entre formação e prática do professor, o sujeito criativo que estabelece a finalidade global do exercício pedagógico. (TEIXEIRA, 2010, p. 2). Quando se fala em formação continuada é preciso ligá-la à reflexão, visto que "refletir criticamente sobre o próprio condicionamento e ir mais além dele" (FREIRE, 2001, p. 13). A inconclusão deve fazer parte da consciência do professor como parte de sua profissão e papel social e cultural que assume, em sua tarefa de educar. A capacidade de autoavaliar-se e renovar seu próprio fazer mantém viva a profissão de educador que é capaz de renovar-se a cada desafio, a cada contexto e situação. Isto deveria ser um reconhecimento, mais que isso, um compromisso assumido por aqueles que ‘alistam-se’ na brava missão de educar. Freire (2011), afirma a importância de refletir sobre a prática, despertando uma ‘curiosidade ingênua’, através do repensar das ações e do despertar da criticidade. Para ele, [...] a formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O seu “distanciamento epistemológico” da prática enquanto objeto de sua análise deve dela “aproximá-lo” ao máximo. (FREIRE, 2011, p. 40). Dentre as várias formas de se realizar a formação continuada, sem dúvidas, aquela que objetiva conhecer melhor a realidade de trabalho e encontrar meio para transformá-la, almejando a autonomia e o respeito aos saberes do educando é a mais significativa no melhoramento da prática educativa. Para Benincá (2004, p. 99), a “[...] formação continuada é refletida enquanto exigência para o exercício profissional do professor”, ampliando e reafirmando o diálogo de inconclusão e necessidade da continuidade do processo formativo de docentes. “Os professores que possuem uma visão dialética3 do mundo percebem que o saber é um processo permanente de construção” (Ibid., p. 100). Este é um desafio permanente, que exige humildade e reconhecimento de sua condição humana, lançando um olhar mais humano também ao educando e aos colegas que fazem parte e auxiliam no processo de aprendizagem como um todo e na concretização do trabalho de uma determinada instituição. O reconhecimento como profissional, a autoestima e a dedicação ao trabalho também são fatores que corroboram para a efetiva viabilidade e realização da formação continuada. Libâneo (2004), reforça a ideia intrínseca de profissionalização e formação do professor, afirmando que o processo de formação não deve ser desvinculado da função de ensinar, nomeando como pré-requisito para esta tarefa a profissionalização. Este conceito inclui, para ele, a formação inicial e formação continuada para desenvolver as competências, habilidades e atitudes profissionais; remuneração compatível com a natureza e as exigências da profissão, sem como condições de trabalho dignas a qualquer profissional. É bem verdade, e não é difícil de encontrar a mesma opinião entre os educadores. Um professor com baixos salários, privado de sua autonomia de trabalho e alienado às modificações sociais, profissionais e intelectuais pelas quais a sociedade e a educação passam ao longo dos anos, está fadado à insatisfação e dificuldades de realizar seu ofício. Para o autor, o fortalecimento do profissional passa pela formação continuada, visto que ela [...] é uma maneira diferente de ver a capacitação profissional de professores. Ela visa ao desenvolvimento pessoal e profissional mediante práticas de envolvimento dos professores na organização da escola, na organização e articulação do currículo, nas atividades de assistência pedagógico-didática junto com a coordenação pedagógica, nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de classe etc. O professor deixa de estar apenas cumprindo a rotina e executando tarefas, sem tempo de refletir e avaliar o que faz. (LIBÂNEO, 2004, p. 75). 3 Freire retoma a dialética em suas origens gregas e nos recoloca entre dialética e diálogo conferindo, assim, novos fundamentos que superam a clássica tríade dialética [...] Afirmação – Negação – Negação da negação. O que Freire aponta de novo em sua concepção dialética é a compreensão de história e do papel/importância da subjetividade humana na construção do mundo socioculturalmente estruturado. [...] No diálogo aberto, o exercício da argumentação dos sujeitos participantes dele garante que as posições diferentes tenham iguais condições de serem ouvidas, debatidas e avaliadas com base no processo de construção dialógica do mundo humano. (ZITKOSKI, 2008, p. 116) Conforme diz Freire (2001): “Mudar a cara da escola implica também ouvir meninos e meninas, sociedades de bairro, pais, mães, diretoras de escolas, delegados de ensino, professoras, supervisoras, comunidade científica, zeladores merendeiras etc.” (FREIRE, 2001, p. 35). O professor que é capaz de viver sua profissão de modo autônomo garante a construção de seus saberes intelectuais, críticos e reflexivos. Pode, inclusive, dedicar-se à tarefa de pesquisador e elaborar conhecimentos teóricos e científicos, tendo por base o cotidiano de sua escola. Atuando como transformador de sua realidade sociocultural. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O educador deve compreender a importância deste processo, contribuindo com os gestores, com a escola e consigo mesmo, para que todo o tempo e a energia dedicados ao estudo e ao aperfeiçoamento de suas práticas, possam ampliar seus horizontes de educador e alargar as portas para os caminhos escolhidos pelos seus educandos. Por esta razão, foi proposta a realização de um estudo de caso, a fim de, segundo Duarte (2002) adequar a alternativa metodológica e a necessidade de dar conta das questões que surgem no decorrer da pesquisa e dar atenção e importância a cada uma delas. O contexto no qual se desenvolveu a pesquisa foi uma Escola de Educação Básica, da rede estadual de ensino, do município de Barra Funda, interior do Estado do Rio Grande do Sul. E fundamentalmente, foram questionados seis profissionais que trabalham em funções de direção, coordenação pedagógica e sala de aula, a fim de diagnosticar qual a relevância da formação continuada na escola para a prática de sala de aula e para o crescimento profissional destes educadores. A escolha destes profissionais ocorreu do seguinte modo: diretora e coordenadora pedagógica, por estarem diretamente ligadas a organização dos encontros de formação, bem como na organização da gestão da Escola. E quanto aos profissionais de sala de aula: dois educadores, por hierarquia de tempo de serviço na escola, que estão trabalhando na instituição desde a implantação da metodologia de pesquisa participante, a fim de que pudesse ser avaliada a relevância da formação para este profissional no difícil processo de estudo, execução e avaliação da viabilização da proposta. Outros dois professores foram escolhidos por serem os mais recentes na instituição, para saber qual o impacto da formação continuada e a significação da mesma na execução de uma proposta distinta das demais instituições de ensino e se eles percebem o papel destes momentos de formação como algo que contribui para sua inserção da instituição e crescimento profissional. O presente estudo-diagnóstico questionou às participantes suas percepções quanto à formação continuada realizada na escola em que trabalham, e qual a importância deste processo para a prática cotidiana. A questão foi encaminhada, respondida por todos e, posteriormente, os resultados divididos em categorizações, as quais tiveram mais relevância nas considerações de cada participante. A opção por esta ferramenta de coleta de informações justifica-se por proporcionar maior liberdade aos participantes da pesquisa para responder às perguntas, transparecendo realmente as percepções pessoais de cada profissional, sem pressão de tempo, intervenções físicas (alunos, telefone, outros compromissos...). Assim, é necessário reunir e compilar estes dados, tendo sempre em mente aquilo que se deseja obter e o foco do estudo que foi proposto. Para Oliveira et al (2003, p. 6) “[...] o momento da escolha dos critérios de classificação depende daquilo que se procura ou que se espera encontrar”. Para isso, a abordagem seguiu certos passos, que estabelecem uma ordem e a garantia de que nenhum elemento importante deixe de ser analisado por distração ou por não reconhecimento por parte do pesquisador. Por isso, para que a análise seja válida, Bardin (2004) elenca como deve ser realizada a categorização de fragmentação da comunicação. Seguindo, primeiramente a homogeneidade, ou seja, não misturar informações distintas; a exaustão, analisar o texto na sua totalidade até não haver mais nenhum elemento a ser observado. A exclusividade, visto que um elemento de estudo não deve ser classificado em duas categorias simultaneamente. A objetividade, levando codificadores diferentes a resultados iguais. Além de adequadas e pertinentes, a fim de que se adaptem ao conteúdo abordado e aos objetivos do estudo. As análises deste estudo foram realizadas através da categorização simples, que se dedicou a analisar amplamente todos os questionários aplicados, entretanto, sem necessidade de intensas separações, visto que o conteúdo busca observar diferentes pontos de vista acerca de uma mesma temática. Dentre as etapas, descritas na análise de conteúdo, para esta pesquisa foram realizadas a 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados e interpretação. Sendo estas, comentadas por Oliveira (2003), iniciando pela seleção de dados e materiais que serviram para compor a pesquisa, formulando hipóteses ou questões norteadoras, na busca da elaboração de indicadores ao final do estudo. Esta primeira leitura é chamada por Bardin (2004) de "leitura flutuante", em que, são descritos os dados recolhidos e visualizadas possíveis hipóteses para os resultados. Já a segunda delas é o momento da efetiva exploração do material, análise aprofundada em que se esgotam as possibilidades de leitura e análise, possivelmente, o pesquisador realiza suas inferências acerca do material. São escolhidas as informações para transformá-las em dados estatísticos. Selecionados os recortes, enumerados e classificados para corporificarem a análise. E o último consiste em comparar os enunciados e unificá-los para que atendam os objetivos da análise e contemplem a temática do estudo. Para Oliveira (2003, p. 6) “[...] o objetivo de toda análise de conteúdo é o de assinalar e classificar de maneira exaustiva e objetiva todas as unidades de sentido existentes no texto”, além de fornecer indicadores úteis aos objetivos da pesquisa. Os dados obtidos podem ser interpretados pelo pesquisador articulados ao contexto de pesquisa e produção do documento, bem como da instituição a qual provém. CONSIDERAÇÕES FINAIS A instituição analisada neste estudo atende cerca de 268 alunos, de 1º a 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio em um município do interior do RS, no norte do estado. O corpo docente é composto por 31 professores, atuando em sala de aula e direção, vice-direção nos três turnos, coordenação pedagógica, orientação e supervisão escolar. Desde 2001, busca trabalhar seguindo a pedagogia da educação popular, baseada nos conceitos da educação libertadora de Paulo Freire e, a partir de então, além de momentos de formação continuada propostos pela Coordenadora Regional de Educação, sob a qual é regida (39ª CRE, Carazinho/ RS) e Universidades, semanalmente são realizados espaços de formação e estudo que visam contribuir no crescimento do profissional, aprofundamento metodológico e capacitação do docente para o trabalho em sala de aula. Hoje, segundo as colaboradoras, as reuniões têm duração média de 2 horas semanais e são realizadas em dois momentos: 1º dia da semana com os professores do Ensino Fundamental I e no 2º dia da semana com os professores do Ensino Fundamental nível II e Ensino Médio. Os estudos são organizados e orientados pela Coordenadora Pedagógica e acompanhados pela Direção da Escola. Norteiam-se pelas temáticas das falas socioantropológicas escolhidas pelo grupo para o trabalho docente, e constituem-se em suporte teórico e metodológico para a prática do professor. A fim de buscar saber qual o papel do gestor nesta formação continuada da Escola, foram aplicados questionários para seis profissionais, abordando as temáticas da gestão escolar e da formação continuada na Instituição. Ao realizar o trabalho de análise, utilizando o método de análise de conteúdo, os nomes dos participantes, por questões éticas serão omitidos. De modo que, durante a interpretação dos dados coletados, a diretora será denominada pela letra D, a coordenadora pedagógica pela sigla CP. Os dois professores que possuem mais de 10 anos de trabalho na Escola serão identificados pela sigla P1 (professor 1) e P2 (professor 2). E por fim, os dois profissionais recentes no quadro da Escola serão chamados de PA (professor A) e PB (professor B). A análise envolveu no primeiro momento a leitura atenta sobre as percepções dos colaboradores sobre a formação continuada. A partir das contribuições, foram agrupadas em categorias, escolhidas pela representatividade nas palavras, relevância semântica e frequência da repetição. Também, não necessariamente cada categoria represente um participante. Há termos que foram mencionados por mais de um professor, bem como há professores cujas respostas compuseram em mais de uma categoria. Sendo assim, a formação continuada representa “planejamento e estudo” sobre fazer pedagógico para D, P1 e PB. “É aquela em que, semanalmente, o coletivo de professores se reúne para estudar, ler e fundamental a proposta pedagógica da escola (D, 2013). Esta resposta representa que, para elas, deve existir relação entre as temáticas e discussões na formação articuladas às necessidades e carências do processo pedagógico, sendo este um ponto de partida para conduzir a formação. Visto desta forma, não há espaço para temas alheios à prática e a formação deve ser um instrumento com vistas à ampliação e aprimoramento do fazer no cotidiano de sala de aula. “O professor que não se transforma, atualizando-se, não tem como acompanhar os processos de mudança que ocorrem no mundo” (BENINCÁ, 2004, p. 100), é por isso que planejamento e estudo são pré-requisitos para um bom professor que saiba fazer de seu trabalho um instrumento de estudo; enxergar erros e falhas, buscar soluções e melhorias. Esta categoria relaciona-se e agrupa-se com a segunda: “construção da práxis (reflexão – ação – reflexão)", mencionada por PB (2013), a formação continuada é “requisito básico para um bom planejamento das aulas e para a construção da práxis (ação-reflexão-ação)”. Articuladas, estas justificam a necessidade da formação continuada para o trabalho do professor, afinal, não há um fazer pedagógico sem reflexão e não existe sentido na reflexão que não parta do concreto, do cotidiano, do real e necessário, que é a sala de aula. “[...] A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria / Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo.” (FREIRE, 2011, p. 22). Estes profissionais demonstram preocupação com a educação de qualidade, visto que entendem a necessidade do aprimoramento do professor para avançar com seu trabalho. Para P2 e PA a formação continuada significa “aprendizado constante”. Isso caracteriza o desejo de aprofundar conhecimentos e de seguir inovando na tarefa educativa, independente do tempo de trabalho, visto que P2 está há mais tempo na escola que PA e mesmo assim, ambas demonstram o desejo de aperfeiçoamento de suas atividades na escola. “O professor nunca está ‘formado’, somos humanos e, por isso em constante modificação” (PA, 2013). Pensar a formação continuada como aprendizado constante é aceitar o desafio de reconhecer possíveis falhas e querer ser melhor profissional e pessoalmente. Segundo Benincá, (2004, p. 100) “o saber é um processo permanente de construção”, por esta razão, perceber que há necessidade de constante aprendizado é o primeiro passo para vivenciar a formação continuada e permitir-se evoluir, utilizando estes momentos. Já CP, apresenta três novas e importantes categorias em seu conceito de formação continuada. Para ela, este processo significa “ruptura”, “construção da experiência” e “desenvolvimento individual”. Demonstra aprofundamento teórico, analítico e criticidade ao reconhecer que para que a formação continuada seja construtiva é necessário romper com posturas e comportamentos da rotina, mantendo-se aberto aos distintos pontos de vista. Já que, do modo como deve ocorrer, a formação continuada abre amplo espaço para participação de todos. Segundo ela, a “formação implica em manter-se aberto ao outro, às alteridades distintivas e às possibilidades múltiplas, a pontos de vista distintos e gerais, que abarquem outros possíveis pontos de vista”, (CP, 2013). Como fatores que determinam a importância da formação continuada na escola, a “reflexão”, mais especificamente, reflexão sobre a práxis é mencionada por D, CP, PB, e P1. “A formação continuada permite a reflexão acerca do fazer pedagógico, transformando-o em agir pedagógico mediante a reflexão crítica da prática” (CP, 2013), vivenciando e tornando significativo o espaço de formação destinado aos professores. Assim, evidencia-se o papel da reflexão na formação continuada como destaca Benincá (2004, p. 108), “[...] a prática refletida transforma o senso comum e torna o ser humano sujeito”. Assim, não basta reunir-se para estudo sem utilizá-lo como embasamento teórico para olhar e re-olhar a prática cotidiana, onde efetivamente ocorre a educação: no processo de interação professor-aluno, professor-professor, aluno – professor. “Elo entre teoria e prática” para PB e P1. Acrescentando às informações colhidas das colaboradoras, teoria e prática precisam ser indissociáveis à educação. Estudar algo sem aplicação, pior, ensinar sem aplicação torna-se mera transmissão de informações. “Por este motivo, a formação continuada é essencial, pois assim aperfeiçoamos cada vez mais nossos saberes com o objetivo de sempre melhorar o aprendizado de nossos alunos e alunas”, (PB, 2013). Por isso, a formação continuada contribui neste aspecto para servir como espaço para ampliação do terreno de sala de aula, divisão de experiências, construção de saberes e condução da aprendizagem. Para isso, vale citar Benincá (2004, p. 108), quando afirma que “[...] o discurso que não brota da prática não gera transformação”. A realização da formação continuada, sem dúvida, é uma das maneiras de realizar a reflexão e planejamento sobre a prática na escola. Com a pesquisa, foi possível comprovar que esta prática pode se tornar um espaço de diálogo, interação e fortalecimento do coletivo e da proposta da instituição. Na escola estudada, foi possível detectar que os espaços de formação são utilizados com foco no cotidiano da Instituição. Isto demonstra preocupação em torná-los significativos e voltados para as necessidades da Escola. Dentre tantas formas possíveis de realizar a formação continuada, a que mais marca e é relevante para os professores envolvidos no estudo é aquela na qual eles sentem espaço aberto para participar, opinar e dialogar com o grupo sobre assuntos comuns e que fazem parte da realidade do grupo. Entretanto, uma das concepções de maior peso é esta relação que existe entre uma escola que procura trabalhar baseada na pesquisa da realidade e utiliza a formação continuada como espaço para práxis educativa: reflexão – ação – reflexão. Este conjunto, entre uma gestão democrática e participativa resulta em um bom aproveitamento do propício espaço para que o professor possa buscar seu crescimento profissional, pessoal e contribuir para desenvolver ainda melhor suas atividades em sala de aula. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. I. de. Formação contínua de professores em face das múltiplas possibilidades e dos inúmeros parceiros existentes hoje. Formação contínua de professores. Ministério da Educação, Governo Federal. Boletim 13, p.11-17, 2005. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004. BENINCÁ, E. A formação continuada. In: BENINCÁ, E. CAIMI, F. E. (Org.). Formação de professores: um diálogo entre a teoria e a prática. 2. ed. Passo Fundo: UPF, 2004, p. 99-109. BRASIL. Constituição Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9394/96 - Brasília: Imprensa Oficial, 2011. DUARTE, R. In: Pesquisa Qualitativa: Reflexões sobre o Trabalho de Campo. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, SP, mar. 2002. n. 115, p. 139-154. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011. ______. A Educação na Cidade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. LIBÂNEO, J. C. Organização e Gestão Escolar Teoria e Prática. 5. ed. Goiânia: Alternativa, 2004. MARQUES, M. O. A formação do profissional da educação. Coleção Educação. Ijuí: Unijuí,1992. OLIVEIRA, E. de; ENS, R. T.; ANDRADE, D. B. S. F., MUSSIS, C. R. de. Análise de conteúdo e pesquisa na área da educação. Revista Diálogo Educacional. Curitiba, v. 4, p.11-27, 2003. TEIXEIRA, C. B. O Professor como agente principal da mudança de sua prática pedagógica. São Paulo: 2010 VELOSO, L.; CRAVEIRO, D.; RUFINO, I. Participação da comunidade educativa na gestão escolar. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 38, n. 4, p. 815-832, 2012. ZITKOSKI, J. J.; REDIN, E.; STRECK R, D. Dicionário Paulo Freire. Autentica: 2008. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: O PROFESSOR E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO COMO NÚCLEO DA INOVAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS Samuel Robaert1 Celso Ilgo Henz2 Larissa Martins Freitas3 PALAVRAS INICIAIS Vivemos atualmente um intenso debate acerca da profissionalização docente e a formação permanente dos professores como núcleo central da esperada inovação necessária à educação, com vistas a acompanhar as mudanças em curso em nossa sociedade. É consenso entre diversos autores que o modelo consagrado no século XIX, da transmissão - recepção, não cabe mais na realidade social, cultural e política que temos hoje. Também nos parece consenso que, apesar das mudanças já ocorridas, que a estrutura da escola e dos Sistemas Educacionais, a forma de “ver” e “perceber” a escola permanece a mesma do século XIX, permanecendo também inabalável a estrutura burocrática, centralizadora, transmissora e individualista, dentro da lógica do paradigma4 técnico-instrumental. Ao contrário disso, tendo em vista as mudanças em curso em nossa sociedade (como nas formas de relacionamento e comunicação, no conhecimento científico e na cultura e nas formas de organização como, por exemplo, nas estruturas das famílias), espera-se da escola que se organize em uma estrutura que privilegie o caráter mais relacional, dialógico, coletivo e comunitário. A escola deixou de ser o espaço exclusivo onde se aprende e se ensina. Da mesma forma, os professores perderam seu status de detentores exclusivos do conhecimento. Assim, a escola de hoje tem diante de si uma realidade muito mais 1Professor da Educação Básica. Especialista em Gestão Educacional pela UFSM. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM. E-mail: <[email protected]>. 2Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM. E-mail: <[email protected]>. 3Professora de Educação Básica. Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Mestranda em Educação pela UFSM. E-mail: <[email protected]>. 4 Segundo Luck (2011, p. 35), “Como modo de pensar, o paradigma é abrangente em relação a tudo e a todos que constituem a realidade, nada excluindo sobre ela, determinando o modo de ser e de fazer das pessoas em seu contexto. Ainda, segundo Capra (1993, p. 17, apud LUCK, 2011, p. 34), “[...] um paradigma ‘significaria a totalidade de pensamento, percepções e valores que formam uma determinada visão de realidade, uma visão que é a base do modo como uma sociedade se organiza”. complexa que a escola do século XX. Por isso, espera-se desta, uma postura diferente diante de uma realidade tão complexa, para que possa continuar a ter relevância e atuação social necessária na formação dos seres humanos. Por consequência, se a educação dos seres humanos precisa lidar com a complexidade, as dúvidas e as incertezas, a formação dos professores também se tornou mais complexa de forma que o simples domínio dos conhecimentos técnicos e científicos não atende mais as necessidades atuais da educação. Passamos então por um momento de redefinições no campo da educação, de profundas mudanças conceituais, onde mesmo o conhecimento científico não é mais intocável. Hoje, os conhecimentos são muito mais questionáveis e a incerteza é algo muito presente. Da mesma forma, segundo Imbernón, “[...] amplos setores demandaram que a educação se aproximasse mais dos aspectos éticos, coletivos, comunicativos, comportamentais, emocionais… todos necessários para se alcançar uma educação democrática dos futuros cidadãos” (2011, p. 11). De forma geral percebe-se um amplo movimento social que exige mais participação nas decisões que se tomam, com maior valorização do sujeito, que deixa de ser objeto e passa a ser ator social importante nas mudanças em curso. Então, assumimos hoje que a necessária renovação nas escolas tem, como condição intrínseca, a renovação da profissão docente. Temos aqui um entrelaçamento crucial com o qual temos que trabalhar e que não pode ser ignorado pelas políticas públicas e gestores em educação. O problema que se coloca é que, principalmente após a industrialização, a profissão docente se constituiu na lógica da racionalidade técnica instrumental, onde predomina o conhecimento objetivo das disciplinas a serem ministradas. Nesta perspectiva, segundo Imbernón, “[...] saber, ou seja, ter um conhecimento formal era assumir a capacidade de ensiná-lo” (2011, p. 13). Diferente disso, temos que, hoje, para muito além da transmissão de um determinado conhecimento acadêmico, a profissão docente exerce muitas outras funções, como “[...] motivação, luta contra a exclusão social, participação, animação de grupos, relações com estruturas sociais, com a comunidade” (IMBERNÓN, 2011, p. 14), às quais se exige elevado grau de autonomia e também compartilhamento de responsabilidades e decisões. Exige-se, para além da simples individualidade profissional, um trabalho compartilhado por toda a comunidade escolar. Pensamos então em um protagonismo coletivo, dentro da perspectiva de uma gestão compartilhada por todos. Uma organização mais autônoma pode oportunizar a descentralização das decisões que se tomam e a instauração de uma cultura menos centrada no individualismo e, com isso, mais colaborativa. Nesta instituição de sujeitos que juntos constroem a escola, partilhando da autonomia, a capacidade de inovação a partir de amplos processos de pesquisa, centradas no diálogo e na reflexão, se tornam uma possibilidade de construção de amplos processos auto(trans)formativos docentes. Mas, para isso, não é possível a permanência de um conceito de professor objeto de sua formação, pois a realidade se tornou muito mais complexa. Esta sociedade tão complexa demanda professores com autonomia para resolver os problemas de sua prática profissional. Assim, assumimos que a construção da profissionalidade e a autonomia estão muito intimamente ligadas. Não é possível ser um profissional sem que este seja autônomo, da mesma maneira que não é possível ser “autônomo primeiro para decidir depois” (FREIRE, 1996, p. 107). Ao falarmos em autonomia de decidir sobre os problemas da prática, temos que ter em mente que esta não surge de repente, mas é processo, é vir a ser (FREIRE, 1996). Por isso mesmo não ocorre em “data marcada”, mas tem de estar “centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas de liberdade” (Ibid., p. 107). A autonomia é necessária para o desenvolvimento desta nova profissionalidade docente, pois, como aprendemos com Freire, “é no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da opção, que se instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabilidade.” (1996, p. 18). Assim, autonomia, poder de decisão e responsabilidade são construções que interdependem uma das outras. No entanto, “a educação escolar é um campo propício a modas” (ARROYO, 2013, p. 9) de forma que “[...] trabalhar com a educação é tratar de um dos ofícios mais perenes da formação da espécie humana” (Ibid., p. 9). Assim, inúmeras Políticas Públicas de formação de professores, em diferentes governos, representando diferentes ideologias, tem provocado “modismos passageiros”, não surtindo o efeito esperado e permanecendo intocável a já anteriormente referida estrutura da escola. A racionalidade técnica-instrumental e a adoção de uma lógica empresarial operacionalizaram a separação entre os que pensam e os que fazem. Temos aqui a mesma perspectiva da educação bancária, a que se refere Freire (1996, 2011, 2013). Este grande educador sempre se utilizou deste conceito para explicar a relação entre professores e alunos, mas podemos aqui expandir o mesmo, entendendo-o, também, na relação que se estabelece entre gestores e professores, e que é consequência da racionalização técnica-instrumental. Acreditamos que, se quisermos abandonar a racionalidade instrumental, também temos que superar as concepções de formação continuada de professores que acontecem na mesma lógica da educação bancária a que se refere Freire, que demarca uma contundente oposição a mesma através da crítica à educação bancária (LIMA, 2009). A prática bancária é marcada por um “transmissor” detentor do conhecimento, que o “deposita” em um “receptor” passivo que, não sabendo, aprende. Freire (2011, 2013), assumindo uma posição contrária a esta, cria uma proposta de pedagogia democrática, ao propor uma aprendizagem da democracia através das práticas dialógicas e ao fazer uma crítica contundentemente à prática silenciosa e alienante, assim como a todas as formas de participação passiva que caracterizam a educação bancária. A visão tecnicista simplifica as análises da educação, fazendo com que este campo social e cultural esteja sempre sujeito a ações esporádicas que pretendem, em sua maioria, reduzir o problema da educação ao domínio da técnica, o que acaba por manter o adiamento da solução dos problemas (ARROYO, 2013). Até que ponto tais políticas públicas para formação permanente tem impactado os professores e, por consequência, a educação, de forma a produzir a inovação esperada? INOVAÇÃO EM EDUCAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE: PROFESSORES SUJEITOS DE SUA AUTO(TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE Temos bem claro que o professor e suas condições de trabalho, aquelas em que exerce a sua profissão, são o núcleo da inovação nas instituições educativas (IMBERNÓN, 2011). O que é necessário que percebamos é que as políticas públicas não trabalham a inovação neste sentido, de “dentro para fora”. Pelo contrário, estas políticas públicas tratam o profissional docente não como sujeito de sua auto(trans)formação docente, mas como objeto desta formação. Falamos aqui em auto(trans)formação por ser o professor, o mestre nas palavras de Arroyo (2013), um modo de ser, um dever-ser. Um pedagogo de si mesmo, pois, ao acompanhar a trajetória de crianças e adolescentes, precisa estar em uma conversa consigo mesmo sobre formação, em uma “auto/formação fundadora” (ARROYO, 2013, p.42). Da mesma forma que aprender a ser professor [...] exige o domínio de teorias […], exige uma elaboração pedagógica que não pode ser confundida coma a aprendizagem e o domínio de mais uma teoria. É antes um saber sobre o percurso pedagógico, formador, que vai tornando possíveis as possibilidades de sermos humanos. (ARROYO, 2013, p. 43). Para Imbernón (2011), a especificidade da profissão docente está no conhecimento pedagógico, que define como o conhecimento “[...] utilizado pelos profissionais da educação, que se construiu e reconstruiu constantemente durante a vida profissional do professor em sua relação com a teoria e a prática” (IMBERNÓN, 2011, p. 31). No entanto, o predomínio do enfoque tecnicista, embebido na racionalidade técnico-instrumental, considera o professor como um mero executor do currículo, como alguém dependente, que adota a inovação criada pelos gestores (ou administradores?)5. Como reflete Alarcão, “[...] a perspectiva roubava ao professor o melhor que ele, como ser humano, pode manifestar: a capacidade de agir pensando e pensando-se” (2011, p. 86). Esta cultura do professor como executor de currículos, como objeto e não sujeito pode ter produzido efeitos na cultura profissional, de forma que estes não se consideram aptos para inovar, adotando uma postura em que esperam que a inovação e as soluções para os problemas da sua prática profissional sejam resolvidos por outros, “de fora para dentro”. 5 Aqui poderíamos fazer a discussão de gestão e administração que Luck (2011) nos coloca. Segundo esta, vivemos um momento de mudança paradigmática, com a coexistência do paradigma da Administração e o surgimento de um novo paradigma, o da Gestão, “que vem ocorrendo no contexto das organizações e dos sistemas de ensino, como parte de um esforço fundamental para a mobilização, organização e articulação do desempenho humano e promoção da sinergia coletiva, em seu contexto, voltados para o esforço competente de promoção da melhoria do ensino brasileiro e sua evolução (LUCK, 2011, p. 35). Gestão Educacional e Gestão Escolar referem-se a um processo de gerir dinâmico e participativo, compromissado com os princípios democráticos e com métodos que criem condições para o desenvolvimento de um clima autônomo, de participação e compartilhamento de responsabilidades. Assim, a expressão gestão deve ser usada para representar “um novo paradigma, caracterizado por maior aproximação e horizontalização na tomada de decisões entre os diferentes segmentos.” (LUCK, 2011 p. 52). Pelo contrário, diante das amplas transformações pelas quais passa nossa sociedade, inclusive com profundas mudanças conceituais e referenciais, o professor “[...] deveria converter-se em um profissional que deve participar ativa e criticamente no verdadeiro processo de inovação e mudança, a partir de seu próprio contexto, em um processo dinâmico e flexível” (IMBERNÓN, 2011, p. 21). Mas, qual a melhor maneira de falar de inovações, se não dialogando com os seus sujeitos, os mestres das escolas? Conforme questiona Arroyo (2013) se escreve muito sobre o professor que se deseja formar, e como se deve proceder para tal, ignorando-se por completo que estamos diante de um profissional com uma longa história. Critica-se o professor e criam-se receitas como se fosse possível criar e programar um novo modelo de professor. Arroyo (2013) alerta que […] as políticas públicas tentam legitimar as reformas educativas, sobretudo de conteúdos e a requalificação dos mestres numa permanente contraposição entre a rotina e a inovação. Como se a escola fosse uma planta que a cada período de governo fica velha e tem de ser reinventada e cada professor fica velho com o uso e tem de ser reciclado. (p. 154). Da mesma forma que questiona estas “receitas” criadas para a formação do professor, o autor também encontra a raiz do problema da descontinuidade nas politicas públicas e práticas de formação docente. Conforme este autor, Tanto o pensamento político conservador, quanto progressista têm dificuldade em ver os processos educativos situados nessa dinâmica, nesses tempos históricos de longa duração, porque não situam a educação no campo da cultura, dos valores e das identidades, da socialização e da formação, mas no campo das competências, habilidades, conhecimentos e técnicas supostamente sempre em progresso, em mutações curtas, em rupturas. (ARROYO, 2013, p. 154). Quando trabalhamos com educação, ou melhor, no campo da formação humana, precisamos partir do princípio de que esta é uma elaboração cultural, resultado do aprendizado dos significados da cultura ao longo de nossa trajetória social. Formação humana, que não se faz com curtas e frequentes rupturas. Precisamos considerar que os professores levam consigo as marcas de “múltiplos tempos de socialização” (ARROYO, 2013, p. 55), que não são apagadas ou removidas, assim como novas marcas culturais não podem ser “implantadas” através de políticas públicas, por mais “bem intencionadas” que elas sejam. Isto porque carregamos em nós uma longa história de educadores. Conforme também aponta Freire (1996) […] percebo afinal que a construção de minha presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente […] (p. 53). Enfatizamos assim, a importância da instauração de uma lógica de continuidade na formação de professores, centrada na escola e em práticas críticoreflexiva. Imbernón ao escrever sobre formação permanente de professores acredita na centralidade das práticas reflexivas dos sujeitos como instrumento formativo colaborativo, “[...] de modo a permitir que examinem suas teorias implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas atitudes, etc., realizando um processo constante de autoavaliação que oriente seu trabalho” (2013, p. 51). Mas existiria alguma forma de pensarmos esta (auto)formação permanente no cotidiano escolar? E como poderíamos implementar esta (auto)formação formadora compartilhada focada na escola? PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: INOVAÇÃO NA ESCOLA ATRAVÉS DO TRABALHO COLABORATIVO E COMPARTILHADO Acreditamos no potencial do Projeto Político Pedagógico 6 não apenas como documento que “suleia”7 o cotidiano da escola, mas como instrumento da Gestão Democrática que permite um efetivo compartilhamento de responsabilidades na busca de uma escola melhor para todos. E, neste sentido, a auto/formação permanente dos professores e seu desenvolvimento profissional 8 devem estar em consonância com o Projeto Político Pedagógico da Escola. E este com o 6 Há diversas formas diferentes de denominar o Projeto da Escola. Utilizaremos o termo Projeto Político Pedagógico, concordantes com Veiga (2011) e Vasconcellos (1999) por acreditarmos, juntamente com estes autores, que o Projeto da Escola representa uma determinada intencionalidade, para além da esfera exclusivamente pedagógica, também representa o compromisso da escola com a formação do cidadão, sendo o responsável por definir as ações educativas cumprindo seu propósito de formar um cidadão crítico, responsável, criativo e participativo. 7 De acordo com Ana Maria Freire, que escreve as notas explicativas do livro Pedagogia da Esperança, Paulo Freire passou a utilizar o termo “sulear”, apesar deste não constar nos dicionários de língua portuguesa, devido a conotação ideológica do termo “nortear”. Considerando que o norte é a localização dos países do “primeiro mundo”, que exerce um domínio cultural, político e econômico aos países do Sul, que tomam os países do norte como exemplo, em muitas políticas públicas, incluindo as educacionais. 8 Adotamos aqui o conceito de desenvolvimento profissional de Imbernón, segundo o qual, este “[...] pode ser concebido como qualquer intenção sistemática de melhorar a prática profissional, crenças e conhecimentos profissionais, com o objetivo de aumentar a qualidade docente, de pesquisa e de gestão” (2011, p. 47). desenvolvimento da instituição educativa. De forma que este pode ser um instrumento de inovação, tendo os professores como sujeitos deste processo. Ao mesmo tempo que a organização pedagógica em torno do alcance dos objetivos educacionais, amplamente discutidos e refletidos na construção compartilhada do Projeto Político Pedagógico, permitem também desenvolvimento da profissão docente e o protagonismo coletivo, que implica uma nova concepção da instituição e da formação. Este protagonismo coletivo se justifica, segundo Alarcão, pois “[...] o professor não pode agir isoladamente na sua escola. É neste local, o seu local de trabalho, que ele, com os outros, seus colegas, constrói a profissionalidade docente” (2011, p. 47). Pensamos assim, juntamente com Alarcão (2011) em uma construção compartilhada permanente da profissionalidade docente, com o Projeto Político Pedagógico como instrumento de uma Gestão Democrática, menos tuteladora, mais confiante na qualidade profissional, que faz uso do Projeto Político Pedagógico como “[...] um produto que supõe superar concepções de inovação que veem de fora para a escola” (ARROYO, 2013, p.226). Mas o que vem a ser o Projeto Político Pedagógico? No que se constitui? O Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola retrata sua realidade. Será um trabalho de construção e reconstrução que exige a participação de todos: equipe administrativa: diretor geral, diretor adjunto, secretário, auxiliares de secretaria, agente administrativo; equipe técnico-pedagógica: coordenador pedagógico, orientador pedagógico, orientador educacional; funcionários: serventes, merendeiras, inspetores de alunos; alunos, responsáveis pelos alunos e membros da comunidade local. (MEDEL, 2008, p. 1). O Projeto Político Pedagógico, nesta concepção, está relacionado à realidade de uma escola democrática e cidadã, o que pressupõe a participação de todos na elaboração do documento que retrata esta escola, mas que, também, destaca os desafios a serem enfrentados no futuro e nas ações que serão efetivadas quando do enfrentamento desses desafios. Portanto, construir e implementar participativamente trata-se de um dos pilares de sustentabilidade da gestão democrática nas escolas públicas. No entanto, como marco regulatório ou pressuposto legal, o Projeto Político Pedagógico corre o risco de ser burocratizado, transformando-se em um documento pronto e acabado, já que “[…] a inovação de cunho regulatório ou técnico nega a diversidade de interesses e de atores que estão presentes” (VEIGA, 2003, p. 271). Evidenciamos, em pesquisa recente (ROBAERT; DALLA CORTE, 2014), que a burocratização, hierarquização e centralização das decisões na figura do diretor ou da “equipe diretiva” podem estar relacionadas com a presença da racionalidade técnico-instrumental nas escolas, ou seja, de uma lógica que burocratiza a inovação e acaba por negar os interesses de professores, alunos e pais na instituição educativa. Podemos expandir esta ideia inicial, concordantes com Arroyo (2013), de que a burocratização da inovação, ou o “legalismo inovador”, normatiza as inovações que custaram tanto a acontecer, reproduzindo “[...] uma imagem infantilizada e dependente docente” (ARROYO, 2013, p. 219). Ao contrário deste legalismo inovador, da burocratização da inovação, a proposição do Projeto Político Pedagógico e sua consecução compartilhada objetivam, primeiramente, proporcionar a experiência democrática nas escolas, de maneira que o exercício de [re]construção da cidadania possa ser apreendido pelas pessoas e que, no uso dessa cidadania, possam contribuir para o amadurecimento da sociedade, superando antigas práticas não democráticas tão bem articuladas e enraizadas historicamente. No uso dessa cidadania, ao participar da construção do Projeto Político Pedagógico da Escola, os professores, juntamente com a comunidade, desenvolvem um sentimento de [co]responsabilidade pela consecução do mesmo, ou seja, todos passam a sentirem-se parte efetiva e importante para que a escola atinja seus objetivos educacionais. Ao mesmo tempo, a prática pedagógica passa a ser organizada em virtude dos objetivos que a comunidade escolar conclui serem fundamentais para essa escola. Por isso, como organizador do trabalho pedagógico da Escola, o Projeto Político Pedagógico possibilita que os professores trabalhem com objetivos claros, relacionados aos objetivos da Instituição; os conteúdos escolares também deixam de serem fins em si mesmos, passando a ser conectados com a vida e com a realidade dos alunos. METODOLOGIA Esta pesquisa consiste em um estudo bibliográfico embasado em livros e artigos acadêmicos pertinentes ao aprofundamento da temática em questão. Segundo Severino (2007, p. 122) a pesquisa bibliográfica “[...] utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores [...]. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados”. Nesse sentido, realizamos o estudo com base no que outros autores escreveram sobre a importância de se conquistar democraticamente, através do PPP, condições de trabalho que garantam a inovação nas instituições educativas, a fim de compreender tudo o que já se pesquisou sobre o assunto. Para a leitura, análise e interpretação dos textos, utilizamos as cinco diretrizes propostas por Severino (2007), são elas: a delimitação da unidade de leitura; a análise textual, feita através de uma leitura corrida dos textos escolhidos; a análise temática, visando compreender sobre que temática os textos versam; a problematização, visto que sem ela não há sentido em pesquisar; a análise interpretativa, a fim de “tomar uma posição própria acerca das ideias dos autores” (SEVERINO, 2007. p. 59), dialogando com eles; e, por último, a síntese pessoal, em que o pesquisador escreve o seu próprio texto expressando seu entendimento sobre tudo o que pesquisou. CONCLUSÕES (NÃO) FINAIS Assim, a construção do PPP da Escola de forma compartilhada e colaborativa passa a ser um espaço privilegiado de “[...] formação centrada nas situações problemáticas da instituição educativa” (IMBERNÓN, 2013, p. 22), um espaço para o surgimento da inovação “de dentro para fora”. Da mesma forma que, centrar o desenvolvimento profissional nas práticas de sala de aula no desenvolvimento da instituição, traduz uma redefinição que estabelecem novos modelos relacionais na prática de formação (Ibid., p.55). Segundo Alarcão, “nestes contextos formativos com base na experiência, a expressão e o diálogo assumem um papel de enorme relevância” (2011, p. 49). No entanto, muitas vezes, a construção deste documento não se dá com base no diálogo e na reflexão, mas tem se traduzido apenas no cumprimento de normas, convertendo-se em um retrato da mera expressão da visão tecnicista, da racionalidade técnico-instrumental presente em muitas escolas. Nesta perspectiva, Veiga (2011) afirma que o projeto não pode ser algo construído e engavetado e, em seguida, encaminhado para as autoridades com a comprovação de que certa determinação do Sistema de Ensino foi cumprida. Luck (2011) argumenta que a realização de ações episódicas, que indicam a falta de visão do todo em relação aos processos educacionais, está relacionada com a falta de planejamento. A autora aponta que “essa falta, aliás, sustenta a atuação orientada por demandas e pressões imediatistas, pelo ativismo e pela síndrome de “apagar incêndios”” (LUCK, 2011, p. 83). Assim sendo, o planejamento da escola, que deveria estar relacionado, primeiramente, à construção, e à consecução do seu PPP, permite que se supere a tendência de agir episodicamente, ou seja, em situações casuais “[...] que resultam na construção de rotinas vazias de possibilidade de superação das dificuldades do cotidiano” (LUCK, 2011, p. 83), permite a superação da lógica das rupturas frequentes, como se refere Arroyo (2013). É pela participação compartilhada que se torna possível a construção de um ideário coletivo, voltado para as prioridades, os objetivos, metas e ações necessárias à escola. Sem esta perspectiva, torna-se distante a conquista do sentimento de pertença (VEIGA, 2011) e o Projeto Político Pedagógico passa a ser um simples documento formal que responde as exigências legais, mas que não transforma a escola, nem produz a qualidade desejada pela sociedade e expressa na legislação educacional. Almejamos a superação do paradigma técnico-instrumental, com a superação do conceito de formação como uma simples atualização científica, didática ou psicopedagógica, nos aproximando de um conceito de formação como auto(trans)formação formadora permanente, focada na escola, que também passa a se desenvolver enquanto instituição educativa. REFERÊNCIAS ALARCÃO, I. Professores Reflexivos em uma escola reflexiva. 8. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2011. ARROYO, M. G. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. ______. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011. ______. Cartas a Cristina: Reflexões sobre a minha vida e minha práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2011. LIMA, L. C. Organização escolar e democracia radical: Paulo Freire e a governação democrática da escola pública. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2009. LUCK, H. Gestão Educacional: Uma mudança paradigmática. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. MEDEL, C. R. M. A. Projeto Político Pedagógico: Construção e Implementação na Escola. Campinas: Autores Associados, 2008 (Coleção Educação Contemporânea). ROBAERT, S.; DALLA CORTE, M. G. O Projeto Político Pedagógico em sua construção e implementação compartilhada: o estudo de caso em uma comunidade escolar. REGAE. Santa Maria, RS, v. 3, 2014. VASCONCELLOS, C. S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político pedagógico. 5. ed. São Paulo: Libertad, 1999. VEIGA, I. P. A. Projeto Político Pedagógico da Escola: Uma construção coletiva. In: Projeto Político Pedagógico da Escola: Uma construção possível. 29. ed. Campinas: Papirus, 2011. ______. Inovações e projeto político-pedagógico: uma relação regulatória ou emancipatória? Cadernos Cedes. Campinas, SP, v. 23, n. 61, p. 267-281, dez. 2003. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 29 jul. 2014. DESAFIOS E METAS DA GESTÃO EDUCACIONAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA DO MAGISTÉRIO NA ESCOLA Simara Saquet Schio1 Alexandre Giacomini2 João Luis Pereira Ouriques3 INTRODUÇÃO A educação é item primordial para a formação humana e cidadã e, nesse sentido, em se tratando de ambientes específicos destinados à educação, como as instituições de ensino fundamental e médio, destacamos a importância do papel de uma gestão educacional reflexiva, crítica e ciente das necessidades do grupo escolar. É nessa perspectiva que a atuação dos gestores educacionais como facilitadores e promotores da formação continuada dos docentes é de fundamental importância, já que, atualmente as escolas necessitam de gestores capazes de trabalhar e facilitar a resolução de problemas em grupo, ajudando-os a identificar suas necessidades de capacitação. Sendo assim, esta investigação justifica-se ao possibilitar maior reflexão acerca da importância do papel da gestão educacional no processo ensino-aprendizagem, uma vez que se deve possibilitar oportunidades e motivação para que o corpo docente busque por formação continuada. Considerando toda essa problemática, pretendemos com esse estudo, averiguar de que maneira os gestores podem possibilitar, aos membros do magistério, uma reflexão sobre a necessidade da busca por formação continuada, enfatizando uma instituição pública de ensino médio do município de Restinga Sêca, RS. Dentro desse objetivo geral, propomo-nos a discutir as questões que inibem essa busca, analisar o posicionamento dos docentes frente a esta temática e 1 Especialista em Gestão Educacional, Educação Ambiental pela Universidade Federal de Santa Maria e Especialista em Gestão Escolar: Orientação Supervisão, pela Universidade Barão de Mauá – São Paulo. Professora de Geografia da SEDUC-RS. E-mail: <[email protected]>. 2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde da Universidade Federal de Santa Maria. Mestre pelo mesmo Programa. Professor de Física da SEDUC-RS. E-mail: <[email protected]>. 3 Doutorado em Letras pela Universidade Federal de Santa Maria. Mestrado em Letras pela Universidade Federal de Santa Maria. Graduação em Letras Português Inglês pelo Centro Universitário Franciscano. Professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas – UFPel. E-mail: <[email protected]>. apresentar possíveis alternativas para que, no âmbito desta pesquisa, tanto gestores como professores repensem alguns posicionamentos e priorizem outros. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Falar em educação é, ao mesmo tempo, abrir um leque imenso de possibilidades discursivas, uma vez que esse é um assunto interligado com todos os setores da vida em sociedade. Trata-se de uma forma de desenvolver as potencialidades do indivíduo de maneira a inseri-lo na sociedade como cidadão e como profissional (FENAME, 1981, p. 144). A partir disso, entendemos que o processo educacional tem sido visto, em muitos casos, como uma forma de moldar as pessoas de acordo com as exigências sociais e profissionais, sem considerar, muitas vezes, as suas reais capacidades. Nessa ênfase, a educação desempenha dupla função – preparar o indivíduo para atuar em sociedade e, mediante essa formação, também se constituir em modo de repensá-la, criticá-la e modificá-la. Sob essa ótica, salientamos a importância de uma formação qualificada dos docentes sem perder de vista o aspecto da cidadania e de um sentido formativo mais amplo, ou seja, na busca por um espaço democrático. No entanto, não basta unicamente a formação continuada por si só, mas que exista a troca de saberes entre professores, alunos e toda a comunidade escolar, sujeitos que necessitam participar, ativamente, do processo de gestão educacional. A sociedade clama por modificações na escola e uma das maneiras da escola acompanhar essas mudanças é proporcionando aos docentes a oportunidade da formação no trabalho. Nessa perspectiva, fica nítida a evidência da necessidade de gestores educacionais capazes de facilitar esse relacionamento entre todos os componentes da comunidade escolar para que haja uma melhor interação e resolução de problemas, ou seja, construção de uma “parceria” com os demais agentes educacionais na busca constante de formação continuada. Luck (2002) entende que As escolas atuais necessitam de líderes capazes de trabalhar e facilitar a resolução de problemas em grupo, capazes de trabalhar junto com professores e colegas, ajudando-os a identificar suas necessidades de capacitação e a adquirir as habilidades necessárias. (p.34). A gestão democrática nas escolas é tão importante e necessária que está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB 9.394/96. Porém, para que ela realmente funcione, os governantes devem possibilitar que os gestores da educação administrem os recursos, como determina a referida lei. Assim, o início desta caminhada de mudanças, as quais dependem da postura da comunidade escolar, do grupo de trabalho e de cada professor em sua atuação e relacionamentos com alunos, pais e comunidade, está oportunizada e outorgada nos princípios que regem a Constituição de 1988. Da mesma forma está referendado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996 (LDB/96, p. 4). A busca e garantia da qualidade no cenário educacional brasileiro é tema de constante debate na contemporaneidade. A cada dia que passa a cada olhar sobre e para a educação, percebemos que os profissionais do ensino são colocados em xeque e sofrem maiores cobranças. São cobranças que derivam desde a eficácia do seu trabalho, bem como exigências quanto a uma formação mais sólida e representada por títulos acadêmicos. Sem esquecer a proeminente necessidade de se posicionar com eficiência e atratividade num mundo configurado pelo avanço crescente das novas tecnologias. Esse cenário resulta no fomento de propostas que exigem do professor, mais do que estar presente em sala de aula, é necessário zelar por sua formação e educandos em busca de situações de ensino e aprendizagem que contemplem a apropriação de competências e habilidades com significado real e atratividade. Essa premissa vai ao encontro do pensamento de Rubem Alves, quando salienta que há uma distinção entre professor e educador, ao afirmar que, “[...] professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão, é vocação. E toda uma vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança” (ALVES, apud FERACINE, 1998, p. 50). Vendo o professor por essa ótica, fica claro que ele tem um papel social a cumprir, papel este, que se delimita a “[...] provocar “conflitos intelectuais”, para que, na busca do equilíbrio, o aluno se desenvolva” (FREITAS, 2005, p. 95). METODOLOGIA Neste estudo, aliamos a pesquisa bibliográfica à pesquisa de campo com vistas a, em um primeiro momento, fazer o levantamento de subsídios teóricos acerca da temática abordada para que estes sirvam de base ao segundo momento, que será a pesquisa de campo. Com relação à pesquisa bibliográfica, Gil (2007) entende que: A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. (p. 44). Da mesma forma, a referida investigação será uma pesquisa de campo, para que haja um conhecimento de como está funcionando o processo de formação continuada de professores. Conforme Vergara (2000), Pesquisa de campo e investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir entrevistas, aplicação de questionários, testes e observação participante ou não. (p. 47). Assim, nesta etapa, elaboramos um instrumento de pesquisa, um questionário contendo 17 questões fechadas, destinado aos envolvidos com a gestão educacional pública, ou seja, o gestor e docentes de uma instituição pública de ensino médio do município de Restinga Sêca, RS. Na instituição estadual enfocada, a Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo, o instrumento de pesquisa foi aplicado a professores e ao gestor da escola. Por fim, foi realizada a organização dos dados obtidos a partir desses dois momentos e que após, fizemos a análise e a discussão dos resultados desta investigação. A aplicação dos questionários e realização das entrevistas tem o objetivo de traçar um diagnóstico sobre a necessidade de construção efetiva de atividades de formação continuada na Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo, com o propósito de identificar demandas, sugestões e avaliações sobre as políticas de formação continuada bem como a maneira como esse processo é conduzido pelos gestores educacionais. Adotamos a seguinte estrutura para a formação do questionário: Um cabeçalho para identificar o objetivo, o título da pesquisa propriamente e o aviso de que as informações prestadas são sigilosas e que, portanto, não serão divulgadas de nenhuma forma. Após, foram apresentadas questões fechadas de escolha múltipla, a fim de facilitar o tratamento e a interpretação dos dados resultantes. Os questionários foram aplicados para todos os professores que compõem o corpo docente da Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo de Restinga Sêca, RS. Averiguamos que através do questionário de pesquisa importantes informações que alicerçaram nossas reflexões sobre a importância da formação continuada como renovação didática dos docentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Demonstramos, a partir de agora, os resultados obtidos através da aplicação do questionário a 37 docentes da Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo, situada no município de Restinga Sêca – RS. Ressaltamos, por mérito, que a aplicação dos questionários foi respondida pelos professores de forma voluntária. Em relação ao nível de formação dos profissionais da educação (gráfico 1), percebemos que há uma grande predominância dos docentes com especialização, ou seja, 62% (23) dos entrevistados apresentam certificado de especialização em seu currículo; 5 docentes tem mestrado, sendo que 2 concluídos e 3 em andamento; 9 docentes possuem apenas graduação. 25 23 20 15 10 5 5 Gráfico 1 – Formação dos Profissionais da Educação Fonte: Autores O que podemos perceber, pelo montante de professores com especialização em seu currículo, que existe uma preocupação em se especializar e se atualizar continuamente. Nessa perspectiva, a formação continuada possibilita ao docente a aquisição de conhecimentos específicos da profissão, se tornando assim seres mais capacitados a atender as exigências impostas pela sociedade, exigências estas que se modificam com o passar dos tempos, tendo então o educador que estar constantemente atualizado. Pois, conforme Sousa (2008), Ser professor, hoje, significa não somente ensinar determinados conteúdos, mas, sobretudo um ser educador comprometido com as transformações da sociedade, oportunizando aos alunos o exercício dos direitos básicos à cidadania. (p. 42) No tocante a esses questionamentos e a análise das entrevistas, percebemos um diagnóstico que aponta a importância e valorização dos processos de formação continuada, sem esquecer de apontar a necessidade de mudanças no tocante ao processo de participação democrática na Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo. Essa evidência ganha legitimidade quando percebemos que entre os 37 docentes entrevistados, quase que em sua totalidade, ou seja, 79% dos docentes participa de atividades de formação continuada anualmente, o que demonstra a enorme preocupação de estarem em constante formação e atualização. No entanto, percebemos que os cursos oferecidos pela rede estadual de ensino são insuficientes e não refletem muitas vezes a real necessidade e expectativa, o que faz com que os educadores que sintam a necessidade dessa atualização, busquem em cursos pagos suprir essa lacuna deixada pela Secretaria Estadual de Educação. Quando questionados sobre a importância da formação continuada para sua valorização como profissional e como ela pode contribuir na construção de uma prática pedagógica eficaz, foi assegurado que com os novos conhecimentos adquiridos a partir da formação continuada, além de proporcionar ao docente um maior suporte para trabalhar com seu aluno de forma dinâmica e positiva, ainda permite à construção de seu próprio repertório individual de conhecimento. No entanto, para que esse processo se torne eficiente, as novas informações devem ser levadas para a prática diária da sala de aula, para que os cursos tenham sentido no processo educacional. Ainda, se referindo ao processo de ensino aprendizagem do aluno que foi abordado nessa pesquisa, constatamos que a formação continuada influencia positivamente neste processo, trazendo maior credibilidade a este profissional, ao mesmo tempo em que conduz para novos caminhos, elevando a produção de saberes, subsidiando suas práticas e novas metodologias que facilitam o aprendizado do aluno. Nesse sentido, é possível percebermos através do significativo índice de 89% dos educadores entrevistados o entendimento que, para o processo de aprendizado e conhecimento ser completo, é necessário que todo esse conhecimento adquirido na formação continuada seja colocado em prática, pois não basta uma bagagem de conhecimentos se o mesmo não for compartilhado. Além disso, demonstra a pesquisa que os docentes que participam de cursos de formação continuada têm a possibilidade de aplicar metodologias diferenciadas que possibilitam a motivação dos alunos, um olhar mais crítico e reflexivo, que sejam formadores de opinião sobre qualquer assunto que venha a ser explicitado. A garantia de se manter ativo no mercado de trabalho é fundamental, afinal um profissional competente sempre tem lugar nesse espaço tão competitivo. Assim, a formação continuada proporciona a possibilidade de estar atento às inovações, sejam elas tecnológicas, didáticas, pedagógicas. Nesse âmbito, a formação continuada oferece instrumentos para prover a demanda de informações e necessidades que os alunos trazem para a sala de aula. É preciso que o professor se renove e acompanhe as transformações que ocorrem a todo o momento, pois isso garantirá um ensino e aprendizagem de qualidade. No entanto, o que percebemos nessa investigação é que a maioria dos docentes apontou para uma gestão pouco participativa, pois no quesito planejamento das atividades de formação continuada na escola investigada, os mesmos não são consultados quanto as temáticas a serem abordadas, o que os deixa insatisfeitos e desanimados em participar dos cursos, pois muitas vezes não são do interesse dos docentes. Por fim, constatamos que, na Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo, 34 educadores que representam um universo expressivo de 91%, mesmo sabendo que a formação continuada é de extrema importância, relatou que a indisponibilidade de tempo, devido ao excesso de cargas horárias, é o fator determinante para que os cursos se tornem inviáveis. Porém, um professor comprometido com suas responsabilidades de educador, busca conciliar a formação continuada com seu trabalho, pois desejam um futuro melhor para si e seus alunos, já que é responsável pelo ato de ensinar. Pensar em formação de professores nos remete a refletir a escola como espaço privilegiado de qualificação. Se, nas instituições formais de ensino, o professor realiza sua formação inicial, seja ela em nível médio ou superior, na escola, local de seu trabalho, ele encontra um espaço que promove sua formação continuada. Assim, mediante os estudos realizados, acreditamos que a formação continuada é uma necessidade para o docente e se constitui num processo contínuo e inacabado, sempre em movimento. Todavia é preciso difundir e oportunizar a concretização da mesma, para que o docente possa renovar sua didática e manter uma prática reflexiva constante. Em uma sociedade globalizada, a formação e profissionalização dos docentes ainda são deficitárias em relação ao desenvolvimento histórico da educação e a complexidade da sociedade em que vivemos. Na perspectiva da formação, é preciso aprender continuamente como ver a realidade, uma vez que é na prática, na troca de saberes, na ousadia da busca que se dá o aprendizado mútuo. Portanto, entendemos que a formação contínua em serviço é a que ocorre na própria escola, tendo como elemento mediador o Projeto Pedagógico em ação. No entanto, para que isso se concretize, a formação contínua deve estar prevista no Projeto Pedagógico da escola, a fim de garantir a participação dos docentes na definição dos rumos da sua formação e adquira sentido e se configure como uma política de intervenção na melhoria de sua prática pedagógica. Evidenciamos, assim, a necessidade de que as mudanças não se limitem a cada nova gestão ou a iniciativas individuais, mas que sejam amparadas e reavaliadas coletivamente pelas equipes escolares. Nesse âmbito, a atuação do gestor é de fundamental importância, pois no cumprimento de suas tarefas, o gestor escolar desempenha diferentes funções com vistas ao alcance dos objetivos traçados para/pela instituição e que estão registrados no Projeto Pedagógico da escola. No entanto, o gestor não age por si próprio, conforme seus anseios, ideologias e utopias. Ele é, ao mesmo tempo, representante da comunidade escolar e do Estado e em sua função, busca atender às demandas locais e às demandas externas, fruto das políticas públicas educacionais. Assim, o gestor ao desempenhar seu papel de liderança é capaz de determinar a diferença entre uma escola estagnada e uma escola em movimento. No entanto, pensar e fazer educação não se reduz ao plano individual. Devemos pensar que a relação coletiva e compartilhada se torna emancipadora quando aqueles a quem se atribui a função de ensinar conquistam espaço para aprimorar sua ação pedagógica no contexto mais amplo das políticas educacionais, uma vez que são personagens efetivos para a garantia de uma educação de qualidade, que oportunize a aprendizagem de nossos educandos. Em suma, reafirmamos que há inúmeros meios para buscarmos uma educação de qualidade, mas a historicidade demonstra que, em sua maioria, somente o tempo poderá aperfeiçoá-los e legitimá-los. No entendimento dessa perspectiva, não podemos deixar de destacar o constante debate em torno da necessidade de uma gestão democrática e participativa, na busca de uma escola capaz de oferecer processos de ensino e aprendizagem realmente significativos para seus alunos. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Serviço de estatística educacional. Cuiabá: SEC/MT, Rio de Janeiro: FENAME, 1981. p.144. ______. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 dez. 1996. LUCK, H. Ação Integrada: Administração Supervisão e Orientação Educacional. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. FREITAS, L. C. de. Mudanças e inovações na educação. 2. ed. São Paulo: EDICON, 2005. FERACINE, L. O professor como agente de mudança social. São Paulo: EPU, 1998. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. SOUSA, M. G. da S. A formação continuada e suas contribuições para a profissionalização de professores dos anos iniciais do ensino fundamental de Teresina- Pi: revelações a partir de histórias de vida. 2008. 130 f. Dissertação (Mestrado em Educação)–Universidade Federal do Piauí, Piauí, 2008. VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO [TDIC] NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES Edenise do Amaral Favarin1 Denise Santos da Cruz2 Adriana Moreira da Rocha3 INTRODUÇÃO Consideramos que os educandos do Século XXI já nasceram em um mundo digital, pois são reconhecidos como nativos digitais, termo designativo para quem nasceu e está crescendo com as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) presentes em sua vida cotidiana. Conforme Marc Prensky (2001), estes são os aprendizes do Novo Milênio. Levando em conta a inserção dos nativos digitais, na sociedade da informação, o desafio de ser educador/gestor aumenta, tendo em vista que os educandos de hoje não tem mais o perfil de antes, pois transitam com desenvoltura pelas mídias, dominando as TDIC4 e os espaços virtuais. Os cenários educativos do século XXI são compostos pela tríade instituiçõeseducadores-educandos. Segundo Imbernón (2010), temos instituições educativas que guardam resquícios do século XIX, educadores que desenvolvem práticas pedagógicas advindas do século XX e educandos imersos na cultura digital do século XXI. Para mediar os processos formativos de ensino-aprendizagem, torna-se 1 Licenciada em Pedagogia. Especialista em Gestão Educacional. Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 2 Bacharel em Administração pela Universidade de Santo Amaro – São Paulo (UNISA). Especialista em Educação a Distância, com ênfase na docência e na tutoria em EAD – Pontifícia universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Acadêmica do Programa de Graduação de Formação de Professores para a Educação Profissional (PEG) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 3 Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE). Professora Adjunta do Departamento de Fundamentos da Educação (FUE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 4 O termo TIC remete as Tecnologias da Informação e Comunicação. Consistem em um conjunto de recursos tecnológicos tanto analógicos quanto digitais, que ao integrar-se proporcionam a automação e a comunicação dos processos de negócios, da pesquisa científica e dos processos de ensinaraprender, por meio de hardware, software e telecomunicações. Embora o termo TIC seja utilizado como aporte teórico de pesquisas, inclusive nos referenciais teóricos utilizados por nós, neste estudo, optamos em utilizar o conceito de Tecnologia Digital da Informação e da Comunicação (TDIC), no qual se insere a palavra digital. Aparelhos como desktop, notebook, netbook, tablet, a WEB, os telefones celulares mais sofisticados, as câmeras digitais, o televisor digital e as demais tecnologias constituem as TDIC. necessário mobilizar mais do que as práticas de gestão tradicionais, típicas de uma geração de professores que, “[...] encapsulada em si mesma, não enxerga as possibilidades de se aproximar de outra, que apesar de estar tão perto, apresenta-se tão distante” (FREITAS, 2009, p. 01). Marc Prensky (2010) apresenta os termos “nativos digitais” e “imigrantes digitais” – que explicam as diferenças culturais entre os que cresceram na era digital e os que não. Para o autor, os imigrantes digitais apresentam uma dificuldade atitudinal com relação a cultura digital, preferindo, por exemplo, imprimir e-mails ou não utilizar a Internet como primeira fonte de informação. Os nativos digitais invadiram os espaços educativos e ensinar essa nova geração é um desafio imenso, especialmente para os educadores, pois precisam ir além da tradicional aula expositiva e deixar que os educandos aprendam a partir de suas próprias experiências. Ainda que nos espaços para a formação inicial haja êxito na aprendizagem dos conteúdos dos valores de sucesso pessoal, pode estar deixando-se de lado outros processos de ensino-aprendizagem. Para Prensky (2010), o papel da tecnologia – e seu único papel – deveria ser o de apoiar os educandos no processo de ensinarem a si mesmos. Assim, É interessante analisar a relação entre inovação educativa e profissão docente. Entendida como pesquisa educativa na prática, a inovação requer novas e velhas concepções pedagógicas e uma nova cultura profissional forjada nos valores da colaboração e do progresso social, considerado como transformação educativa e social. (IMBERNÓN, 2010, p. 20). Partimos do pressuposto de que a formação de professores em uma perspectiva humano-tecnológica de educação, frente aos desafios da gestão e da cultura digital, fornece ao futuro educador condições de ir além da técnica e refletir criticamente sobre a sua atuação num determinado contexto sociocultural. No contexto do século XXI, a tecnologia tornou-se uma ferramenta potencializadora dos processos de ensino-aprendizagem, a qual os educandos a exploram em busca de informações que podem complementar as explicações aprendidas em aula e constituir-se uma ferramenta aliada do educador durante o processo da construção do conhecimento. No entanto, alguns educadores não contemplam a TDIC como aliada no processo de ensinar-aprender e a torna como uma grande vilã. Neste contexto, a formação docente enfrenta uma “nova” esfera pedagógica: a virtual, que é representada pela inserção das TDIC na educação, a qual os educadores não se sentem preparados. Dessa maneira, surge a necessidade de uma formação pedagógica com o uso das tecnologias digitais capaz de resultar em novas relações pedagógicas no exercício da docência, pois os educadores continuam a aderir ao modelo pedagógico tradicional, mas, em contrapartida, tem refletido em possibilidades inovadoras que permite introduzir recursos multimídias em seu planejamento de ensino. Para isso, uma formação reflexiva e a realização de práticas de gestão inovadoras se torna o ponto chave para o enfrentamento dos desafios da cultura digital, uma vez que, o trabalho docente envolve o ensino e as relações entre sujeitos com o conhecimento. O Projeto Inovar encontra-se na 4ª edição e tem como foco o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) no planejamento e desenvolvimento de práticas inovadoras na educação básica, visando resultados efetivos na formação qualificada dos estudantes, dos pesquisadores e professores. Neste projeto o termo é substituído por tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), adequando-se ao advento da cultura digital, visando promover novas coreografias didáticas digitais (CDD) no cenário educacional contemporâneo, incorporando naturalmente os recursos disponibilizados pelas TDIC. O lócus de desenvolvimento das atividades do Projeto é uma instituição pública estadual que fica localizada ao entorno social da UFSM e sua escolha ocorreu de forma deliberada. A referida Escola aderiu à proposta e a equipe pedagógica mostrou predisposição em participar, disponibilizando a infraestrutura tecnológica necessária para a realização das ações de formação continuada de professores e apoio técnico. Para que isto aconteça, são realizados encontros semanais na UFSM dedicados a gestão, estudo, planejamento e avaliação com o objetivo de sensibilizar o grupo a desenvolver um olhar mais atento e uma escuta sensível (BARBIER, 2002) no que se refere a análise das necessidades formativas apresentadas pela equipe gestora e professores participantes do projeto. Os educandos do Curso de Licenciatura em Pedagogia estão comprometidos com as atividades formativas. Comprometimento este fundamental para a realização do projeto, considerando que na matriz curricular do Curso existem fragilidades quanto a inserção de disciplinas que potencializam o conhecimento teórico-prático das TDIC como um recurso didático pedagógico. Diante desse cenário, constata-se, então, que temos apenas 01 disciplina no currículo de 60 h intitulada Tecnologias da Informação e da Comunicação aplicadas à Educação que compõe o corpus das disciplinas do Núcleo de Estudos Básicos do 3º semestre do Curso de Pedagogia. Em contrapartida, entendemos que a inserção de acadêmicos para atuar nas escolas, especialmente no que se refere a formação tecnológica, funciona como uma via de mão dupla de aprendizagens capazes de constituir uma rede de formação inicial e continuada de docentes em exercício e futuros professores. Atuando desta forma, propomos a integração universidade-escola por meio de atividades formativas para o uso das TDIC, culminando em projetos de estudo com vistas ao desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras, processo que será monitorado desde o estudo, planejamento e execução de atividades mediadas por computador privilegiando as temáticas prioritárias neste nível de ensino. Temáticas estas que emergem a partir dos relatos da equipe gestora e professores da escola que externam seus anseios e limitações a respeito da inserção das tecnologias em sala de aula. Devemos ressaltar que, em compatibilidade com as necessidades formativas externadas é que se propõe a escolha criteriosa da oferta de oficinas pedagógicas mensais ministradas nos períodos da manhã e da tarde que contemplem e atendam estas demandas. Tendo em vista o exposto, nos questionamos: os pedagogos durante seu processo formativo inicial possuem uma formação que contemple a cultura digital e suas especificidades? Os professores em exercício da profissão se sentem preparados para inserir no planejamento docente as tecnologias a fim de potencializar os processos de ensino-aprendizagem? Qual a importância da parceria estabelecida entre a escola e a universidade, no que se refere as contribuições para uma formação docente de qualidade? A partir dessas inquietações, neste artigo, temos por objetivo apresentar as ações desenvolvidas pelo projeto Inovar, considerando a inserção das TDIC na formação continuada de professores de uma escola estadual da rede pública do município de Santa Maria/RS, no que tange a integração escola-universidade. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA No contexto educacional, ouvimos falar em qualidade da educação, mas efetivamente, somos sabedores do seu significado? De acordo com as considerações a respeito do termo, Dourado (2003), Oliveira e Bittar (2004) e Santos (1997) descrevem que este é contemplado a partir de uma perspectiva polissêmica, para o qual se atribuem diversos significados. Problematizando a complexidade e a diversidade das concepções sobre qualidade da educação, na ótica dos autores, esta vem a ser uma prática flexível de caráter social que permeia diferentes sujeitos, tempos, espaços e contextos. Entretanto, diversos fatores como, por exemplo, a competitividade, os avanços tecnológicos aliados à aceleração do conhecimento, a obsessão por produtividade em consonância pela busca de resultados rápidos em uma sociedade que se transforma constantemente, podem contribuir com a alteração das acepções, das concepções e da representatividade que se tem sobre qualidade educacional. Frente aos desafios das demandas econômicas, políticas e socioculturais, urge a necessidade de uma formação de professores que proporcione uma mudança paradigmática no modelo de gestão educacional que contribua com a aprendizagem, a organização institucional, que perpassa as condições trabalhistas, do próprio modelo de gestão, da perspectiva curricular, da formação docente aos impactos das avaliações externas. Nessa direção, podemos dizer que Dourado (2003), Oliveira e Bittar (2004) e Santos (1997) descrevem a Qualidade da Educação como um fenômeno complexo, abrangente e que envolve dimensões variadas, não podendo ser apreendido apenas por um reconhecimento da variedade e das quantidades mínimas de insumos considerados indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem, e muito menos, pode ser apreendido sem tais insumos. Para a Unesco (2003) a mensuração, no que se refere a qualidade da educação, pode ser definida a partir dos resultados educativos representados pelas avaliações externas, dentre eles, o desempenho discente. Nesta perspectiva, percebemos o reducionismo atribuído ao conceito de qualidade, pois como podemos observar, este abrange múltiplas dimensões que nos remete à busca de compreensão dos elementos objetivos e subjetivos que se apresentam nas instituições e na percepção dos diferentes sujeitos que perpassam os diferentes contextos educativos, o que converge para a qualidade eficaz dos processos de ensino-aprendizagem. Em uma educação baseada no viés da emancipação, a qualidade necessita decorrer do desenvolvimento das relações socioculturais. A gestão, nesse sentido, deve contribuir para o fortalecimento da escola pública, promover parcerias entre escola-universidade estabelecendo uma relação efetiva entre democratização e qualidade. Diante dos novos contextos formativos, criados pela sociedade que utiliza constantemente as tecnologias, a escola, e a universidade, procura integrá-las e articulá-las. Nesta perspectiva a escola “[...] deixa de ser lecionadora para ser cada vez mais gestora da informação generalizada, construtora e reconstrutora de saberes e conhecimentos socialmente significativos” (GADOTTI, 2013, p. 08). O investimento na formação continuada do professor contribui para a qualidade da educação, desde que equipe gestora instigue a participação coletiva inovando as práticas formativas cotidianas, para que possibilitem a formação humana e a inclusão tecnológica, cerne do Projeto Inovar, pois A formação continuada é condição para a aprendizagem permanente e para o desenvolvimento pessoal, cultural e profissional de professores e especialistas. É na escola, no contexto de trabalho, que os professores enfrentam e resolvem problemas, elaboram e modificam procedimentos, criam e recriam estratégias de trabalho e, com isso, vão promovendo mudanças pessoais e profissionais. (LIBÂNEO, 2013, p. 187). Nessa direção, podemos dizer sob a ótica de Libâneo (2013) que a formação continuada possibilita o processo reflexivo e a mudança na prática docente, contribuindo para uma consciência crítica frente aos desafios de propor formas alternativas de gestão em consonância com a inserção das novas tecnologias. Ainda mais, atualmente, em boa parte dos cursos de licenciatura, a aproximação do futuro professor diante a realidade escolar ocorre posteriormente a formação “teórica” tanto em disciplinas específicas quanto pedagógicas. Acreditamos que a qualidade da educação é resultante de um trabalho coletivo de todos os sujeitos envolvidos. Possibilidade esta que depende de uma equipe gestora com visão sistêmica de que a inserção das tecnologias no processo de formação continuada de professores irá propiciar a criação de estratégias didáticas que potencializem os processos de ensino-aprendizagem. Desta forma, acreditamos que o Projeto Inovar permite ao futuro professor vivenciar práticas formativas que contribuem com o seu desempenho frente ao novo cenário humano-tecnológico. METODOLOGIA Utilizamos a abordagem qualitativa que responde a questões muito particulares, pois: “[...] trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 2012, p. 21). Junto à pesquisa qualitativa, o Projeto Inovar adota a metodologia da investigação-ação (CARR; KEMMIS, 1988) conectada a investigação-formação (MACIEL, 2006). Mediante Carr e Kemmis (1988) a investigação-ação envolve um processo histórico e social de transformação da prática educativa concreta em que os próprios atores envolvidos sentem a necessidade de inovações. Seu método central é uma espiral auto-reflexiva que é constituída por ciclos sucessivos de planificação, ação, observação e reflexão, conduzidos e negociados pelos agentes implicados com o propósito de intervir em sua prática educativa e melhorá-la. Esta espiral vincula a reconstrução do passado com a construção de um futuro concreto e imediato por meio da ação. Neste tipo de investigação a prática educativa é transformada ao invés de apenas gerar conhecimentos. Como o Projeto Inovar busca a mobilização de professores para uma prática diferenciada do viés tradicional, a investigação-ação possibilita um mapeamento da realidade existente no contexto escolar, problematizando-a e levantando temáticas de formação para intervir e criar estratégias pedagógicas que possam ser mediadas a partir da inserção das TDIC no processo formativo docente. Esse processo está conectado à ideia de investigação-formação, compreendida por como [...] um processo contínuo de desenvolvimento profissional, no exercício da docência, planificado e dinamizado com a investigação-ação, constituindoo concretamente em investigação-formação. As interfaces entre investigação e prática profissional ocorrerão por meio de um continuum de “ações, reflexões, decisões e inovações ações”, em espirais ascendentes, que têm como base impulsionadora e o diagnóstico e a modelagem dinâmica de atividades individuais e/ou coletivas, que são avaliadas em processo reflexivo e dialógico. (MACIEL, 2006, p. 386). A prática investigativa concretiza-se como um processo formativo, conduzindo à aprendizagem de como fazê-la. Cada fase cíclica representa uma nova proposta para ser investigada e é o meio pelo qual vai se desenvolvendo o trabalho cotidiano, ativando-se recursos mediadores auxiliares e sociais, nos quais se destacam as TDIC. A investigação-ação reconfigurada no processo de investigação-formação permitirá a compreensão de como se desenvolvem, no ambiente educacional, a articulação escola-universidade, a organização e o fortalecimento do movimento do grupo internamente e a interatividade entre os participantes, no que se refere às possibilidades que oferece para um continuum de experiências construtivas para pedagogias inovadoras. As etapas de desenvolvimento da investigação-formação, consonante à ideia de investigação-ação tem uma estrutura dialética, considerando uma espiral que envolve: a) mobilização, b) sensibilização e c) atividades formativas. Na base da espiral temos a mobilização e a sensibilização que ocorreu em forma de seminário com os professores participantes do projeto a fim de mapear a realidade. Houve um encontro com programação para 03 horas, incluindo apresentação e sugestão para adequação da proposta formativa. As atividades formativas como eixo da espiral se constituiu em 05 etapas: (1) Planificação das atividades docentes de estudo – consideramos as informações sistematizadas após o primeiro encontro com os professores; (2) Ações de capacitação/comunidade de aprendizagem – envolveram momentos de formação, leituras e estudo orientado referente a inserção das TDIC e a formação continuada de professores, pesquisas e oficinas pedagógicas; (3) Elaboração de projetos de aprendizagem para aplicação na prática pedagógica – projetos de aprendizagem a serem criados e desenvolvidos pelos professores participantes com seus educandos, a partir do que vivenciaram nas oficinas ministradas no projeto; (4) Avaliação processual – o processo reflexivo perpassou todas as etapas da formação, permitindo a avaliação das ações formativas, reunindo informações para o replanejamento; (5) Replanejamento – conectado à avaliação processual e vai acontecendo na medida em que surgem situações e/ou propostas levantadas pelos docentes que integram o projeto Inovar. As ações desenvolvidas pelo projeto Inovar contribuem com a formação continuada de professores dos anos iniciais do ensino fundamental, ensino médio e educandos que encontram-se em processo formativo inicial. Até o presente momento, realizamos as seguintes ações formativas: Mobilização, Sensibilização e a partir dos próximos encontros, conforme planejamento previsto, serão contempladas as etapas 03, 04 e 05 das Atividades Formativas. CONSIDERAÇÕES FINAIS No início do ano de 2014, as atividades do projeto iniciaram com a apresentação da proposta a direção e aos professores, a partir de um “feedback” 5visando analisar no que a inserção das TDIC poderiam contribuir para a formação continuada de professores e no processo de ensino-aprendizagem dos educandos. A proposta teve boa aceitação pela direção e pelo corpo docente desta escola estadual, possibilitando a integração escola-universidade e os professores participantes do projeto acreditam que as formações desenvolvidas são relevantes para o seu desenvolvimento pessoal e profissional e que estas contribuem para a aproximação do professor-educando e a qualidade das práticas educativas. No primeiro semestre deste ano, foram ministradas três formações pedagógicas: 1ª) Oficina de Produção Textual Online e Offline – nesta oficina os professores tiveram contato com o programa Hagáquê que cria histórias em quadrinhos, no qual são disponibilizadas várias ferramentas para a produção textual, entre outras ações que podem ser elaboradas. 2ª) Oficina de Movie Maker – neste encontro, a oficina realizada foi sobre o software de edição de vídeos que possibilita criar efeitos de transição, textos personalizados e áudio nos filmes produzidos. 3ª) Oficina de Power Point Quizz – o “Quizz” é um jogo de perguntas e respostas que pode ser executado no software Power Point, possibilitando que os participantes cheguem a respostas em comum referentes as indagações propostas, propiciando um consenso geral. Estas formações pedagógicas foram elaboradas e planejadas para contemplar o perfil dos educandos que já não é o mesmo do século passado, pois estes – os chamados de nativos digitais (PRENSKY, 2001) – inventaram uma linguagem rápida para se comunicar, a partir de abreviaturas e emoções para substituir a linguagem corporal e da comunicação corpo-a-corpo. Educandos estes que tem o prazer de partilhar detalhes de sua vida pessoal, criar estratégias de aprendizagem a partir de ferramentas disponíveis na internet e explorar ambientes virtuais para saciar a vontade do saber mais. 5 É um termo de origem inglesa que se refere a conceder respostas a um determinado assinto ou acontecimento. Deste modo, as ações desenvolvidas pelo projeto encontram-se em andamento. O interesse e motivação dos professores a incluir os recursos digitais no contexto escolar e em suas práticas pedagógicas corroboram com a continuidade das ações formativas. Tendo em vista a utilização das tecnologias por parte dos educandos, os professores reconhecem a necessidade de desenvolver a fluência tecnológica em seu processo de formação permanente e manterem-se atualizados, embora encontrem algumas dificuldades na incorporação dos recursos digitais nos planos de aula. REFERÊNCIAS BARBIER, R. A pesquisa-ação. Tradução de Lucie Didio. Brasília: Plano, 2002. CARR, W.; KEMMIS, S. Teoría crítica de la enseñanza. Barcelona: Martínez Roca, 1988. DOURADO, L. F. (Org). Gestão escolar democrática. Goiânia: Alternativa, 2003. FREITAS, M. T. A. Janelas sobre a utopia: computador e internet a partir do olhar da abordagem histórico-cultural. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, n. 32, 2009, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED, 2009, p. 01-14. GADOTTI, M. Qualidade na educação: uma nova abordagem. Congresso de Educação Básica: qualidade na aprendizagem. 2013. p. 01-18. IMBERNÓN, F. Formação Docente e Profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2010. LIBÂNEO, J. C. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Heccus, 2013. MACIEL, A. M. R. Investigação-formação. In: MOROSINI, M. C. (Org.). Enciclopédia de Pedagogia Universitária, Glossário, v. 2. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, p.386, 2006. MINAYO, M. C de S. (Org.) et al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 31. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2012. OLIVEIRA, J. F.; BITTAR, M. Gestão e Políticas da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. PRENSKY, M. Nativos Digitais, Imigrantes Digitais. On the Horizon (NCB University Press, v. 9, n. 5, Outubro, 2001. Disponível em: <http://docs.google.com/documento/d/1XXFbstvPZIT6Bibw03JSsMmdDknwjNcTYm 7j1a0noxy/mobilebasic>. Acesso em: 05 mai. 2013. ______. O papel da tecnologia no ensino e na sala de aula. Conjectura, v.15, n. 2, p. 201-204, 2010. 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A crescente expansão dos Institutos Federais com a implantação de novos câmpus propõe vários desafios, mas inúmeras possibilidades. Muitos docentes são iniciantes na profissão e também não realizaram cursos de licenciatura. Em geral não possuem formação pedagógica, e muitos são profissionais inexperientes na docência. Alguns são oriundos do mundo do trabalho e outros vêm diretamente dos bancos acadêmicos, envolvendo uma diversificação de áreas e uma multiplicidade de saberes. A fase inicial de inserção profissional, na carreira docente é de extrema importância, sendo um momento de aprendizagem da docência, do ser e estar professor. Marcelo Garcia (2009a, p. 20) afirma que “[...] os primeiros anos de docência são fundamentais para assegurar um professorado motivado, implicado e comprometido com a sua profissão”. Corrobora com essa visão Tardif (2002, p. 84) ao expressar que é “[...] um período muito importante da história profissional do professor, determinando inclusive seu futuro e sua relação com o trabalho”. Os docentes iniciantes ainda não consolidaram seus saberes didático-pedagógicos e procuram nas suas trajetórias inspirações para enfrentar a nova profissão. 1 Mestre em Educação - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense IFSul - Câmpus Venâncio Aires. E-mail: <[email protected]>. 2 Doutora em Educação – Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. E-mail: <[email protected]>. A investigação foi realizada com professores iniciantes na docência, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense, IFSul, câmpus Venâncio Aires – RS. A pesquisa partiu do problema: como é o ser e estar professor para quem não escolheu a docência como primeira opção no ensino superior? O objetivo principal foi investigar os desafios e as possibilidades enfrentados pelos professores iniciantes na educação profissional e tecnológica. Os fundamentos da metodologia utilizados para análise de conteúdo possibilitaram a leitura e interpretação dos dados, conforme os pressupostos teóricos de Bardin (2009). A pesquisa assumiu uma abordagem quanti-qualitativa, com a aplicação de um questionário, com perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha. A investigação incluiu professores que atuam nos cursos técnicos de ensino médio integrado de Informática e Refrigeração e Climatização, nos cursos técnicos de Manutenção e Suporte em Informática e Secretariado do ensino médio, na modalidade Proeja (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos) e nos cursos técnicos subsequentes (pós-médio) de Eletromecânica e Refrigeração e Climatização. A escolha de diferentes cursos e modalidades foi intencional para verificar se essa condição traria diferenciação nas percepções dos interlocutores. A maioria dos pesquisados atuam também em projetos de pesquisa e extensão. Os sujeitos de pesquisa foram sete professores iniciantes, todos do sexo masculino. Seu ingresso na docência se deu nos anos de 2011 a 2013, sendo que maioria iniciou no ano de 2012, todos com regime de trabalho de 40 horas semanais, com dedicação exclusiva. Pertencem a uma faixa etária diversificada entre 26 a 38 anos. Os participantes apresentam titulação variada sendo que quatro professores realizaram o ensino médio técnico, quatro cursaram bacharelado, dois realizaram tecnólogo e somente um é licenciado. Esse dado indica que somente um dos entrevistados queria ser professor, tinha a docência como um desejo profissional, uma vez que fez uma licenciatura na trajetória acadêmica. Os entrevistados são oriundos de diferentes áreas de formação: ciência da computação, engenharia elétrica, engenharia da produção mecânica, eletrotécnica, fabricação mecânica e química. Três realizaram pós-graduação em nível de especialização, quatro têm mestrado, dois são mestrandos e um está em fase de doutoramento. Desses profissionais três docentes (bacharéis e tecnólogos) têm formação pedagógica para a docência e quatro não têm formação pedagógica. A INSERÇÃO PROFISSIONAL NA CARREIRA DOCENTE Cada vez mais, destaca-se a importância do docente como agente de transformação, e os múltiplos papéis que desempenha na escola contemporânea para atender os alunos desse contexto. A contemporaneidade trouxe aos docentes desafios nunca antes enfrentados, exigindo mais do que nunca que o professor seja o gestor da aprendizagem, possuidor de uma visão sistêmica, com perspectiva de totalidade do contexto e da realidade. Da profissão docente são exigidas demandas, atualmente, que abarquem “[...] uma postura reflexiva, pois essa ação proporciona ao educador um olhar mais consciente e crítico de seu papel como transformador social, político e cultural” (BEHRENS; CARPIM, 2013, p. 113). A preocupação com a formação pedagógica dos professores da educação profissional tecnológica é recente, especialmente a partir da LDB 9.394/96. Há de se ressaltar que o professor deve atender, ainda, a “[...] um papel de transformador do processo educativo, que domine seus saberes teóricos e que transponha este fazer prático e dialógico, de forma a contribuir para a construção de saberes significativos” (BEHRENS; CARPIM, 2013, p. 108). O estudo revelou os motivos da escolha da profissão docente entre os quais a dimensão pragmática, envolvendo a insatisfação na profissão que exerciam. Disse um dos entrevistados: “nunca tinha me imaginado como professor, trabalhava como engenheiro, percebi que não era o que queria, resolvi fazer o concurso e hoje tenho a certeza que fiz a escolha certa, poder ajudar os alunos é gratificante” (Professor A). O ingresso na docência se deu pela oportunidade de realizar um concurso público, como uma alternativa de trabalho. A importância de estar feliz e realizado com as escolhas e estar consciente do relevante papel na docência parece ser fundamental para enfrentar os desafios profissionais. Alerta Marcelo Garcia (2009a, p. 86) que “[...] converter-se em professor se constitui num processo complexo, que se caracteriza por natureza multidimensional, idiossincrática e contextual”. Alguns entrevistados pessoal/subjetiva ao mencionaram participar da vida a necessidade dos estudantes, da dimensão anunciando seu compromisso com a formação de bons profissionais, mas também de excelentes cidadãos que saibam viver e conviver, que possam fazer diferença no mundo. A ideia de construção coletiva é fundamental. “Compartilhar conhecimentos, experiências, ideias com outras pessoas, fazer parte da formação profissional” (Professor C). E também dão importância ao “fato de trabalhar diretamente com atenção às pessoas, que estão em pleno processo de formação” (Professor B). Para Esteve (2004, p. 175): “[...] há tempos descobri que o objetivo último de um professor é ser mestre de humanidade. A única coisa que importa de verdade é ajudar nossos alunos a compreender a si mesmos, a entender o mundo que os rodeia e nele encontrar um lugar próprio”. Mas também a dimensão profissional e científica está presente nas preocupações dos professores, incluindo “poder trabalhar com pesquisa e extensão, estar no meio acadêmico, lidando com novos conhecimentos e desafios. Incitando os alunos a encontrarem o caminho profissional” (Professor D). Dada à complexidade do fazer pedagógico, para todos os professores, mas, principalmente, para os ingressantes na profissão, é fundamental um acompanhamento e apoio para favorecer seu desenvolvimento profissional, reconhecendo que cada aluno e professor têm diferentes trajetórias pessoais e profissionais. Marcelo Garcia (2009b, p. 15) afirma que “[...] o desenvolvimento profissional procura promover a mudança dos professores, para que estes possam crescer enquanto profissionais – e também como pessoas”. Na mesma direção, Nóvoa (2009, p. 38) enfatiza: Ao longo dos últimos anos, temos dito e (repetido) que o professor é a pessoa, e que a pessoa é o professor. Que é impossível separar as dimensões pessoais e profissionais. Que ensinamos aquilo que somos e que, naquilo que somos, se encontra muito daquilo que ensinamos. Para os sujeitos de pesquisa muitos são os desafios enfrentados na docência e afirmam que vivem um o choque de realidade. Este conceito se difundiu pelo holandês Veenman (1984) por ser o primeiro ano um processo de intensa aprendizagem, de ensaios e erros. Marcelo Garcia (1999, p. 28) reforça que esse é “[...] o período de confrontação inicial do professor com as complexidades da situação profissional”. O ingresso no mundo do trabalho é período marcante na vida de qualquer profissional. A realidade imaginada e sonhada não é diferente da que enfrentam e também há o descompasso entre o aluno que foram e o aluno que encontram, vivendo a fase de transição de estudantes para docentes. “A maior dificuldade foi entrar na sala de aula cheia de adolescentes, bagunceiros e conversadores. O choque de realidade é muito intenso para quem não está preparado para lidar com este público” (Professor E). Outro desafio que confrontam é a insegurança/angústia com “a insegurança nos momentos iniciais que é muito forte para quem está ingressando na atividade” (Professor G). Marcelo Garcia (1999, p. 113) classifica esta etapa de inserção docente como “[...] um período de tensões e aprendizagens intensivas em contextos geralmente desconhecidos, e durante o qual os professores principiantes devem adquirir conhecimento profissional além de manter certo equilíbrio pessoal”. Concorda com estas posições Cavaco (1999, p. 179) ao relatar o momento vivido: É um tempo da instabilidade, da insegurança, da sobrevivência, mas também de aceitação dos desafios, da criação de novas relações profissionais [...]. Trata-se de um período de tensões, de desequilíbrios e de reorganizações frequentes, de ajustamentos progressivos das expectativas e aspirações ocupacionais ao universo profissional. Mais um desafio para os principiantes na profissão refere-se à diversidade de disciplinas, conteúdos para ministrar, o confronto e a compreensão do perfil de seus alunos. Para alguns é complexa a “adaptação ao ambiente de sala de aula, com alunos de diferentes faixas etárias, muitas disciplinas diferentes no mesmo semestre” (Professor F). Os professores principiantes passam fases que se caracterizam pela “sobrevivência, descobrimento, aprendizagem e transição” como afirma Marcelo Garcia (2011, p. 9). Ressalta-se nesse contexto a fragilidade da formação didático/metodológica. Reconhecem que esses saberes seriam fundamentais para seu exercício, entretanto, “acredito que no meu caso há falta de formação pedagógica, pois a minha formação profissional é na engenharia” (Professor A). Outro professor reforça essa perspectiva explicitando que “a falta de bases metodológicas é um grande desafio para os novatos” (Professor C). Para os sujeitos da pesquisa a formação pedagógica contribuiria para melhorar a atuação docente. O fato de reconhecerem o vácuo na sua formação para a docência encaminha a uma reflexão para as políticas educacionais e institucionais que não valorizam os saberes didático-pedagógicos como fundantes da profissão docente. Os entrevistados destacaram, porém, as potencialidades da docência, os saberes, a importância da boa formação técnica, as experiências na educação profissional e suas vivências profissionais no ambiente industrial: “as experiências profissionais trazidas da indústria, é uma importante contribuição no processo de ensino/aprendizagem, quando aplicadas no ambiente escolar” (Professor B). Esta é uma dimensão que vem sendo secundarizada nos processos de recrutamento dos docentes, pois cada vez mais são os produtos da vida acadêmica que são ressaltados, com repercussões na docência do ensino tecnológico. Alguns são professores de campos profissionais dos quais pouco conhecem o campo de prática, ainda que detenham boa preparação científica. Marcelo Garcia (2009b, p. 19) ressalta que: “[...] para além de conhecimentos pedagógicos, os professores têm que possuir conhecimento sobre as matérias que ensinam. Conhecer e controlar com fluidez a disciplina que ensinamos, é algo incontornável no ofício docente”. E, no caso da educação tecnológica, esse conhecer tem profundas conexões com o mundo do trabalho, que falta a muitos jovens professores. É certo que professor precisa de estudo permanente, aprender sempre ao longo da vida, com reflexão na prática pedagógica, mediada pela teoria. Nóvoa (1995, p. 36) explica que “[...] o professor encontra-se num processo de redefinição e diversificação das suas funções, sendo chamado a desempenhar um conjunto alargado de papéis, numa dinâmica de (re)invenção da profissão professor”. E parece que é nessa condição que as instituições precisam apostar, investindo em educação continuada com vistas ao desenvolvimento profissional dos docentes. A pesquisa mostrou que há, em alguns, o desejo de fazer diferente, de trabalhar de formas diversas o conteúdo. São, também, os iniciantes que, muitas vezes, estão mais dispostos a inovar e se arriscam nesse sentido. “A vontade de fazer com que os alunos se interessam pela área e vejam sua importância, não somente aprendendo o conteúdo, mas vendo a importância para a vida” (Professor D). Mas essa condição pode ser potencializada, quando há a institucionalização do apoio pedagógico e a valorização dos saberes didáticos dos professores. Ainda nas potencialidades da docência aparecem as diferentes habilidades, incluindo as relações interpessoais e a importância do relacionamento com os alunos. “Aprender com facilidade, captar a identidade e as dificuldades de cada aluno e o bom relacionamento com os alunos são importantes” (Professor E). Entretanto, nossos interlocutores reconhecem suas fragilidades para enfrentar a docência pela ausência de saberes pedagógicos. “Nas questões pedagógicas e didáticas sinto-me completamente perdido, pode ser impressão minha ou apenas e insegurança, mas fico com medo de não conseguir apresentar determinados conceitos, mesmo tendo pleno conhecimento do assunto” (Professor A). Percebe-se que existe uma preocupação com a prática pedagógica por parte dos docentes novatos: “insegurança com relação à qualidade de minhas aulas e avaliações, muitos questionamentos a respeito das práticas pedagógicas” (Professor F). O professor vive, em geral, certo isolamento, pois historicamente o ofício de professor se caracterizou por ser uma profissão solitária, sendo os estudantes as únicas testemunhas do trabalho realizado. A própria arquitetura, os tempos e os espaços da sala de aula e da escola, contribuem para o isolamento, para o individualismo. Entretanto, como ressalta Macedo (2005, p. 38) “[...] os desafios da prática docente, nos termos em que se define hoje, supõem que o professor possa sair do isolamento e solidão da sala de aula com seus alunos e compartilhar formas coletivas de enfretamento de questões comuns”. Percebemos nos professores algumas atitudes e sentimentos de insegurança, timidez, incluindo a dificuldade de aceitar o desinteresse dos estudantes, compreender suas culturas e formas de agir, que interferem no fazer pedagógico. “Tenho dificuldade de aceitar o desinteresse de alguns estudantes, com relação às oportunidades perdidas; A Instituição sempre busca proporcionar meios para o desenvolvimento profissional dos estudantes” (Professor F). Para os docentes iniciantes seria interessante e oportuno que encontrassem uma proposta para o desenvolvimento profissional para melhor conhecer a Instituição em que estão a atuar, incluindo um programa de educação continuada alicerçada em suas condições de trabalho e desafios da prática. “Acredito que para o professor iniciante algo importante é uma explicação sobre a carreira, processos de ambiente de trabalho, objetivos e valores da instituição” (Professor G). Mas é fundamental uma formação que se afastasse das estratégias tradicionais que os envolvesse na própria solução de seus problemas. Cursos e palestras podem ser importantes se correspondem às necessidades já pontuadas e levem a propostas práticas e a partilhas de saberes. Um docente ressalta: “sou o único docente da disciplina, fico sem trocar ideias, desenvolver metodologias e avaliar com diferentes olhares as atividades realizadas, a fim de propor mudanças” (Professor F). Os entrevistados sugeriram ações concretas para prática pedagógica e para a política institucional. “Um programa de iniciação é importante. Antes de iniciar as atividades em sala de aula o iniciante deve ter a possibilidade de passar um período de ambientação com as questões pedagógicas, políticas institucionais e conhecer os trâmites administrativos” (Professor C). Quem sabe potencializar os saberes dos docentes experientes na partilha com os iniciantes seria uma medida que atingiria o desenvolvimento profissional de ambos os atores. E se estaria tentando estar “contra o desperdício da experiência”, com defende Sousa Santos (2000). Essa é uma expectativa promissora dos docentes principiantes; gostariam da troca interpares, ressaltando a importância de realizar um trabalho colaborativo. Afirmam que seria significativo “assistir aulas de outros professores mais experientes por um determinado tempo e discutir sobre as práticas pedagógicas com estes professores” (Professor F). Os sujeitos de pesquisa, mesmo “iniciantes experientes” deixaram alguns conselhos para os novatos. Um deles, pareceu significativo no contexto da pesquisa, foi relativo à valorização da cultura juvenil. “Seja paciente e busque entender a fase que os estudantes adolescentes estão passando; incentive o uso das tecnologias: celulares, tablets e outros dispositivos em favor da disciplina e das aulas. A utilização das tecnologias que hoje faz parte do cotidiano dos estudantes” (Professor B). As tecnologias como dispositivo didático-metodológico têm um papel exponencial no ambiente da educação tecnológica e parece ser este um meio importante para tornar as aulas mais significativas e atrativas para os estudantes atuais. Foi bastante evidenciado no estudo o anseio por um trabalho em equipe como fator imprescindível. Creem os docentes que somente juntando forças, por meio da parceria de todos os segmentos acadêmicos, tendo objetivos claros e coletivos, é que se vai conseguir avançar na construção de uma educação de qualidade. Entendem que, embora se tenha muitos desafios e uma longa caminhada a ser trilhada, pela cultura individualista das Instituições, com ações, não raras vezes fragmentadas, é preciso refazer essa lógica que parece ser uma das saídas para vencer as demandas da contemporaneidade. Estas incluem compartilhar objetivos comuns nos processos de ensinar e aprender; construir e colocar em prática uma proposta educativa e pedagógica coerente; assumir os compromissos em conjunto na busca da melhoria da educação. Como ressalta Nóvoa (2009, p. 31), cada vez mais “[...] os modos de profissionalidade docente implicam um reforço das dimensões coletivas e colaborativas, do trabalho em equipe, da intervenção conjunta nos projetos educativos de escola”. A humildade de perguntar e aprender com o outro ficou evidente nas expressões dos interlocutores, que querem “assistir aulas de outros professores, conversar com os mesmos para analisar diferentes abordagens de ensino” (Professor E). Parece, alvissareiramente, estar em marcha uma possiblidade de construir uma nova cultura docente, onde os processos coletivos se sobreponham à ideia da profissionalidade como uma ação individual. Quem sabe os docentes principiantes sejam artífices dessa nova condição, compreendendo-a como inevitável para o enfrentamento dos desafios para a educação escolarizada. Por outro lado, os docentes destacaram a preocupação com a aprendizagem de seus estudantes. “Preocupar-se em tentar fazer com que os alunos aprendam e que tenham um ambiente de aprendizado com harmonia e tranquilidade, e se possível de felicidade” (Professor C). Percebem que o estudante precisa ser contagiado pelo prazer de aprender, que respeite e valorize as diferenças, a solidariedade, a esperança, na qual toda pessoa possa ser feliz. Como observa Braslavsky (2005, p. 22), caminharíamos para “[...] uma educação de qualidade, entendida como aquela que permite que todos aprendam o que necessitam aprender, no momento oportuno de suas vidas e de suas sociedades, e que o façam com felicidade”. E como último conselho que aparece entre os depoimentos dos nossos entrevistados, está a de “buscar desenvolver a capacidade de resiliência” (Professor G), indicando a importância de investimento na profissão e a possibilidade de nela encontrar realização. Os entrevistados deixaram, ainda, sugestões sobre a prática pedagógica para os professores principiantes: “Gosto de ouvir meus estudantes solicitando feedback com críticas e sugestões sobre as aulas” (Professor F). Reforça outro docente que é importante a “abertura do professor para ouvir os estudantes, saber escutar as críticas e sugestões e tentar melhorar dia a dia o ensino e a aprendizagem” (Professor D). Diz, ainda, outro interlocutor que, “se o professor consegue manter o contato extraclasse, por meio das tecnologias como: internet, celular, skype, facebook, e-mail, para tirar dúvidas, ele e o estudante ganham muito em conhecimento e aprendizado” (Professor B). Sobre a aprendizagem da docência afirmam que “cada dia é um novo aprendizado. Em cada aula ministrada, estou aprendendo junto com os estudantes. Isso é fascinante, e é muito compensador ver que os estudantes correspondem à minha evolução como professor. Vejo que estou aprendendo muito mais com eles sobre a docência do que poderia encontrar em qualquer livro” (Professor F). Enfatiza outro professor que “mais que ministrar uma disciplina, ser professor é ajudar a formar cidadãos, e foi possível perceber no meu primeiro ano de docência” (Professor C). E, ainda, afirmou outro interlocutor que “a experiência da docência quando somada com a amizade facilita a aprendizagem” (Professor A). Hoje, mais do que nunca, a sociedade, a educação e a escola precisam dar importância ao professor, principalmente ao iniciante, que requer, como percebe Trevisol (2008, p. 191) [...] ser cuidado, amado e carinhosamente ajudado a se conhecer, a conhecer seu processo sagrado, a sua história irrepetível, a sua importância incancelável, o propósito de sua vida e a razão pela qual ele está passando por aqui, nesta época da humanidade. Parece que há muito, também, de aprender com a experiência dos docentes iniciantes. Eles não são despossuídos de saberes e nem da capacidade latente de aprender. O que fica claro é que, se tivessem oportunidade de uma formação institucional, que lhes permitisse refletir e teorizar sobre suas próprias práticas, se teria um avanço exponencial. METODOLOGIA A pesquisa assumiu uma abordagem quanti-qualitativa, com a aplicação de um questionário, com perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha. A investigação incluiu professores que atuam nos cursos técnicos de ensino médio integrado de Informática e Refrigeração e Climatização, nos cursos técnicos de Manutenção e Suporte em Informática e Secretariado do ensino médio, na modalidade Proeja (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos) e nos cursos técnicos subsequentes (pós-médio) de Eletromecânica e Refrigeração e Climatização. A escolha de diferentes cursos e modalidades foi intencional para verificar se essa condição traria diferenciação nas percepções dos interlocutores. A maioria dos pesquisados atuam também em projetos de pesquisa e extensão. Os sujeitos de pesquisa foram sete professores iniciantes, todos do sexo masculino. Seu ingresso na docência se deu nos anos de 2011 a 2013, sendo que maioria iniciou no ano de 2012, todos com regime de trabalho de 40 horas semanais, com dedicação exclusiva. Pertencem a uma faixa etária diversificada entre 26 a 38 anos. Os participantes apresentam titulação variada sendo que quatro professores realizaram o ensino médio técnico, quatro cursaram bacharelado, dois realizaram tecnólogo e somente um é licenciado. Esse dado indica que somente um dos entrevistados queria ser professor, tinha a docência como um desejo profissional, uma vez que fez uma licenciatura na trajetória acadêmica. Os entrevistados são oriundos de diferentes áreas de formação: ciência da computação, engenharia elétrica, engenharia da produção mecânica, eletrotécnica, fabricação mecânica e química. Três realizaram pós-graduação em nível de especialização, quatro têm mestrado, dois são mestrandos e um está em fase de doutoramento. Desses profissionais três docentes (bacharéis e tecnólogos) têm formação pedagógica para a docência e quatro não têm formação pedagógica. CONSIDERAÇÕES PARA CONTINUAR REFLETINDO E INVESTIGANDO Os primeiros anos da docência constituem-se num período complexo, mesmo para quem fez uma formação inicial para a docência. Mas ainda se acirra mais para quem não escolheu a docência como primeira opção nos cursos de graduação e não tem formação pedagógica. Junta-se a essa condição o desafio de trabalhar com públicos de distintas modalidades e faixas etárias, como é o caso dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. É preciso compreender que a inserção na docência é uma etapa marcada por sentimentos de satisfação por iniciar uma atividade profissional e também de muita insegurança, angústia e medo frente aos desafios de ser e estar professor. Os professores iniciantes precisam de uma atenção especial, pois os anos iniciais da docência são fundamentais para o desenvolvimento profissional dos docentes. É a fase da construção das bases de sua profissionalidade e se constitui numa etapa que requer acompanhamentos e investimentos institucionais, especialmente no campo didático-pedagógico. É imprescindível investir em um “Programa Institucional de Inserção à Docência” que envolva um trabalho de acolhida, de cuidado, de apoio, de acompanhamento e formação para os docentes iniciantes. Precisam conhecer a estrutura administrativa e pedagógica da Instituição, bem como encontrar um espaço de formação e partilha de saberes, entendendo que a docência requer um processo sistemático de aprender e de ensinar. O trabalho em equipe e em parceria, principalmente envolvendo os professores iniciantes e os experientes, numa construção coletiva, pode trazer importantes benefícios para o processo de ensinar e aprender. Como afirma Marcelo Garcia (2009b, p. 19) “[...] é necessário que se compreenda que a profissão docente e os seu desenvolvimento constituem um elemento fundamental e crucial para assegurar a qualidade da aprendizagem dos alunos”. As mudanças exigem novos olhares para a inserção profissional dos professores iniciantes, conscientes de que a verdadeira transformação começa em cada um, para que num esforço coletivo, possamos contribuir para melhorar a aprendizagem dos estudantes, renovando o compromisso com uma educação verdadeiramente transformadora e comprometida com a vida. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009. BEHRENS, M. A.; CARPIM, L. A formação dos professores de educação profissional e o desafio do paradigma da complexidade. In: PRYJMA, M. (Org.). Desafios e trajetórias para o desenvolvimento profissional docente. Curitiba: UTFPR, 2013. p. 103-135. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. 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Fabiane Raquel Canton1 Indiara Rech2 Valeska Maria Fortes de Oliveira3 INTRODUÇÃO Este trabalho é um recorte do programa “Cinegrafando a Educação – Experiências formativas em cinema: até onde a sétima arte pode chegar?” desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Imaginário Social (GEPEIS) da Universidade Federal de Santa Maria, coordenado pela professora Phd. Valeska Maria Fortes de Oliveira em parceria com escolas das Redes de Ensino Municipal, Estadual e Particular de Santa Maria. Parte-se do pressuposto de compreender as visões e as concepções dos professores em relação ao cinema nacional, tendo em vista a aprovação da Lei n. 13.006, de 26 de junho de 2014, através de uma proposta de formação continuada itinerante. O GEPEIS vem ao longo dos últimos anos trabalhando com pesquisa, ensino e extensão na área de Formação de Professores, alicerçado no campo teórico do Imaginário Social de Cornelius Castoriadis. Peres e Oliveira (2014) evidenciam a importância e relevância destes estudos para a educação ao afirmarem que: [...] podemos dizer que o acréscimo que advém dos referenciais teóricometodológicas do campo do imaginário tem sido a função da imaginação criadora e simbólica, como hormônio para melhorar as concepções de mundo, e de se erguer contra o seu destino mortal, como definição de finitude em si mesma. (p. 198). Partindo desta premissa, várias foram as temáticas incorporadas ao Imaginário Social nas pesquisas do grupo, como as questões de gênero, de poder, da subjetividade, do cuidado de si, da memória docente, do corpo biográfico, do 1Licenciada em Letras/UFSM. Professora da Rede Pública Municipal de Restinga Sêca. Mestranda em Educação/PPGE/UFSM. Participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Imaginário Social GEPEIS/CE/UFSM. E-mail: <[email protected]>. 2Licenciada em Pedagogia/UFSM. Acadêmica do curso Especialização em Gestão Educacional/UFSM. Mestranda em Educação/PPGE/UFSM. Participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Imaginário Social GEPEIS/CE/UFSM. E-mail: <[email protected]>. 3Professora do Departamento de Fundamentos da Educação FUE/UFSM e Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Imaginário Social GEPEIS/CE/UFSM. E-mail: <[email protected]>. dispositivo grupal, das histórias de vida e outras que, como o Imaginário, procuram propor outras perguntas e talvez outras respostas para problemas antigos da Educação. Além das diversas pesquisas desenvolvidas, apoiados pelo tripé do ensino, pesquisa e extensão, o grupo não mediu esforços para estreitar as relações de parceria entre universidade/sociedade/escola. Assim, firmou-se mais uma parceria no ano de 2012 com a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, através da Profª. Inês Assunção de Castro Teixeira no projeto guarda-chuva “Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema”. O referido projeto teve como problemática principal compreender algo mais acerca dos encontros ou mesmo desencontros dos docentes com o cinema, buscando alinhar discussões em torno dos problemas da docência e da educação como um todo, suas memórias e histórias de vida. Por intermédio desta parceria-convite, o GEPEIS desenvolveu em 2012 um subprojeto na cidade de Santa Maria/RS intitulado “Em tempos de formação - o cinema, a vida e o cuidado de si: Exercícios autobiográficos e coletivos na atividade docente”. O referido projeto apresentou como proposta pensar como o cinema se inscreve nas histórias pessoais e profissionais dos professores por meio de um curso de formação continuada intitulado “A vida e o cinema na formação de professores” que se constituiu como um espaço de discussões, trocas e aprendizagens acerca da problemática do cinema na vida e na educação. Em suma, a realização do programa “Cinegrafando a Educação – Experiências formativas em cinema: até onde a sétima arte pode chegar?” justifica-se pela necessidade de fazer o cinema sair da universidade, transcender o espaço acadêmico no sentido de ir ao encontro dos docentes também implicados com essa questão, momento em que esperamos ter a oportunidade de aguçar nosso olhar para entender os desafios que a proposição da Lei n. 13.006, de 26 de junho de 2014, desencadeou na escola, em suas práticas e fazeres. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Como o cinema, hoje, engendra-se nos cenários e enredos da escola, da docência e da formação como um todo? Por que falar e pensar o cinema na educação, na docência, no cotidiano da escola, nos processos educativos e na vida do professor? A resposta é óbvia e simples: porque o cinema integra as mídias contemporâneas nas quais as novas gerações estão enredadas. A educação está ligada ao cinema de várias formas, pois este fornece novas percepções da realidade, além de propiciar o crescimento intelectual na medida em que os filmes ampliam as visões de mundo das pessoas. Nesta perspectiva, tomamos o cinema como algo maior que a simples projeção: primeiro, como provocador de questionamentos, inquietações; e também como um dispositivo para pensar a nossa própria vida. Os professores que utilizam filmes como um recurso à reflexão e como fonte de conhecimento percebem o potencial disso à formação pessoal e coletiva, resultando em práticas de socialização dos sujeitos. Duarte (2002) coloca que a educação escolar é vista como uma das formas de socialização, compreendendo a aprendizagem como interação, participação. O cinema produz relações sociais, tem um papel relevante na formação do pensamento, na produção de saberes, na construção de identidades, na percepção do real. O professor inserido em um determinado contexto histórico vai buscar conhecer e socializar com os alunos filmes que estejam ligados de alguma forma aos saberes da sua área, possibilitando a reflexão dos valores e modos de ver e de pensar a sociedade produzindo um significado cultural. Nessa perspectiva, Duarte (2002 p. 60) diz que “[...] o cinema é a mais autorreferente de todas as formas de arte”. O professor, ao dedicar seu tempo elencando filmes como instrumentos pedagógicos, mostra aos seus alunos que acredita em aparatos potencializadores de mudanças, não apenas pela adequação, mas pela pertinência do instrumento que poderá sensibilizar pela arte do movimento, dos sons e das histórias que ora imitam a realidade, ora a irrealidade. Posto isso, buscaremos compreender os desafios que os docentes encontram ao pensar o cinema em suas práticas de classe, uma vez que O espectador jovem é um espectador com um olhar diferente, determinado pelo seu contato com outros meios de comunicação que não só́ o cinema. A televisão, por exemplo, o habituou a se relacionar com as imagens através de uma tela pequena e num ambiente repleto de interferências de toda ordem, além de lhe permitir ter o controle absoluto do zapping. (MOURÃO, 2001, p. 50). Pensando nestes desafios que ora se impõe ao trabalho do professor, ora aos gostos e escolhas dos alunos, urge a necessidade de problematizar a sanção da Lei 13.006, de 26 de junho de 2014, que acrescenta o § 8º ao artigo 26 da Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para obrigar a exibição de filmes de produção nacional nas escolas de educação básica. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), fica estabelecido: Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. [...] § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. A partir da inclusão da deliberação na lei, muitas discussões e pontos de vista vieram à tona, assim como indagações de diversas ordens começaram a permear o imaginário de quem na escola trabalha, bem como de estudiosos do tema. Por enquanto, uma coisa é certa: a escola deverá buscar adequar-se ao estabelecido, no entanto, o que resta saber é como e de que forma? Posto isto, quando falamos dos filmes que vimos, das impressões que eles nos causaram e do que aprendemos com eles, estamos falando dos significados que atribuímos a eles, nos diferentes momentos de nossas vidas, a partir de experiências que vivemos e dos saberes que estamos acumulando. A história narrada descreve situações semelhantes ao real, à hiper-realidade ou ao surreal. A análise feita produz novos significados, que por sua vez produzem novos pensamentos e atitudes, podendo se somar como reflexões sobre o comportamento humano e social. O potencial de tramar o cinema e a educação é favorecer uma experiência cultural e cheia de significados sociais, construindo um novo olhar, oportunizando novas vivências e experiências. As reflexões e pesquisas sobre a formação de professores constituem estudos que adentram em um campo complexo, em que a formação é entendida como algo singular e que diz respeito a diferentes trajetórias e distintos processos formativos. Neste sentido, Ferry (2004, p. 54) afirma que “nada forma a outro”. Por essa perspectiva de formação quer se compreender que o sujeito se forma no seu interior, ou seja, os indivíduos se formam por si mesmos através de mediações que são como que os suportes que permitem a formação, mas que não são a formação propriamente dita. Em outras palavras, a formação é entendida como um “[...] trabajo sobre si mismo”. Nóvoa (1995) também desenvolveu em seus estudos o princípio de que é a própria pessoa que se forma e é o principal ator de seu processo de formação. O indivíduo deve encontrar estratégias para “[...] tornar-se ator do seu processo de formação, por meio da apropriação retrospectiva do seu percurso de vida” (p. 168). Diante disso, voltar o olhar às práticas culturais dos docentes no Brasil se afigura como uma forma de pensá-los a partir do seu contexto cultural. É assim que os estudos e pesquisas sobre o imaginário nas ciências sociais e educação se voltam para o conhecimento das trajetórias histórico-culturais que levam a determinadas atitudes - “[...] trazem para a análise a dimensão simbólica das relações, das instituições, do cotidiano, das criações sociais, da realidade” (ALVESMAZZOTTI, 1994). Isto significa pensar a instituição escolar como que movida por um processo dinâmico em que as mudanças sociais são assimiladas e transformadas em reflexão. A concepção da cultura como algo que está no cotidiano e que deve ser incorporado pela própria escola diz respeito à dimensão instituidora da mesma. Se, ao contrário, o sistema educativo acreditar que está aquém da vida daqueles mesmos que o constituem, isto pode significar que a dimensão instituída está se sobrepondo à dimensão instituidora. Ao mesmo tempo, ao falar da dimensão cultural da educação, não se pode esquecer que ela se encontra diretamente relacionada aos aspectos econômicosociais, visto que a produção simbólica de uma sociedade passa, necessariamente, pelos modos com que ela se relaciona com todas as suas dimensões. Portanto, fazer referência às práticas culturais dos professores é também refletir sobre a dimensão econômico-social em que os sujeitos estão inseridos. Por exemplo, em que medida o acesso à cultura é permitido dada a realidade dos docentes, se levarmos em consideração a ideia de que a formação docente ainda hoje carrega resquícios da ciência positivista, responsável pela valorização da racionalidade técnica? METODOLOGIA Para efeitos de encaminhamentos metodológicos o programa “Cinegrafando a Educação – Experiências formativas em cinema: até onde a sétima arte pode chegar?” encontra-se estruturado em três eixos de trabalho. O primeiro 'O cinema de cada um: viveres e memórias cinematográficas' investigará como o cinema está colocado nas histórias e vidas pessoais dos professores parceiros. Serão investigadas as práticas usuais, as experiências, o acesso, os significados, as concepções e as relações dos professores com o cinema em suas vidas, no passado e no presente, através da elaboração de memórias cinematográficas, discussões sobre cinema e sociedade, pensando na utilização do mesmo para a melhoria da educação. O segundo 'O cinema vai à escola' trabalhará com subprojetos desenvolvidos em instituições de ensino municipais, estaduais e privadas buscando fortalecer as discussões sobre cinema e educação, capacitar indivíduos para a produção cinematográfica a fim de que registrem suas realidades, bem como promover a apreciação livre da sétima arte em regiões nas quais esta ainda não chegou. No terceiro 'Professores no cinema e professores fazendo cinema' buscar-se-á provocar a reflexão sobre como se configuram as relações e experiências profissionais e pessoais dos professores e alunos com o cinema, promovendo discussões sobre as produções fílmicas desenvolvidas, questionando e valorizando o cotidiano vivido em algumas instituições educacionais brasileiras. Para cumprirmos tal intento, além dos estudos e debates sobre as teorias cinematográficas e a educação, o primeiro passo dado foi contatar as instituições parceiras e estabelecimentos dos grupos de trabalho e formação no sentido de convidá-los para a proposta. Vale ressaltar que a proposta formativa encontra-se ancorada na ideia de formação itinerante, em que buscaremos adentrar no espaço escolar pelas mãos dos próprios professores. Ainda, far-se-á o levantamento situacional das instituições parceiras e suas relações com o cinema, imaginários, preferências e acesso à sétima arte e a capacitação para a produção cinematográfica através de oficinas de direção, edição, filmagem, cenografia, roteiro, iluminação, sonorização. A primeira etapa do projeto encontra-se em processo de planejamento. Neste sentido, destacamos a parceria do Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria (SIMPROSM), entidade de acolheu a proposta e cederá o espaço físico para apresentação das ações e objetivos do projeto. O primeiro encontro provocará os presentes a formar o grupo, no sentido de fomentar a participação de um público muitas vezes adormecido, descrente. Na oportunidade, a proposta é mesclar a assistência de filmes nacionais a discussões que aflorem no/para o grupo, pensando o cinema nacional para além do instituído. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não há como negar que estamos, como GEPEIS, cheios de expectativas em relação ao que a proposta do programa causará aos professores. As discussões em torno da problemática que traz a tona a modificação do artigo 26 da Lei 9.394/1996 ainda é recente e ponto de muitas controvérsias e incompreensões. Ainda não conseguimos expressar como a proposta será recebida pelos professores, levando-se em conta as particularidades e especificidades de cada contexto escolar e grupo de professores, tendo em vista que as opiniões em relação ao cinema produzido no Brasil geram muitas incertezas. Tal premissa é constatada pelo desconhecimento do que aqui é produzido, da dificuldade de conseguir os materiais almejados, da ideia de que o que se produz aqui é porcaria, entre outras percepções que reduzem o cinema brasileiro a algo desqualificado. Todavia, espera-se que com realização do programa, com as ações propostas, com as parcerias firmadas seja possível a instituição de um outro olhar em relação ao cinema nacional, ampliando compreensões, modos de ver, de sentir e se relacionar com as produções de todas as regiões brasileiras, do Oiapoque ao Chuí, de norte a sul, de leste a oeste, mesclando experiência e fazeres. Muitos são os desafios, mas esperamos que a obrigatoriedade constitua a porta de entrada para uma presença do cinema que ajude a qualificar a escola, que potencialize o trabalho dos professores e que vincule os estudantes com um universo inventivo em que eles possam descobrir e inventar outros mundos, possíveis e necessários. Assim, é imprescindível formação, sensibilização e oportunidades de fazer o cinema acontecer na escola, ainda que questões estruturais, pedagógicas e humanas coloquem-se como obstáculos para que o que se deseja se efetive realmente e com toda a potência que seu significa expressa. 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