AVALIAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO DOS PROFESSORES INGRESSANTES NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Ana Lúcia de Paula Ferreira Nunes Silvana Sabino de Oliveira Silva Maiza Rodrigues da Silva Maria Batista da Cruz Silva Universidade do Estado de Minas Gerais [email protected] Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Universidade do Estado de Minas Gerais [email protected] Universidade do Estado de Minas Gerais [email protected] Agência Financiadora: CNPq – FAPEMIG 1 – INTRODUÇÃO O presente estudo tem como objetivo analisar as concepções de avaliação dos professores que estão em processo de socialização profissional na Universidade Federal de Uberlândia. A investigação baseia-se nos seguintes questionamentos: Quais abordagens dos professores que atuam nas três grandes áreas do conhecimento utilizam em suas práticas avaliativas? Quais são suas concepções de avaliação? Esse estudo constitui-se parte de uma pesquisa mais abrangente que está em desenvolvimento. Considerou-se, também a necessidade de se pensar mais sobre as concepções de avaliação pautadas numa abordagem formativa no ensino superior junto aos professores recém concursados desta Instituição, o que favorece a exposição dos anseios, insegurança e perspectivas dos docentes quanto ao processo avaliativo. Segundo Mendes (2005), o processo avaliativo não tem sido nada fácil para os seus atores, o que reforça a necessidade de se refletir sobre o fazer pedagógico no ensino superior. O Professor ao iniciar sua carreira docente apresenta características formativas que o conduzirá a desenvolver e coordenar a pedagogia necessária para a elaboração e orientação ao ensino universitário, além disso, ele traz experiências vividas como aluno que influenciam suas decisões a respeito do processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, existem diferentes momentos em que o professor inicia a prática pedagógica, muitas vezes tomado por insegurança e tensão no papel a desempenhar. Conforme Villas Boas (2005, p.164), o desenvolvimento do trabalho pedagógico é uma ação que ocorre entre o sujeito professor e o sujeito aluno, atores então desse processo. Essa interação irá construir o entendimento e a prática da avaliação como aliada de ambos, para a construção da aprendizagem. Assim, a relação da avaliação com o trabalho pedagógico pode ser observada no entendimento de que alunos e professores são parceiros no desenvolvimento do trabalho pedagógico e na necessidade de se planejar a avaliação. A Avaliação é um processo abrangente da existência humana, que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas dificuldades. Partindo de suas relações, os homens criam padrões de comportamento, instituições e saberes, permitindo assimilar e modificar os modelos valorizados em uma determinada cultura (VASCONCELLOS,1995). Hoje em uma sociedade da cultura do conhecimento, faz-se necessário que se reflita sobre a prática docente, que se assuma sua relevância, constituindo um campo de trabalho diferenciado para a efetividade do processo de ensino-aprendizagem. Uma educação humanizante é o caminho pelo qual os homens e mulheres podem se tornar conscientes de sua presença no mundo: A maneira como agem e pensam quando desenvolvem todas as suas capacidades, levando em consideração suas necessidades, mas também as necessidades e aspirações dos outros (FREIRE, 1997, p.9-32). Paulo Freire muitas vezes é rotulado como um revolucionário, o seu pensamento sofreu influências humanista, existencialista e marxista. Desenvolveu um pensamento social universal a partir da relação entre oprimidos e opressores; considerava as escolas como locais políticos que envolviam as pessoas na participação política informada. Além disso, acreditava que a alfabetização seria um caminho para a democracia e a educação não era fim em si, mas um universo de possibilidades (GADOTTI, 2001). A partir dessa perspectiva, entendemos ser necessário o trabalho contínuo, dentro de práticas pedagógicas, que contribuam para uma formação mais eficaz. Conforme Sordi (2009), a avaliação como um método prático, direto, como critério da verdade almejada, mobiliza os alunos apenas a alcançar um valor, uma nota, por seu desempenho, este pode estar dissociado do seu processo de aprendizagem e também da sua co-participação no processo de ensino. A avaliação da aprendizagem possui um caráter indissociável do trabalho pedagógico, influenciando no comportamento de professores e alunos. Chama a atenção dos educadores, interfere no cotidiano da sala de aula, sendo um momento gerador de expectativas e tensões para o avaliador e para o avaliado, incapacitando os atores desse processo de centrar suas atenções no conhecimento, no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem. De acordo com Zabala (1998) a atuação da prática educativa deve ser baseada no pensamento prático, mas com capacidade reflexiva. Dessa forma, necessitamos de meios teóricos para que a análise da prática educativa seja verdadeiramente reflexiva. Assim, o trabalho docente é realizado em meio à convivência da promoção da aquisição do conhecimento formal, os fatos acadêmicos explícitos e codificados que devem ser elaborados e apreendidos pelo aluno e a realização de avaliações suficientemente boas para a avaliação da aprendizagem, principalmente, do modo como podemos lidar com as próprias reações emocionais dos alunos provocadas por este contato. As avaliações desafiam os aprendizes a refletirem sobre sua capacidade e habilidades e os docentes apresentam-se centrados em cumprir metas e programas, o que pode dificultar o ato de avaliar. O ato de avaliar não se encerra na configuração do valor ou qualidade atribuída ao objeto em questão, a importância do momento oportuno da avaliação formativa, para a construção do trabalho do docente, ocorre freqüentemente como um produto final e não contínuo. A escolha da modalidade da avaliação no ensino superior é um desafio do docente, frente a recursos disponibilizados e aos objetivos estabelecidos. Segundo Luchesi (1995) a avaliação direciona o objeto numa trilha dinâmica enquanto a verificação o congela. Dessa forma, percebemos que as práticas avaliativas devem ser recursos utilizados para um processo efetivo de avaliação, fundamentada na aprendizagem em seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. Estamos avaliando ou verificando, quando não conseguimos utilizar os recursos necessários para uma aprendizagem significativa. Nessa perspectiva, é importante que as reflexões sobre a avaliação da aprendizagem sejam realizadas de forma contínua pelo docente. Conforme a Lei de Diretrizes e Bases nº9. 394/96 no Art. 47, as Instituições de Ensino Superior devem informar os programas dos cursos, os componentes curriculares, duração, requisitos e os critérios de avaliação e diz também no mesmo artigo, parágrafo segundo, que os alunos que demonstrarem excelente aproveitamento por meio de provas e outros instrumentos de avaliação específicos poderão abreviar a duração do seu curso. Diante disso, verificamos a importância da avaliação como parte do processo da aprendizagem. Avaliar é uma atividade intrínseca e indissociável a qualquer tipo de ação que vise provocar mudanças, é uma atividade constituinte da ação educativa, que provoca mudanças na ação educativa e a efetivação da sua intencionalidade. Para o campo educacional compreendemos que a avaliação, deva permear todo processo ensinoaprendizagem da melhor maneira possível. Nessa perspectiva, o docente tem a oportunidade de avaliar, refletir e tomar decisões sobre os resultados obtidos, analisando junto aos alunos o processo ensinoaprendizagem ocorridos. A avaliação deixa de ocorrer apenas em um momento determinado e passa a ser contínua e permanente ao processo da aprendizagem, cumprindo, assim, sua função formativa para alunos e professores. Conforme Carmesina e Leite (2006) avaliar a aprendizagem é uma necessidade no momento em que o Brasil busca melhorar a qualidade das aprendizagens em todos os níveis e modalidades de ensino. A avaliação converge para a compreensão da sua heterogeneidade, nas dimensões humana, filosófica, política, social, econômica, administrativa e educacional. A avaliação da aprendizagem, há décadas, tem se constituído importante objeto de discussão pela comunidade acadêmica, uma vez que pesquisadores e docentes têm se colocado a disposição para questionar as práticas avaliativas, no sentido de compreender melhor os caminhos complexos e, muitas vezes, tortuosos que as práticas avaliativas são desenvolvidas, o que se reflete na qualidade da educação. 2-Trilhas da Investigação Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, que segundo Laville e Dionne (1999), compreende um conjunto de técnicas para identificar, interpretar e descrever o fenômeno que se observa, com a preocupação de pesquisar a complexidade do real. Para tanto foi realizada uma pesquisa bibliográfica, constituída de artigos científicos e livros desenvolvendo as temáticas sobre: A Avaliação da Aprendizagem, Planejamento da Educação Superior e A Formação Docente. A coleta de dados foi realizada através dos instrumentos: questionário de identificação para caracterização dos professores recém contratados, dirigido às três grandes áreas e questionário ampliado de caracterização da formação inicial e dos cursos de pós-graduação strictu sensu e, ainda, das expectativas em relação à profissão docente e ao novo emprego. -Resultados O presente trabalho pretendeu refletir sobre a necessidade de abordagens pedagógicas mais efetivas para o ensino e a aprendizagem, dessa forma, a utilização do questionário, como instrumento, e a representação dos resultados em gráficos permitiram ampliar a análise e interpretação dos dados obtidos. Destacamos, sem pretensão de generalizar as opiniões, as concepções através dos gráficos abaixo, elaborados de acordo com o percentual de respostas obtidas do questionário elaborado e respondidos pelos docentes, que concordaram em apresentálas, sendo possível inferir: Gráfico 1- a boa formação teórica; Gráfico 2 - bom preparo para atuação como professor; Gráfico 3 – maneiras adequadas para avaliar a aprendizagem dos alunos, obtidas através do Curso de formação; Os professores, ao serem indagados a respeito da avaliação que fazem do seu curso de graduação e se o curso lhe proporcionou uma boa formação teórico-prática, afirmaram estarem satisfeitos em relação à Formação teórica e prática, sendo 85,71% na área de Biomédicas, 100% na área de Exatas e 75% na área de Humanas, conforme gráfico abaixo: Gráfico nº1 100,0000 75,0000 50,0000 25,0000 Biomédicas Exatas Humanas Fonte: Questionário ampliado, 2011. Ainda, com relação à formação, tanto na graduação quanto na pós-graduação, perguntamos aos professores se eles consideravam que o processo formativo lhes possibilitou uma preparação para atuar como professor. As respostas demonstram que há o entendimento, por parte dos docentes, no sentido de que a formação inicial e continuada realmente contribuíram para sua atuação como professor, sendo 71,42% na área de Biomédicas, 85,71% na área de Exatas e 75% na área de Humanas, conforme gráfico abaixo: Gráfico nº2 90,0000 85,0000 Biomédicas Exatas Humanas 80,0000 75,0000 70,0000 Fonte: Questionário ampliado, 2011. Ainda sobre a avaliação da aprendizagem, perguntamos aos professores se no curso de formação graduação/pós, ele: a) aprendeu maneiras que julga adequadas para avaliar a aprendizagem dos alunos. b) não aprendeu avaliar a aprendizagem dos alunos. c) aprendeu a avaliar fora e aperfeiçoou no curso. A maioria dos professores respondeu que em relação à avaliação da aprendizagem dos alunos julgou ter aprendido maneiras adequadas para avaliarem a aprendizagem dos alunos, sendo que não houve respondentes na área de Biomédicas, 75% na área de Exatas e 100% na área de Humanas, conforme gráfico abaixo: Gráfico nº 3 100 75 50 Biomédicas Exatas Humanas Fonte: Questionário ampliado, 2011 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao refletirmos a respeito das concepções de avaliação dos docentes, entendemos que o processo pedagógico exige capacidade e criatividade de desenvolver atividades, utilizar métodos e recursos didáticos que permitam aos alunos o aprender a aprender e o aprender a fazer. Educar a partir de uma perspectiva transformadora requer do professor a percepção da importância da avaliação interligada com o processo de aprendizagem. Desse modo, o estudo em tela nos permitiu suscitar reflexões sobre a avaliação como importante instrumento do processo ensino aprendizagem, que exige dos professores o entendimento, oriundo tanto de reflexões, quanto da fundamentação teórica a respeito da temática avaliação. Evidenciamos, através de investigação bibliográfica, que os diversos autores pesquisados evidenciam a necessidade de uma reflexão sistemática sobre as concepções de avaliação e da formação docente. O professor faz a mediação do aluno com os objetos do conhecimento, sua atividade cognitivo-afetiva é fundamental para manter uma relação interativa com o conhecimento. Para isso, se faz necessário que o Professor pense de forma crítica sobre o processo avaliativo que desenvolve, é algo necessário para se aprender a ensinar, adquirir uma melhor compreensão de sua prática e do seu papel como formador. Neste sentido, a avaliação é temática desafiadora, na medida em que os docentes devem questionar suas concepções e buscar mudanças em suas práticas educacionais, de modo que a avaliação da aprendizagem se constitua em elemento fundamental para nortear o processo ensino-aprendizagem e não para culpar, categorizar e certificar. Isso exige transformações profundas na qualidade da avaliação para a aprendizagem, na postura do docente e do aluno, o que requer dos professores disponibilidade para o aprendizado contínuo. NOTAS O projeto de pesquisa A socialização profissional de professores e o desenvolvimento da identidade docente no Ensino Superior, coordenado pela Profa. Dra. Geovana Ferreira Melo Teixeira, é desenvolvido junto a professores concursados em 2008 e 2009 pela Universidade Federal de Uberlândia. O estudo é continuidade de nossas investigações iniciadas há mais de cinco anos, em torno das questões referentes à docência universitária. O trabalho é desenvolvido pelo grupo “GEPEDI - Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática e em Desenvolvimento Profissional dos Professores”, registrado no CNPq e certificado pela UFU. O desenvolvimento da pesquisa envolve pesquisadores e auxiliares de pesquisa da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. REFERÊNCIAS BOTH, Ivo José. Ensinar e Avaliar são de Domínio Público. Revista Histebr. Campinas: nº18, 2005, p. 54-64. FAEEBA - Revista da Faculdade de Educação do Estado da Bahia. Homenagem a Paulo Freire. Ano 6, nº7, 1997. Salvador-BA: FE/UNEB, p. 9-32. GADOTTI, Moacir, Cátedra Paulo Freire, Auditório Del Cide.Universidade Nacional da Costa Rica. San José,2001. GURGEL, Carmesina Ribeiro; LEITE Raimundo Hélio. Avaliar a Aprendizagem: Uma Questão da Avaliação Docente. Rio de Janeiro: Educação Pública, 2006. LUCKESI, Carlos Cipriano. Verificação ou Avaliação: O que pratica a Escola. 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