Sociabilidades e Relações Etnicorraciais de Jovens Negros na Cidade de Mataraca-PB. Autor: Antônio Mendes Junior Universidade Federal da Paraíba – UFPB – Campus IV- CCAE Orientador: Marco Aurélio Paz Tella Introdução Metodologia A presente pesquisa com jovens, que se auto identificam como negros, é um trabalho na área de antropologia que integra as atividades desenvolvidas pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Etnografias Urbanas (Guetu), no Curso de Antropologia, UFPB, campus IV. Esta pesquisa aborda as relações etnicorrariais cujo desafio é estudar os fenômenos dos quais envolve os processos de territorialização e identidade, com populações negras e minorias. A pesquisa foi realizada na cidade de Mataraca-PB, localizada no Litoral Norte da Paraíba, na Escola Estadual de Ens. Fund. e Médio Pedro Poti, com alunos do 1º ano do Ensino Médio na faixa etária de 15 a 17 anos. O objetivo da pesquisa foi entender o que leva os jovens a auto identificarem como negros. Assim, esta pesquisa pretende observar, descrever, mapear e analisar as dinâmicas sociais, processos de identificação, níveis de integração social e percepção de racismo entre parcela dos jovens negros de Mataraca-PB. No início da pesquisa, foi realizado um levantamento bibliográfico de pesquisas sobre esse tema e outras sobre fundamentação teórica que serviram de elementos auxiliares para entender e observar, descrever e interpretar a integração de jovens negros na escola, redes sociais, prostituição e violência entre os jovens negros, na cidade de Mataraca-PB. Realizei um levantamento sobre a região do Vale do Mamaguape-PB, sua história, população, correntes migratórias e dados sócio-econômicos. Também realizei observações na escola, local da pesquisa, aonde inicialmente foi aplicado um questionário fechado, para localizar e identificar os jovens que auto identificam como negros. Questionário foi aplicado aos estudantes que cursam o 1º ano A, do Ensino Médio, pois, a média de idade da turma era a menor em toda a instituição de ensino em torno de 17 (dezessete) anos, foram entrevistados 49 (quarenta e nove) jovens, apenas 04 (quatro) se auto identificam-se como negros e 03 (três) aceitaram participar da pesquisa, todos do sexo masculino. Fotografia: Antonio Mendes Jr. Frente da escola pesquisada Fotografia: Antônio Mendes Jr. Corredor de Salas de aula da Escola Estadual Pedro Poti Resultados e discussões A importância da pesquisa com os jovens que se auto identificam como negros é pensar e refletir não só a questão etnicorracial, mas a condição social, pois as relações raciais são colocadas aos jovens como um “problema”, muito representada por estigmas reproduzidos pela mídia, e por diversos intelectuais. A princípio durante as entrevistas e conversas com os 03 (três) jovens NEGROS que denominei com nomes fictícios, Ronaldo, Romário e Káka, a cor da pele apresentou para eles como elemento principal, para se identificarem como negros, mas durante a pesquisa outros referenciais surgiram como, por exemplo, a música. Dois desses jovens fazem curso de música e, por meio do Rap e Funk, esses jovens resignificaram a sua própria condição e percepção, como o modo de se vestir e de se expressar. No entanto, houve depoimentos de um dos Jovens que afirmou que nunca sofrera racismo e preconceito, e que essa prática não era cotidiana. Depoimentos como esse, é que alimentam o espírito de que vivemos uma “Democracia Racial”. O processo de identificação desses jovens, segundo Stuart Hall, é reflexo da globalização que tem impactado sobre as mudanças na identidade cultural. Antes o individuo era unificado, agora é fragmentado. Este sujeito que antes tinha sua identidade muito bem demarcada e unificada, hoje possui vários referenciais, fragmentando-se e, se configurando a partir de identidades que também foram modificadas. O indivíduo vai se moldando e flexibilizando para atuar nesta sociedade denominada como pós-moderna. Outra discussão que surgiu durante a pesquisa foi sobre o modelo de ensino, que persiste numa homogeneização do conteúdo curricular. Percebe-se que há uma total inaplicabilidade da lei 10.639/03 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Mesmo com o modelo segregacionista de ensino, os jovens criam seus “arranjos” e buscam pertencer a um grupo ou movimento que lhe proporcione respeito, identidade e prazer. Referência HASEMBALG, Carlos. Discriminação e Desigualdades Raciais no Brasil. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora: UFMG, 2005. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 3º ed. Rio de Janiro: Editora: DP&A, 1999. TELLA, Marco Aurélio Paz. Estigmas e Paradoxos: Um estudo comparativo das relações Raciais em São Paulo e Lisboa. 2006. 219f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Programa Pós Graduação em ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2006. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das Raças Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil 1870-1930. 1ª ed. São Paulo: Editora: Companhia das Letras, 2010. FERNADES, Florestan. O Negro no Mundos dos Brancos. 2ª ed. São Paulo: Editora Global, 2007. BERNADO, Terezinha. Memória em preto e branco Olhares sobre São Paulo. 1ºed. São Paulo: Editora: UNESP, 2007 . DA MATTA, Roberto. O ofício de etnólogo, ou como ter “Antropological Blues”. In: NUNES, Edson de Oliveira (Org.). A aventura sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p. 23-35. DIWAN, Pietra. Raça Pura uma história da eugenia no Brasil e no mundo. 1ª ed. São Paulo: Editora: Contexto, 2007. GUIMARÂES, Alfredo S. A. Preconceito e discriminação. 2º ed. São Paulo: Editora: 34 ltda, 2004. GUIMARÃES, Alfredo. S. A.. Racismo e Anti-Racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34 ltda, 1999.