O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL Há décadas, antropólogos, historiadores e outros estudiosos começaram a maquinar e divulgar idéias de que no Brasil brancos e negros conviviam harmoniosamente, mesmo no período do escravismo. Essa foi a fórmula encontrada para suavizar o fato de que o Brasil foi o último país do mundo a abolir o trabalho escravo. Junto da idéia de paraíso racial de negros e brancos, eles também divulgavam a idéia de inferioridade dos negros. Mas ressaltavam: apesar de os negros serem inferiores, os senhores brancos sempre foram generosos e afetuosos em relação a eles. Esses estudiosos, que historicamente representavam os interesses das classes que estavam no poder – os escravizadores – fizeram um grande esforço para “dourar a pílula”. Diziam que junto com a escravidão levavam a civilização aos negros, que teriam costumes primitivos. Dessa forma, a religião católica era imposta aos negros logo que desembarcavam no Brasil. A ESCRAVIDÃO “SUAVE” DA PRIMEIRA GERAÇÃO DE ESTUDIOSOS Gilberto Freyre, um importante estudioso brasileiro, defendia a idéia de que no Brasil a escravidão teria sido suave, amena, e que os escravos eram dóceis e passivos. Mas de que maneira um regime de escravidão pode ser bom e harmonioso? Criou-se no Brasil, por exemplo, o mito da “mãe preta”. Diferentes escritores falam romanticamente da importância da mulher negra amamentando a criança branca. Será que em algum momento eles levaram em conta o sentimento dessa mulher, tendo de abandonar seu próprio filho para amamentar o filho de outra? É evidente que não existe suavidade na escravidão! Entretanto, para justificar um ato condenável inventouse a história de senhores paternalistas e e escravos dóceis e passivos. A “DEFORMAÇÃO “ DA PERSONALIDADE DOS NEGROS: A SEGUNDA GERAÇÃO DE ESTUDIOSOS • Por volta da metade do século XX um novo grupo de estudiosos – dentre eles Florestan Fernandes e Octavio Ianni – foi convidado a estudar as relações entre brancos e negros do Brasil. Esses estudiosos desempenharam um papel importante, pois demonstraram em suas pesquisas que as relações entre negros e brancos jamais haviam sido harmoniosa. Concluíram que, de fato, os negros viviam em situação de desvantagem em relação aos brancos. • No entanto, ao tentar explicar as desigualdades, esses estudiosos veicularam uma idéia que necessita ser repensada. Segundo eles, os negros estariam em desvantagem pelo fato de terem sido escravos, o que os deixou despreparados para agirem como trabalhadores livres e ingressarem na indústria nascente após o fim do escravismo. Ainda segundo eles, o escravismo teria deformado a personalidade do negro. Ora, se escravidão prejudicou a personalidade dos que foram escravos e de seus descendentes, não teria também prejudicado a personalidade dos que foram escravizadores de seus descendentes? O escravizador cometeu injustiças, atos imorais e condenáveis, como estuprar, torturar, apoderar-se do fruto do trabalho alheio. Portanto, não teria sido o escravizador deformado? A TERCEIRA GERAÇÃO DE ESTUDIOSOS: A DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO COTIDIANO Já no período mais recente, temos uma terceira linha de estudos realizados nas áreas da educação, do trabalho, da saúde. Esses estudos, feitos por cientistas negros e brancos, comprovam que a situação de desigualdade do povo negro deve-se à discriminação racial no cotidiano e não exclusivamente ao fato de o negro ter sido escravo e o branco escravizador. AMPLIANDO A DISCUSSÃO 1) Cite as principais características de cada geração de estudiosos das relações raciais no Brasil. 2) Com base na letra da música de Gabriel, o Pensador, faça uma redação sobre o pior tipo de racismo.