10 de abril de 2014 Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Ata do Copom aumenta ainda mais a probabilidade de uma parada técnica no ciclo de alta já em maio A ata da última reunião do Copom reforça a nossa percepção de que o Banco Central (BC) fará uma parada técnica, já em maio, no atual ciclo de elevação da Selic. De modo geral, o documento enfatiza o tema das defasagens em política monetária, reforça o diagnóstico de choque temporário de oferta e traz alguns elementos de menor convicção em relação à atividade econômica. O documento divulgado hoje não traz muitas novidades em relação ao texto do Relatório de Inflação (RI) de março, divulgado há poucos dias. Os temas principais que apareceram naquele documento foram repetidos na ata. O diagnóstico de choque de oferta temporário fica mais uma vez claro nos parágrafos 1 (“os preços no segmento de alimentos e bebidas, sensibilizado por fatores climáticos ...”) e 27 (“... pressões localizadas que ora se manifestam, especialmente no segmento de alimentos in natura, embora, em princípio, trate-se de um choque temporário que tende a reverter nos próximos meses”). Na noite de ontem, em entrevista a um programa de televisão, o presidente do BC, Alexandre Tombini, voltou a apresentar esse diagnóstico, mesmo depois da surpresa negativa com o IPCA de março, divulgado pela manhã. Em outras palavras, o dado reportado pelo IBGE ontem não traz informação suficiente forte para alterar a percepção do BC, ainda que tenha sido conhecido após a reunião da semana passada e, portanto, não esteja refletido na ata. No que tange à atividade econômica, a visão continua sendo a de um crescimento parecido com o de 2013. Contudo, notamos uma ligeira alteração na avalição. No parágrafo 23, por exemplo, lia-se antes que “o cenário central contempla ritmo de expansão da atividade doméstica relativamente estável este ano”. Na ata de hoje, o Comitê suprimiu o “cenário central” e incluiu o “tende a se manter relativamente estável”. Já no parágrafo 31, ao se referir ao ritmo de expansão do consumo das famílias, agora temos a inclusão de um “ritmo moderado de expansão”. São alterações relativamente pequenas, mas que sugerem um grau de convicção menor por parte do BC, em relação ao cenário anteriormente proposto. Nesse caso, o risco aqui é para baixo, ou seja, para uma recuperação abaixo do que se esperava. No que tange à decisão de elevação de 25 bps, propriamente dito, a ata substituiu, no parágrafo 28, o trecho no qual se lia que o “Copom entende ser apropriada a continuidade do ajuste das condições monetárias ora em curso” por o “Copom entende ser apropriado ajustar as condições monetárias”. Essa mudança está alinhada com a retirada, ainda no comunicado, do já conhecido “dando prosseguimento” e a inclusão do “neste momento”. A nosso ver, a sinalização agora já não é mais de um ciclo em curso, mas da proximidade do seu encerramento. O tema das defasagens em política monetária voltou com mais ênfase nesta ata, comparativamente ao apontado no RI. Naquele documento, é possível ler que: Ainda sobre transmissão da política monetária, considerando a experiência brasileira na vigência do Regime de Metas, infere-se que a resposta da economia ao atual ciclo de ajuste da taxa Selic, combinada às perspectivas para os próximos trimestres, segue em linha com o que se poderia antecipar. Dito de outra forma, as informações disponíveis sugerem que os impulsos monetários têm se propagado normalmente por intermédio dos principais canais de transmissão, e que assim continuarão nos próximos trimestres (...). O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária. Ao mesmo tempo, o Comitê pondera que os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação são cumulativos e se manifestam com defasagens. O DEPEC – BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. 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DESTAQUE EXPRESSO No parágrafo 32 da ata, temos um texto parecido na sua essência, mas com ênfase mais pronunciada ao tema em questão e reforçando a confiança do Comitê em relação aos efeitos da política monetária nos próximos meses: Para o Copom, considerando-se a experiência brasileira na vigência do regime de metas, infere-se que, de modo geral, as trajetórias de importantes indicadores econômicos durante o atual ciclo de ajuste da taxa Selic, bem como as perspectivas para essas trajetórias nos próximos trimestres, apresentam-se em linha com o que se poderia antecipar. Dessa forma, as informações disponíveis sugerem que os impulsos monetários introduzidos na economia desde abril de 2013 têm se propagado normalmente por intermédio dos principais canais de transmissão e que assim tendem a continuar nos próximos trimestres. Nesse sentido, como os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação são cumulativos e se manifestam com defasagens, o Comitê entende que parte significativa da resposta dos preços ao atual ciclo de aperto monetário ainda está por se materializar. Além disso, é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária tendem a ser potencializados. Nos dois trechos reproduzidos acima, destacamos pontos que nos chamaram a atenção em negrito, para enfatizar a mudança, ainda que sutil, no discurso do BC. Por fim, o “especialmente vigilante” que vinha aparecendo nas atas foi substituído, no parágrafo 33, por “vigilante”, sugerindo não haver mais, por parte do Copom, um senso de urgência com a alta de juros. Diante do diagnóstico apresentado, da perspectiva de que “parte significativa” dos efeitos de política monetária terão impacto à frente e com as qualificações já expostas para a atividade econômica, a nossa percepção de proximidade do fim do ciclo de alta ganha força. Não descartamos um movimento adicional de 25 bps na reunião de maio, mas a nosso ver esse cenário está perdendo força. Continuamos acreditando em uma parada técnica, com a Selic sendo mantida em 11% até o final do ano. Se haverá ou não mais uma elevação, dependerá dos dados, mas o plano de voo sugerido pela ata e pela declaração de ontem de Tombini reforçam a intenção de interrupção do ciclo agora. A nosso ver, há algo entre 80% e 90% de chances de que a elevação de abril tenha sido a última. 2 DESTAQUE EXPRESSO Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo – Superintendente executivo Economia Internacional: Economia Doméstica: Análise Setorial: Pesquisa Proprietária: Estagiários: 3 Fabiana D’Atri / Leandro de Oliveira Almeida/ Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Igor Velecico/ Ellen Regina Steter / Priscila Pereira Deliberalli/ Andrea Marcos Angelo Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão Guilherme Marinho Lima / Mariana Carvalhaes / Ariana Stephanie Zerbinatti / Vitor Inocêncio / Gabriela Helena Demarchi / Vanderley Rodrigues Gonçalves Junior / Otavio de Almeida Janny Teixeira