Brasília, 18 de março de 2013. Nº 178 É provável, mas não certo, o início em breve de um novo ciclo de aperto monetário 1 A ata divulgada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) frustrou as expectativas de boa parte do mercado, ansiosa por indícios mais claros sobre as próximas decisões relativas à taxa Selic. De fato, o Banco Central (BC) continuou ambíguo. Ao mesmo tempo em que destacou sua preocupação quanto à resistência da inflação em deixar o atual nível elevado, o BC confessou estar em dúvida se isso se deve a fatores temporários (choques de oferta, sazonalidade, etc.) ou se o processo inflacionário mudou efetivamente de patamar. 2 Com base nas atuais cotações dos juros futuros, pode-se resumir a interpretação que o mercado fez da ata da seguinte maneira: “o BC demonstrou preocupação com a inflação, mas não deu qualquer sentido de urgência à necessidade de agir. Assim, a Selic provavelmente não subirá em abril, mas, certamente, isso se dará a partir de maio. Mais: o novo aperto monetário tende a ser moderado, provavelmente não superior a 150 pontos”. 3 Essa é, realmente, a melhor interpretação possível da ata e tal cenário tem probabilidade de ocorrer superior a 50%. Nossa objeção se refere à palavra grifada no parágrafo anterior, ou seja, “certamente”. Ela está implícita na taxa futura de juro para o contrato com vencimento em janeiro de 2014 (7,83%). Se estimarmos, com base nessa cotação, as probabilidades atribuídas pelo mercado a dois cenários alternativos, a saber: manutenção do juro básico no patamar atual durante o restante do ano de 2013 e três aumentos de 50 pontos a partir de maio próximo, o primeiro cenário recebe probabilidade quase nula (inferior a 5%). É disso que discordamos. 4 A leitura atenta da ata, em conjunto com as recentes declarações públicas de diretores e do presidente do BC, nos leva à conclusão de que a autoridade monetária ainda não decidiu se vai ou não promover um novo ciclo de aperto monetário ainda neste ano. O que há, na verdade, é uma clara situação de dependência dos dados. 5 Além disso, a antecipação da desoneração da cesta básica, apesar de não ser uma medida verdadeiramente anti-inflacionária, mostra que o Governo está disposto a utilizar outros instrumentos para fazer com que a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 2013, não seja superior à observada em 2012. 6 Nessa linha, não se pode deixar de destacar a atuação do BC no mercado de câmbio. Por certo, a autoridade monetária não se dispõe a utilizar a política cambial No próximo sábado sai a coluna da senadora Kátia Abreu, presidente da CNA, na Folha de S. Paulo, no caderno B - Mercado. Vamos conferir! Brasília, 18 de março de 2013. Nº 178 como alternativa à monetária, como se chegou a aventar. No entanto, a forte ação no final do ano passado para impedir que o dólar atingisse (ou superasse) o patamar de R$ 2,10, contrariando a opinião de importantes membros da equipe econômica, demonstra que os impactos inflacionários da depreciação cambial provocaram preocupações na autoridade monetária. 7 E quanto ao tamanho do ajuste, se de fato ocorrer? Nesse ponto, temos opinião convergente com o quase consenso do mercado. É pouquíssimo provável que seja superior a 150 pontos. Nos dois últimos ciclos de aperto monetário, abril a julho de 2010 e janeiro a julho de 2011, os ajustes totais foram de 200 pontos e de 175 pontos, respectivamente. E o presidente do BC tem deixado claro que acredita piamente no aumento de eficácia da política monetária, de tal sorte que o eventual novo aperto tende a ser menor que os anteriores. 8 Para resumir, é interessante colocar a questão em termos de valor esperado. Se considerarmos as probabilidades de nosso novo cenário, quais sejam, 70% a um aumento total de 150 pontos e de 30% para nenhum aumento, a cotação “justa” do DI para janeiro 2014, sem prêmio de alongamento, seria de 7,62%, contra 7,83% no mercado, neste momento. Não se trata de um prêmio muito convidativo para aplicações prefixadas, mas a posição vendida na mencionada taxa assemelha-se a uma opção de custo muito baixo, quase nulo.