Checklist de Segurança Perioperatória Dra. Fabiane Cardia Salman Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesia (CQSA/SBA) Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) Dezembro de 2011 Segurança Dicionário Houaiss: “. estado, qualidade ou condição de uma pessoa ou coisa que está livre de perigos, de incertezas, assegurada de danos e riscos eventuais, afastada de todo mal; . estado, condição ou caráter daquilo que é firme, seguro, inabalável, ou daquele com quem se pode contar ou em quem se pode confiar inteiramente; . conjunto de processos, de dispositivos, de medidas de precaução que asseguram o sucesso de um empreendimento, do funcionamento preciso de um objeto, do cumprimento de algum plano etc.” Segurança Os processos de segurança tiveram um grande avanço nas últimas décadas. - Usinas Nucleares - Three Mile Island (1979) Chernobyl (1986) e - NASA - Columbia (1981) - Aviação civil – Tenerife/ Espanha (1977) – 583 mortos - Extração de petróleo em águas profundas - (1980) Ekofish, Mar do Norte: 123 mortos. Segurança na Aviação Checklist Comunicação “Crew Resource Management” Segurança na Saúde Em 1850, o médico húngaro Ignaz Semmelweiss estabeleceu a ligação entre a transmissão da infecção e a higiene das mãos. Em 1854, Florence Nightingale revolucionou a atenção hospitalar a partir da observação dos riscos para o paciente da má higiene nos hospitais. No início do século XX, Ernest Codman, um cirurgião de Boston, apontou para a necessidade de avaliação rotineira dos resultados negativos na cirurgia para a melhoria da qualidade. Sistemas vulneráveis a acidentes (Gaba, Perrow) acidentes nucleares, aeroespaciais e industriais 1. Complexidade intrínseca - sistemas de alta tecnologia utilizando componentes de precisão estreitamente acoplados 2. Complexidade de proliferação - sistemas simples com grande número de componentes simples 3. Complexidade de incerteza - sistemas em que as relações de causa e efeito nem sempre são evidentes e com elevado grau de imprevisibilidade. * Quanto mais complexo um sistema, maior é sua exposição à ocorrência de acidentes. Complexidade do sistema: PERÍODO PERI-OPERATÓRIO Godfrey MM, et al: Microsystems in health care: Part 3. Planning patient-centered services. Joint Commission Journal on Quality and Safety 29:159–170, 2003. SEGURANÇA NA SAÚDE SEGURANÇA DO PACIENTE é a redução e a mitigação de atos não seguros no sistema de assistência à saúde, assim como a utilização das melhores práticas que conduzem a RESULTADOS ótimos para o paciente. The Canadian Patient Safety Dictionary. Canada, 2006 International Classification for Patient Safety (ICPS) TAXONOMIA - OMS J. Rasmussen - Investigação do sistema, ambiente e aspectos humanos (RCA) James Reason - Entendimento das dinâmicas dos fatores humanos e das condições latentes que levam aos erros. Williams,BUMC, 2001 CIRURGIA SEGURA: PRIORIDADE EM SAÚDE PÚBLICA - 234 milhões de cirurgias / ano; 1 operação para cada 25 pessoas vivas; DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL: falta de acesso - - - 30% da população = 75% das operações. Complicações após cirurgias em pacientes internados: até 25% dos pacientes; A mortalidade após cirurgias de grande porte é de 0,4 a 10% - pelo menos 1 milhão de pacientes morrem a cada ano durante ou após uma grande cirurgia; 7 milhões de pacientes sofrem complicações cirúrgicas ao ano; Pelo menos metade dos casos de eventos adversos são evitáveis. An estimation of the global volume of surgery: a modelling strategy based on available data The Lancet, published Online June 25, 2008 Wrong-site/ wrong-patient Surgery Estimativa de 1.300 a 2.700 destes eventos por ano nos Estados Unidos. Análise feita em eventos sentinela entre 1995 e 2006 em hospitais americanos acreditados pela Joint Commission: 13% de “wrong-site” surgery. Análise de 126 casos de wrong-site/ wrong-patient em 2005: 76% local errado 13% paciente errado 11% procedimento errado Seiden SC, Arch Surg 2006;141:931 GESTÃO INTEGRADA - CENTRO CIRÚRGICO SEGURANÇA NO CENTRO CIRÚRGICO? FATOR HUMANO - ANESTESISTA - CIRURGIÃO - CIRURGIÕES ASSISTENTES - EQUIPE DE ENFERMAGEM... ENGENHARIA CLÍNICA FARMÁCIA SUPRIMENTOS CCIH HIGIENE BANCO DE SANGUE... ANESTESIA SEGURA: Grupo de Trabalho (WHO) MORTALIDADE EM ANESTESIA GERAL: Três décadas atrás: 1 em 5.000 Atualmente: 1 em 200.000/ 300.000 (países desenvolvidos) Modelo de Segurança Internacional na Área da Saúde Checagem de Segurança Anestésica O HOSPITAL É SEGURO? O PROCEDIMENTO ANESTÉSICO-CIRÚRGICO É SEGURO? FATOR HUMANO Anestesiologistas, assim como todos os prestadores de cuidados de saúde, são obrigados a cuidar de pacientes a qualquer hora do dia ou da noite. Isso é muitas vezes oposto ao que exige a nossa fisiologia. Um fato irrefutável é que a privação do sono e fadiga impactam negativamente no desempenho, na cognição e no humor. O papel do anestesiologista no monitoramento do paciente de forma vigilante pode ser particularmente vulnerável aos efeitos da fadiga. A palavra "vigilância" é o centro do selo e o lema da American Society of Anesthesiologists (ASA). Howard SK, Gaba DM, Smith BE, et al. Simulation study of rested versus sleepdeprived anesthesiologists. Anesthesiology 2003;98:1345-55. GESTÃO E COMUNICAÇÃO Termos multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar e pandisciplinar: o tipo e o grau de colaboração entre os membros da equipe. Coordenação, interdependência, a fronteira / papel, trabalho em equipe e sinergia. TIME As evidências indicam que o treinamento da equipe melhora a comunicação e reduz o erro. Construção de uma infra-estrutura de segurança do paciente ajuda a manter o trabalho em equipe. Teamwork na Área da Saúde Qualidade do Cuidado Wagner EH. Effective teamwork and quality of care. Med Care 2004; 42:1037-9 Segurança JCAHO's clinical alarm safety goal requires teamwork, collaboration. Hosp Peer Rev 2003; 28:89-93 Satisfação do Paciente MeterkoM, Mohr DC, Young GJ. Teamwork culture and patient satisfaction in hospitals. Med Care 2004; 42:492-8 Resultados SmyJ. Using teamwork to save lives. NursTimes 2004; 100:24-5 WheelanSA, BurchillCN, TilinF. The link between teamwork and patients' outcomes in intensive care units. Am J CritCare 2003; 12:527-34 Checklists e Briefings Em 34% dos casos (100/295) : . Identificação de um problema . Revelaram ambiguidade . “Gap” importante de conhecimento/ informação . Provocaram mudanças no planejamento . Ações de “follow up” 44% impacto direto no cuidado do paciente Segurança do Paciente ERA DA SEGURANÇA DO PACIENTE National Patient Safety Agency – Reino Unido – Junho de 2000, estabelece áreas e procedimentos para monitoramento e ações de melhoria de desempenho pelas instituições de saúde (www.npsa.nhs.uk). Council for Safety and Quality in Healthcare – Austrália – desenvolveu o sistema “SHE” – Sentinel Health Events – lista nacional de eventos sentinela. Institute for Healthcare Improvement (IHI) (2004): Campanha 100 mil vidas – 18 meses = 122 mil mortes (2006): Campanha 5 Milhões de Vidas – 12 programas Organização Mundial da Saúde (OMS/ WHO) - 55º World Health Assembly (2002): Resolução WHA55.18 - Grupo de trabalho (OMS) com o objetivo de estudar metodologias para avaliar os riscos para a segurança do paciente nos serviços de saúde de forma sistemática. - World Alliance for Patient Safety (Aliança Mundial para a Segurança do Paciente) - lançada em outubro de 2004 pela WHO com a missão de coordenar, disseminar e acelerar melhorias para a segurança do paciente em termos mundiais. "Soluções Simples para a Segurança do Paciente“ METAS INTERNACIONAIS DE SEGURANÇA DO PACIENTE International Patient Safety Goals 2006 Joint Commission International (JCI) 1. Identificar os pacientes corretamente 2. Melhorar a efetividade da comunicação entre os profissionais de saúde 3. Melhorar a segurança no uso de medicamentos de alta-vigilância 4. Assegurar Cirurgias com local de Intervenção Correto, Procedimento Correto e Paciente Correto 5. Reduzir o risco de Infecções associadas aos Cuidados de Saúde 6. Reduzir o Risco de Lesões ao Paciente, decorrentes de Quedas DESAFIOS GLOBAIS (Área1) 1. CLEAN CARE IS SAFER CARE – 2005/ 2006 2. SAFE SURGERY SAVES LIVES – 2007/ 2008 3. Tackling Antimicrobial Resistance - 2009-2010 Enfrentando a Resistência Microbiana No Brasil, a ANVISA está trabalhando em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) para implantar rotinas que aumentem a segurança do paciente. CLEAN CARE IS SAFER CARE 2005/ 2006 Diretrizes para a Higienização das Mãos no Cuidado à Saúde (Guidelines on Hand Hygiene in Health Care). 5. Cinco Momentos da Higienização das Mãos (Five Moments for Hand Hygiene) Antes do contato com o paciente; Antes da realização de procedimento asséptico; Após risco de exposição a fluidos corporais; Após contato com o paciente; e Após contato com as áreas próximas ao paciente. USO DE ÁLCOOL-GEL 1. 2. 3. 4. Cirurgias Seguras Salvam Vidas Safe Surgery Saves Lives - Segundo Desafio Global - Organização Mundial de Saúde (WHO/ OMS): organizou um Comitê Internacional de especialistas envolvendo mais de 200 sociedades médicas e enfermagem de Centro Cirúrgico - “Check-list da Cirurgia Segura” - Meta: reduzir complicações e mortes evitáveis decorrentes do procedimento anestésico-cirúrgico. Cirurgias Seguras Salvam Vidas Safe Surgery Saves Lives - Parceria com o Ministério da Saúde/ Anvisa; - Foco na aplicação de uma lista de verificação (checklist) para aumento da segurança; - Processo Colaborativo e Multiprofissional; - Coordenador (membro da equipe ou outro profissional); - 3 FASES DO PROCEDIMENTO CIRÚRGICO: . Antes da indução anestésica (“sign in”), . Antes da incisão na pele (“time-out”) e . Antes do paciente sair da sala cirúrgica (“sign out”). Bahrein Nigeria Boeing 747 Dez objetivos essenciais para a cirurgia segura: revisão das evidências e recomendações 1. A equipe operará o paciente certo e o local cirúrgico certo. 2. A equipe usará métodos conhecidos para impedir danos na administração de anestésicos, enquanto protege o paciente da dor. 3. A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para perda de via aérea ou de função respiratória que ameacem a vida. 4. A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para o risco de grandes perdas sanguíneas. 5. A equipe evitará a indução de reação adversa a drogas ou reação alérgica sabidamente de risco ao paciente. Dez objetivos essenciais para a cirurgia segura: revisão das evidências e recomendações 6. A equipe usará de maneira sistemática, métodos conhecidos para minimizar o risco de infecção no sítio cirúrgico. 7. A equipe impedirá a retenção inadvertida de instrumentais ou compressas nas feridas cirúrgicas. 8. A equipe manterá seguros e identificará precisamente todos os espécimes cirúrgicos. 9. A equipe se comunicará efetivamente e trocará informações críticas para a condução segura da operação. 10. Os hospitais e os sistemas de saúde pública estabelecerão vigilância de rotina sobre a capacidade, volume e resultados cirúrgicos. “SIGN IN” - ENTRADA - Confirmação com o paciente (se possível) Demarcação do Sítio Cirúrgico Checagem de Segurança da Anestesia Programa Global de Oximetria (RESOLUÇÃO 1802/2006) Revisão verbal com o anestesista: . Alergia . Via aérea difícil . Risco de Broncoaspiração . Risco de Perda Sanguínea. - # Materiais, Equipamentos e Medicamentos # Documentos do Prontuário # Confirmação/ Congruência: ETAPAS DEMARCAÇÃO DO SÍTIO CIRÚRGICO - Participação do Paciente e familiares Lateralidade, múltiplas estruturas e níveis múltiplos Procedimentos Invasivos fora do Centro Cirúrgico Antes de ser encaminhado à Sala de Cirurgia/ Procedimento Sítios não operatórios não devem ser demarcados Marcador permanente (preparação)/ Evitar adesivos Claramente visível Marca: seta, alvo, iniciais, nome do local a ser operado... - (evitar ”+” ou “X”) Pelo cirurgião/ profissional que realizará o procedimento - - “TIME-OUT” TEMPO DE PREPARO - Pausa Cirúrgica Nome e função dos membros da equipe Confirmação verbal: paciente/ local/ procedimento Previsão de eventos críticos pela equipe - Antibioticoprofilaxia - Exposição de Imagens Diagnósticas - COMUNICAÇÃO ATIVA!! - # Posicionamento do Paciente “SIGN OUT” SAÍDA - Nome do procedimento realizado - Contagem de instrumentais, agulhas e compressas - Identificação da amostra (patologia) - Problemas com equipamentos - Revisão dos cuidados pósanestésicos/ cirúrgicos. - REGISTRO NO PRONTUÁRIO! PROTOCOLO UNIVERSAL - JCI MATERIAIS DISPONÍVEIS EM PORTUGUÊS VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA OPERATÓRIA - TEATRO? - SOMENTE REGISTRO SEM ENVOLVIMENTO DA EQUIPE? - CRIA BARREIRAS? - MUDA CULTURA DE SEGURANÇA? - ADEQUAÇÃO AO USO!! JURAN - LEMBRETES/ QUADROS - PROCESSO COLABORATIVO - BOM SENSO!!! A checagem é efetiva? Estudo demonstrou que, após a introdução da utilização do checklist, a taxa de complicações maiores caiu de 11% para 7%, e da mortalidade hospitalar após operações caiu de 1,5% para 0,8%. Panorama atual (2009) e Tendências... Panorama atual (2011) e Tendências... Dificuldades na implementação: • Difusão do conceito de riscos como realidade • Tempo • Atuação da Equipe como um TIME • Comunicação • Mudança de cultura organizacional • Envolvimento da Equipe • Monitoramento do Desempenho e realização da checagem • Manutenção da melhoria contínua e dos processos de segurança. Considerações Finais - Envolvimento do paciente é fundamental Registro em prontuário Implementação fora do Centro Cirúrgico Soluções simples (WHO) e de baixo custo Adaptação da lista de verificação Alertas/ Lembretes/ Quadros Comprometimento da Alta Direção Hospitais já usam checagem/ listas de verificação nos seus processos, mas não sistematizados e sem atenção quanto ao seu desempenho. 99,9% é um padrão de segurança? 0,1% de erro significa: 20 mil prescrições erradas de remédios/ano 15 mil quedas acidentais de recémnascidos em hospitais/ano 500 cirurgias incorretas/semana 2 mil documentos perdidos/hora Medical Error. What do we know? What do we do? EUA: Jossey – Bass; 2002. p. 3-34. PARA O PACIENTE = 100% Checklist de Segurança Perioperatória OBRIGADA! Dra. Fabiane Cardia Salman Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesia Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA)