A Internet e os cuidados primários Realizado por: - CARVALHO, P. - COELHO, R. - GONÇALVES, R. - GOUVEIA, P. - LOPES, R. - PEREIRA, R. - REIS, P. - ROTHWELL, R. - SALES, C. - SOARES, R. Introdução Apesar dos grandes avanços nos cuidados de saúde feitos nos últimos anos, o acesso à informação clínica continua a ser inadequado na maioria das situações, contribuindo para duplicar o seu esforço, os seus custos e reduzir a sua eficiência.(1) Melhoramentos na aquisição da informação clínica, bem como do seu armazenamento e partilha, são o objectivo primário na estratégia dos cuidados de saúde, sendo da máxima importância para o normal desenrolar do processo clínico inerente aos cuidados primários.(2) A noção de cuidados primários é um termo aplicado recentemente e que consiste no tipo de cuidados de saúde prestados geralmente pelo médico de família. Os cuidados primários são encontrados hoje em dia em centros de saúde que cumprem as necessidades de cuidados de saúde das comunidades (3) . Contudo, em detrimento da perspectiva médica, os cuidados primários devem ser definidos a partir da perspectiva do paciente, cuja tendência será de uma cada vez maior procura de informação, recorrendo a uma cada vez mais diversificada gama de fontes (4). Assim sendo, os médicos deverão abordar um paciente como um consumidor com certas necessidades comunicativas, que têm de ser satisfeitas.(5) Os meios tradicionais de acesso à informação médica são os outros médicos, a literatura e a contínua educação médica. Todas estas fontes têm vários inconvenientes - o primeiro problema, e talvez o mais importante, tem a ver com a não disponibilidade da informação já existente quando e onde é necessária. Neste seguimento, as mais recentes formas de acesso à informação necessária aos cuidados primários surgem como aplicações de software relacionadas com a clínica e aplicações de telemedicina, que procuram uma sinergia entre o vídeo e as telecomunicações, de maneira a assegurar o contacto médico–doente mais directo e facilitado.(2,6) Poucas inovações na história tiveram o potencial de mudarem tanto a nossa vida como o a Internet o tem agora. A Internet mudou definitivamente os meios segundo os quais a informação é obtida, sendo que a disponibilidade desta nova e prometedora fonte de informação também afecta a estratégia para o processo de decisão médica.(7) As novas tecnologias oferecem novas formas de aproximação à árdua tarefa de gestão da informação médica, uma vez que os médicos são, acima de tudo, gestores de informação. Eles deparam-se com informação relativa a diversas áreas, devendo integrá-la da melhor forma para prestarem os melhores cuidados possíveis aos seus pacientes. (8) Enfrentar este desafio envolve a compreensão da natureza do conhecimento médico, das diferentes necessidades de informação dos médicos e pacientes e de todo o processo de decisão clínica. (9) Acesso inadequado à informação clínica esforço custo eficiência Objectivo primário na estratégia dos cuidados de saúde: – [1] melhoramentos na aquisição de informação, seu armazenamento e partilha [2] cuidados primários cuidados prestados, em geral, pelo médico de família em centros de saúde [3] Introdução Os cuidados primários devem ser definidos da perspectiva dos pacientes procuram informação recorrendo a diversas fontes [4] devem ser vistos pelos médicos como consumidores (necessidades comunicativas) [5] Meios tradicionais de acesso a informação: – – – outros médicos literatura médica educação médica Principal inconveniente: – Não disponibilidade de informação existente quando e onde necessária Meios inovadores de acesso à informação: – – aplicações de software relacionadas com a clínica telemedicina contacto médico-doente facilitado [2], [6] Introdução Internet modificou meios como a informação é obtida afecta estratégia de decisão médica [7] Médicos Gestores de Informação • • • encontram informação integram-na prestam melhores cuidados aos pacientes [8] Métodos e participantes Todas as pesquisas aqui referidas foram efectuadas na PubMed, e o número de artigos encontrados é relativo à data da procura, e não à actual. 1as Pesquisas 1as pesquisas: – A 1ª pesquisa foi efectuada com recurso aos termos MeSH, da seguinte forma: «"Internet"[MeSH] AND "Primary Health Care"[MeSH]». Os resultados obtidos foram fracos, pois dos 192 artigos na altura existentes, apenas 5 ou 6 eram relevantes para o trabalho. Posteriormente, usámos a ferramenta da PubMed “Related Articles”, para procurar os artigos relacionados com o nosso artigo base: “The basis for using the Internet to support the information needs of primary care”. Desta pesquisa sairam 154 artigos, dos quais cerca de 20 eram relevantes. Dado que o número de artigos interessantes era ainda muito baixo (ainda assim melhor do que o que foi obtido com recursos aos MeSH), também esta pesquisa foi rejeitada. 192 artigos Métodos Finais A pesquisa final, bastante simples, consistiu, de novo na PubMed, em procurar «”Internet” AND “Primary Care”», ou seja, a mesma pesquisa inicial, sem os termos MeSH. Esta pesquisa, que seleccionou 282 artigos, foi eficaz a encontrar quase todos os artigos relevantes das pesquisas anteriores, e forneceu ainda muitos outros artigos interessantes. A partir destes 282 artigos, cada um deles foi sujeito a uma análise tripla (lido por 3 pessoas), na qual eram classificados de 1 a 5. Os artigos classificados com 1 e 2 eram seleccionados positivamente, sendo muito interessantes e adequados ao trabalho, respectivamente; 3,4 e 5 eram rejeitados (3- nada a ver com o trabalho; 4apenas o título estava disponível; 5- demasiado específicio para o trabalho). Obtivemos 75 artigos interessantes ou adequados. Destes 75, 21 eram acessíveis gratuitamente na PubMed. Para aceder aos outros recorremos a pedidos aos autores (recebemos destes 20 por mail e 6 por carta), procura nas bibliotecas da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Hospital de S. João (3 artigos), e requisição a outras bibliotecas de faculdades portuguesas (4 artigos). Finalmente, fomos incapazes de obter os restantes 21 artigos. Os 54 artigos que restaram foram lidos integralmente e sujeitos a um questionário, que consistia numa parte quantitativa, e outra, mais importante, qualitativa, onde eram registadas as observações mais relevantes do artigo em questão. A parte quantitativa foi introduzida no SPSS, para análise estatística, enquanto que a parte qualitativa sofreu exaustiva análise por parte de todo o grupo. «“Internet”[MeSH] AND “Primary Health Care”[MeSH]» 6 relevantes Pesquisa rejeitada – “Related articles” do artigo base: “The basis for using the Internet to support the information needs of primary care” [7] 154 artigos 20 relevantes Pesquisa rejeitada Métodos e participantes Pesquisa final: – «”Internet” AND “Primary Care”» (a primeira pesquisa, desta vez sem MeSH) 282 artigos sujeitos a análise tripla e classificados de 1 a 5 1 - artigo muito interessante 2 - artigo adequado ao trabalho 3 - artigo inadequado 4 - artigo só com o título disponível 5 - artigo demasiado específico 75 artigos interessante ou adequados • • • • • • 21 acessíveis gratuitamente na PubMed 20 obtidos por mail dos autores 6 obtidos por carta enviada pelos autores 3 obtidos nas bibliotecas da FMUP e HSJ 4 requisitados a bibliotecas de universidades portuguesas 21 impossíveis de obter Métodos e participantes 54 artigos lidos na íntegra e sujeitos a questionário - parte qualitativa (mais importante) sofreu exaustiva análise por todo o grupo - parte quantitativa introduzida no SPSS para análise estatística Resultados 7 - Opinião sobre a velocidade de acesso à Internet? Valid 24 44% Razoável Rápida Lenta 63% 29% 8% 9, 11, 22, 23, 24, 25, 33, 34, 36, 40, 41, 42, 50, 51, 56 13, 17, 28, 29, 31, 40, 46 12, 14 5 - Onde é feito o acesso à Internet? Valid 28 52% Casa Sala dos médicos/gabinete Sala de consulta Outros Nos locais onde se encontram, por portáteis e PDAs [9] 68% 50% 32% 18% 11, 13, 14, 21, 20, 22, 24, 25, 28, 32, 34, 36, 37, 39, 46, 49, 50, 51, 52 11, 14, 17, 21, 22, 24, 25, 28, 34, 40, 41, 49, 50 13, 14, 19, 22, 24, 25, 35, 40, 48 Resultados 6 - Quando utilizam a Internet? Valid 31 57% Fora da consulta Ambas Durante a consulta 61% 29% 10% 11 - Principais vantagens do uso da Internet? Valid 47 87% Pesquisa de informação actualizada 68% Ajuda no diagnóstico 45% Comunicação com pacientes Comunicação com colegas Procura de fármacos Outros 43% 30% 13% 21% E-mail e web-messaging [10, 11, 12] 12, 17, 20, 21, 26, 28, 32, 34, 36, 37, 39, 40, 41, 44, 46, 51, 52, 53, 54, 55 9, 11, 13, 19, 22, 24, 38, 42, 50 14, 18, 48 7, 9, 11, 13, 14, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 37, 40, 41, 43, 44, 46, 50, 52, 53, 54, 56, 58, 59 7, 9, 13, 14, 17, 20, 22, 24, 28, 33, 34, 35, 39, 42, 44, 45, 46, 47, 50, 52, 58 9, 10, 11, 12, 15, 18, 19, 21, 26, 36, 38, 40, 41, 46, 47, 48, 51, 52, 54, 59 9, 11, 17, 21, 22, 26, 31, 32, 38, 43, 46, 47, 53, 59 7, 13, 35, 43, 44, 58 Resultados 8- Quais as bases de dados mais utilizadas? Valid 22 41% Medline Motores generalistas Cochrane CINAHL Best Evidence EMBASE Health Reference Center Outros 55% 27% 18% 5% N/A N/A N/A 55% 7, 11, 13, 14, 30, 32, 35, 40, 47, 49, 56, 60 15, 29, 37, 40, 47, 60 13, 35, 47, 51 49 N/A N/A N/A - revistas médicas online [13] - Inforetriever - TRIPDatabase [14] 9- Aplicações práticas da Internet utilizadas? 41 Valid 76% Software médico Telemedicina Consulta Online Discussões Médicas Online Outros 49% 17% 17% 17% 40% 9, 11, 13, 17, 22, 23, 24, 27, 28, 31, 32, 33, 34, 35, 38, 41, 45, 46, 47, 50 7, 15, 27, 28, 38, 43, 47 15, 18, 28, 33, 38, 47, 51 17, 21, 28, 31, 33, 47, 58 - Sistemas de apoio à decisão [15] - e-mail para ensino da medicina [11] - web-messaging [10, 12] - bases de dados para: _ publicações; _ esclarecimento de dúvidas; _ procura de informação [14] Resultados 10- Principais dificuldades encontradas na navegação na Internet? 45 83% Valid Dificuldade em encontrar o que se procura Falta de credibilidade da informação obtida Dificuldade na pesquisa de informação Excesso de informação Lentidão no Acesso Outros 31% 7, 13, 14, 28, 34, 35, 40, 42, 49, 51, 52, 56, 58, 60 31% 10, 15, 19, 25, 26, 29, 31, 37, 39, 41, 43, 47, 50, 58 24% 22% 18% 33% 13, 23, 27, 30, 34, 35, 46, 49, 50, 58, 60 7, 13, 30, 31, 42, 44, 49, 51, 52, 53 9, 11, 12, 14, 24, 33, 49, 51 12 - Outros Meios de apoio aos Cuidados Primários para além da Internet? Valid 30 56% Livros Colegas Bibliotecas Médicas Conferências Faculdades Outros Revistas médicas online [13] 60% 40% 30% 20% 7% 17% - inexperiência [10] - falta de tempo [11] - custos elevados [15] - dificuldade de interpretação[14] - interrupções durante o processo pesquisa [14] - falta de opção multilingue [16] - necessidade de registo para aceder à maioria dos websites [17] 7, 9, 11, 13, 14, 15, 20, 22, 24, 25, 33, 43, 45, 47, 49, 50, 51, 59 7, 13, 14, 17, 22, 24, 28, 31, 35, 40, 49, 59 7, 20, 25, 32, 35, 41, 47, 51, 56 20, 24, 34, 40, 45, 50 45, 47 Discussão/Conclusão As primeiras pesquisas realizadas revelaram-se inadequadas ao objectivo do trabalho, apresentando um número muito reduzido de artigos interessantes. A pesquisa «“Internet”[MeSH] AND “Primary Health Care”[MeSH]», na PubMed, permitiu seleccionar 6 artigos relevantes de um total de 192. Assim, inferiu-se que a catalogação com termos MeSH de artigos relacionados com o tema em questão se revela pouco eficaz, não permitindo obter a totalidade dos artigos que realmente interessam nesta área. De acordo com os resultados obtidos, conclui-se que os profissionais de saúde consideram vantajoso o acesso à Internet e, consequentemente, visam a actualização dos seus conhecimentos com a informação disponível. Porém, o pouco tempo de que os médicos, enfermeiros, assistentes, entre outros profissionais, dispõem para se actualizarem constitui uma desvantagem. Outros inconvenientes apontados são a lentidão no acesso à Internet e a dispersão de informação. De maneira a ultrapassar estes problemas, uma das propostas indicadas pelos artigos é o treino do pessoal. Os últimos anos foram testemunhas do aumento do número de pacientes com acesso à Internet. Este facto teve repercussões ao nível da satisfação dos pacientes, que subiu, e ao nível da relação médico-doente, que sofreu melhorias consideráveis. Os pacientes preferem a comunicação on-line para renovar receitas médicas e obter respostas a questões médicas gerais, mas continuam a recorrer à comunicação pessoal para receberem instruções sobre tratamentos que poderão vir a ser aplicados. Admite-se que os cuidados de saúde estão cada vez mais centrados no paciente, sendo que, muitas vezes, este recebe incentivo médico para a pesquisa de informação na Internet. Note-se que a informação acedida pelos pacientes é, na maior parte dos casos, muito especializada podendo gerar insegurança entre os clínicos gerais. Este sentimento pode ser ultrapassado com pesquisas de informação efectuadas antes de novo contacto com o paciente. Apesar de os artigos seleccionados referirem que, além da Internet, os livros são, actualmente, a outra fonte preferencial de informação, é de prever que o computador e a Internet vão ganhando terreno, tendo em consideração as suas vantagens, nomeadamente, o seu baixo custo quando comparado com o custo da informação impressa. É do conhecimento geral que a Internet fornece uma quantidade astronómica de informação. A educação médica progride pela mão de muitos dos futuros e actuais profissionais de saúde que recorrem a essa informação, com vista a obtenção de apoio no diagnóstico e terapêutica a aplicar. Contudo, essa informação nem sempre está correcta, o que põe em causa a qualidade e credibilidade da mesma. Com base nos resultados obtidos, o software médico é a aplicação mais utilizada pelos profissionais de saúde, necessitando esta aplicação de ser mais divulgada, quer entre profissionais de saúde, quer entre pacientes. Todavia, alguns websites envolvem custos na manutenção dos mesmos, problema que se pretende ultrapassar com as melhorias requeridas pelos utilizadores, entre elas a extinção desses mesmos custos. Outro dos impasses apontados na consulta de websites é a barreira linguística. Concluindo, a Internet afigura-se como um meio de comunicação muito vantajoso no apoio aos cuidados primários, apresentando como principais vantagens facilidade e rapidez de acesso, conveniência espacial e temporal, fonte de informação para a educação médica e sua actualização, o que sugere que a sua utilização seja cada vez maior. Contudo, as desvantagens também estão presentes, sendo elas: os custos associados à manutenção dos websites, a dificuldade em encontrar o que se pretende, a necessidade de treino de pessoal e o facto de muita informação não ser, muitas vezes, sinónimo de boa informação. Primeira pesquisa: «“Internet”[MeSH] AND “Primary Health Care”»[MeSH] 6 artigos relevantes Infere-se que: a catalogação dos termos MeSH é pouco eficaz (para este tema) Discussão/Conclusão Nos últimos anos... Nº de pacientes com acesso à internet satisfação dos pacientes renovar receitas respostas a questões gerais Recebe incentivo para pesquisar na internet melhor relação médico-doente recorrem a comunicação online Cuidados de saúde centralizados no comunicação pessoal instruções sobre tratamentos paciente acede a informação muito especializada Discussão/Conclusão Além da internet, os livros são outra fonte preferencial de informação a informação electrónica é menos dispendiosa que a impressa A internet permite que a educação médica ocorra pesquisas sobre: – – diagnóstico terapêutica a aplicar Discussão/Conclusão Vantagens: – – – – – facilidade de acesso rapidez baixo custo principal fonte de informação conveniência espacial e temporal – comunicação online – meio auxiliar para a aprendizagem médica e sua actualização Desvantagens: – limitações no hardware e software (custos) – dificuldade em encontrar o que se procura – dispersão de informação – qualidade e credibilidade de informação – possível lentidão – barreira linguística – requer treino Agradecimentos O grupo gostaria de agradecer às seguintes entidades/pessoas: Serviço de Bioestatística e Informática da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Prof. Doutor Altamiro da Costa Pereira Doutor Ricardo Correia Referências bibliográficas 1. 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