A VERDADE É O SÍMBOLO
“No Universo tudo são símbolos,
desde as ervas até os astros.”
Um pensamento só é grande, quando pensado por um
grande homem, já disse alguém. Seria isso somente
referente aos pensamentos?
E uma verdadeira Obra humana, não é grande, quando
realizada por um humanus? Este é um desafio para a
inteligência. Um homem simples idealizou esta Obra,
há muito tempo. E apesar de todos os obstáculos e as
inerentes vicissitudes da vida ela vem sendo construída
como um destino.
Porém, infelizmente hoje vivemos sob a égide do
homem programado, o homem para o qual os
símbolos perderam seus conteúdos. Este ser robótico
que, qual um golem, é subordinado e subserviente às
mãos maldosas que o modelou, é tanto mais robótico à
proporção que as coisas são mudas para ele e seus
ouvidos estão surdos à linguagem da verdade.
A ele não importa a Obra, nem o ideal.
Entre os temas que maiores ocupações provocam hoje entre os filósofos,
um dos maiores é, sem dúvida, o das significações. Mas a significação
alcança o universal, porque todas as coisas significam algo. O universo
inteiro é um grande diálogo de símbolos e simbolizados.
O homem robótico, afastado da vida, que nele se mecanizou, e fugitivo de
si mesmo, quando retorna para si, o faz através de introversões, exterior e
neuroticamente através de introversões exacerbadas, quer gozar coisas,
apenas as coisas, na ilusão de que tê-las é gozá-las. Parece-me ver aquele
candidato à yuppie milionário cujo desejo faz com que sua imaginação
visualize um fantástico jardim virtual. Vejo através do raio-x de meus olhos
a miragem daquele jardim vazio de homens, povoado apenas de pássaros e
cães, onde, de vez em quando, a figura brejeira, mas mecanizada e
assalariada de um jardineiro se contrapõe à realidade e à vida dando uma
nota de morte, de pedra, de máquina, de fichário, de contabilidade, de
salário e caixa, de patrimônio, de imposto de renda, algo que me lembra
todo o caos materialista de uma melancólica e depressiva forma de vida.
Aquele yuppie de laptop em punho tem... tem tudo aquilo. E no decorrer
dos dias, ei-lo como raramente o vejo, apressado, nervoso, percorrer umas
alamedas, vestido cuidadosamente, acompanhado de uma mulher falando
ao celular esquisita, separada dele, subordinada, dois espíritos infinitamente
distantes e dois corpos aproximados, que um misto de asco, de
repugnância, de miséria humana, os une. E falam, e falam, e falam. Falam
das árvores, das plantas, dos pássaros que cantam, das folhas verdes que
revestem as árvores, das nuvens tênues que flutuam no azul do céu? Falam
de uma vida normal? Não, em verdade, falam de números, cifras, negócios,
dos prejuízos que tiveram e provocaram, do que ganharam e pretendem
ganhar, de como se vingaram ou como se vingarão. Pobre yuppie, cujo
jardim ele deseja ter, mas quem dele goza sou eu, com os meus olhos sem
ódio e sem ressentimentos. Poderia ser dele? Não! É daqueles pássaros, é
daqueles cães, é dos meus olhos sem ambição, que o gozam e o vivem e de
minhas narinas, que, de vez em quando, recebem o ar perfumado de vida,
que vem daquelas árvores e daquelas flores, é dos filhos que amam o pai. É
dos que vivem em harmonia com a natureza, não mentem e nem querem se
garantir materialmente, mas confiam.
O homem robótico é aquilo. Tem, e goza apenas
porque tem ou pensa ter. Mas gozar as coisas é vivêlas, vivendo a nós mesmos, e nós mesmos através das
coisas. Tê-las é senti-las plenamente. E as pessoas não
a sentem porque querem estampilhá-las com um título
de propriedade. Sentimo-las, quando as vivemos
através de nós e nós através delas.
Para o robótico tudo se despoja de significado. O
símbolo já nada significa.
Nietzsche, humildemente, usando um nós no qual ele
não se incluía obviamente, disse: "não compreendemos
a arquitetura, da mesma forma como não
compreendemos a música”.
Crescem os homens hoje fora da simbólica da geometria da
mesma forma que se dessensibilizaram dos efeitos sonoros
simbólicos do verbo, a ponto de já não alimentarem seu
espírito com este alimento espiritual que é o Verbo Divino.
Num templo grego ou cristão, tudo, a princípio, significava
alguma coisa, isto em relação com uma ordem de algo
superior: esta idéia de um significado inesgotável circula-o
como um véu encantado. A beleza encontrava-se
antigamente de um modo acessível refletindo essencialmente
o sentimento fundamental do sublime, de consagração pela
sintonia mágica com os deuses; a beleza superava
misteriosamente o "horror”. Que é para nós agora a beleza
de um templo? O mesmo que um belo rosto de uma mulher
sem espírito: algo como uma máscara.
Hoje os homens perderam, aos poucos, o caminho que os
leva a compreensão oculta dos símbolos. Perderam a iniciação,
transformando esta em moda: moda é a variação das formas
sem simbólica, são simplesmente as formas sem sentido.
E quando muitos artistas modernos buscam uma simbólica
intelectualizada, cerebral, rebuscada, esquecem-se do
principal: que o símbolo é místico, é sintônico, e está para a
sintonia como a paz está para Deus.
O símbolo, na literatura, não toma propriamente uma função
simbólica, mas apenas serve, no que é, de sinal para conteúdos
simplesmente lingüísticos, quando perde sua essência atômica
para exercer uma função apenas tensional.
Neste caso, o julgamento expresso por palavras de forma
inconsciente não reflete o valor do símbolo, limitando-se
apenas a uma expressão pensamental de efeito, deixando de
se tornar um símbolo pela sua efetiva ausência de
sentimento.
É o que podemos chamar de uma simbólica artificial, apenas
semi-ótica, na qual não se consegue visualizar a mensagem
do símbolo nem sentir a energia de seu significado. Por isso,
essa pseudo-simbólica que alguns artistas apresentam
necessita uma chave que a interprete, não só de uma chave
como de um agente capaz de utilizá-la a fim de desvelar o
hermético místico, cuja interpretação tem o dom de
conduzir cada um à compreensão, da qual existem apenas
alguns iniciados: o Mestre e seus discípulos.
FIM
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