Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação
Graduação em Biblioteconomia
CULTURA E INFORMAÇÃO
Professora
Adriana Bogliolo Sirihal Duarte
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Natureza humana?
• “Chorar é próprio da natureza humana.”
• “Homem não chora.”
• “É da natureza humana ter medo do desconhecido”
• “Ela é corajosa, não tem medo de nada.”
Natureza humana?
• “As mulheres são naturalmente frágeis e
sensíveis, porque nasceram para a
maternidade.”
• “Os homens são fortes e racionais, feitos
para o comando e para a vida pública.”
• “Fulana nem parece mulher. Veja como se
veste! Veja o emprego que arranjou!”
Natureza humana?
• Existe uma natureza humana, a mesma em todos os
tempos e lugares
mas
• Existe uma diferença de natureza entre homens e
mulheres, pobres e ricos, negros, índios, judeus, árabes,
franceses ou ingleses
• Existe uma natureza humana universal
e
• Existe uma natureza humana diferenciada por espécies,
à maneira da diferença entre várias espécies de plantas
ou de animais
Natureza humana?
• A Natureza teria feito o gênero humano universal e as
espécies humanas particulares.
• Dizer que alguma coisa é natural ou por natureza significa
dizer que essa coisa existe necessária e universalmente
como efeito de uma causa necessária e universal.
• Algumas das frases mencionadas são contraditórias e outras
não correspondem a fatos da realidade  os seres humanos
variam em conseqüências das condições sociais,
econômicas, políticas, históricas em que vivem.
• A idéia da natureza humana como algo universal, intemporal
e existente em si e por si mesma não se sustenta
cientificamente, filosoficamente e empiricamente, porque os
seres humanos são culturais ou históricos.
A cultura – Marilena Chauí
• “Pedro é muito culto, conhece várias línguas, entende de arte e de
literatura!”.
• “Imagine! É claro que o Luís não pode ocupar o cargo que pleiteia.
Não tem cultura nenhuma. E semi-analfabeto.”
• “Não creio que a cultura francesa ou alemã sejam superiores à
brasileira. Você acha que há alguma coisa superior a nossa música
popular?”
A cultura – Marilena Chauí
• “Ouvi uma conferência que criticava a cultura de massa, mas me
pareceu que a conferencista defendia a cultura de elite. Por isso
não concordei com ela”.
• “O livro de Silva sobre a cultura dos guaranis é bem interessante.
Aprendi que o modo como entendem a religião e a guerra é muito
diferente do nosso”.
Culto, inculto: cultura
• Cultura como posse de conhecimentos (qualidade de um indivíduo)
• Ter ou não ter cultura / ser ou não ser culto
• Cultura como qualidade de uma coletividade
• Cultura francesa, cultura alemã, cultura brasileira, etc.
• Cultura surge como algo que existe em si e por si mesma e que
pode ser comparada.
• Cultura apresentada por atividade artística
• Tipos diferentes de cultura numa mesma coletividade (cultura de
massa e cultura de elite – oposição entre formas de cultura
dependendo de sua origem e de sua destinação).
• Guerra e religião como manifestações de cultura.
A cultura – Roberto da Matta
• “Maria não tem cultura, é ignorante dos fatos básicos da política,
economia e literatura”.
• “Publiquei um livro sobre a cultura dos índios Apinayé de Goiás”.
• “Os franceses são cultos e civilizados, em oposição aos
americanos, que são ignorantes e grosseiros”.
• “Os índios estão na Idade da Pedra e se encontram em um estágio
cultural muito atrasado”.
Diferentes significados
• PERSONALIDADE
– Conjunto de traços que caracterizam os seres humanos
– Marco para algo desejável e invejável de uma pessoa
• CULTURA
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–
–
–
Referencial que marca uma hierarquia de “civilização”
Sinônimo de sofisticação, de sabedoria, de educação
A maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa.
Conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser
classificado.
Significados iniciais da noção de cultura
Primeiro sentido:
• Vinda do verbo latino colere, que significa cultivar, criar, tomar conta
e cuidar.
– Cuidado do homem com a natureza (agricultura)
– Cuidado dos homens com os deuses (culto)
– Cuidado com a alma e com o corpo das crianças, com sua educação e
sua formação (puericultura)
• A Cultura é uma segunda natureza que a educação e os costumes
acrescentam à primeira natureza, isto é, uma natureza adquirida,
que melhora, aperfeiçoa e desenvolve a natureza inata de cada um.
Significados iniciais da noção de cultura
Segundo sentido:
• A partir do sec. XVIII, Cultura passa a significar os resultados
daquela formação ou educação dos seres humanos, resultados
expressos em obras, feitos, ações e instituições: as artes, as
ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Torna-se
sinônimo de civilização.
• Separação e posterior oposição entre Natureza e Cultura. A
Natureza opera mecanicamente, de acordo com leis necessárias de
causa e efeito. O homem é dotado de liberdade e razão, agindo por
escolha, de acordo com valores e fins.
• A Natureza é o reino da necessidade causal, do determinismo cego.
A humanidade ou cultura é o reino da finalidade livre, das escolhas
racionais, dos valores, da distinção entre bem e mal, verdadeiro e
falso, justo e injusto, sagrado e profano, belo e feio.
Cultura e História
• Cultura passou a significar, em primeiro lugar, as obras humanas
que se exprimem numa civilização mas, em segundo lugar, a
relação que os humanos, socialmente organizados, estabelecem
com o tempo e com o espaço, com outros humanos e com a
Natureza, relações que se transformam e variam.
• A Natureza é o reino da repetição.
• A Cultura é o reino da transformação racional, portanto, é a
relação dos humanos com o tempo e no tempo.
• Hegel e, posteriormente, Marx enfatizaram a Cultura como História.
Cultura e História
Hegel
• O tempo é o modo como o Espírito Absoluto ou a razão se
manifesta e se desenvolve através das obras e instituições.
• A cada período de sua temporalidade, o Espírito ou razão engendra
uma Cultura determinada, que exprime o estágio de
desenvolvimento espiritual ou racional da humanidade.
Marx
• Hegel engana-se ao confundir a História-Cultura com a
manifestação do Espírito.
• A História-Cultura é o modo como, em condições determinadas e
não escolhidas, os homens produzem materialmente sua existência
e dão sentido a essa produção material.
• A História-Cultura não narra o movimento temporal do Espírito, mas
as lutas reais dos seres-humanos, reproduzindo relações sociais,
pelas quais distinguem-se da Natureza e diferenciam-se uns dos
outros em classes sociais antagônicas.
Cultura e Antropologia
• Os antropólogos buscam algo que demarque o
momento da separação humano-Natureza como
instante de surgimento da Cultura. Esse algo é uma
regra ou norma humana que opera como lei universal,
isto é, válida para todos os homens e para toda a
comunidade.
– Lei da proibição do incesto
– Lei da proibição do cru
Cultura e Antropologia
• A lei não é uma simples proibição para certas coisas e obrigação
para outras, mas é a afirmação de que os humanos são capazes de
criar uma ordem de existência que não é simplesmente natural
(física, biológica). Esta ordem é a ordem simbólica.
• Cultura é a invenção de uma ordem simbólica – nela e por ela os
humanos atribuem à realidade significações novas por meio das
quais são capazes de se relacionar com o ausente: pela palavra,
pelo trabalho, pela memória, pela diferenciação do tempo (passado,
presente, futuro), pela diferenciação do espaço (próximo, distante,
grande pequeno, alto baixo), pela diferenciação entre o visível e o
invisível (os deuses, o passado, o distante no espaço) e pela
atribuição de valores às coisas e aos homens (bom, mau, justo,
injusto, verdadeiro, falso, belo, feio, possível, impossível).
Principais manifestações do surgimento da Cultura
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Comunicação (por palavras, gestos, sinais, escrita, monumentos);
Trabalho (transformação da Natureza);
Relação com o tempo e o espaço enquanto valores;
Diferenciação entre sagrado e profano;
Determinação de regras e normas para a realização do desejo;
Percepção da morte e doação do sentido a ela;
Interdições e punição das transgressões;
Determinação da origem e da forma do poder legítimo e ilegítimo;
Criação de formas expressivas para a relação com o outro, com o
sagrado e com o tempo (dança, música, rituais, guerra, paz, pintura,
escultura, construção da habitação, culinária, tecelagem, vestuários,
etc.).
Sentidos da Cultura (em termos antropológicos)
• Criação da ordem simbólica da lei.
• Criação de uma ordem simbólica da linguagem, do
trabalho, do espaço, do tempo, do sagrado e do
profano, do visível e do invisível.
• Conjunto de práticas, comportamentos, ações e
instituições pelas quais os humanos se relacionam
entre si e com a Natureza, e dela se distinguem,
agindo sobre ela ou através dela, modificando-a.
Cultura ou culturas?
• Em um sentido antropológico, não falamos em Cultura,
no singular, mas em culturas, no plural, pois a lei, os
valores, as crenças, as práticas e as instituições variam
de formação social para formação social.
• Além disso, uma mesma sociedade, por ser temporal e
histórica, passa por transformações culturais amplas e,
sob esse aspecto, antropologia e História se completam.
• Ao sentido histórico-antropológico amplo, podemos
acrescentar um outro, restrito, ligado ao antigo sentido
de cultivo do espírito: A Cultura como criação de obras
da sensibilidade e da imaginação – obras de arte – e
como criação de obras da inteligência e da reflexão –
obras do pensamento.
Conceitos versus preconceitos
Cultura é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de
práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa,
intelectual e artística.
Cultura como invenção da
relação com o Outro.
Cultura é um mapa, um receituário, um código através do qual as
pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e
modificam o mundo e a si mesmas.

Frases de nosso cotidiano sobre “cultos” e “incultos” indicam
preconceitos e não conceitos: ignoram que todos os humanos são
cultos, pois todos são seres culturais; reduzem a cultura à escola e
às belas artes; usam a cultura como instrumento de discriminação
social, econômica e política.
Cultura das Comunidades x Cultura das Sociedades
Comunidade
Sociedade
Grupo ou coletividade onde as
pessoas se conhecem, possuem
contatos cotidianos, compartilham
mesmos sentimentos e idéias e
possuem um destino comum.
Coletividade internamente dividida em
grupos e classes sociais e na qual há
indivíduos isolados dos outros. Seus
membros não se conhecem pessoalmente
nem intimamente.
Tempo possui ritmo lento,
Transformações são constantes e velozes,
transformações são raras (e, em
causadas pelas lutas e pelas divisões
geral, causadas por acontecimento internas  É histórica
externo que as afeta)  Está na
História
Baseia-se em mitos fundadores
Há diferentes explicações para o
surgimento, a forma e as transformações
sociais.
Mesma Cultura para todos os seus Diferentes classes sociais produzem
membros.
culturas diferentes e mesmo antagônicas 
IDEOLOGIA: resultado da imposição da
cultura dos dominantes à sociedade inteira.
Referências:
1.
CHAUÍ, Marilena. A Cultura. In: _______. Convite à Filosofia. 5.
ed. São Paulo: Ática, 1995. Cap. 8. p. 288-296.
2.
DA MATTA, Roberto. Você tem cultura? In: _________.
Explorações: ensaios de sociologia interpretativa. Rio de Janeiro:
Rocco, 1986. p. 121-128.
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