Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) Minicurso – Cristalografia e Difração de Raios-X Segunda aula: Interações de Raios-x com a Matéria Laudo Barbosa (07 de Novembro, 2006) 1 Plano de apresentação • Espalhamento Thomson, Efeito Compton, Efeito Fotoelétrico • Espalhamento de raios-x por uma, duas e n partículas • Difração de raios-x por um arranjo linear de partículas (Condições de Laue, Lei de Bragg) • Difração por um cristal 2 Espalhamento Outra possibilidade Uma possibilidade p1 p1 p2 p2 • Há diversas possibilidades de interação entre partículas (colisão elástica, colisão inelástica, fusão, fissão, desintegração... ) • Cada interação tem uma probabilidade de ocorrência • A probabilidade depende, em geral, da energia e das características de cada partícula envolvida na interação • A probabilidade específica para uma interação é chamada Seção de Choque • O resultado efetivo das interações é naturalmente relacionado com a Seção de Choque NOTA: na descrição física mais rigorosa, não se fala mais em campos, pois o próprio campo é composto por partículas. Também não se calculam valores exatos, somente probabilidades 3 Raios-X (interação de fóton com elétron) Espalhamento Thomson ( = “clássico”) Ef E Ef Processo análogo E • O campo elétromagnético (fóton) leva o elétron a oscilar em sua órbita • A oscilação implica aceleração/desaceleração • Elétrons acelerados emitem radiação • A radiação emitida tem a mesma frequência da incidente (coerente) 4 Raios-X (interação de fóton com elétron) Espalhamento Compton Ef >> E Ef E λ2 > λ1 λ1 • A energia do fóton é muito maior que a energia de ligação do elétron • Portanto, é como se o elétron estivesse “livre” • Ocorre colisão inelástica • O elétron adquire energia, o fóton perde energia 5 Raios-X (interação de fóton com elétron) Efeito fotoelétrico Ef > E Ef E • A energia do fóton é apenas maior que a energia de ligação do elétron • O elétron adquire (absorve) a energia do fóton • Com o excesso de energia, o elétron se desprende do átomo • O fóton desaparece 6 Produção de pares Produção de Par elétron-pósitron Ef > mec2 (512keV) Ef • A energia do fóton é suficiente para “materializar” um elétron e um pósitron • O núcleo do átomo adquire momento de recuo • O fóton desaparece (aniquilação) 7 Interação de fótons com a matéria m/r (cm2/g) Resumo Compartivo das seções de choque 10 4 10 3 10 2 10 1 10 0 10 -1 10 -2 10 -3 1x10 -4 1x10 -5 10 -6 10 -7 10 -8 10 -9 10 Espalhamento Compton Efeito fotoelétrico Produção de pares Total -10 10 0 10 1 10 2 10 3 10 4 10 5 10 6 10 7 10 8 Energia (keV) http://physics.nist.gov/PhysRefData/Xcom/Text/XCOM.html Para a difração de raios-x, o efeito relevante é o espalhamento coerente (Thomson) 8 Espalhamento (coerente) por uma partícula Conforme já foi mostrado, o campo elétrico se exprime como uma soma infinita (integral) de termos: E ( x, t ) 1 2 i ( k . x t ) d dk F (k , )e Cada um dos termos se refere a um comprimento de onda específico, e contribui com amplitude F = F(k,) Consideremos o caso de uma onda monocromática, de amplitude constante E ( x, t ) A 1 2 1 2 i ( k . x t ) d dk F (k , )e 1 2 i ( k . x t ) F (k , )e 1 2 ik . x it F (k , )e e Ae2ivt Yo F (k , )e ik . x ; 2v Podemos calcular o espalhamento da onda Yo por uma partícula carregada (elétron) 9 Espalhamento (coerente) por uma partícula Pergunta-se: qual é a amplitude Y da onda espalhada devido à incidência de Yo sobre um elétron ? O ^ So 2 P ^ S D Encontra-se: Y f A D 2 e 2iv ( t Dc ) i s ( 2 , D )e 2ivt 2i D i s • A amplitude da onda espalhada depende do ângulo e cai com 1/D • A intensidade [ |Y|2 ] da onda espalhada cai com 1/D2 • A onda espalhada chega ao ponto P depois de um intervalo de tempo D/c • A onda espalhada é defasada por um fator αs relativamente à onda incidente 10 Espalhamento (coerente) por duas partículas Pergunta-se: qual é a amplitude Y da onda espalhada devido à incidência de Yo sobre dois elétrons ? ^ O2 O2 O2 So ^ O1 ^ ^ r So 2 O1 S ^ S P ^ So O1 ^ S D Diferença de caminho óptico: r.Sˆo r.Sˆ Encontra-se: Y Y1 Y2 ( 2 , D )e Y ( 2 , D )e 2ivt 2i D i s ( 2 , D )e 1 e e 1 e f 1 e ; 2ivt2i D i s 2i (2 , D) 2ivt 2i D i s 2i 2ivt2i D i s Como r << D 2 2 (2 , D) f A 2 D 2i A 2 D 2irˆ . sˆ ˆ ˆ S S onde sˆ o O ângulo de espalhamento é o mesmo para as duas partículas 11 Espalhamento (coerente) por n partículas Por extensão deste raciocínio, podemos calcular o espalhamento devido a várias partículas, não necessariamente idênticas. O único que muda é o termo referente à amplitude de espalhamento para cada partícula, . As contribuições individuais de cada partícula se somam: (2 , D) j n 1 (2 , D) e j 0 2ir j . s j j n 1 A D ( f ) e j 0 j n 1 2 ir . s ( 2ivt 2i Yn (2 , D, t ) ( f 2 ) j e e j 0 A D Intensidade | Yn j 2 j D i s 2 ir j . s ) |2 • A intensidade do espalhamento é o que efetivamente se mede. • Nesta medida estão “embutidas” as informações sobre estrutura rj. • Idealmente, uma medida complementar deveria prover a informação sobre a fase, para se chegar à disposição espacial das partículas (“problema da fase”) 12 Difração por um arranjo linear de partículas Porquê “Difração” ? • Como o espalhamento é coerente, cada centro espalhador (elétron, partícula) atua como re-emissor da onda incidente. • Num dado ponto de observação, as contribuições de cada centro re-emissor se somam (interferem) • A interferência pode ser construtiva ou destrutiva • O fenômeno é chamado de difração, em alusão ao que ocorre com as ondas. 13 n partículas regularmente espaçadas So a n.a << D n 1 2 S Tomamos a expressão genérica, para o espalhamento de n partículas, com rj = j.a n 1 An f 2 q e q 0 A D 2iqa . s n 1 A D f 2 e 2iqa.s q 0 Os termos do somatório estão em progressão geométrica, de razão e2ias Sn a Ao 1 q n o 1 q A D An Ao f 2 ; x a.s 1 e 2 inx 1 e 2 ix 14 n partículas regularmente espaçadas A intensidade do espalhamento numa dada direção é dada por: I n An An An Ao 2 * f n ( x) onde: 2 sen 2 (nx ) sen (x ) 2 Ao f n ( x) 2 sen 2 (nx ) sen 2 (x ) 10 f(x) n=3 5 0 -2,0 30 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 n=5 f(x) 20 10 0 f(x) -2,0 100 80 60 40 20 0 -1,5 n=10 -2,0 -1,5 x Para um número muito grande de partículas, fn(x) só é significativa quando x é um número inteiro 15 Condição de Laue A condição para que a intensidade difratada seja significativa é: x a.s m ( m inteiro) S S a a. sen(2 ) sen m o (para ψ 0o ) a sen 2 m Intensidade (*) Lembra a Lei de Bragg x 16 Difração por um cristal Um cristal é, por definição, uma rede de centros espalhadores, distribuídos regularmente num arranjo periódico sobre as três direções espaciais Portanto, a posição de cada um dos centros espalhadores de um cristal pode ser especificada por: r ua vb wc (u, v, w inteiros) A mesma análise usada no caso unidimensional se aplica, estendida a três dimensões. Chegamos a uma expressão que envolve o produto de três somatórios: n1 1 n2 1 n3 1 An1n2n3 u 0 e n 0 w 0 2i ( ua vb wc ). s e u ,v , w 2ir .s 17 Difração por um cristal Em vez de apenas uma, temos, para o cristal, três “Condições de Laue”: a.s h b .s k c.s l ( h,k,l inteiros) Existe um vetor que, substituindo s, satisfaz simultaneamente as três condições * h (bc ) k ( ca )l ( ab ) r |a|.|b |.|c | (vetor de rede recíproca) Portanto, as condições de Laue se reduzem a: s r* 18 Difração por um cristal • Verifica-se que o vetor de rede recíproca é normal ao plano hu+kv+lw=1 • Verifica-se que o módulo deste vetor é 1/dhkl, onde dhkl é a distância entre o plano e a origem • dhkl é também a distância entre planos paralelos a este e adjacentes: hu+kv+lw=n, n inteiro w v 1/v 1/w u 1/u dhkl Tomando o valor absoluto dos dois vetores, obtemos: 2 sen 2 S/λ s So /λ d1h kl Lei de Bragg 19 Outra maneira de se deduzir a Lei de Bragg d Família de planos A diferença de caminho óptico para o feixe refletido é: 2dsen Nas direções em que a diferença de caminho óptico é múltiplo de λ tem-se interferência construtiva 2dsen n 20