Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – FAMEV – Cuiabá – MT Departamento de Clínica Médica Veterinária - CLIMEV TORÇÃO UTERINA EM ÉGUA: RELATO DE CASO Regina de Cássia Veronezi, Caroline Argenta Pescador, Fabiana Boiabaid, Daniel Ubiali, Flávio Bravim Caldeira, Edson Moleta Colodel INTRODUÇÃO A torção de útero tem sido relatada como causa de cólica em éguas, como problema primário ou secundário a uma alteração gastrintestinal, sendo considerada grave devido à alta taxa de mortalidade materna e fetal. A afecção ocorre normalmente no último trimestre da gestação, sendo mais grave nos casos de torção acima de 180 graus e em éguas com gestação igual ou superior a 320 dias. Normalmente, as éguas exibem sinais de dor abdominal, que pode variar de leve a severa, dependendo do grau de rotação. As causas que desencadeiam a afecção não estão completamente elucidadas. Entretanto, o desenvolvimento da gestação em apenas um corno uterino, rolamento agressivo ou trauma, episódios de cólica e movimentação da égua próxima ao parto, são fatores apontados como causas para a torção uterina. Figura 1. Torção do corpo do útero de 360 graus. RELATO DE CASO Trata-se de uma égua Quarto de Milha, de 18 anos, com aproximadamente 450 kg e 320 dias de gestação, que apresentou torção uterina e veio a óbito durante o transporte. Previamente ao embarque o animal estava bem, sem história de desconforto abdominal ou alteração uterina. Após 03 horas de viagem, o animal começou a se debater no trailer, e aproximadamente 40 minutos depois, apresentou quadro clínico de desconforto abdominal agudo severo, com sudorese intensa, tremores musculares, movimento de olhar para os flancos, decúbito, rolamento, taquicardia e dispnéia. Logo após o início do quadro, a égua veio a óbito, e foi conduzida ao Hospital Veterinário da UFMT para realização do exame de necropsia. No exame externo, foi observada intensa distensão abdominal e escaras na região supraorbitária e sob o íleo, bilateral. Secreção ou sangramento vaginal, edema vulvar ou insinuação fetal não foram observadas. Na abertura da cavidade abdominal foi constatado: líquido peritoneal alaranjado e turvo, e torção do corpo do útero de 360 graus no sentido horário, anterior à cervix. A parede do útero estava edemaciada e enegrecida, com intensa congestão vascular, hemorragia e necrose (Figuras 1, 2, 3). O cordão umbilical e a placenta também apresentavam edema, congestão e necrose. O feto estava em apresentação dorsoventral longitudinal, com a cabeça parcialmente entre os membros torácicos, e com presença de pequena quantidade de mecônio na região perianal. O trato gastrointestinal da égua estava normal, com pouco conteúdo alimentar e gás, e posicionado anatomicamente, com presença de poucas síbalas na ampola retal e cólon menor. Os demais órgãos abdominais da égua não apresentavam alterações, assim como os da cavidade torácica e o encéfalo. Microscopicamente, a lesão mais significativa foi observada no útero caracterizada por necrose e hemorragia focalmente extensa da mucosa. 2 3 Figuras 2 e 3. Parede uterina edemaciada, enegrecida, com intensa congestão vascular, hemorragia e necrose DISCUSSÃO E CONCLUSÃO A torção do útero deve ser considerada uma emergência para a égua e o feto, especialmente nos casos de rotação de 360 graus em éguas com período gestacional de 320 dias ou mais, devido à ruptura do suprimento sanguíneo do órgão e à dor severa. Nestes casos, o prognóstico é ruim, com alta taxa de mortalidade materna e fetal. Sinais de desconforto abdominal em éguas submetidas a transporte no final da gestação sugerem torção uterina, a qual deve ser considerada como diagnóstico diferencial. A idade gestacional, o grau de rotação e o diagnóstico precoce, influenciam no prognóstico de sobrevivência da égua e do feto. O presente relato é importante para ressaltar a ocorrência dessa afecção, bem como seus fatores predisponentes, e enfatizar a necessidade de prevenção através do manejo adequado de éguas prenhes. 4 REFERÊNCIAS BARBER, S.M. Torsion of the uterus. Canadian Veterinary Journal, v.20, 165-7, 1979. BYARS, T. D. Miscellaneous Acute Abdominal Diseases. In: WHITE, N. A. The Equine Acute Abdomen. Lea & Febiger, Philadelphia, 1990. C. 10.6, p. 417-418. CHANEY, K.P.; HOLCOMBE, S.J.; LEBLANC, M.M. et al. The effect of uterine torsion on mare and foal survival: a retrospective study, 1985-2005. Equine Veterinary Journal, v.39, n.1, p.33-36, 2007. FREEMAN, D.E. Peripartum colic. Proceedings of the NAVC North American Veterinary Conference, Orlando, Florida, 2005. HANSON, R.R. Reproductive emergencies in the mare. Proceedings of the NAVC North American Veterinary Conference, Orlando, Florida, 2005. LEBLANC, M.M. Commom peripartum problems in the mare. Journal of Equine Veterinary Science, v. 28, n. 11, p. 709-15, 2008.. MCKINNON, A.O. Selected Reproductive Surgery of the Broodmare. Proceedings of the 11th Annual Resort Symposium of the American Association of Equine Practtitioners AAEP, Gold Coast, Australia, 2009. SANTSCHI, E. M. Prepartum conditions. In: ROBINSON, N. E. Current Therapy in Equine Medicine. 4 ed. W.B. Saunders Company: Philadelphia, 2005. c. 12, p. 543. 5 STEEL, C.M.; GIBSON, K.T. Colic in the pregnant and periparturient mare. Equine Veterinary Education, v.13, n.2, p.94-104, 2001. TIBARY, A.; FITE, C.; BAKKOURY, S.M. Pregnancy complications and evaluation for fetal well-being. Proceedings of the 9th International Congress of Word Equine Veterinary Association, 2006, Marrakech, Morocco. Figura 4 e 5. Feto em apresentação dorso-ventral longitudinal e presença de mecônio na região perianal