RENATA AZEVEDO DE ABREU
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO EM CLÍNICA
MÉDICA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
SOBRE ENDOMETRITE NA ÉGUA
CURITIBA
2010
RENATA AZEVEDO DE ABREU
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE
CLÍNICA MÉDICA E REPRODUÇÃO DE EQÜINOS E REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA SOBRE ENDOMETRITE NA ÉGUA
Trabalho apresentado para conclusão
do Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Federal do Paraná.
Supervisor: Prof. Dr. Romildo Romualdo
Weiss
Orientadores: Profª Maristela Silveira
Palhares e M.V. Mário César Garcia
Duarte
CURITIBA
2010
Dedico este trabalho aos meus pais,
que são meu porto seguro, sempre
me incentivando e apoiando para a
realização deste sonho.
Agradeço...
A Deus, pela presença constante em minha vida e por mais esse sonho
realizado.
Aos meus pais, Antonio e Nilza, por sempre me incentivarem e me
apoiarem em todos os momentos, pelos ensinamentos, pelos conselhos, por
todos os esforços realizados para eu conseguir chegar até aqui. Amo muito
vocês!
Ao meu irmão, Renan e aos meus tios e tias, pelo apoio e incentivo.
As professoras Maristela Silveira Palhares e Renata Maranhão e aos
residentes da Clínica de Equinos da UFMG, Lívia e Filipe, pela orientação,
confiança, amizade e aprendizado.
Aos estagiários, em especial, Fábio, Maria, Zé, Fernando, Pedro, Pati e
Antonio, pela companhia, amizade e risadas.
Aos mestrandos e doutorandos da UFMG, em especial, Isabel, Patricia,
Priscila, Cíntia, Ubiratan, pela ajuda e ensinamentos. E à mestranda Tatiana
Cabreira, pelos ensinamentos e pelas risadas.
As meninas que me acolheram em Belo Horizonte e me fizeram sentir
em casa, Cinthia, Jan e Fer, obrigada pela amizade, ajuda e companhia.
Aos veterinários da Genetic Jump, Mário, Marília, Ricardo e Igor, pela
orientação e pelos ensinamentos.
Aos funcionários da UFPR, em especial, Dorly e Dito, por sempre
estarem dispostos a ajudar.
A todos os professores da Universidade Federal do Paraná, que
contribuíram para minha formação profissional, em especial, à Prof.ª Priscilla R.
Muradás, pela amizade, pelos ensinamentos, por estar sempre disposta a
ajudar.
Ao meu supervisor, Prof. Dr. Romildo Romualdo Weiss, pela confiança
depositada, pelos ensinamentos, pela amizade, pelas orientações.
À turma Mayron Tobias da Luz, em especial, Day, Paola, Mari, Anne,
Kerriel, pela amizade nesses cinco anos, por estarem sempre presentes, pelas
palhaçadas.
Muito obrigada!!!
“No semblante de um animal, que não fala, há um
discurso que somente um espírito sábio entende”.
Mahatma Ghandi
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS..........................................................................
vii
LISTA DE FIGURAS......................................................................................
viii
LISTA DE QUADROS.................................................................................... ix
LISTA DE TABELAS...................................................................................... x
RESUMO.......................................................................................................
xi
PARTE I – RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR
CLÍNICA MÉDICA E REPRODUÇÃO DE EQÜINOS
1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 12
2. OBJETIVO GERAL DO ESTÁGIO............................................................ 13
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO............................................
13
3. DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO...................................................................... 14
3.1 ESCOLA DE VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
MINAS GERAIS............................................................................................
14
3.1.1 Estrutura física......................................................................................
15
3.1.2 Descrição das atividades......................................................................
16
3.1.3 DISCUSSÃO........................................................................................ 20
3.2 CENTRAL DE REPRODUÇÃO EQÜINA – GENETIC JUMP/ HARAS
FAZENDA SANTA MARIA............................................................................
21
3.2.1 Estrutura física...................................................................................... 22
3.2.2. Descrição das atividades..................................................................... 23
3.2.3 DISCUSSÃO........................................................................................
26
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................
27
5. PARTE II – REVISÃO DE LITERATURA
ENDOMETRITE NA ÉGUA
RESUMO.....................................................................................................
28
ABSTRACT.................................................................................................. 29
5.1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 30
v
5.2 MECANISMOS DE DEFESA UTERINA................................................ 30
5.2.1 Resposta celular.................................................................................
32
5.2.2 Resposta humoral............................................................................... 32
5.2.3 Defesa física.......................................................................................
33
5.2.4 Ação do plasma seminal..................................................................... 34
5.3. ÉGUAS SUSCEPTÍVEIS x ÉGUAS RESISTENTES...........................
35
5.4. CLASSIFICAÇÃO E ETIOPATOGENIA DA ENDOMETRITE
36
EQÜINA.......................................................................................................
5.4.1. Endometrite Persistente Pós - Cobertura (EPPC).............................
36
5.4.2. Endometrite Infecciosa Crônica.........................................................
37
5.4.3. Endometrite Crônica Degenerativa (Endometriose)..........................
39
5.4.4. Endometrite Causada por Bactérias Sexualmente Transmissíveis...
39
5.5. DIAGNÓSTICO..................................................................................... 40
5.5.1. Histórico e exames preventivos.........................................................
40
5.5.2. Palpação transretal, ultrassonografia e vaginoscopia.......................
41
5.5.3. Citologia uterina.................................................................................
42
5.5.4. Cultura uterina...................................................................................
43
5.5.5. Histopatologia....................................................................................
43
5.6. TRATAMENTO DAS ENDOMETRITES..............................................
45
5.6.1. Terapia pós-cobertura.......................................................................
46
5.6.1.1 Acúmulo de fluido uterino após cobertura.......................................
47
5.6.1.1.1. Lavagem uterina..........................................................................
47
5.6.2. Terapia antibiótica intra-uterina.........................................................
48
5.6.3. Mucolíticos.........................................................................................
50
5.6.4. Corticóides.........................................................................................
50
5.6.5. Imunoterapia......................................................................................
51
5.6.6. Outras terapias uterinas....................................................................
52
6. CONCLUSÃO.......................................................................................... 53
7. REFERÊNCIAS.......................................................................................
vi
54
LISTA DE ABREVIATURAS
EV
Escola de Veterinária
UFMG
Universidade Federal de Minas Gerais
PGF2α
Prostaglandina F2α
EPPC
Endometrite Persistente Pós- Cobertura
UI
Unidade Internacional
CIM
Concentração Mínima Inibitória
G
Gramas
Mg
Miligramas
Ml
Mililitros
Kg
Quilogramas
hCG
Gonadotrofina Coriônica Humana
DMSO
Dimetilsulfóxido
NAC
N-acetilcisteína
IM
Intramuscular
IV
Intravenosa
CNA
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
vii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1- A. Vista externa da Escola de Veterinária da UFMG. B. Pátio da
Veterinária. C e D. Vista externa do galpão C de Equinos da EV/UFMG.......
14
FIGURA 2- Áreas do Hospital Veterinário da UFMG. E e F- Troncos de
contenção da Clínica de Equinos. G- Andador de equinos. H- Redondel......
15
FIGURA 3- Estrutura Física da Genetic Jump. I- Vista externa da entrada da
Central. J- Vista externa da sede. K- Tronco de contenção. L- Área de
coleta de sêmen. M- Laboratório. N- Comedouro............................................ 21
FIGURA 4- Estrutura Física da Genetic Jump. O- Cocheira dos garanhões.
P- Coleta de sêmen de garanhão com vagina artificial. Q- Confinamento
das receptoras. R- Tronco para receptoras. S- Cocheira das doadoras. TPiquete para doadoras....................................................................................
23
FIGURA 5- Égua susceptível, 20 anos, conformação anormal da vulva,
atendida em setembro de 2010, na Genetic Jump..........................................
viii
36
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 -Classificação ultrassonográfica do fluido uterino, de acordo
com Melo et al. (2008)...................................................................................
41
QUADRO 2- Drogas recomendadas, por via intra- uterina, para tratamento
da endometrite, fonte Causey (2007)............................................................
49
QUADRO 3- Dosagem de antibióticos antifúngicos recomendados por via
intra-uterina, fonte Dascanio (2007)..............................................................
ix
49
LISTA DE TABELAS
TABELA 1- Casos clínicos, classificados por sistemas acometidos, observados
durante o estágio curricular supervisionado, no período de 26 de julho a 27 de
agosto na Clínica de Equinos do Hospital Veterinário da EV/UFMG................17
TABELA
2-
Casos
clínicos
de
acordo
com
o
sistema
acometido,
acompanhados durante o estágio curricular supervisionado, no período de 26
de julho a 27 de agosto na Clínica de Equinos do Hospital Veterinário da
EV/UFMG...........................................................................................................18
TABELA 3- Casos diagnosticados de Abdômen Agudo no período de 26 de
julho a 27 de agosto de 2010 na Clínica de Equinos do Hospital Veterinário da
EV/UFMG...........................................................................................................19
TABELA 4- Exames complementares acompanhados no período de 26 de julho
a 27 de agosto de 2010 na Clínica de Equinos do Hospital Veterinário da
EV/UFMG...........................................................................................................19
TABELA 5- Procedimentos acompanhados durante o estágio curricular
supervisionado no período de 26 de julho a 27 de agosto de 2010 na Clínica de
Equinos do Hospital Veterinário da EV/UFMG..................................................20
TABELA 6- Relação das atividades acompanhadas na Central Genetic Jump,
Itapetininga – SP, no período de 1º de setembro a 1º de outubro de
2010...................................................................................................................25
TABELA 7- Relação das atividades acompanhadas em propriedades
particulares, durante o período de 1º de setembro a 1º de outubro de
2010...................................................................................................................25
TABELA 8- Relação das atividades realizadas referentes ao manejo, na Central
Genetic Jump, durante o período de 1º de setembro a 1º de outubro de
2010...................................................................................................................26
x
RESUMO
O Brasil, atualmente, possui o quarto maior rebanho equino do mundo, com 5,8
milhões de cabeças, de acordo, com a Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), atrás dos Estados Unidos, China e México. O fortalecimento
da atividade exige cada vez mais profissionais capacitados para atender as
necessidades deste setor. O presente relatório se refere à realização de
estágio curricular obrigatório realizado, a primeira parte, na Clínica de Eqüinos
da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais,
em Belo Horizonte- MG, e a segunda parte, na Central de Reprodução Equina,
Genetic Jump, Itapetininga- SP. As escolhas das áreas de estágio tiveram o
objetivo de aprimorar os conhecimentos teóricos e práticos na clínica médica e
na reprodução de eqüinos, promovendo um crescimento profissional e pessoal,
possibilitando o contato com profissionais da área, aprendendo diferentes
condutas terapêuticas. Este relatório apresenta as atividades desenvolvidas
durante o período de estágio nas diferentes instituições e uma revisão
bibliográfica sobre endometrite na égua, visto que essa é uma das principais
causas de infertilidade nesta espécie animal, ocasionando grandes perdas
econômicas na eqüideocultura.
xi
12
PARTE I- RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR
CLÍNICA MÉDICA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS
1. INTRODUÇÃO
O presente relatório refere-se ao estágio curricular obrigatório
supervisionado do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do
Paraná. O estágio foi realizado em duas etapas, a primeira foi na Clínica
Médica de Eqüinos da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), durante o período de 26 de julho a 27 de agosto de
2010, totalizando 200 horas. Além de participações nos plantões, em casos de
emergências e nos finais de semana, quando necessário. O estágio foi sob a
orientação da Professora Maristela Silveira Palhares.
A segunda etapa do estágio foi realizada na Central de Reprodução
Equina, Genetic Jump, durante o período de 1º de setembro a 1º de outubro de
2010, num total de 160 horas, sob orientação do Médico Veterinário Mário
César Garcia Duarte.
A escolha pelas áreas do estágio ocorreu devido ao grande interesse e
admiração pelos equinos, sentimento este que foi crescendo desde o início da
faculdade, sendo a área da reprodução equina a que mais me atrai. E apesar
disso, considero importante o conhecimento sobre a clínica médica de eqüinos
para uma completa formação no exercício da Medicina Veterinária nesta
espécie.
Os locais do estágio foram escolhidos com a ajuda do professor
supervisor e de profissionais da área, de acordo com a casuística, nível dos
profissionais e das instituições e, também da disponibilidade de receber
estagiários.
A supervisão do estágio curricular obrigatório foi realizada pelo Prof. Dr.
Romildo Romualdo Weiss.
13
2. OBJETIVO GERAL
O objetivo do estágio foi o aprimoramento teórico e prático dos
conhecimentos adquiridos durante o curso de Graduação em Medicina
Veterinária, nas áreas de Clínica Médica e de Reprodução de Equinos.
2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO
Os objetivos específicos constituíram o acompanhamento clínico dos
animais, envolvendo condutas clínicas, prescrições terapêuticas, aplicadas nas
mais diversas situações, em outra instituição de ensino e também acompanhar
a rotina das atividades desenvolvidas em uma central de reprodução.
14
3. DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO
3.1 ESCOLA DE VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS
GERAIS
A Escola de Veterinária foi fundada em 1932. Esta localizada no
campus da Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais. É composta pelos
departamentos de Clínica e Cirurgia Veterinárias, Medicina Veterinária
Preventiva, Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal e Zootecnia,
Hospital Veterinário, duas Fazendas Experimentais e Biblioteca, além de
setores administrativos.
O Hospital Veterinário da UFMG é constituído pelos setores de Clínica
Médica, Clínica Cirúrgica, Patologia e Reprodução. A Clínica de Equinos situase no galpão C de Equinos, junto com a Clínica Cirúrgica de Equinos.
FIGURA 1- A- Vista externa da Escola de Veterinária da UFMG. B- Pátio da
Veterinária. C e D- Vista externa do galpão C de Eqüinos da EV/UFMG.
Foto: Arquivo pessoal.
15
O setor de Clínica de Equinos possui dois residentes, além de pósgraduandos, com projetos de pesquisa em andamento. O atendimento era
realizado de segunda à sexta-feira em horário comercial, porém com
atendimentos emergenciais 24 horas por dia, incluindo finais de semana. O
atendimento era realizado ou supervisionado pelos docentes da instituição.
3.1.1 Estrutura física
O galpão de Equinos compreende vinte baias, sendo dezesseis
pertencentes à Clínica Médica e quatro pertencentes à Clínica Cirúrgica,
farmácia, quatro troncos de contenção para equinos, sendo três da Clínica
Médica, sala de cabrestos, sala dos residentes, sala do Projeto Carroceiros,
alojamento para plantonista, banheiro para funcionários. Além disso, possui
uma sala, com ultrassom, microscópio óptico, centrífuga, refratômetro,
possibilitando a realização de exames dos animais internados.
Possui também áreas anexas como redondel, andador de equinos e
piquetes.
FIGURA 2- Áreas do Hospital Veterinário da UFMG. E e F- Troncos de
contenção da Clínica de Equinos. G- Andador de equinos. H- Redondel. Foto:
Arquivo pessoal.
16
3.1.2 Descrição das atividades
Diariamente era realizado exame clínico dos animais internados, através
do exame físico e tal atividade era executada pelos estagiários com supervisão
dos Médicos Veterinários residentes.
Ao término do exame físico era feito a medicação, se necessário, ou
realizavam-se os curativos, seguindo as prescrições dos professores na ficha
clínica do paciente.
Quando novos pacientes chegavam à clínica de equinos era
competência dos Médicos Veterinários residentes e dos professores realizarem
o exame clinico geral, obtido através da identificação, do histórico, da
anamnese e do exame físico, incluindo exames complementares quando
necessário, cabendo ao estagiário acompanhar e auxiliar essas abordagens.
Os pacientes com abdômen agudo que eram encaminhados para a
clínica
e
depois
necessitavam
de
cirurgia,
o
pós-operatório
era
responsabilidade dos residentes da clínica juntamente com os estagiários. Era
realizado entre os estagiários um rodízio de plantões, quando os pacientes
necessitavam de acompanhamento 24 horas por dia.
Durante o estágio também foi possível o acompanhamento de aulas
teóricas e práticas de Semiologia Veterinária, Clínica de Equinos, Técnica
Hospitalar em Equinos e Biotecnologia da Reprodução Animal. Além disso, os
estagiários tinham que ler artigos científicos para serem discutidos com os
professores sobre alguns casos clínicos.
O total de animais atendidos durante o período de estágio foi de 20
animais, sendo 6 animas pertencentes a carroceiros.
O projeto Carroceiros da UFMG exerce um papel importante na
sociedade, procurando esclarecer e orientar os carroceiros quanto ao manejo,
bem estar, alimentação e prevenção de doenças nos animais, além de
estimular e apoiar ações comunitárias de educação ambiental. A faculdade
possui dois garanhões da raça Haflinger, adequada à tração, e um jumento
Pêga, que são utilizados pelo projeto para inseminação artificial, as éguas são
avaliadas através de exame ginecológico, realizando-se o controle folicular,
17
com ultrassonografia e também é realizado posteriormente o diagnóstico de
gestação.
As intervenções veterinárias realizadas pelo projeto incluem vacinação
contra Raiva, controle parasitológico, sorologia para anemia infecciosa eqüina
e leptospirose, levantamento de condições sanitárias e manejo dos animais,
cadastramento dos animais pela marcação com nitrogênio líquido e confecção
da "carteirinha de identificação" e cursos de manejo de eqüinos para
carroceiros.
Com relação aos sistemas observados, o sistema digestório apresentou
o maior número de casos clínicos, conforme mostra a Tabela 1.
TABELA 1- Casos clínicos, classificados por sistemas acometidos, observados
durante o estágio curricular supervisionado, no período de 26 de julho a 27 de
agosto de 2010 na Clínica de Eqüinos do Hospital Veterinário da EV/UFMG.
Sistemas Acometidos
Número
Frequência Relativa (%)
Digestório
22
57,89
Músculoesquelético
04
10,52
Tegumentar
04
10,52
Cardiovascular
04
10,52
Reprodutivo
03
7,89
Ocular
01
2,63
Total
38
100
OBS.: Muitas vezes mais de um caso clínico foi observado em um mesmo paciente, sendo
assim o número total de sistemas acometidos é superior ao número total de animais atendidos.
18
TABELA 2- Casos clínicos de acordo com o sistema acometido,
acompanhados durante o estágio curricular supervisionado, no período de 26
de julho a 27 de agosto de 2010 na Clínica de Eqüinos do Hospital Veterinário
da EV/UFMG.
Carga
Frequência
Casos Clínicos por Sistema
Número
horária
relativa (%)
Digestório
Abdômen agudo
22
127
59,45
Doença articular degenerativa da
art. coxofemoral
01
02
2,70
Fibrossarcoma
01
08
2,70
Fratura de maxila
01
04
2,70
Tenossinovite
Tegumentar
01
10
2,70
Flebite
02
02
5,40
01
04
2,70
01
14
2,70
03
04
8,10
01
07
2,70
01
01
2,70
01
07
2,70
01
10
2,70
37
200
100
Músculoesquelético
Habronemose cutânea
Pitiose
Cardiovascular
Babesiose
Erlichiose
Reprodutivo
Endometrite
Funiculite
Ocular
Obstrução do ducto nasolacrimal
TOTAL
Os casos diagnosticados de abdômen agudo estão especificados na
tabela seguinte, sendo que o deslocamento de flexura pélvica foi o que
apresentou a maior freqüência dos casos diagnosticados de abdômen agudo
(27,27%).
19
TABELA 3- Casos diagnosticados de Abdômen Agudo no período de 26 de
julho a 27 de agosto de 2010 na Clínica de Equinos do Hospital Veterinário da
EV/UFMG.
Casos de Abdômen
Agudo
Cólica espasmódica
Compactação de cólon
maior
Compactação de cólon
menor
Deslocamento de ceco
Deslocamento de flexura
pélvica
Dilatação gástrica
Fermentação
Hérnia inguino-escrotal
Vólvulo
Diarréia
Parasitose
Peritonite
TOTAL
Número
Frequência relativa (%)
02
03
9,09
13,63
02
9,09
01
06
4,54
27,27
01
01
01
01
01
02
01
22
4,54
4,54
4,54
4,54
4,54
9,09
4,54
100
A tabela 4 discrimina os 34 exames complementares acompanhados
durante o período do estágio curricular, sendo que o hematócrito, que
apresenta a maior freqüência (29,41%), era realizado pelos Médicos
Veterinários residentes e pelos estagiários, principalmente, para os animais
internados que estavam na fluidoterapia. Realizava-se também a análise das
proteínas plasmáticas totais, podendo, assim, estimar o grau de desidratação
do paciente.
TABELA 4- Exames complementares acompanhados no período de 26 de julho
a 27 de agosto de 2010 na Clínica de Equinos do Hospital Veterinário da
EV/UFMG.
Exames
Quantidade
Frequência
relativa (%)
Análise de líquido peritoneal
02
5,55
Bioquímica sanguínea
05
13,88
Coproparasitológico
01
2,77
Hematócrito
10
27,77
Hemogasometria
02
5,55
Hemograma completo
08
22,22
Hemoparasitológico
05
13,88
Ultrassonográfico
01
2,77
 Abdominal
02
5,55
 Locomotor
TOTAL
36
100
20
TABELA 5- Procedimentos acompanhados durante o estágio curricular
supervisionado no período de 26 de julho a 27 de agosto de 2010 na Clínica de
Equinos do Hospital Veterinário da EV/UFMG.
Procedimentos
Quantidade
Frequência relativa (%)
Coleta de sangue
18
32,72
Coleta de fezes
01
1,81
Enema
04
7,27
Palpação retal
15
27,27
Paracentese
02
3,63
Sondagem Nasogástrica
14
25,45
Laparotomia
01
1,81
TOTAL
55
100
3.1.3 DISCUSSÃO
O estágio realizado na Clínica Médica de Eqüinos da Escola de Medicina
Veterinária da UFMG possibilitou grande aprendizado teórico e prático. Com os
exames físicos realizados diariamente nos animais internados, era possível
detectar precocemente casos de abdômen agudo, principalmente por
compactação, podendo assim, iniciar a administração de fluido enteral. Apesar
de ter uma absorção mais lenta, é economicamente mais vantajoso que a
fluidoterapia parenteral, quando o paciente não apresenta refluxo espontâneo
ou choque hipovolêmico.
Analisando os casos clínicos de babesiose, todos se apresentaram
secundariamente aos casos diagnosticados de abdômen agudo, concordando
com o relatado por Thomassian (2005) que cavalos portadores de babesiose,
sem manifestação clínica, quando submetidos ao estresse físico ou cirúrgico
para o tratamento dos casos de cólica, poderão manifestar crises agudas de
babesiose no pós-operatório imediato.
Nos casos atendidos de abdômen agudo no hospital veterinário, três
animais eram pertencentes a carroceiros, correspondendo a 50% dos
atendimentos realizados a carroceiros. Apesar da atuação do Projeto
Carroceiros, muitos carroceiros ainda não possuem a informação adequada
sobre alimentação dos animais, fornecendo restos de feira, alimentos que são
altamente fermentáveis, podendo ocasionar dilatação gástrica e levar a ruptura
do estômago e morte.
21
Outro ponto positivo é que as avaliações críticas e sugestões dos
estagiários referentes a alterações clínicas e/ou terapêuticas eram sempre
consideradas pelos supervisores e posteriormente discutidas.
3.2 CENTRAL DE REPRODUÇÃO EQÜINA – GENETIC JUMP/ HARAS
FAZENDA SANTA MARIA
A Genetic Jump está localizada na cidade de Itapetininga, no interior do
estado de São Paulo. Possui uma área de 127 hectares, sendo que destes, 40
hectares são divididos em 50 piquetes, com pastos de Tifton, Coast-Cross. E
possui também uma área de 56 hectares destinados à produção de feno e
alimento para os animais. Na central trabalham quatro Médicos Veterinários,
sendo três na reprodução e um na clínica médica.
FIGURA 3 – Estrutura Física da Genetic Jump. I- Vista externa da entrada da
Central. J- Vista externa da sede. K- Tronco de contenção. L- Área de coleta de
sêmen. M- Laboratório. N- Comedouro. Foto: Arquivo pessoal.
22
3.2.1 Estrutura física
A estrutura é composta por dois pavilhões de cocheiras, com 44 boxes
de 20 metros quadrados cada um. Todas as atividades veterinárias são
realizadas num galpão de 400 metros quadrados, o qual inclui sala de colheita
de embriões, sala de colheita de sêmen, laboratório, farmácia, escritório, e
boxes para isolamento e recuperação de animais enfermos.
As principais atividades realizadas na central são transferência de
embrião, inseminação artificial, coleta de sêmen e sua conservação, avaliação
de doadoras e receptoras, através da palpação retal e da ultrassonografia,
diagnóstico de gestação, além de realizarem a prestação de serviços na área
de reprodução em propriedades de terceiros e prestarem consultoria. Além
disso, a central também realiza transferência de ovócitos, congelamento de
embriões, clonagem, sendo esta possível através da parceria com a empresa
canadense Viagen. Oferece ainda o arrendamento de receptoras para Médicos
Veterinários que necessitem de receptoras sincronizadas à distância.
A central possui em torno de 170 receptoras, constituídas por diversas
raças, como lusitana, mangalarga, bretão, campolina, crioula, sendo que
destas, 110 estão no confinamento, onde participam de um programa de
fornecimento artificial de luz. São alimentadas com silagem de milho, sal
mineral e água ad libidum. As doadoras são em torno de 80, sendo a maioria
das raças quarto de milha, brasileiro de hipismo e árabe, algumas éguas ficam
em cocheiras, de acordo com a vontade do proprietário, sendo que a maioria
das éguas são divididas em lotes e soltas nos piquetes, recebendo alimentação
em comedouros individuais, duas vezes ao dia e suplementação de feno no
pasto, além de sal mineral e água ad libidum.
Os garanhões alojados na central são seis, sendo quatro da raça quarto
de milha e dois da raça Holsteiner, todos possuem papel importante no Brasil e
no exterior. As cocheiras dos garanhões são 6m x 6m, são alimentados com
ração, três vezes ao dia, alfafa, sal mineral e água ad libidum, e dispõem de
piquetes especiais que garantem a segurança do garanhão.
23
Os potros quando são desmamados ficam em lotes de acordo com a
idade, soltos em piquetes, alimentados duas vezes ao dia, com ração especial
para potros, suplementados com feno no pasto, sal mineral e água ad libidum.
E mensalmente os animais são pesados e tem a altura aferida, permitindo um
acompanhamento do desenvolvimento de cada animal.
3.2.2 Descrição das atividades
As atividades na central iniciavam-se com as coletas de sêmen,
realizadas segunda, quarta, sexta e sábado, quando necessário. A sala de
coleta de sêmen contém um manequim artificial e o local é de terra, para evitar
acidentes. A coleta é realizada através de vagina artificial modelo Botucatu.
Após a coleta procedia-se a avaliação do sêmen, observando o volume,
motilidade, vigor e concentração espermática. O sêmen era diluído e, então,
fracionado de acordo com o número de doses requisitadas e mantido
refrigerado para posterior transporte.
FIGURA 4– Estrutura Física da Genetic Jump. O- Cocheira dos garanhões. PColeta de sêmen de garanhão com vagina artificial. Q- Confinamento das
receptoras. R- Tronco para receptoras. S- Cocheira das doadoras. T- Piquete
para doadoras. Foto: Arquivo pessoal.
24
No confinamento onde estão as receptoras que estão no programa de
luz, possui um tronco de contenção, onde é feito o controle folicular diário e
sincronização do cio com as doadoras, além do diagnóstico de gestação,
sendo este feito com 13 dias e, se negativo, repassado novamente com 15
dias. As receptoras prenhes vão para o lote de éguas prenhes, ficando em
piquetes e recebendo a mesma alimentação das doadoras.
As doadoras que chegam à central são identificadas, recebem um
cabresto com seu nome, e são avaliadas através do exame ginecológico:
histórico reprodutivo, palpação transretal e exame ultrassonográfico, sendo
ainda, realizado um swab uterino, para citologia, cultura microbiológica e
antibiograma, com o objetivo de identificar possíveis problemas que possam
reduzir a fertilidade da égua e iniciar o tratamento o quanto antes.
Durante o período de estágio foi possível acompanhar o manejo
reprodutivo das éguas, doadoras e receptoras, o manejo reprodutivo dos
garanhões e manejo dos potros. As atividades desenvolvidas incluíram
vermifugação de éguas, marcação de receptoras, além de pesagem de
doadoras e de potros.
As
atividades
acompanhadas
durante
o
supervisionado estão demonstradas nas seguintes tabelas:
estágio
curricular
25
TABELA 6- Relação das atividades acompanhadas na Central Genetic Jump,
Itapetininga – SP, no período de 1º de setembro a 1º de outubro de 2010.
Atividades
Quantidade
Carga Horária
Frequência
Acompanhadas
relativa (%)
Biópsia de útero
07
04
0,57
Coleta de embrião
52
30
4,23
Coleta de sangue
10
02
0,81
Coleta de sêmen
32
16
2,60
Confirmação de
58
04
4,72
gestação
Congelamento de
02
02
0,16
sêmen
Diagnóstico de
50
04
4,07
gestação
Inovulação de
56
18
4,56
embrião
Inseminação
37
06
3,01
artificial
Infusão uterina
07
02
0,57
Palpação
900
70
73,34
transretal
Swab uterino
07
02
0,57
Vulvoplastia
09
02
0,73
TOTAL
1227
162
100
Os exames de biópsia de útero e swab uterino foram referentes à
realização da parte experimental de um projeto de mestrado que estava sendo
desenvolvido na época do estágio curricular.
TABELA 7- Relação das atividades acompanhadas em propriedades
particulares, durante o período de 1º de setembro a 1º de outubro de 2010.
Atividades
Quantidade
Carga Horária
Frequência
Acompanhadas
relativa (%)
Assessoria em
01
08
2,38
haras
Coleta de embrião
10
05
23,80
Fixação de “foal
01
03
2,38
alert”
Inseminação
03
02
7,14
artificial
Palpação transretal
27
10
64,28
TOTAL
42
28
100
26
TABELA 8- Relação das atividades realizadas referentes ao manejo, na Central
Genetic Jump, durante o período de 1º de setembro a 1º de outubro de 2010.
Atividades
Quantidade
Carga Horária
Frequência
relativa (%)
Marcação de
10
03
7,69
receptoras
Pesagem de
20
04
15,38
éguas e potros
Vermifugação
100
06
76,92
TOTAL
130
13
100
3.2.3 DISCUSSÃO
O estágio na Genetic Jump possibilitou o acompanhamento das
atividades desenvolvidas na central, assim como o contato com outros
profissionais da área, além do conhecimento de outras condutas e protocolos
diferentes. Além disso, a realização de estágios extracurriculares na área
ajudou para um melhor aproveitamento do estágio.
A presente discussão está relacionada com os tratamentos para
endometrite realizados na central de reprodução.
As doadoras que apresentam citologia e cultura positivas são tratadas,
de acordo com o resultado do antibiograma. É realizada a lavagem de útero em
éguas susceptíveis, que apresentam acúmulo de fluido uterino após
inseminação e aplicação de 20 UI de ocitocina, 6 horas após a inseminação,
repetindo as aplicações, pelo menos três vezes ao dia, durante dois ou três
dias, dependendo da égua. E com o resultado do antibiograma, as éguas que
apresentam bactérias sensíveis a sulfadizina e trimetoprim, principalmente
Eschechiria coli, são tratadas com Saneprim®, 30-40 ml, via oral, diariamente,
durante 10-14 dias.
Em um estudo realizado avaliando-se a etiologia e sensibilidade in vitro
de microrganismos aeróbicos isolados de endometrite equina, segundo Aguiar
et al. (2005) a associação de sulfadiazina e trimetoprim (25g), no teste de
difusão em disco, apresentou resistência de 50,5%, sendo que as bactérias
27
mais isoladas foram Streptococcus beta-hemolítico (32,0%), Escherichia coli
(17,3%) e Corynebacterium spp. (12,0%).
No caso de endometrite fúngica, diagnosticado através de citologia e
cultura uterina, além do histórico reprodutivo, como tratamentos anteriores de
antibióticos intra-uterinos, era realizado um tratamento com Ripercol®, a base
de Cloridrato de Levamisol, que atua como antihelmíntico e imunoestimulante
inespecífico, 25 mL, via oral, a cada 48 horas, 30 aplicações.
Na literatura existe pouca informação sobre o uso de cloridrato de
levamisol para tratamento de endometrite, porém, sabe-se que este restaura a
função dos linfócitos-T e dos fagócitos, células envolvidas na resposta
imunitária a nível celular.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estágio curricular supervisionado obrigatório proporciona o início de
uma nova fase, onde as preocupações não se resumem em ir bem em uma tal
matéria é quando todos os conhecimentos adquiridos no decorrer do curso de
graduação se tornam muito importantes para poder ajudar um animal. É o
momento em que podemos ter certeza do que realmente gostamos.
O estágio foi de extrema importância para o meu crescimento tanto
profissional como pessoal, poder conhecer outras instituições, outros
profissionais, aprendendo com cada nova situação. A escolha das áreas de
estágio permitiu aprofundar os conhecimentos nas áreas de clínica e
reprodução de equinos, superando as expectativas iniciais, me tornando mais
preparada para enfrentar o mercado de trabalho.
28
PARTE II- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
ENDOMETRITE NA ÉGUA
(ENDOMETRITIS IN THE MARE)
RESUMO
A endometrite é reconhecida como a principal causa de infertilidade na égua,
causando perdas econômicas relativamente grandes para a equideocultura ,
uma vez que muitas éguas deixam de gerar potros anualmente. Portanto,
intensificam-se pesquisas para o desenvolvimento de novos tratamentos de
éguas susceptíveis a esta condição. O seu diagnóstico e tratamento tem sido
controverso e, sobretudo, empírico. Diante disso, torna-se fundamental o
conhecimento dos mecanismos de defesa uterina, assim como a etiopatogenia
e as diferenças existentes entre éguas susceptíveis e resistentes. Essa revisão
tem o objetivo de tentar compreender essa complexa enfermidade, com formas
de prevenção e possíveis formas de diagnóstico e tratamento.
Palavras - chave: égua, endometrite, infertilidade, útero
29
ABSTRACT
Endometritis is recognized as the leading cause of infertility in the mare,
causing economic losses to the horse’s breeders, since many mares fail to
produce foals annually. Therefore, intensify research to develop new treatments
in mares susceptible to this condition. The diagnosis and treatment has been
controversial, and, above all, empirical. Given this, it is fundamental knowledge
of defense mechanisms uterine as well as the pathogenesis and the differences
between susceptible and resistant mares. This review aims to try to understand
this complex disease, with prevention methods and possibilities of diagnosis
and treatment.
Key words: mare, endometritis, infertility, uterus
30
5.1 INTRODUÇÃO
A espécie equina é considerada como a de pior eficiência reprodutiva
entre as espécies de animais domésticos. O estudo aprofundado das causas
desta particularidade é relativamente recente. Voss, em 1984, definiu as
causas de subfertilidade ou de infertilidade na égua como sendo três:
transtornos endócrinos, deficiências nutricionais e inflamações uterinas.
As endometrites determinam relevantes prejuízos na reprodução de
equinos, por acarretarem baixa fertilidade, morte embrionária e abortamentos.
Ocorrem frequentemente devido a alterações nos mecanismos de defesa,
responsáveis pela eliminação de microrganismos existentes no útero. Nestas
condições, as bactérias contaminantes do coito e do parto, se instalam
desenvolvendo processo infeccioso, levando à infertilidade por ocasionarem na
maioria das vezes, morte embrionária precoce (Mattos et al., 2003).
A endometrite pode ser definida como uma inflamação do endométrio
que pode ser aguda ou crônica, infecciosa ou não infecciosa (Brito & Barth,
2003).
A
patogênese da infecção uterina é complexa
e pobremente
compreendida (McKinnon & Voss, 1993).
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica
sobre os mecanismos de defesa do útero, as diversas causas de endometrite,
as formas de diagnóstico e os tratamentos mais eficientes.
5.2 Mecanismos de defesa uterina
O ambiente uterino sadio oferece as condições ideais para que ocorra
primeiramente
o
transporte
espermático
ao
sítio
de
fecundação
e
posteriormente o desenvolvimento embrionário. O fluido uterino é composto de
hormônios, prostaglandinas, enzimas, substratos energéticos, íons, vitaminas,
aminoácidos, peptídeos, proteínas séricas e proteínas uterinas (Fisher & Beier,
1986). Os vasos uterinos são a barreira de comunicação entre o sangue e os
fluidos uterinos determinando a taxa de troca de substâncias entre eles. O
fluido
uterino
é
formado
deslocando
no
seguinte
percurso:
sangue
intravascular, substrato endometrial e substâncias intrauterinas (Mattos, 2007).
31
Os mecanismos de defesa do útero equino contra microrganismos
estranhos compreendem complexas interações de diferentes elementos, tais
como componentes celulares, imunoglobulinas, substâncias bactericidas e
fatores mecânicos. Além de um sistema linfático funcional (Melo et al., 2008).
Existem dois mecanismos pelos quais as bactérias ganham acesso ao
trato genital da égua: (a) a bactéria é introduzida durante a cópula,
inseminação artificial, transferência de embrião, infusão uterina ou coleta de
amostras para swab e/ou biópsia e (b) ganhar acesso por algum fator inerente
à égua. Essa última via foi descrita por Caslik, em 1937, denominando-a de
pneumovagina (Melo et al., 2008).
Boa parte dos mecanismos de defesa uterina da égua é influenciada
pelas concentrações de hormônios esteróides. Os níveis de estradiol
circulantes apresentam um aumento progressivo 6 a 8 dias antes da ovulação,
no início do período de cio, atingindo o pico aproximadamente dois dias antes
da ovulação. No momento da ovulação, seus níveis encontram-se baixos,
atingindo valores basais de diestro um a dois dias após a ovulação. Sob
influência do estrógeno, a cérvix torna-se relaxada e o padrão de atividade
miometrial demonstra períodos rítmicos e bem definidos de atividade, com uma
boa condutividade elétrica (Mattos, 2003).
Na espécie eqüina, independentemente do método de cobertura, o
sêmen é depositado na luz uterina. Portanto, neste momento, as barreiras
físicas são ultrapassadas, sendo o espermatozóide, proteínas do plasma
seminal e bactérias do sêmen e do pênis do garanhão, responsáveis pela
indução de uma resposta inflamatória aguda (Troedsson, 1997).
Este quadro inflamatório, mais do que uma patologia, é provavelmente
um evento fisiológico (Troedsson, 1997). O útero deve ser capaz de eliminar o
processo inflamatório até o 5º dia após a ovulação, dia de entrada do embrião
no
útero,
a
fim
de
proporcionar
um
ambiente
propício
para
seu
desenvolvimento (Mattos, 2007). As éguas que conseguem eliminar facilmente
a contaminação são ditas éguas resistentes à endometrite. Já as éguas que
falham em eliminar o agente desenvolvem endometrite persistente, sendo
denominadas éguas susceptíveis à endometrite.
32
O processo inflamatório persistente induz a secreção de prostaglandinas
pelo endométrio, levando à luteólise e impedindo a manutenção da gestação
(Rocha, 2008).
5.2.1 Resposta celular
O útero reage rapidamente à presença do sêmen através de um aporte
de neutrófilos, que são identificados no útero 30 minutos após a cobertura. Esta
resposta objetiva a eliminação do excesso de espermatozóides e daqueles
defeituosos ou mortos (Troedsson et al., 1998), com um aumento na
concentração de neutrófilos, imunoglobulinas e da ação dos componentes do
sistema complemento, atinge o pico entre 4 e 24 horas (Katila, 1995) e parece
estar completa após 48 horas (Katila, 1995).
Com a invasão do útero por um agente estranho, através da liberação de
produtos de seu metabolismo, ocorre uma atração de neutrófilos (quimiotaxia).
Entre as substâncias quimiotáticas mais importantes destacam-se componente
C5a do sistema complemento e os metabólitos do ácido aracdônico
(prostaglandinas F e G, leucotrienos e tromboxanas). Para que os neutrófilos
reconheçam a célula alvo de seu ataque é necessário que ocorra a
opsonização
(ligação
das
opsoninas
ao
antígeno)
desta
forma
os
polimorfonucleares começam a desenvolver sua função. As principais
opsoninas conhecidas são o componente C3b do sistema complemento, as
imunoglobulinas G e M e a fibronectina (Mattos, 2007).
A ativação direta do complemento, pelos microrganismos (via
alternativa) ou na presença de anticorpo específico (via clássica), pode levar à
eliminação dos microrganismos por lise após o ataque às suas membranas, ou
por fagocitose após opsonização. O extravasamento de soro do endométrio
inflamado para o lúmen uterino contribui com o conteúdo de anticorpos no
líquido uterino (Melo et al., 2008).
5.2.2 Resposta humoral
A opsonização de microrganismos invasores pelas imunoglobulinas é
um aspecto importante na defesa uterina. Várias classes de imunoglobulinas
33
(IgGa, IgGb, IgGc, IgGf, IgA e IgM), têm sido isoladas do útero equino
(Troedsson, 1999), cérvix, vagina e tubas uterinas. Widders et al. avaliaram as
concentrações de imunoglobulinas no trato genital da égua, e relataram que a
transudação de imunoglobulinas para dentro do útero é mínima e que a IgG e a
IgA são produzidas localmente pelo trato genital. Ocorre significativa produção
de IgA pelos linfócitos endometriais, tornando o útero um sistema imune
mucoso, tal como ocorre com o trato gastrintestinal (Katila, 1996).
A imunoglobulina A, que ativa a cascata do sistema complemento por
meio da via alternativa, não é diretamente um agente bactericida e não pode
agir como opsonina ou ativador de macrófagos. Todavia, ela pode aglutinar
material particulado e neutralizar certas enzimas bacterianas e virais,
interferindo diretamente com a fixação de muitas bactérias a superfícies
mucosas, abolindo, desta forma o passo inicial do estabelecimento de uma
infecção no paciente, apesar de não desempenhar papel ativo na limpeza
bacteriana do útero (Melo et al., 2008).
Quando as coberturas, ou inseminações artificiais, são realizadas com
intervalos inferiores a 36 horas, a fertilidade será beneficiada se os
espermatozóides viáveis estiverem protegidos da fagocitose no útero, enquanto
a eficiência do mecanismo responsável pela eliminação das células inviáveis é
mantido (Troedsson et al., 2005).
5.2.3 Defesa física
As barreiras físicas que impedem o acesso de microorganismos ao útero
são a vulva, a prega vestíbulo-vaginal e a cérvix (Troedsson, 1999). Essas
barreiras anatômicas devem ser íntegras, já que mudanças conformacionais
tendem a predispor a égua a endometrite persistente (Katila, 1996).
A pneumovagina é causa comum de infertilidade na égua e pode ser
causada por alterações na conformação e relaxamento da vulva, que se tornam
mais
acentuados
durante
estro,
senilidade,
sucessivas
gestações,
enfraquecimento da musculatura abdominal, bem como pelo deslocamento do
trato gastrintestinal em uma direção crânio-ventral (Melo et al., 2008).
Um importante mecanismo para a eliminação rápida do agente agressor
e dos componentes e subprodutos inflamatórios é a contratilidade miometrial
34
que é imprescindível para a limpeza física da luz uterina. Durante o estro,
ocorrem períodos de atividade contrátil de aproximadamente 5 minutos,
alternados com períodos equivalentes de repouso. O desempenho deste
mecanismo requer o funcionamento da cérvix (LeBlanc et al., 1994).
A resposta à agressão ocorre rapidamente, com um aumento da
intensidade das contrações. A eficiência é tal, que estudos utilizando
cintilografia mostram que, em éguas sadias, metade do radiocolóide infundido
no útero, em conjunto com colônias de Streptococcus zooepidemicus, é
eliminado nos primeiros 60 minutos após a inoculação (LeBlanc et al., 1994).
A limpeza física do útero tem um papel central na patogenia da
endometrite
persistente
pós-cobertura
(Troedsson,
1997). No
entanto,
induzindo em éguas sadias uma deficiência na contratilidade miometrial com
clenbuterol. Nikolakopoulos e Watson (2000) observaram que, apesar do
acúmulo de fluido uterino e da presença marcada de neutrófilos ao exame
citológico, 60% das éguas não apresentou crescimento bacteriano 48 horas
após a cobertura. Os autores concluíram que, mesmo quando a contratilidade
está prejudicada, os demais mecanismos de defesa da égua são capazes de
eliminar a infecção bacteriana.
5.2.4 Ação do plasma seminal
Alghamdi et al. (2004) utilizando éguas com útero inflamado
realizaram duas inseminações com intervalo de 24 horas, a primeira com
espermatozóides mortos e a segunda com sêmen fresco contendo ou não
plasma seminal. Os autores observaram menor taxa de prenhez quando o
plasma seminal foi removido (5%), em comparação à taxa obtida das
inseminações sem a remoção do plasma seminal (77%). Proteínas presentes
no plasma seminal foram sugeridas como responsáveis por uma supressão da
fagocitose de espermatozóides vivos pelos neutrófilos, em comparação ao que
ocorre com as células mortas e apoptóticas (Troedsson et al., 2006).
Um efeito do plasma seminal, igualmente atribuído a proteínas nele
presentes, é a inibição da ativação dos componentes C5a e C3b do
complemento, que atuam na quimiotaxia de neutrófilos e na opsonização
35
(Troedsson et al., 2000). No trato genital feminino proteínas aderidas à
membrana espermática seriam responsáveis pela opsonização seletiva e pelo
reconhecimento de diferentes populações de espermatozóides (Troedsson et
al., 2006). Entretanto, Fiala et al. (2002) observaram aumento significativo na
contagem de neutrófilos uterinos, em relação a um grupo controle, 2, 4 e 24
horas após a infusão de plasma seminal.
6.3 ÉGUAS SUSCEPTÍVEIS X ÉGUAS RESISTENTES
O sistema imune da égua sofre um declínio na sua eficiência com o
avançar da idade, com redução na habilidade do sistema de fornecer fagócitos,
imunoglobulinas e componentes do sistema complemento (Melo et al., 2008).
Éguas susceptíveis e de idade avançada demonstram menor “clearence”
mecânico através da cérvix, acumulando fluido uterino após inoculação
bacteriana durante o estro. O fluido pode estar presente devido ao menor
“clearence” através da cérvix, ou devido à reabsorção diminuída pelos vasos
linfáticos, após fechamento da cérvix (LeBlanc, 1994).
De um modo geral, éguas susceptíveis apresentam características em
comum, como idade avançada, histórico de falha reprodutiva em várias
temporadas, histórico de episódios anteriores de endometrite e de perdas
gestacionais (Troedsson, 1997). Além disso, estas éguas apresentam um maior
grau de lesões degenerativas, tanto do endométrio quanto dos vasos
sangüíneos e linfáticos, o que pode dificultar a atividade dos hormônios
circulantes, alterar o aporte de células à luz do útero e dificultar a drenagem
linfática.
Outra característica é o posicionamento do útero, que nestas éguas está
projetado para o interior da cavidade abdominal, apresenta uma angulação
maior e um nível mais baixo em relação ao assoalho da pelve, se comparado
com o de éguas jovens e sadias. Esta posição dificulta a drenagem do
conteúdo uterino (LeBlanc et al., 1998). Ainda, a maioria destas éguas
apresenta deficiência no fechamento vulvar (Troedsson, 1997). Conforme
mostra a figura seguinte:
36
FIGURA 5 – Égua susceptível, 20 anos, conformação anormal da vulva,
atendida na Genetic Jump em setembro de 2010.
Fonte: Arquivo pessoal.
5.4 CLASSIFICAÇÃO E ETIOPATOGENIA DA ENDOMETRITE EQÜINA
As endometrites são subdivididas em quatro categorias, baseado na
sua etiologia e fisiopatologia (Troedsson, 1999): (1) endometrite persistente
pós-cobertura; (2) endometrite infecciosa crônica; (3) endometrite crônica
degenerativa
(endometrose);
(4)
endometrite
causada
por
bactérias
sexualmente transmissíveis.
5.4.1 Endometrite Persistente Pós-Cobertura (EPCC)
Acontece normalmente nas éguas um processo inflamatório transitório e
fisiológico pós-cobertura, este tem como objetivo remover o excesso de
espermatozóides, plasma seminal e contaminantes do útero das éguas,
37
possibilitando o recebimento do embrião no quinto ou sexto dia após a
ovulação, em um meio adequado (LeBlanc et al., 1998).
Porém, se a inflamação persistir, o ambiente resultante não é compatível
com o estabelecimento da prenhez (Watson, 2000).
Isto significa que as éguas que falham no mecanismo de limpeza para
essa resposta inflamatória uterina pós-cobertura desenvolvem a EPPC, que
resulta em problemas de fertilidade (LeBlanc et al., 1998).
A falha reprodutiva provém de um efeito direto do ambiente uterino
incompatível com a sobrevivência do embrião, ou da liberação constante de
prostaglandina-F2α (PgF2α), devido à inflamação, levando à diminuição da
progesterona circulante pela lise do corpo lúteo (LeBlanc, 2003).
De acordo com a mesma autora, éguas nesta condição são
denominadas de susceptíveis à endometrite persistente pós-cobertura e se
caracterizam pela sua incapacidade de eliminar o processo inflamatório em até
48 horas após a cobertura.
Algumas éguas reprodutivamente normais, nulíparas ou pluríparas
exibem excessiva resposta inflamatória uterina após serem inseminadas com
sêmen
congelado.
O
plasma
seminal
deprime
a
quimiotaxia
para
polimorfonucleares, fagocitose e atividade hemolítica do complemento. Essas
observações sugerem que o plasma seminal modula a resposta inflamatória
aos espermatozóides (LeBlanc, 2003).
5.4.2 Endometrite Infecciosa Crônica
Os fatores que tornam a égua especialmente predisposta à infecção
uterina incluem período de estro prolongado, cérvix como uma barreira
relativamente frágil a invasão bacteriana e ejaculação intra-uterina durante o
coito (Mattos, 2003).
A infecção uterina é normalmente o resultado da contaminação pela flora
fecal e genital oportunistas. Os microorganismos mais comuns são as bactérias
aeróbicas e dentre elas a mais encontrada é Streptococcus zooepidemicus,
que é responsável por aproximadamente 65% dos casos, enquanto que
Escherichia
coli,
Klebisiella
pneumoniae
e
Pseudomonas
aeruginosa
representam aproximadamente 10% (Brito & Barth, 2003). Segundo Ricketts e
38
Mackintosh (1987), as bactérias anaeróbicas, como Bacteroides fragilis
também parecem ser causas significativas da infecção especialmente no pósparto.
LeBlanc (1997) sugere que a E. coli é mais freqüentemente encontrada
a partir de éguas com defeitos anatômicos da região vulvar e perineal que
predispõe a pneumovagina e a contaminação fecal. Também sugere que P.
aeruginosas, K. pneumoniae e leveduras são mais comumente isoladas de
éguas que tenham histórico de uso de antibióticos ou tenham os mecanismos
de defesa intra-uterinos comprometidos.
O papel de bactérias anaeróbicas na endometrite equina é assunto
pouco estudado, e, segundo Ricketts & Mackintoshn (1987) esses agentes
podem estar presentes no útero como patógenos oportunistas, e o sinergismo
com uma bactéria aeróbica pode resultar em infecção mista com endometrite
ativa.
Uma ampla variedade de fungos pode ser isolada de culturas uterinas,
sendo a Candida spp. e o Aspergillus spp., os isolados mais comuns (Dascanio
et al., 1997). Éguas que apresentam deficiência nos mecanismos de defesa e
menor capacidade para remover fluido/ microrganismos do seu útero, podem
fornecer ambiente favorável para proliferação de fungos oportunistas e causar
endometrite.
A
pneumovagina
tem
sido
incriminada
como
um
fator
predisponente à infecção fúngica. Outros fatores contribuem para a presença
de infecções fúngicas: ambiente úmido, exposição a um grande número de
fungos, presença e foco necrótico decorrente de trauma, infecção ou isquemia
(Katila, 1996).
Segundo Pycock (1999), as endometrites fúngicas não são tão
facilmente diagnosticadas comparados com as bacterianas, o cultivo de fungos
é mais laborioso do que o cultivo de bactérias porque necessita de um tempo
maior de incubação, segundo a bibliografia o diagnóstico histológico de fungos
requer o uso de colorações específicas para identificação das formas fúngicas
e o custo total dos exames é mais elevado do que em uma endometrite
bacteriana.
39
5.4.3 Endometrite Crônica Degenerativa (Endometriose)
A endometriose pode ser definida como uma fibrose periglandular e\ou
estromal ativa ou inativa que inclui alterações glandulares com focos fibróticos.
As glândulas únicas e\ou ninhos glandulares podem ser afetados (Rocha,
2008).
Segundo Brito & Barth (2003), esta enfermidade pode ser caracterizada
por alterações crônicas e degenerativas do endométrio como fibrose
periglandular, estase linfática e dilatação glandular que pode ser o resultado de
inflamações uterinas repetidas, porém essa enfermidade vem sendo observada
em éguas velhas que não apresentam histórico de endometrites, desta forma
foi sugerido que a fibrose degenerativa do endométrio pode ser o resultado do
envelhecimento ao invés da inflamação.
Porém, em um estudo feito por Hoffmann et al. (2008), foi observado que
as éguas que apresentavam endometriose mais severa eram aquelas que já
haviam apresentado endometrite. Desta mesma forma ocorreu com as
endometrioses destrutivas e não destrutivas, as éguas que já haviam
apresentado endometrite tiveram uma porcentagem maior de endometriose
destrutiva do que aquelas que não tinham histórico de endometrite.
Em todos os tipos de endometriose, as células estromais fibróticas
mostram uma expressão distintamente reduzida dos receptores dos hormônios
esteróides em comparação com o estroma intacto, indicando sua diferenciação.
Entretanto, a expressão do receptor do hormônio esteróide do epitélio glandular
envolvido parece depender da atividade da fibrose. Estes resultados sugerem
uma independência de todos os focos fibróticos para os mecanismos de
controle hormonal do útero (Hoffmann et al. ,2008).
5.4.4 Endometrite Causada por Bactérias Sexualmente Transmissíveis
A endometrite contagiosa eqüina é uma doença sexualmente
transmissível, causada pela bactéria Taylorella equigenitalis (Brito & Barth,
2003), bem como por algumas cepas de
Pseudomonas aeruginosa.
Klebsiella pneumoniae e
40
A transmissão ocorre através, principalmente, do coito, porém pode
ocorrer pela inseminação artificial ou por vetores mecânicos. Os garanhões são
assintomáticos e a bactéria pode persistir por meses ou anos na superfície do
pênis (principalmente na fossa uretral) e no esmegma do prepúcio. As éguas
contaminadas apresentam a bactéria na região do clitóris, normalmente
desenvolvem sintomatologia após 10 a 14 dias da cobertura, apresentando
desde uma endometrite leve, até uma secreção mucopurulenta severa e uma
infertilidade temporária, podendo ainda abortar em alguns casos. As éguas
também podem ser assintomáticas, apresentando somente um retorno ao
estro, após um estro mais curto. Os potros podem se contaminar no
nascimento e se tornarem portadores assintomáticos por longos períodos.
(Aielo & Mays, 1998).
5.5 DIAGNÓSTICO
Os métodos para a avaliação da integridade uterina incluem palpação
transretal, ultrassonografia, histeroscopia, biópsia endometrial, citologia e
cultura uterina (Melo et al., 2008).
5.5.1 Histórico e exames preventivos
Segundo Watson (2000), uma história detalhada da vida reprodutiva da
égua deve ser obtida. As éguas devem ser cuidadosamente avaliadas antes de
iniciar a reprodução, deve-se verificar se a anatomia vulvar e perineal são
normais, se a cérvix abre no estro e fecha no diestro, e ainda se a égua
apresenta fluido intrauterino livre através da ultrassonografia transretal. Além
disso, observar presença de secreção mucopurulenta na comissura ventral da
vulva e nos pêlos da cauda. E pode-se também fazer uma citologia e cultura
uterina para verificar se existem neutrófilos ou até mesmo verificar se não tem
um crescimento significativo de agentes patogênicos no útero.
41
5.5.2 Palpação transretal, ultrassonografia e vaginoscopia
A palpação transretal revela um útero flácido e aumentado de volume, o
que se deve ao edema inflamatório (Mattos, 2003). O exame ultrassonográfico
do útero revela um aumento das dobras endometriais, com quantidade variada
de fluido livre na luz do órgão, o qual pode ter diferentes graus de
ecogenicidade (Curnow, 1991). Ao exame vaginoscópio, pode-se observar um
colo uterino relaxado, aberto e fortemente hiperêmico, podendo haver acúmulo
de secreções no fundo do saco vaginal e no orifício cervical (Mattos, 2003).
A ultrassonografia retal facilita a visualização de pequenos acúmulos de
líquidos no interior do útero. De acordo com McKinnon et al. (1993), acúmulos
de líquidos menores que 3 mm de diâmetro são normais durante o estro. Os
graus de ecogenicidade dos fluidos vistos no útero são correlacionados com a
quantidade de debris e leucócitos presentes (McKinnon et al., 1993).
O edema uterino vai de grau 1 a 3 em éguas normais. A presença de
edema uterino evidente após a ovulação, ou quando a égua não está no cio, é
um sinal de inflamação uterina, se classifica como grau 4 e representa uma
reação anormal do útero (McKinnon, 1993).
Além disso, no caso da endometrite persistente pós-cobertura, o
diagnóstico pode ser feito exclusivamente com a detecção de fluido no útero
(qualquer valor) usando dois exames, um entre 4 a 12 horas e outro 24 horas
pós-cobertura (LeBlanc, 2003).
QUADRO 1- Classificação ultrassonográfica do fluido uterino
Graus
ultrassonográficos do
fluido uterino
Grau I
Grau II
Grau III
Grau IV
Fonte: Melo et al.(2008).
Características
ultrassonográficas do
fluido uterino
Branco (fortemente
ecogênico ou
hiperecóico)
Cinza claro (semi-ecóico
ou hiperecóico)
Cinza escuro
(hipoecóico, suspendido
em meio anecóico)
Preto (anecóico)
Características
macroscópicas do
fluido
Denso e cremoso
Leitoso
Turbidez óbvia e
sedimentação
Limpo
42
5.5.3 Citologia uterina
O exame citológico do útero tem o objetivo de verificar principalmente a
presença ou ausência de neutrófilos. Polimorfonucleares não estão presentes
no útero de éguas normais em nenhuma fase do ciclo estral, exceção do estro
com no máximo 5% em alguns animais e após a cobertura, parto ou
inseminação, em outros casos é um indicativo de endometrite (Dell’Aqua,
2004).
As amostras de citologia são feitas com “swab” uterino e após fazer o
esfregaço pode-se fixar com metanol ou usar a coloração hematológica (por
exemplo Diff Quik ®). Na leitura da amostra, a presença de neutrófilos é uma
marca da inflamação, que é uma prova definitiva de endometrite. Normalmente
somente as amostras positivas para citologia são submetidas à cultura, o
método de colheita é o mesmo. Dessa forma pode-se identificar o agente
causador da infecção e utilizar um antibiótico adequado (Brito & Barth, 2003).
Caso haja suspeita de T.equigenitalis, deve ser feito um ”swab” da fossa
do clitóris e fazer a cultura para identificar o agente (Watson, 1997). Esses
métodos também são úteis para o diagnóstico da endometrite fúngica
(Dascanio et al., 2000).
A citologia é um método mais sensível que o exame bacteriológico no
auxílio ao diagnóstico da inflamação endometrial, pois todas as éguas com
endometrite clínica devem apresentar também o exame citológico positivo
(Mattos et al., 2003).
O primeiro passo na avaliação é determinar a celularidade da amostra
sobre campo de microscópio de pequeno aumento (10x). O baixo número de
células na amostra pode corresponder a um número diminuído de neutrófilos
por campo microscópico de grande aumento, que pode levar ao erro de
conclusão da ausência da resposta inflamatória, mesmo com a sua presença.
Normalmente, deverá existir menos do que 1 a 2 polimorfonucleares por campo
(Dascanio et al., 1997).
Após a determinação do tipo e número de células, deverá ser feita a
avaliação da qualidade do tipo celular, geralmente as células inflamatórias e
endometriais são classificadas como normais ou degeneradas. Sinais de
43
degeneração
incluem
alteração
na
aparência
da
membrana
celular,
hipersegmentação do núcleo, formação de vacúolos, inclusões e coloração
citoplasmática aumentada (Dascanio et al.,1997).
5.5.4 Cultura uterina
A cultura uterina pode fornecer informações valiosas relativas ao
potencial reprodutivo da égua, desde que ela seja obtida e interpretada
adequadamente (Langoni et al., 1999). Os achados da cultura uterina precisam
ser avaliados em associação com sinais positivos de endometrite na biópsia ou
citologia.
Culturas falso-positivas têm sido definidas como amostras endometriais
com evidências microbiológicas e endometrite na ausência de evidências
citológicas. Além disso, têm sido associadas com contaminação do instrumento
de cultura provenientes do ambiente, genitália externa e vagina. A cultura é
melhor realizada no início do estro, quando a cérvix está relaxada e o útero é
mais resistente a infecção. No entanto, a cultura poderá ser realizada em
qualquer fase do ciclo estral (LeBlanc, 2010).
A cultura deverá fornecer informações sobre o número e o tipo de
crescimento bacteriano. O plaqueamento direto do microrganismo no meio de
cultura, sem conservação intermediária em meio nutriente é necessário para se
obter informações tanto qualitativas quanto quantitativas (Mattos, 2003).
Para éguas inférteis ou subférteis, tem sido proposto lavado uterino com
baixo volume como alternativa para análises microbiológica e citológica no
diagnóstico de endometrite (LeBlanc et al., 2007). A técnica de lavado uterino
com baixo volume, consiste na infusão de 60 ml de solução fisiológica 0,9%
NaCl, através de uma pipeta de inseminação de éguas. É realizado massagem
no útero e recuperação do lavado, sendo este armazenado em tubos de ensaio
de estéreis.
5.5.5 Histopatologia
A avaliação da morfologia endometrial através da biópsia tem sido uma
ferramenta diagnóstica útil e capaz de predizer a fertilidade da égua. Desde
44
1970, o exame histológico de amostras endometriais tem sido realizado com
rotina na avaliação reprodutiva de éguas subférteis e inférteis (Evans et al.,
1998).
Os resultados da cultura e biópsia são utilizados para uma interpretação
conjunta e, é importante obter-se o swab antes da biópsia para minimizar a
ocorrência de contaminação da amostra (Brito & Barth, 2003).
A colheita é por biópsia do endométrio utilizando um fórceps com “dente
de jacaré”, as amostras são fixadas e depois coradas com HE (hematoxilina e
eosina) (Brito & Barth, 2003).
A resposta inflamatória pode ser aguda, crônica ou ocasionalmente pode
consistir de uma resposta crônica na qual uma reação aguda é super imposta.
O sinal patognomônico para a inflamação é encontrar infiltração de leucócitos
no interstício, tendo no processo agudo os neutrófilos como leucócitos
predominantes e no processo crônico linfócitos. Os sinais característicos de
endometriose são fibrose periglandular, estase linfática e cistos endometriais
(Rocha, 2008).
A fibrose endometrial é o padrão mais comum de fibrogênese anormal
no endométrio eqüino, contribuindo para a perda embrionária e fetal. Um dos
primeiros sinais da fibrose é a distribuição aleatória das células estromais no
estrato compacto ou esponjoso, com uma tendência à formação de fibrose
adjacente a lâmina basal glandular. A fibrose periglandular pode lesar a
superfície endometrial, atrasar o desenvolvimento microcotiledonáreo, reduzir a
taxa de crescimento fetal e alterar a secreção endometrial de histotrófo. A
patogênese é incerta, embora idade avançada, parição e medicamentos intrauterinos cáusticos sejam considerados fatores predisponentes (Evans et al.,
1998).
O sistema de classificação de Kenney (1978) adota três categorias de
classificação, conforme descrito abaixo:

Categoria I: o endométrio não apresenta hipoplasia, nem atrofia; não
existem alterações patológicas ou, quando existem, são discretas e
amplamente difusas. As alterações no endométrio não interferem com a
capacidade do endométrio de conduzir uma gestação.
45

Categoria IIA: são observadas alterações inflamatórias leves a
moderadas, infiltração difusa no estrato compacto ou freqüentes focos
inflamatórios dispersos no estrato compacto e no estrato esponjoso. Podem-se
notar também freqüentes alterações fibróticas dispersas associadas a ramos
individuais de glândulas de qualquer nível de severidade ou menos que dois
ninhos glandulares fibróticos por 5,5mm de campo linear em quatro ou mais
campos; lacunas linfáticas evidentes ou atrofia endometrial parcial no fim da
estação de monta reprodutiva. Porém, o endométrio com esses critérios de
uma égua que está infértil dois ou mais anos é classificado na Categoria IIB. O
índice de fertilidade esperado é de 50 a 80%.

Categoria IIB: estão classificadas aquelas éguas com mais de uma das
alterações especificadas na Categoria IIA ou com focos inflamatórios,
disseminados, difusos, moderados a acentuados; com fibrose de ramos
glandulares individuais disseminada e distribuída uniformemente ou com uma
média de dois a quatro ninhos fibróticos por 5,5mm de campo linear em quatro
ou mais campos. O índice de fertilidade esperado é de 10 a 50%.

Categoria III: o endométrio apresenta alterações endometriais graves,
interferindo com a gestação e não podem ser melhoras por tratamento. Fibrose
periglandular ampla de qualquer gravidade é uma das alterações vistas.
Quanto maior a fibrose, pior o prognóstico. Geralmente são vistos em média
mais do que 5,5 mm em pelo menos quatro campos lineares.
Nunes (2003) observou que à medida que a lesão endometrial piora
há substituição progressiva do colágeno tipo III por colágeno do tipo I na região
periglandular. Troedsson (1999) denomina a fibrose periglandular associada à
dilatação glandular como endometrose ou endometrite degenerativa crônica,
sendo esta uma condição observada não só em éguas susceptíveis a
endometrite persistente, mas também naquelas mais idosas sem histórico
conhecido de inflamação. Isto sugere um processo fibroplástico degenerativo
do endométrio e, portanto, muito mais uma conseqüência do envelhecimento
do que da inflamação uterina.
5.6 TRATAMENTO DAS ENDOMETRITES
46
Correção dos defeitos dos mecanismos de defesa uterina, neutralização
de bactérias virulentas e controle da inflamação pós-cobertura são os objetivos
de uma terapia bem sucedida. Esta é realizada por correção dos defeitos
anatômicos através de cirurgia, melhorar a capacidade física de drenagem do
útero após inseminação, reduzindo a resposta inflamatória e inibindo o
crescimento bacteriano (LeBlanc, 2010).
O primeiro passo para resolução da endometrite é corrigir através de
técnicas cirúrgicas, problemas anatômicos como conformação perineal e vulvar
anormais, lacerações cervicais e reto-vestibulares, pneumovagina e urovagina,
que são fatores predisponentes da endometrite. (Brito & Barth, 2003).
O método de Caslick é recomendado se as éguas apresentarem defeito
da conformação vulvar resultante de pneumovagina e, muitos animais
infectados apresentam cura após correção vulvar (Melo et al., 2008).
Deve-se tomar cuidado quando se utilizar tratamento uterino local e o
tratamento escolhido não deve representar um perigo maior para a saúde
reprodutiva do que a própria doença. O uso além das recomendações da bula
de inúmeros produtos como medicamentos intra-uterinos é comum, apesar da
falta de informação com respeito as suas propriedades potencialmente lesivas
(Melo et al., 2008).
Deve-se buscar a realização de uma única cobertura, preferencialmente
antes da ovulação, o que pode ser obtido com um bom controle reprodutivo, e
com a utilização de agentes indutores de ovulação. Embora o espermatozóide
seja o principal causador da inflamação pós-cobertura, é fundamental um
controle da higiene da região perineal da égua, seja antes da monta natural ou
da inseminação artificial. Esta, quando permitida, pode beneficiar éguas
susceptíveis. Em éguas vazias do ano anterior, grupo no qual se encontra a
maioria das éguas susceptíveis e em éguas no cio do potro, grupo com
predisposição à EPPC, a utilização da inseminação artificial resultou em taxas
superiores de prenhez em comparação àquela obtida com a monta natural
(Mattos et al., 2003).
5.6.1 Terapia pós-cobertura
47
Os objetivos das terapias empregadas logo após a cobertura ou
inseminação artificial são: a) reduzir a infecção e a inflamação, proporcionando
um ambiente uterino capaz de sustentar a prenhez e b) prevenir novas
contaminações. Os espermatozóides ficam protegidos no oviduto por 4 horas
após a cobertura e são protegidos dos produtos inflamatórios do útero e dos
tratamentos uterinos pela junção túbulo-útero após este período (McKinnon,
1993).
5.6.1.1 Acúmulo de fluido uterino após a cobertura
Os tratamentos podem ser iniciados 4 horas após a cobertura,
embora seja preferível esperar pelo menos 6 a 8 horas. O principal motivo é
que os estudos sobre a migração dos espermatozóides do útero para o oviduto
foram realizados em éguas normais (McKinnon, 1993).
5.6.1.1.1 Lavagem Uterina
O objetivo da lavagem uterina é a remoção dos produtos inflamatórios. A
decisão de realizar ou não a lavagem após a cobertura se baseia mais na
aparência ultrassonográfica do útero e no histórico da égua. Mesmo éguas com
pouco fluido após a cobertura podem ser boas candidatas à lavagem se o
histórico for sugestivo de dificuldade crescente de tratamento, com acúmulo
intraluminal de fluido em ciclos anteriores. Éguas com quantidade de fluido de
graduação acima de pequena (McKinnon e Voss, 1993) e pior do que grau 4
são tratadas com lavagem abundante.
Após a lavagem uterina, uma combinação de ocitocina (10-20 UI IV/IM)
e/ou cloprostenol (250 μg IM) é administrada. Os tratamentos devem ser
administrados 9 horas após a cobertura, uma vez que é neste momento que as
diferenças de resposta a desafios bacterianos entre éguas normais e
susceptíveis parecem ocorrer. O atraso de mais de 24 horas na administração
dos tratamentos pode permitir a rápida proliferação bacteriana. As éguas são
examinadas a cada 12 horas em casos de problemas inflamatórios complexos
e diariamente nos demais casos (McKinnon, 1993).
48
LeBlanc (2004) observou em éguas que possuem problemas linfáticos,
além da endometrite, a associação da ocitocina com o cloprostenol (análogo da
PGF2α) pode ser benéfica, pois a ocitocina faz a drenagem do fluido uterino e
o cloprostenol auxilia a drenagem linfática.
Uma alternativa à utilização da lavagem uterina é a administração de
drogas ecbólicas, como a ocitocina (LeBlanc, 1994) ou a prostaglandina F2α
(Cadario et al., 1995). A ocitocina é tradicionalmente utilizada na dose de 10 a
20 UI, entre 6 e 12 horas após a cobertura. A meia-vida da ocitocina é de 6,8
minutos. Tratamentos realizados no momento da cobertura demonstraram
prejudicar o transporte espermático (Mattos et al., 1999).
A prostaglandina, embora resulte em um período mais longo de
atividade mioelétrica (Troedsson et al., 1995), tem um efeito semelhante ao
obtido com altas doses de ocitocina. Além disso, a utilização de cloprostenol,
com maior resposta em termos de contração miometrial que a ocitocina e a
PGF2α, resultou em uma redução do nível de progesterona circulante entre o
3° e o 5° dia após a ovulação. O reflexo desta redução no nível de
progesterona foi uma queda na taxa de prenhez em éguas tratadas em
comparação à do grupo controle.
5.6.2. Terapia Antibiótica Intra-uterina
Antibióticos intra-uterinos têm sido reservados para infecções venéreas
persistentes ou infecções crônicas com patógenos específicos que não
respondem a oxitocina ou solução salina (Causey, 2007).
Admitindo-se que a causa da anormalidade seja um microrganismo
infeccioso e que esse seja identificado na cultura, e sua susceptibilidade
determinada, o tratamento com o uso de antibióticos deve ser iniciado
(McKinnon, 1993).
Segundo o mesmo autor, um dos riscos comuns da utilização de
antibióticos locais no útero são alterações na flora não patogênica e
desenvolvimento
de
cepas
indiscriminado de antibióticos.
resistentes
do
microrganismo
pelo
uso
49
Deve-se realizar a ultrassonografia para determinar se a administração
do antibiótico deve ser precedida por lavagem. Não adianta administrar
antibiótico em éguas com grandes volumes de fluido uterino (McKinnon, 1993).
A infusão de antibiótico pode ser feita diariamente por 3 a 7 dias no
estro, quando o mecanismo de defesa uterina encontra-se normal. Essas
infusões não devem ultrapassar o 2º dia pós-ovulação, pois diminui a eficiência
dos mecanismos de defesa uterino. (Pycock, 1999). Pequeno volume de
infusão (30 a 50 ml) é preferível a grandes volumes.
O uso de antibióticos sistêmicos são raramente utilizados para tratar
infecções uterinas em éguas porque a concentração mínima inibitória (CIM) é
mais facilmente alcançada com a administração
intra-uterina, além de ser
economicamente mais viável.Em algumas situações onde a administração
intra-uterina não é possível, a administração sistêmica é uma possibilidade
(Causey, 2007).
Os antibióticos mais comumente utilizados são:
QUADRO 2- Drogas recomendadas, por via intra-uterina, para tratamento da
endometrite
Drogas
Sulfato de amicacina
Doses
2g
Ampicilina
3g
Carbenicilina
6g
Ceftiofur
1g
Sulfato de gentamicina
1–2g
Sulfato de Kanamicina
1–2g
Neomicina
4g
Penicilina G
5 milhões UI
Polimixina B
1 milhão UI
Ticarcilina
Ticarcilina/ Ác. Clavulânico
6g
6 g/ 200 mg
Comentários
Volume igual de tampão de
bicarbonato de sódio 7,5%
Usar preparação solúvel
Algumas Pseudomonas são
sensíveis
Amplo espectro, incluindo B.
fragilis
Espectro
contra
Gramnegativas
Muitas cepas de E. coli são
sensíveis
E. coli e Klebsiella são
sensíveis
Sódica ou Potássica. Para
Streptococcus sp.
Algumas
cepas
de
Pseudomonas sp.e Klebsiella
sp. são sensíveis
Amplo espectro
Amplo espectro
50
Fonte: Causey, 2007.
QUADRO 3- Dosagem de antibióticos antifúngicos recomendados por via intrauterina
Drogas
Doses
Clotrimazol
500 - 700 mg
Nistatina
0.5 – 2.5 milhões UI
Anfotericina B
100 – 200 mg
Fluconazol
100 mg
Fonte: Dascanio, 2007.
5.6.3 Mucolíticos
Nem todas as infecções respondem a irrigação uterina e ao tratamento
com antibiótico. A falha no tratamento pode ser por uma contínua
contaminação do útero por causa de uma anormalidade anatômica na vulva,
degradação do antibiótico no exsudato uterino, ou produção de biofilme pelos
microrganismos,
como
bactérias
gram-negativas,
leveduras
e
fungos.
Trabalhos anteriores indicam que a secreção de muco aumenta durante
inflamação uterina experimental, e em éguas com atraso na limpeza uterina e
com endometrite bacteriana (Causey et al.,2008).
Pseudomonas aeruginosa é um potente produtor de biofilme e muitas
vezes é isolado do útero de éguas com endometrite crônica. Outros patógenos
que também produzem biofilme são Staphylococcus epidermidis, Eschechiria
coli, e leveduras e fungos (LeBlanc, 2010).
O excesso de muco ou exsudato pode interferir com a penetração de
antibiótico, pode deixar aminoglicosídeos quimicamente inertes ou pode
interferir no transporte do espermatozóide ao oviduto. Tratamentos com
agentes mucolíticos podem ajudar a limpar o muco e aumentar a eficácia dos
antibióticos
intra-uterinos.
Solventes
e
agentes
mucolíticos
têm
sido
adicionados a irrigação uterina com o objetivo de limpar o exsudato, muco ou
biofilme. Os agentes usados são dimetilsulfóxido (DMSO), querosene e Nacetilcisteína (NAC). Cada componente utilizado parece ter um efeito benéfico
(LeBlanc, 2010).
51
5.6.4 Corticóides
O emprego da corticóide terapia como agente modulador da resposta
inflamatória uterina mostrou ser uma prática, segura e eficaz quando utilizada
em animais com histórico reprodutivo de endometrite persistente pós-cobertura,
promovendo uma diminuição neutrofílica e aumentando o índice de fertilidade.
Foi utilizado 0,1 mg/Kg de acetato de 9-alfa-prednisolona (Predef®) por via
intramuscular, a cada 12 horas, com aplicação da primeira dose no momento
da indução da ovulação com gonadotrofina coriônica humana (hCG) e a última
dose na constatação da ovulação.(Dell’Aqua, 2004).
5.6.5 Imunoterapia
Imunomoduladores são substâncias que atuam no sistema imunológico
conferindo, entre outros, aumento da resposta orgânica contra determinados
microorganismos,
incluindo
vírus,
bactérias
e
protozoários,
mediante
principalmente à produção de interferon e seus indutores (Vanselow, 2001). A
origem dos imunomoduladores é muito variada, pode incluir substâncias
farmacológicas sintéticas, produtos microbianos e plantas medicinais (Blecha,
2001).
Imunoestimulantes têm sido utilizados nos últimos anos como um
tratamento para endometrite persistente na égua (Rohrbach et al., 2006).
O Bacilo de Calmett- Guerrin (cepa viva atenuada de Mycobacterium
bovis) e seus derivados ativam células T e B, liberando linfocinas e recrutando
macrófagos resultando em ação granulomatosa (Spinosa et al., 1999).
O uso do Propionibacterium acnes em éguas com diagnóstico citológico
de endometrite persistente foi associado a um aumento das taxas de prenhez e
parição. O efeito foi melhor mediante administração de imunoestimulante entre
8 dias antes e 2 dias após a cobertura (Rohrbach et al., 2007).
Os estudos com Mycobacterium phlei são igualmente convincentes
(Fumuso et al., 2003; Fumuso et al., 2007). Juntos, estes estudos indicam que
a estimulação imunológica tem o potencial de reduzir as contagens de
52
neutrófilos em éguas com endometrite persistente induzida por cobertura, com
aumento correspondente das taxas de prenhez e parição.
5.6.6 Outras terapias uterinas
O uso dos anti-sépticos deve ser feito cautelosamente. O útero da égua
é extremamente sensível a substâncias irritantes introduzidas dentro do seu
lúmen, e pode responder com necrose e subseqüente fibrose no endométrio,
cérvix e vagina. As soluções fortes de iodo e clorexidina são contra-indicadas
para tratamento da endometrite na égua. Um regime não antibiótico usado com
relativo sucesso é a infusão de iodo povidine diluído. Um volume de 250 a 500
ml da solução diluída de iodo povidine pode ser utilizado por cinco a seis dias
(Melo et al., 2008).
Pascoe (1995) demonstrou que a adição de plasma homólogo à infusão
com antibióticos, realizadas 36-48 horas após a cobertura, melhorou a taxa de
prenhez e parição das éguas tratadas em relação à observada nas éguas não
tratadas ou que receberam somente a infusão de antibióticos. O autor atribuiu a
melhora observada a uma fagocitose mais eficiente pelos neutrófilos uterinos,
auxiliados por componentes do sistema complemento e imunoglobulinas
presentes no plasma sangüíneo. Nesta mesma linha, Mattos et al. (1999)
observaram melhora significativa na taxa de prenhez em éguas falhadas e com
potro ao pé, recebendo infusões de plasma enriquecido com leucócitos, 12 a
36 horas após a cobertura. Através desta técnica mais de 80% dos leucócitos
coletados no sangue total são mantidos no plasma, sendo que mais de 95%
deles são viáveis (Castilho et al., 1997). Com a utilização desta infusão, os
autores concluíram que, além dos fatores de opsonização presentes no
plasma, um número extra de neutrófilos capazes de realizar fagocitose era
adicionado ao ambiente uterino.
53
Em éguas com endometrite fúngica pode-se utilizar após a lavagem
uterina, soluções anti-fúngicas como ácido acético 2% (20 ml de vinagre branco
em 1 L de solução salina 0,9%), solução de iodo-povidine 0,1% ou DMSO 20%.
Ambientes ácidos ou alcalinos não são propícios para o crescimento de fungos.
Seguida de aplicação de oxitocina (5-20 UI, IM ou IV) ou prostaglandinas para
aumentar a contratilidade do útero e ajudar na remoção do fluido residual
(Dascanio, 2007).
6. CONCLUSÃO
É essencial compreender a fisiopatologia da endometrite para poder
estabelecer o plano terapêutico mais adequado e viável para cada égua,
levando em consideração os fatores predisponentes, a etiopatogenia, o
histórico reprodutivo, a conformação perineal, que pode predispor a
pneumovagina, junto com a realização do exame físico completo do trato
reprodutivo, através da palpação transretal, ultrassonografia, citologia,
microbiologia e histologia.
54
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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