O Estupro e o Aborto: segundo o Espiritismo Estupro: a visão espírita Por Marcelo Henrique Pereira Dentre as liberdades de que a criatura humana é detentora, na qualidade de direitos fundamentais, talvez a mais significativa seja a liberdade sexual. Afinal de contas, baseada em padrões de moralidade, distintos entre si e peculiares a cada individualidade, a escolha de parceiros sexuais não obedece a nenhum padrão. O ser, baseado em sentimentos e (ainda) em instintos, deixa aflorar sua sexualidade, partindo para a busca e o encontro de um companheiro para satisfazer seu prazer, na permuta de energias sexuais. Do exame de "O Livro dos Espíritos" (2), podemos extrair a cristalina idéia de que nem todas as tribulações que experimentamos na vida foram previstas e escolhidas por nós. A escolha se resume ao gênero da prova. Exemplificadamente, o Espírito de Verdade nos adverte: "Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, sabia a que tentações se expunha, mas ignorava cada um dos atos que viesse a praticar. Estes atos são efeito de sua vontade, ou de seu livre arbítrio." O estupro, assim, não obedece a nenhum planejamento espiritual. Todavia, em acontecendo, vítima e agressor submetem-se aos desígnios da Lei Maior, sujeitos à completa análise espiritual da questão, resultando para a primeira, por suportar a prova com coragem e resignação, condição de progresso espiritual e, para o segundo, dolorosa senda de refazimento de seus atos, esperando contar, ainda, com o perdão da primeira como forma de ajuda para superar suas próprias deficiências. Manifesto Espírita sobre o ABORTO - Revista Reformador - FEB (Texto publicado na Revista Reformador de dezembro de 1998 e transcrito por Fernando Porto) O EST UPRO No caso do estupro, quando a mulher não se sinta com estrutura psicológica para criar o filho, a Lei deveria facilitar e estimular a adoção da criança nascida, ao invés de promover a sua morte legal. Sobrepõe- se o direito à vida ao conforto psicológico da mãe. O Espiritismo, considerando o lado transcendente das situações humanas, estimula a mãe a levar adiante a gravidez e até mesmo a criação daquele filho, superando o trauma do estupro, porque aquele Espírito reencarnante terá possivelmente um compromisso passado com a genitora. Estupro e Aborto Laércio Furlan - Associação Médico-Espírita do Paraná Dr. Ricardo Di Bernardi - AME SC A grande discussão que se levanta é a legitimidade ou não, do aborto, quando a gravidez é conseqüente de um ato de violência física... ...Nossa abordagem será pelo ângulo transcendental e reencarnacionista e se considerando que são três espíritos no mínimo, envolvidos na questão.... ...Inicialmente, cumpre-nos esclarecer que o livre arbítrio é o maior patrimônio que nós, espíritos humanos, recebemos dentro de nossa faixa evolutiva. O livre arbítrio não legitima atitudes, mas oferece oportunidade às criaturas de decidirem e se responsabilizarem pelas conseqüências de seus atos. Outra premissa que deveremos estabelecer é aquela de maior ou menor repercussão dos nossos atos perante a Lei Universal, em função do nível de esclarecimento que possuímos. Importante também, é salientar que não há atos perversos que tenham sido planejados pela espiritualidade superior. Seria de uma miopia intelectual sem limites, a idéia de que alguém deve reencarnar, a fim de ser estuprado. A concepção do Deus punitivo e vingativo já não cabe mais no dicionário dos religiosos esclarecidos sobre a vida espiritual. Deus é uma fonte inesgotável de amor. É a Lei maior que a tudo preside, coordenadora das leis naturais. Como conceber a violência física? Como enquadrar a onipresença divina em todas as situações e sofrimentos com as quais convivemos? Deus estaria ausente nessas circunstâncias? Ou estaria presente? Estupro e Aborto Laércio Furlan - Associação Médico-Espírita do Paraná Quem é a "vítima" Dr. Ricardo Di Bernardi - AME SC Cada um de nós, ao reencarnar, trouxe todo o seu passado impresso, indelevelmente, em si mesmo. Já nos referimos aos núcleos energéticos que trazemos, em nosso inconsciente pretérito. Espíritos que somos e pelas inúmeras viagens que percorremos, representadas pelas múltiplas vidas, possuímos no nosso "passaporte" inúmeros carimbos das pousadas onde estagiamos, no passado. Hoje, a somatória dessas experiências se traduz em manancial energético que se irradia, constantemente, do nosso interior, para a superficie. Assim é, também, a "vítima". A jovem que hoje se apresenta de forma diferente, traz, do seu passado, profundas marcas de atitudes prejudiciais a irmãos seus; atitudes de desequilíbrio que são gravadas em si mesma. Algumas delas participaram, intelectualmente, de verdadeiras emboscadas visando atingir, de maneira dolorosa, a intimidade sexual de criaturas. Outras, foram executoras diretas, pela autoridade de que eram investidas, de crimes nessa área. Enfim, são múltiplas as situações geradoras da desarmonia energética que pulsa constantemente, nos arquivos vibratórios de tais personagens. Pela lei universal da sintonia de vibrações, embora, aparentemente, a vestidura da pessoa não traduza o passado, poderá, em dado momento, ser atraída por uma circunstância similar àquela que perpetrou em outras eras... Lembramos, também, que os familiares que sofrerão, em diferentes graus, as repercussões do crime em foco são, agora, novos personagens do teatro da vida, mas encenaram, juntos, uma mesma peça no passado. O agressor que, muitas vezes, surpreende pela escolha da vítima, na realidade, em seu desequilíbrio patológico, entrou em sintonia com ela. A lei da gravidade existe. Não é boa nem má. Simplesmente existe.... Estupro e Aborto Laércio Furlan - Associação Médico-Espírita do Paraná Dr. Ricardo Di Bernardi - AME SC Como orientar a vítima? Identificados os dois protagonistas da gestação, falemos acerca da entidade reencarnante. Em certas ocasiões, o ser que mergulha na carne, em tão dolorosa circunstância, é alguém que vibra na mesma faixa de desequilíbrio. Um espírito que, pelo ódio, se imantava, magneticanente, à aura da vítima, pedindo-lhe contas pelos sofrimentos que, no passado, ela lhe causara, se vê preso às malhas energéticas do organismo biológico que se forma. O processo obsessivo que vinha desenvolvendo já o fixara, perifericamente, à trama perispiritual materna e, agora, definitivamente, adere ao vaso físico. Apesar do momento cruel, a Lei maior aproveita para retirar o perseguidor e adormecê-lo. Acordará, talvez, embalado pelos braços de sua antiga algoz, a quem aprenderá a perdoar e, até, a amar em função do esquecimento do acontecido no pretérito. Lembramos, novamente, que não foi, em hipótese alguma, programado o estupro, e que ele, em circunstâncias quaisquer, se justificaria. No entanto, o crime existindo, a espiritualidade, sempre, fará o máximo para, do mal, ser possível resultar algum bem. ...A eliminação da gravidez, através do abono provocado, nesses casos, irá anular esse laborioso auxílio que o espírito protetor lamentará ter perdido. Pelo exposto, a interrupção da gestação, mesmo decorrente de violência, é, sempre, uma atitude arbitrária e que só ampliará o sofrimento dos familiares. Se a jovem for emocionalmente incapaz de atender aos requisitos da maternidade, a adoção, preferencialmente por pessoas de vínculos próximos, deverá ser o remédio indicado. Se não houver possibilidades psiquicamente aceitáveis, de recepção por parte dos familiares, encaminhe-se os trâmites da adoção para quem receberá aquela criatura com o amor necessário ao seu processo redentor e educativo. O tempo se encarregará de cicatrizar os ferimentos da alma. ABORTO E ESTUPRO Por Flávio Mussa Tavares Recentemente, em função da gestação gemelar produzida por um ato violento de um padrasto sobre uma menina de apenas 9 anos, levantou-se a questão em meio espírita: e as gestações causadas por estupro, autorizam o aborto? Do ponto de vista reencarnacionista, temos que partir de premissas. Segundo a doutrina espírita, o livre arbítrio, isto é, a autonomia da decisão, é do autor do ato. No caso da criança grávida de gêmeos, de 9 anos, com um metro e trinta centímetros de estatura, o livre arbítrio, o poder de decisão, ficou com a mãe e com os médicos... Outra premissa é que a nossa existência não é única, somos espíritos reencarnantes. Não podemos deixar de considerar como básico para a discussão de que de acordo com a Lei de Causa e Efeito, todos somos responsáveis por nossos atos, como disse Paulo aos Gálatas: “Não erreis. De Deus não se zomba. O que o homem semear, isso mesmo colherá.” Nosso Deus não castiga, ensina através das múltiplas existências, sucessivas e solidárias. No caso da menina, a vítima, sabemos que está ela, submetidas às leis universais, assim como o infeliz que a violentou... Quanto aos espíritos reencarnantes, que também são espíritos eternos, estão sujeitos a possibilidade de frustração de sua tentativa de reincorporação ao planeta. Espíritos que livremente escolhem essa provação, como o Segismundo, de “Missionários de Luz”, do mesmo André Luiz, psicografado pelo nosso querido Chico Xavier, sabem de antemão, da pequena faixa de sucesso de sua tentativa. Não estou referindo-me a qualquer caso de estupro, que estão classificados pelas Leis de Deus entre as necessidades espirituais de todos os envolvidos. Estou me referindo ao caso desta criança pernambucana, entretanto, a gestação e o parto ... poderia acarretar a morte materna. O aborto e a violência contra a mulher Victor Rebelo De modo geral, sou contra a legalização do aborto, pois acho que devemos assumir a responsabilidade por nossos atos. Mas e quando a mulher é vítima de um crime hediondo, como o estupro? Será justo obrigarmos esta mulher a vivenciar uma gravidez que ela não planejou, fruto de um relacionamento sexual violento, forçado? Da mesma forma que o aborto é um crime, a mulher estuprada e obrigada pela lei a sustentar a gravidez está sendo vítima de dois crimes! Muitos podem dizer que o feto não tem culpa, mas e a mulher violentada? Qual é a responsabilidade dela nesta situação? Não seria esta atitude uma violência psicológica e emocional? Temos o direito de obrigá-la a vivenciar toda uma série de mudanças físicas (em seu corpo) e sociais (no emprego).Não! Não podemos ser radicais. Nem todo mundo conhece a lei de Causa e Efeito, o karma. Nem todos sabem da pré-existência da alma... portanto, não podemos dizer, simplesmente, que cada um colhe o que plantou e pronto! Até porque cada caso é um caso! E além disso, não podemos nos esquecer de que, nestes casos, o aborto pode ser uma prova para o espírito reencarnante, que pode estar em falta com aquela que seria sua mãe. Desta forma, os mentores o encaminhariam a uma provável situação de aborto. Sou a favor da vida e não do aborto, mas não podemos ter uma visão unilateral, que respeite apenas o espírito do feto em detrimento do espírito da mãe. Acho que este tema ainda é motivo de muitos debates, mas, em todos os casos onde a gestante pense em abortar, além do apoio psicológico e familiar, cabe aos espíritas a missão de orientá-la espiritualmente, com todos os ensinamentos que a doutrina espírita nos oferece pertinentes ao caso. Revista Cristã de Espiritismo, edição 48