A cidade e as Serras
Eça de Queirós
Como nasce a ideia da narrativa
• Publicado em 1901, no ano seguinte ao da
morte de Eça de Queirós, o romance A Cidade
e as Serras foi desenvolvido a partir da ideia
central contida no conto Civilização, datado de
1892.
Narrador e Protagonista
Escrito em primeira pessoa, A Cidade e as
Serras, como a maioria dos romances de Eça
de Queirós, há um narrador-personagem, José
Fernandes, o qual não se confunde com o
protagonista da obra, Jacinto de Tormes.
Uma particularidade da personagem José
Fernandes, está na importância que dá aos
instintos, sobrepondo-os à sua capacidade de
sentir ou de pensar.
O protagonista português e seus
conflitos
Jacinto de Tormes é filho de uma família de fidalgos
portugueses, mas nascido e criado em Paris.
Se cerca de artefatos da civilização e de tudo o que a
ciência produz de mais moderno.
Entretanto, o excesso de ócio e conforto o entedia, a
ponto de fazê-lo perder o apetite, a sede lendária, a
robustez física e a disposição intelectual da juventude.
Levado pelas circunstâncias a conhecer suas
propriedades nas serras portuguesas, apaixona-se pelo
campo, lá introduzindo algumas inovações. Mesmo em
contato com a natureza, Jacinto não abandona alguns
de seus hábitos urbanos.
Simbologia
Ao longo da narrativa percebemos que Jacinto
representa não apenas uma crítica do escritor
à ultracivilização, mas também a utopia de um
novo Portugal, uma nova pátria, capaz de
modernizar-se, sem perder as tradições e as
particularidades nacionais.
Nasce o conflito
José Fernandes pôde observar com maior atenção
a vida do amigo em Paris; suas intensas
atividades o desgastavam e, com o passar do
tempo, constatou que Jacinto foi perdendo a
credulidade, percebendo a futilidade das pessoas
com quem convivia, a inutilidade de muitas coisas
da sua tão decantada civilização.
Nos raros momentos em que conseguiam
passear, confessava ao amigo que o barulho das
ruas o incomodava, a multidão o molestava: ele
atravessava um período de nítido desencanto.
A jornada de Jacinto de Tormes
A travessia de Jacinto é nítida quando o
personagem troca o mundo civilizado, repleto
de comodidades provenientes do progresso
tecnológico, pelo mundo natural, selvagem,
primitivo e pouco confortável.
Conflito da narrativa realista
Jacinto de Tormes representa a elite portuguesa. A obra
critica-lhe o estilo de vida afrancesado e desprovido de
autenticidade, que enaltece o progresso urbano e industrial
e se desenraiza do solo e da cultura do país.
Na narrativa, a apologia da natureza não pode ser
confundida com o elogio da mesmice e da mediocridade da
vida campestre de Portugal.
Ao contrário, trata-se de ressaltar o espírito lusitano, em
seu caráter ativo e trabalhador. Assim, podemos afirmar
que depois da viagem, o protagonista busca a síntese, ou
seja, o equilíbrio, que vem da racionalização e da
modernização da vida no campo.
O espaço geográfico
A Cidade e as Serras é um romance no qual se
destaca a categoria espaço, na medida em que
os ambientes são fundamentais para a
compreensão da história, destacando-se os
contrastes por meio dos quais se contrapõem.
Assim, a amplidão da quinta de Tormes
contrasta com a estreiteza do universo
tecnológico do 202, o que aponta para a
oposição entre o espaço civilizado e o espaço
natural, presente em todo o romance.
O sentido da vida
Jacinto de Tormes, ao buscar a felicidade,
empreendeu uma viagem que o reencontrou
consigo mesmo e com o seu país.
Tal viagem, concomitantemente é exterior e
interior, abarca a pátria portuguesa e se reveste
de uma significação particular, pois pode ser lida
como um processo de auto conhecimento: um
novo Portugal e um novo português se percebem
nas serras e querem utilizar as qualidades da
cidade para se civilizarem sem se corromperem.
Saudade de Minha Terra
(Goia e Belmonte)
De que me adianta viver na cidade
Se a felicidade não me acompanhar
Adeus paulistinha do meu coração
Lá pro meu sertão eu quero voltar
Ver a madrugada quando a passarada
Fazendo a alvorada começa a cantar
Com satisfação, eu arreio o burrão
Cortando o estradão, eu saio a galopar
E vou escutando o galo berrando
Sabiá cantando no jequitibá
Por Nossa Senhora, meu sertão querido
Vivo arrependido por ter te deixado
Essa nova vida aqui na cidade
De tanta saudade eu tenho chorado
Aqui tem alguém, diz que me quer bem
Mas não me convém, eu tenho pensado
Eu vivo com pena, pois essa morena
Não sabe o sistema que eu fui criado
Tô aqui cantando, de longe escutando
Alguém está chorando com o rádio ligado
Que saudade imensa do campo e do mato
Do nosso regato que corta as campina
Aos domingo eu ia passear de canoa
Nas lindas lagoas de águas cristalinas
Que doce lembrança daquela festança
Onde tinha dança e muitas meninas
Eu vivo hoje em dia sem ter alegria
O mundo judia mas também me ensina
Eu tô contrariado, mas não derrotado
Eu sou bem guiado pelas mãos divinas
Pra minha mãezinha já telegrafei
E já me cansei de tanto sofrer
Essa madrugada estarei de partida
Pra terra querida que me viu nascer
Já ouço sonhando o galo cantando
O inhambu piando no escurecer
A lua prateada clareando as estradas
A relva molhada desde o anoitecer
Eu preciso ir pra ver tudo ali
Foi lá que eu nasci, lá quero morrer
Download

A cidade e as Serras Eça de Queirós